One Shot - The Mellarks escrita por Little Flower


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

*Espero realmente que gostem



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[Katniss]

Flip! Mais uma vez, fora do alvo.

Mordo o lábio inferior para prender o riso da expressão inconformada do homem loiro a minha direita, Peeta Mellark, meu marido. Ele continua a olhar para a frente com certa frustração, até me perceber encarando-o, fazendo uma careta.

— Admita, eu sou ruim! — diz ele com pesar. Novamente tento esconder a vontade de rir. Como ele está poucos centímetros distante é necessário passos pequenos para alcançá-lo. Aperto de leve seu ombro tentando dar-lhe algum conforto. Depois de alguns anos, essas demonstrações de afeto se tornaram naturais para mim. Seu olhar recaí para o lado oposto — Ah, vocês acham isso engraçado? — resmunga fingindo estar chateado para as duas crianças coradas de tanto gargalharem. A menina de cabelos escuros, com os olhos idênticos aos dele, está ao lado do menininho loiro de olhos cinzentos iguais aos meus. Nossos filhos. Ele ainda está aprendendo a falar, mas sabe quando é algo de pura diversão, como agora, vendo o pai fracassar em suas investidas em acertar o alvo. Rose afirma com a cabeça, e Peter imita seu gesto.

  Ele balança a cabeça, pesaroso, e se volta para mim.

— Não se martirize Peeta. Você não está fazendo como lhe ensinei! — eu falo pacientemente. Faço gesto de silencio para as crianças, que param subitamente, ainda que as mãozinhas estejam pressionadas contra suas bocas na tentativa de ocultar o riso. Fico atrás dele e o ajudo a posicionar o arco novamente. — Assim, mais acima do queixo! E você precisa fechar um dos olhos.

— Ok, vou me lembrar disso! — garante ele voltando a encarar o alvo a poucos metros de distância. “Vou me lembrar disso”. Ele disse cinco minutos atrás. E então se vira para sorrir para mim, o que o faz soltar a flecha de uma vez. As crianças explodem em gargalhadas novamente. Dessa vez eu não consigo me controlar também.  — er... Vou tentar de novo!

Dou-lhe um leve beijo nos lábios e o deixou arrumar o arco sozinho agora. Ele se complica um pouco, mas enfim consegue. Olha mais uma vez para mim de soslaio e encara a sua frente, então sem mais demora solta a flecha que acerta em cheio a árvore a alguns centímetros ao lado do alvo.

Peeta joga o arco aos seus pés se chocando com a grama do jardim, e fecha as mãos em punho. Nossos filhos cessam o riso um pouco, possivelmente em respeito pelo momento melancólico de Peeta.

— Venho tentando há anos! E nenhuma vez eu consegui acertar aquele ponto vermelho! Nenhuma, Katniss! — diz revoltado. Sacudindo a cabeça bastante inconformado.

— Você vai conseguir, Peet. Tentamos mais amanhã. Devemos entrar agora, está esfriando. — ele assente. — Ah, e querido?

— Sim?

— Traga o arco, por favor, como iremos treinar amanhã?

Enquanto ele caminha até onde está o arco e apanha as flechas espalhadas pelo gramado, eu vou buscar nossos filhos acomodados numa manta. Agacho-me em frente a eles e encaro seus rostinhos corados com devoção.

Se torna um medo tolo quando eu lembro que temi a maternidade um dia. É claro que naquele tempo parecia justificável, com a crueldade, a fome, e a miséria que existia nos distritos por consequência da opressão que a antiga Capitol acometia. A conversa entre Gale e eu sobre ter filhos parecia tão distante.

Tê-los em meus braços após seus nascimentos cessou qualquer duvida que ainda podia restar. Pareceu certo, tão natural quanto respirar.

Eu estou pegando o jeito aos poucos, porque todos os dias eu aprendo algo diferente com eles. Tanto como mãe, tanto como esposa. Quer dizer, para eles eu sou perfeita. Pelo menos é o que diz nas cartinhas de dia das mães que eu guardo na caixinha de recordações sobre meu guarda roupa... Ou na forma que seus olhinhos refletem todo o amor que eu sinto por eles.

Rose usando um vestido de veludo verde por debaixo do casaco rosa. E Peter traja calça jeans escura e uma blusa preta por debaixo do casaco azul.

— O que acharam de hoje?

Os dois abrem sorrisos quase ao mesmo tempo e posso ver a pitada de diversão em seus olhos.

