Abri os meus olhos lentamente, tentando me lembrar exatamente onde eu estava. Porque o lugar não se parecia nada com o meu quarto, que dirá a minha casa.

Não tinha como parecer um quarto, ou a minha casa, porque eu estava em uma praia, e já era noite.

Como isso aconteceu? Eu tinha adormecido aqui na praia?

Forçando a minha mente para lembrar, como fui parar lá. Acabei fixando os meus olhos nas ondas se formando e quebrando quando chegavam ao contato com a areia.

E pouco a pouco minha mente voltava há exatamente horas atrás, quando ainda era apenas uma manhã, e o sol batia fortemente nos meus cabelos e nos meus ombros. Totalmente animada para aquele dia chegar, é, eu realmente ansiava por esse dia chegar.

O dia que finalmente eu iria me declarar, expôr os meus sentimentos por completo e finalmente sem medo, dizer tudo que escondia e ocultava dentro do meu coração. Cogitando até mesmo ensaiar antecipadamente as palavras, mas só por imaginar, o meu estômago revirava e dava um nó, não como dizem que é como se tivesse borboletas no estômago, e sim, que provavelmente iria vomitar de tanta ansiedade e nervosismo, o meu jantar e junto, levando o café da manhã que tinha acabado de tomar, antes de enfim sair de casa e ir me encontrar com ele.

Não era um encontro formado somente por nós dois, e sim, com os nossos amigos, algo que fazíamos sempre. Mas algo dentro de mim, me impulsionava a não ocultar mais o meus sentimentos, não por sentir que seria recíproco, eu nunca pensei, ou cogitei essa possibilidade. Porém eu não queria mais ocultar esse sentimento, porque fingir que ele não existia, me doía, me deixava mal. Então para o meu próprio bem, eu deveria dizer tudo, tudo mesmo. Sem demora, ou enrolação nas palavras.

No decorrer do dia, acabou que não consegui ver alguma brecha para podermos conversar a sós, mas percebia que ele estava muito inquieto, talvez ansioso?
E o questionei se tinha acontecido algo. O que para minha total e complexa decepção, o meu coração se partiu ao ouvir da boca dele exatamente três palavras, malditas três palavras: “Eu estou namorando”.

O que me deixou em choque, porque não sabia nem que ele estava se envolvendo com alguém. Como e quando isso aconteceu? Quem era ela? Por que ele não me contou nada? Nem se quer que estava gostando de alguém? Minha cabeça rodava, com as inúmeras perguntas que surgiam em minha mente. Mesmo que por fora, o meu rosto tenha formado um sorriso de alegria ao ouvir a notícia, e minha voz tenha soltado um “estou feliz por você”. Parecia que o meu coração e o meu corpo estavam direcionados e funcionando de forma operacional diferentes, ou no modo automático, não sei bem. Só sei que quando percebi tinha levantado, dito uma desculpa esfarrapada para todos e saí dali. Porque eu sabia que o meu coração estava apenas fazendo uma contagem regressiva, para as lágrimas finalmente inundar o meu rosto, já que o meu coração estava totalmente afogado com as lágrimas do meu interior.

E quando percebi, já estava afastada da multidão. Não tinha tantas pessoas naquela parte da praia, e foi ao sentar exatamente no mesmo lugar que ainda estou, me peguei chorando por saber que você já tinha olhos em alguém que eu nem sabia que existia.

Por saber que seria tolice te dizer o que eu realmente sentia por você.

Por saber que no fundo da minha alma, eu tinha certa expectativa.

Por saber e lembrar que fiquei tão ansiosa em te falar, o que eu guardava dentro da minha alma, que no fim, eu realmente não esperava, que seria você a trazer uma informação, e mudar o meu estado de ansiedade, nervosismo e até mesmo êxtase, para tristeza, dor e decepção.

Decepção, por ser uma tola e estar sofrendo aqui. Em plena tarde de domingo, o sol já está indo, chorando, com a dor interna do meu coração, esvaindo para fora algo que está sendo a minha primeira desilusão.

E me pego olhando para o mar, e sem perceber, estou dizendo tudo o que eu queria dizer para você:

Desculpe por dizer isso para você, mas sem perceber acabei gostando de você. Algo que foi muito sem querer, não foi proposital.
Mas no fim, acabei me pegando olhando demais para você, olhando no seu sorriso, no seu olhar, até mesmo reparando detalhadamente sua forma de falar. E tudo isso, no fim acabava me atraindo para prestar mais atenção em você.
Me peguei sorrindo toda vez que te via sorrir.
Me peguei ficando pensativa, por observar e ver que você também estava.
Até mesmo me irritar, quando algo te irritava.
Sem perceber e no automático, parecia que o tempo ficava até mais lento quando estava perto de você.
E que ansiava te ver, mesmo que fosse só um pouquinho. Porque um pouco que fosse, esse pouco me bastava, e me deixava feliz por mais tempo que nem eu mesma reparava. Simplesmente ficava.
Me peguei ficando ansiosa em querer ficar perto de você. E com isso, minhas mãos soavam e o meu coração acelerava, mas depois de um tempo, comecei a lidar melhor e a controlar também.
Com o passar do tempo, eu te considerei sem querer como o meu sol particular, porque gostar de você, mesmo que volte e meia ocultava dentro de mim. Esse sentimento me aquece, de dentro para fora, me fazendo me sentir bem, de um modo que até mesmo agora, não saberia te explicar. Porque é algo que simplesmente eu sinto, só acontece.
Então realmente me desculpe por estar falando para você, é que sem querer acabei gostando de você.

Fechei os meus olhos lentamente ao terminar de dizer tudo isso para o mar e imaginar que no fim, seria realmente assim que iria dizer para você.
E não havia mais lágrimas no meu rosto. Só um pequeno cansaço emocional que estava me causando. E quando percebi, me peguei deitando na areia da praia para relaxar só um pouquinho, e no fim adormeci, agora entendendo e me lembrando de tudo o que tinha acontecido, e como fui parar ali sozinha na praia, agora já sendo noite.

Ouvindo uma voz soando ao longe, que reconheceria até mesmo de olhos fechados, vi que era ele que me chamava, junto com o pessoal.

Me levantei, indo ao encontro deles, que estavam todos preocupados porque eu não tinha voltado, dando apenas uma explicação muito fajuta que queria ficar sozinha, mas estava tudo bem.

E já indo embora, ao olhar para o mar pela última vez, e olhando diretamente nos olhos dele, me questionando se realmente estava tudo bem, disse que sim, mas internamente dizia a mim mesma que esse sentimento deveria terminar, e ir embora, junto com a declaração que acabei dizendo ao mar, e não para ele. Algo que ansiei desde muito tempo, que iria fazer, dizer para ele.