— O papai é muito ruim! — cochicha Rose bem baixinho. Faço gesto de silencio e ela arregala os olhos quando vê Peeta se aproximando. — Não diga pra ele, mamãe! — sussurra um pouco desesperada. Ela não quer magoá-lo. Eu sorrio e finjo trancar minha boca com um zíper imaginário. Ambos herdaram a gentileza do pai.

— E você, querido? – pergunto a Peter. Mesmo sabendo que ele ainda não sabe falar corretamente. Ele apenas rir — foi legal? — ele sustenta o sorriso de antes, mostrando seus dentinhos brancos e minúsculos, e faz gesto de “legal” com o pequeno polegar. Abobalhando o pai.

— Olha que gracinha, Katniss! — diz lançando o arco e as flechas no chão para pegá-lo no colo.

— Hey, papai?! — questiona Rose enciumada. Com agilidade Peeta sustenta o peso de Peter no braço esquerdo e pega Rose com o direito. O vento frio sopra em minha face e eu estremeço me abraçando. Não preciso mandá-los para dentro por que já estão caminhando em direção da enorme casa rindo de alguma coisa engraçada ou talvez seja só o clima alegre que envolva os três.

Sem perceber esboço um sorrindo involuntário. Pego o arco e flechas abandonados, e sigo na direção da minha família.

[...]

Já na sala de estar, limpos e trajando nossos pijamas, nos aquecemos próximos a lareira aguardando Peeta trazer o chocolate quente. Este é o nosso programa favorito de família que antecede os finais de semana. Embora os programas de TV sejam um pouco diferentes de anos atrás, preferimos nos abster de tecnologia de vez em quando para aproveitarmos o tempo juntos. Agora mais que tudo pois Peeta está reformando a antiga padaria da família Mellark. Algo que irá ter 50% de sua atenção e prioridade. Porém, para meu marido nada é mais importante que as crianças e estar presente em suas vidas... Eu já garanti que ele não precisa se preocupar, pois ele é Peeta Mellark, um guerreiro, um lutador, que mais que ninguém sabe o valor de tudo que importa.

— Mamãe, eu esqueci de mencionar, amei os meus brincos! — comenta Rose, radiante. Mostrando as pequenas pedras brilhantes em formato de estrela.

Eu sorrio, os braços ao redor de Peter em meu colo, brincando distraído com um carrinho de plástico. Me estico um pouco e beijo a ponta do nariz de minha filha.

— Sim, você ficou ainda mais bela com eles, querida.

Suas bochechas ganham um tom rosinha.

— Obrigada. 

Ofereço uma piscadela.

— O melhor chocolate quente no capricho chegando... — anuncia Peeta, carregando uma bandeja de prata com canecas fumegantes e com o aroma delicioso. Ele a pousa em cima da mesa de centro. Peeta se acomoda ao meu lado, afagando a mãozinha de Peter brevemente. Eu pego uma xícara e dou a ele, depois sirvo Rose.

— Tenha cuidado, querida. Está quente. — Alerto-a, com receio que se queimasse ou algo similar. Pego a última para mim.

Rose assente.

Passam-se segundos quando ela arfa ao bebericar o liquido maravilhoso. Balanço a cabeça. Ela sorri sem graça, se encolhendo diante do meu olhar. O cheiro parece despertar Peter e logo esquece o brinquedo.   

— Dá! — ele pede abrindo e fechando as mãos gordinhas.

Assopro o chocolate na minha caneca e quando fica na temperatura certa eu lhe dou.

Bigadu. — diz na linguagem de criancinha. E eu sinto a emoção me tomar sempre que ele se esforça em evoluir. Troco um sorriso cumplice com Peeta.  

 Quando Peter se dá por satisfeito ele vai para o colo do pai com o carrinho nas mãos, que o envolve nos seus braços. E começam uma “conversa”. Basicamente é Peeta quem fala e Peter apenas escuta e rir algumas vezes ou fala coisas as vezes incompreensíveis. E eu me pego velando-os, encantada. Meus dois rapazes.

Ao terminarmos nosso chocolate quente, Rose pede para que eu faça uma trança em seus longos cabelos escuros. Onde também iniciamos nosso próprio dialogo de garotas. Com a minha menininha. Rose me lembra Prim quase sempre, até mesmo agora enquanto enlaço suas lindas madeixas. O seu segundo nome é em homenagem à minha patinha.

Peeta olha para mim e sorri. E é tão doce, que é quase um pecado não retribuir. Mas ele percebe que alguma coisa está errada, o vinco entres suas sobrancelhas evidencia isto. Eu sei que ele irá questionar depois e eu não estou preocupada, pois mais ninguém me conhecesse como ele. Antes que eu tivesse dado conta eu tinha o escolhido, quando percebi que era ele quem eu queria, quem devia ser meu. Porque ele é meu e eu sou dele. Sempre foi assim, e isso nunca vai mudar.

Termino o penteado de Rose, que agradece e corre até o espelho emoldurado da sala de estar para ver como ficou e agradece mais uma vez dando saltinhos.

— Minha princesa está mais linda ainda, como isso é possível? — graceja Peeta, fazendo Rose sorrir encabulada, mas ao mesmo tempo graciosa.

— O senhor diz que eu pareço com a mamãe. Talvez seja por isso.

Eu acabo por rir de sua resposta.

— Oh, isso é verdade! Minhas duas belas garotas! — Peeta me presenteia com uma piscadela.

Reviro os olhos.

Rose recebe um beijo na bochecha quando passa por Peeta e se joga em meu colo, que a espremo contra meu corpo e beijo seu cabelo ao mesmo tempo que inspiro o perfume floral de sua colônia. Presente de minha mãe, Clara.

— Não pensem que eu esqueci que vocês ficaram rindo do papai a tarde toda, hein! — exclama Peeta, novamente fingindo estar magoado. E depois sorrir largamente com uma expressão travessa. — Vocês merecem uma punição!

Rose me encara alarmada, com a mão frente à boca.

— Mamãe, me ajude a punir essas crianças risonhas.

O encarei tentando decifrar seu olhar divertido. Ao passo que ele mexeu os dedos indicando o que pretendia. Eu mordi o lábio inferior, tentando permanecer séria.

— Ataque de cocegas! — Peeta berra.

E vamos ao ataque, alternando em cutucar Rose e Peter com cuidado para não os machucar. Acabamos os quatro sem folego, corados, e com lágrimas nos olhos causado pela explosão de risos. 

Cansados, nos jogamos no chão sobre a manta. Peeta ajeita Peter sobre seu peito, me aconchego em seu braço direito e puxo Rose a abraçando para que se acomode melhor em mim.

Começo a cantarolar uma música e quando vejo todos estão dormindo, me desvencilho um pouco apenas para agarrar a beirada visível da manta que deixei sobre o sofá e nos cubro, fecho as pálpebras pesadas e acabo adormecendo.

[...]

[Peeta]

Quando despertamos, Katniss me ajuda a levar as crianças para seus quartos. O primeiro é o pequeno Peter em seu quartinho verde e marrom, depois a princesa Rose é acomodada em seu quarto lilás de bailarina. Kat e eu optamos por limpar a pequena bagunça quando acordamos novamente e rumamos para o nosso cômodo.

Escovamos os dentes e caímos simultaneamente na cama, exaustos. Deixo que ela descanse sua cabeça em meu peito, juntando nossos corpos. Seu aroma é amendoado, mexo em seus cabelos com o propósito de fazê-la dormir. Sei da sua dificuldade em enfrentar aqueles sonhos cruéis onde tudo aquilo a perturba. Eles são esporádicos, mas quando surgem, são sempre avassaladores, de forma negativa.

Queria poder fazer com que seu medo fosse embora para sempre, que nada tirasse sua paz, aquele sorriso que eu tanto venero. E que é maravilhosamente lindo... Ela foi — e é — minha luz quando a escuridão tentava me sufocar. E tento ter esse porto seguro para ela também.

Eu a amo. Com toda a minha alma.

Nesse momento percebo que ela não consegue fechar os olhos. E eu não quero voltar a dormir e deixa-la sozinha. Jamais. Planto um beijo misturado com um cheiro próximo do topo de sua cabeça.

— Sem sono? — murmuro contra seu cabelo.

Ela afirma delicadamente com a cabeça.

— Mesmo estando cansada?

Acena novamente.

— Quero ouvir sua voz, Kat.

Ela se limita a rir.

— Desculpe, Peeta. Eu estou exausta, mas não quero fechar os olhos.

Suspiro sentindo certo desespero em suas palavras murmuradas de volta.

— Certo. Eu vou estar aqui, abraçando você, cuidando de você. Nada pode machucá-la. São apenas pesadelos e não são reais.

A aperto um pouco mais contra meu peito e continuo dizendo coisas confortantes para que ela acredite nas minhas promessas, pois eu sempre estarei ao seu lado e de nossos filhos. Sempre.

Volto a afagar seu cabelo ternamente. Após alguns segundos sinto sua respiração mudar e percebo que adormeceu. Dou mais um beijo em suas mechas perfumadas e fecho os meus olhos.

[...]

 

Sou o primeiro a despertar dessa vez, mas ao invés de acordá-la, fico a admirando. A sua pele macia, os traços do seu rosto de coração, mais maduros agora, porém excepcionalmente ainda mais lindos. Em como sua expressão serena indica a ausência daqueles sonhos medonhos.

Então, seus olhos se abrem devagar. Duas pedrinhas cinzas com ar luminoso. Um sorriso leve brota em seus lábios. Eu afasto a mecha escura que cai em seus olhos e correspondo ao seu sorriso.

— Bom dia.

— Bom dia. — ela responde com a voz um pouco rouca. — Você ainda não está de pé?

Eu solto uma risada.

— Nada é mais importante que esperar minha garota acordar. E eu queria estar aqui caso gritasse por mim. “Peeta...” — faço uma imitação horrível de sua voz. É a forma que encontro de abordar seu problema com pesadelos de maneira descontraída. Ela inclina a cabeça para trás com os olhos em fendas e soca o meu peito de leve. 

— Bobão!

Solto uma gargalhada alta ao ponto de fazer nossos corpos balançarem e a aperto um pouco mais.

— Sem pesadelos? — indago a ela para me certificar.

— Nenhum sequer.

— Devemos comemorar essa conquista!

— Alguma ideia em mente?

— Muitas, na verdade.

Sorrindo aproximo meu rosto do seu e junto nossos lábios, a sensação é a mesma de sempre. Meu peito explode com os milhares de sentimentos por aquela mulher, a minha mulher lutadora. Nos perdemos um no outro rapidamente, e é impossível não enxergar o amor em cada segundo que passa naquele beijo.

Quando nos separamos, ofegantes, ficamos apenas nos encarando, sem dizer nada, apenas apreciando a companhia um do outro. E é boa. Como se o que quiséssemos falar estivesse presente naquele silencio significativo. Katniss e eu nunca precisamos verbalizar o amor que sentíamos um pelo outro. Era inegável em cada olhar e em cada caricia.

Porém, um gritinho entusiasmado de “Bom dia” nos traz à realidade.

A figura pula em nossa cama, fazendo-nos quicar com o movimento — nem tanto — inesperado. Ela carrega um sorriso amplo estampado em seu rostinho delicado, os olhos brilhantes. Tinha dúvidas que existisse olhos tão encantadores como aqueles.

— Bom dia, querida. — Katniss diz enquanto Rose engatinha até nós.

— Roselita, meu amor! — digo ternamente a abraçando e beijando seu cabelo ainda trançado do dia anterior pela mãe. Rose é minha pedra preciosa, minha florzinha mais amada. Ela amou o apelido que eu lhe dera.

— Bom dia de novo, papai, mamãe! — diz animada e faz uma expressão encantadora — estou com fome.

Rimos.

— Tudo bem, Roselita. Missão café da manhã! Você me ajuda?

— Sim, sim. Vamos, papai!

Pego Rose nos braços e corro porta a afora.

[Katniss]

Peeta e Rose seguem para a cozinha para a “Missão Café da Manhã” enquanto vou até o quarto de Peter, checar se ele ainda está dormindo. Chego mais perto de seu berço branco e o observo tão pequeno e perfeito ressonando tranquilamente. O amo tanto.

Como se sentisse minha presença depois de um bocejo adorável, seus olhinhos me encaram.

— Bom dia, bebê.

Seu sorriso de resposta aquece o meu coração de uma forma inexplicável. Ele é tão amável quanto Peeta.

— Pronto para o seu café da manhã, meu pequeno guerreirinho?

Ele rapidamente se agita e eu o pego no colo, indo de encontro à poltrona de amamentação próximo à janela. Me sento confortavelmente e acomodo Peter na posição correta. Ele suga o leite um pouco forte demais, causando em mim ondas leves de dores.

— Tão gulosinho! — digo num arrulho, afagando seu cabelo loiro com carinho e cantarolo uma cantiga popular enquanto estamos naquele momento tão especial para ambos. A conexão é incrível. Quando amamentei pela primeira vez eu chorei como uma criancinha com a emoção e o sentimentalismo borbulhando dentro de mim. Lembro-me de Peeta correr desesperado achando ter acontecido alguma coisa de ruim, o que me fez rir ao recordar.   

O quarto é rodeado de moveis brancos, brinquedos, quadros de bichinhos pintados pelo próprio pai. E um seu assim que nasceu.

Assim que Peter arrota, caminho com ele em direção ao cômodo de baixo.

Uma procissão de quadros se segue à medida que eu me aproximo da escada, quadros de família, um em especial onde ilustra minha mãe, Peeta, eu, Gale e uma Rose sem os dentes da frente, olho para meu abdômen inchado onde Peter ainda estava abrigado. A escada é simples, de madeira avermelhada e de carpete cinza.

Peeta e eu concordamos em nos mudarmos da vila dos vitoriosos e residir numa casa confortável para nós antes mesmo de nossos filhos nascerem. Queria ficar longe das lembranças daquele lugar, que em sua maioria não eram muito boas. Eu não suportava mais a sensação de que Prim chegaria a qualquer momento, de que teria minha família completa mais uma vez.

Ela certamente amaria os sobrinhos, os rodearia de mimos.

Eu já superei há muito tempo, mas isso não me impede de pensar nela. É tão irracional querer esquecer alguém, principalmente quando se era a pessoa que você mais amava no mundo.

Eu chego à cozinha, aonde há uma Rose impaciente debruçada em cima da mesa olhando ansiosamente para o forno, juntamente com Peeta, porém a expressão dele é tranquila.

trim o alerta, Rose solta um gritinho entusiasmado enquanto ele tira a formada retangular com frescos e cheirosos pães. O aroma faz meu estomago protestar. Então Peeta tira a última forma com irresistíveis pães de queijo. O que basta para me juntar a expectativa de Rose. A mesa já está arrumada, Rose senta em sua cadeira para as crianças da sua idade. Vinda do Capitol. E antes que eu possa acomodar o pequeno, Peeta dispara:

— Meu garotão, bom dia!

Tira-o de meus braços e distribui beijinhos em seu rosto arrancando gargalhadas de Peter.

[...]

Mordo o lábio, receosa.

Observo Peeta apanhar os ingredientes necessários que vamos usar hoje em sua missão quase impossível — se não totalmente — em me ensinar a cozinhar alguma coisa além de cozinhar ovos e assar aves. Ele não é tão ruim no arco e flecha, ao passo que na cozinha sou um desastre. Não tenho talento algum para preparar essas delicias. Quando termina, ele para em frente ao balcão onde os insumos estão e batendo palmas diz:

— Vamos ao trabalho!

Sua atitude de bater palmas me lembra Effie, e o sentimento de saudade invade meu coração. Como ela e Haymitch eram unidos como unha e carne depois que finalmente resolveram se casar, uma cerimônia elegante e com convidados limitados no Distrito 12. Um dia no qual todos nos reencontramos depois de tanto tempo e que fora bastante especial. Meses depois se tornaram ainda mais conectados após Effie dar à luz ao pequeno Hector. Eu ainda estava reconsiderando ter filhos naquela época.  Hector estava completando quase dez anos quando Rose veio ao mundo e embora a diferença de idade fosse gritante ambos eram bastante amigos.

Nos falamos esporadicamente desde que eles se estabilizaram na Capitol para que ela atuasse em uma novela. Rose chorou por dias quando viajaram, Peter sentiu um pouco, mas não como a irmã.

Eu havia recebido alguns convites para comparecer em programas de TV, ou até mesmo em videoclipes e recusei a todos. Presava a privacidade depois de tanto tempo não a ter como uma escolha.

Volto ao presente e vejo que Peeta está tão empolgado como se essa fosse a primeira vez que fazemos aquilo. Ele ainda tem esperanças que eu consiga superar suas expectativas. Sua fé em mim me motiva a não querer decepcioná-lo. Ele faz gestos para que eu me coloque ao seu lado para pormos a mão na massa. Ele inicia suas instruções em relação aos preparativos para o bolo que vamos preparar para o lanche da tarde e deleite da minha mãe, que se instalou há duas horas em suas costumeiras visitas aos finais de semana. Ela levou as crianças para passear pelo Meadow um pouco.

Demorou algum tempo para minha mãe conseguir por os pés no Distrito 12 de novo, assim como a mim a perda de Prim a devastou também. O primeiro passo foi comparecer em meu casamento com Peeta, onde pude perceber que ela queria lutar contra a escuridão que ameaçava assolá-la — como quando aconteceu com a morte do papai —, ela procurou ajuda, buscou seguir em frente mesmo com a terrível dor que sempre existiria. Cuidamos uma da outra. O sorriso reluzente de Peeta me tira do pequeno devaneio.

Após dizer tudo que eu devo fazer, Peeta puxa uma cadeira e se senta com os braços cruzados.

— Porque você está sentado?

— Simples, eu vou ver como se saí, Kat.

Reviro os olhos enquanto eu assinto.

— Ok. — digo simplesmente.  

Ele sorri.

Eu me atrapalho um pouco. O que vem depois mesmo? Coço a cabeça, meu cabelo está preso com grampos por baixo da toca transparente, que Peeta colocou em mim. Discretamente com a confusão em minha mente, tento lembrar da lista que Peeta recitou para mim.

Eu grunho em frustração. Ouço um riso abafado. E eu tenho certeza que há um vinco entre minhas sobrancelhas. Será que é assim que Peeta se sente a respeito do arco e flecha? Frustrado e irritado?

— O limão, meu amor. — diz ele com paciência. Como um estralo me lembro do limão sendo citado no meio dos ingredientes. E dou um tapinha na testa.

— Claro... eu sabia. — não soou tão convincente como gostaria.

Ele levanta as mãos como se rendendo e entorta a boca num gesto engraçado e eu rio. Há um homem tão... Maravilhoso igual a ele mundo afora? Não, não existe. Peeta é único. O meu dente de leão. 

Meu amor... essas suas duas palavras fazem com que um choque e uma sensação indescritível me aqueçam. Eu gosto de ouvi-las. Eu me lembro da primeira vez que eu as escutei: Fora na época em que nós ainda namorávamos, passeávamos de mãos dadas e ao passar em frente à minha antiga casa, uma crise de pânico se fundindo com meu emocional abalado, me paralisou. Eu ainda estava com problemas em lidar com as tragédias que me haviam acontecido. Foi estranho, pois em geral era eu quem o confortava, quando ele agarrava as costas das cadeiras — com os lampejos de imagens cruéis que foram implantadas para que ele me odiasse, ou que o maltratasse — para que ele não me atacasse. Seu tom era doce e tinha todo o toque de calmaria que eu precisava: “Shiiiu! Está tudo bem, Katniss, você vai ficar bem, meu amor...” ouvir aquilo fez com que eu me sentisse tão amada e única que por questões de minutos me esqueci dos motivos que havia me levado a surtar como uma maluca. E uma certeza se instalava firme, de que eu estava protegida em seus braços quentes... Nada mais poderia me abalar, ou me machucar. E eu me sinto assim desde aquele dia. Estou me sentindo agora.

Ouço um pigarro.

— Devaneio? — a voz de Peeta me desperta.

Pisco os olhos. E foco seu rosto. Ele conhece todas as minhas expressões. E aparentemente consegue ler minha mente, ou é porque ele é tão bom nas palavras quanto em me conhecer muito bem.

— Tão obvio?

— Um pouquinho.

Eu sorrio um pouco. Mal sabe que ele quem está em meus pensamentos.

Ele levanta as sobrancelhas e aponta para o meu avental amarelo florido e permanece olhando, vejo que ele está segurando o riso, afasto a tigela que eu misturava os ingredientes para poder ter uma visão melhor da roupa e arregalo os olhos. Simplesmente estou revestida por uma camada liquida amarelo claro da “massa” do bolo. De repente Peeta explode em gargalhadas. Primeiro eu fico chateada e irritada, mas depois vejo que é bobagem e o acompanho, sem magoas.

Quando ambos estamos em momentos descontraídos é inevitável permanecer a seriedade. Sorrir, nos divertir, se tornou parte de nossas vidas, situações preciosas para se guardar depois de tanto terror. Em especial quando as crianças estão conosco, Rose e Peter parecem adorar nos ver nessas circunstâncias. Sinto porque eles estão perdendo tudo isso, mas ganhando instantes maravilhosos com minha mãe.

Uma ideia me surge a mente. Coloco a tigela em cima do balcão de mármore e caminho lentamente em direção de Peeta com os braços estendidos. Ele me olha desconfiado e então digo ato:

— Venha cá, Peeta, me dá um abraço?! — e eu me jogou em cima dele.

Ele consegue desviar segundos antes que eu o pegue, parece que voltamos a ter seis anos de idade, corro atrás enquanto ele faz de tudo para que eu não o alcance. Rimos e ficamos nessa brincadeira por alguns minutos eu acho. Ele para e não é porque ele está cansado e sim para nos levar ao chão com a colisão de nossos corpos.

Sua blusa preta fica toda suja com a massa e ele afasta uma mecha do meu cabelo. Estamos ofegantes.

— Você não poderia estar mais linda, Sra. Mellark... — diz contra meus lábios.

Reviro os olhos.

— Você também, sr. Mellark. — eu digo em tom de deboche.

Peeta ri.

— Muito obrigado, eu acho... — lentamente é questão de segundos até que ele alcança minha boca, ele me beija, é difícil me afastar, estamos tão bem assim. Mas então me lembro de que todos vão chegar a qualquer momento. As horas parecem voar.

Espero até que Peeta tome as rédeas e nos pare, mas ele não o faz. E eu não me importo, seus lábios fazem um caminho até meu pescoço depositando beijos molhando por onde percorrem, me fazendo fechar os olhos. A sensação é boa.

Deixamo-nos levar pelo momento. Peeta me suspende em seus braços, sem em nenhum momento interromper os beijos e nos leva para cima. Assim nos tornamos um só, sem nos importar com nada, é mágico assim como todas às vezes.

[...]

Estamos limpos e cheirosos. O bolo marrom está no centro com uma abertura de coco com quatro pedaços faltando, olho para Peeta que está entre Rose e minha mãe e ele me manda um olhar tranquilizador, assim como um sorriso. Encaro minha mãe, Rose e Peter. As duas parecem estar hesitantes em dar uma garfada e comer. O que me incomoda um pouco.

Finalmente, talvez por verem minha expressão triste decidem ao mesmo tempo — parece até ensaiado — apanhar o garfo, cortam com um pouco de dificuldade um pedacinho e o levam a boca, depois de sorrirem para mim.

Espero nervosa e em expectativa. Vejo que minha mãe mastiga com um leve vinco na testa e engole depois de tomar um longo gole de leite. Rose mastiga com uma expressão estranha. Mas então encolhe os ombros.

Olho para Peeta, que também tira um pedacinho da sua fatia e sem hesitar ele leva a boca. Sua expressão continua suave e calma. Sem caretas ou vinco. Aparentemente ele aprovou, então acredito que meu bolo tenha ficado delicioso.

— E então? — não aguento mais a ansiedade.

Minha mãe, Peeta e Rose se entreolham.

— Está perfeito. Querida. — diz minha mãe com um sorriso leve.

— Mesmo? — eu não escondo meu sorriso de satisfação e alegria.

Ela assente.

— Peeta?

Ele assente antes de falar.

— Daqui a algum tempo você será melhor na cozinha do que eu, amor. — diz ele, parece ser verdade, pois não há nenhum traço de brincadeira.  

Eu bufo.

— Não exagere, Peet. — eu digo revirando os olhos e rindo. — e você querida, o que achou? — me refiro a Rose.

— Muito bom, mamãe! — responde e sorrir timidamente.

Naquele momento, eu sinto que alguma coisa está errada. Olho de soslaio para eles, mas não digo nada.

Peter se mexe impaciente e bate as mãos chamando nossa atenção, quando eu o encaro, ao meu lado na cadeira, um pouco menor que a de Rose, ele está irritado.

— O que foi, meu pequeno? — pergunto suavemente.

Ele olha para o bolo no centro abrindo e fechando as mãozinhas, como se quisesse alcançá-lo. E olha para mim de novo.

Boio.

Eu sorrio. Levanto, pego um prato pequeno e ponho um pedacinho de bolo. Sento novamente e ele se remexe animado, sorrindo abertamente quando ver que eu vou realizar o seu pedido. Com cuidado, estendo o garfinho de silicone em direção a sua boca, ele mastiga e faz uma careta, cuspindo fora.

Indo contra todos os comentários elogiosos.

Olho para eles que sorriem envergonhados. Viro o rosto e faço uma careta de frustração...

Minha mãe me ajuda a arrumar a mesa depois que todos pedem desculpas por terem ocultado a verdade. Eu estou um tanto chateada por não fazer um bom trabalho. Será que é assim que Peeta se sente com as falhas com o arco? Talvez pior. Mas é uma sensação tão estranha. Já sentados para o jantar minha mãe nos conta como anda seu trabalho, e ela diz depois que está muito feliz por nos visitar. Vejo no seu olhar — desde que chegou — os vestígios de saudade. E eu quero que ela more conosco, ela não concorda, no entanto. Eu sei o porquê, o mesmo motivo de antes. Ela quer se ocupar continuamente, para não pensar em Prim. Ela ainda sente sua ausência embora tantos anos tenham se passado. Depois Rose com os gritinhos animados de Peter nos contam detalhes sobre seu passeio com a vovó.

Coloco as louças na máquina e em questão de segundos, minha mãe e eu deixamos a sala de jantar impecável. Momentos assim com minha mãe são especiais para mim. Quando ela passa o final de semana conosco ela livra Peeta de qualquer afazer para que tenhamos um tempo juntas.

Antes de nos recolhemos, ficamos na sala de estar aquecidos pela lareira enquanto assistíamos a novela de Effie no tele projetor. Engraçada e espontânea, como ela é na vida real. Minha mãe se despede com abraços e beijos. E naturalmente julgamos ser a hora de nos deitar também. Especialmente as crianças. Carrego Peter sonolento e Peeta leva Rose.

Ajudo Rose a vestir seu pijama lilás florido. Antes de dormir ela pede que seu pai conte uma de suas histórias favoritas sobre a guerreira Primrose e em como ela deu sua vida em favor das crianças. Um conto leve e embelezado, diferente do que aconteceu realmente, minha filha não precisava saber dos detalhes mais cruéis que acometeram aquele dia. Pelo menos não tão cedo. Dou um beijo de boa noite em sua bochecha e sigo para o quarto com Peter nos braços. Ela dorme nos primeiros cinco minutos, pois Peeta logo surge no quartinho de Peter quando estou o trocando, ele planta um beijo em seu cabelo antes de seguir para nosso quarto. Troco sua fralda, substituo sua roupa por um pijama verde, o coloco para amamenta-lo e nino-o com delicadeza cantarolando a cantiga que ele gosta. E ele não demora a dormir também. O deixo no berço e o embrulho sorrindo bobamente. Desligo a luz e saio sem fazer nenhum pio.

Antes que eu dê mais algum passo, sou interditada por minha mãe no corredor segurando um copo de água na mão. Ela não diz nada no primeiro minuto e embora nosso laço de mãe e filha tenha esteja mais firme que nunca, estranho um pouco seu olhar atento e o sorriso largo desenhado no rosto pálido.

 — Mamãe, está tudo bem?

— Sim, querida. Senti um pouco de sede e fui buscar um pouco de água... Só não consegui seguir para o quarto quando escutei você cantar. Fiquei aqui ouvindo. Essa é a canção que...

— O papai cantava e me ensinou a cantar.

Ela concorda com a cabeça.

— Eu sei que eu já disse isso antes, querida. Mas sempre que venho aqui, que vejo você, Peeta e as crianças, me sinto tão orgulhosa de você. De como você é forte. De como conquistou tudo que possui. Prim também estaria feliz por você.

Eu não percebo que estou chorando até sentir as lágrimas deslizarem por minhas bochechas. Não é apenas pela menção à nossa patinha, mas também por gratidão.

— Obrigada, mãe. Eu não teria conseguido sem Peeta, nem sem você.

Me lanço em seus braços, chorando sem nenhum traço de vergonha. E ela me aperta de volta, com certo cuidado para não deixar o copo cair.

— Eu te amo, querida.

— Eu também te amo, mãe. Muito.

— Certo, certo. — ela me dá batidinhas nas costas encerrando momento melancólico — sabe o que eu pensei em distribuir amanhã para a apresentação de Rose?

Eu rio. Minha filha e sua habilidade em juntar todo mundo para suas apresentações dançantes aos domingos. Inclusive Gale e Johanna com a pequena Bree. Exato, um casal totalmente improvável aconteceu após alguns anos depois de Effie e Haymitch.

— O que?

— Aqueles canapês de presunto que Peeta me ensinou no último final de semana.

— É uma ótima ideia, mamãe.

— Obrigada. Vamos dormir, querida. Você deve estar cansada. Boa noite.

— Boa noite.

Trocamos beijos de boa noite e cada uma segue para seu devido quarto.

Assim que troco de roupa e deito na cama, sou espremida pelos melhores braços quentes que julgo existir. Peeta me olha com uma intensidade tão grande que embora eu esteja acostumada ainda me constrange.

— Você me ama, Real ou não Real? — sussurro naquela noite estrelada e tranquila. Um jogo que ainda fazemos de vez em quando.

— Real. — ele responde me apertando ainda mais e selando nossos lábios, com a promessa de que tudo ainda estaria perfeito se tivéssemos um ao outro.


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Notas finais do capítulo

*Comentem o que acharam, sim?
*Obrigada por dar uma chance à fanfic
*Não esqueçam de seguir o insta: pontofinal_._
*Beijos ♥



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