Olhei para Carlisle, buscando uma solução, mas ele estava tão surpreso e calado quanto eu. Ótimo! Se nem Carlisle, o rei da sabedoria, sabia o que fazer, eu saberia? No mínimo eu ferraria tudo.

— Alguém pode me explicar? – Edward tornou a falar, se aproximando. Ele parecia bravo, mas ainda estendeu o copo de café para o pai, que pegou e bebeu um longo gole como se pudesse se esconder atrás do liquido.

— Então, Edward... sabe – Carlisle gaguejou, olhando do filho para mim como se eu tivesse respostas – Bella... bem... ela.

— Ah, porra. Vou contar logo, Carlisle, foda-se! – Eu disse, irritada com aquela situação toda.

— Bella! – Carlisle me repreendeu, mas então viu em minha expressão que eu estava realmente certa sobre isso – Você tem certeza? – Perguntou, mudando o tom de voz.

— Sim. Estou cansada, Carlisle – Fui sincera – Não aguento mais.

Carlisle leu as entrelinhas e assentiu. Suspirou e beijou minha testa, sussurrando um boa sorte. Saiu do quarto, deixando apenas Edward e eu.

— Sente – Eu disse a ele, que parecia uma estátua em pé ao lado da minha cama – Não posso conversar com você se você fica parecendo meu carrasco.

Edward fez uma careta, concentrado em manter a pose. Suspirei, pensando que aquela seria uma longa conversa. Tinha medo da reação de Edward, mas na verdade, isso não importava muito. Meu passado faz parte de quem eu sou, e apesar de querer muda-lo, nunca poderia.

Ele finalmente sentou-se na poltrona perto da cama, e me encarou. Respirei fundo.

— O que você pensou sobre mim quando Carlisle me apresentou? Sobre a história que ele contou? – Perguntei, curiosa e querendo que a verdade demorasse a aparecer.

Edward me olhou confuso, balançou a cabeça e suspirou, cruzando os braços.

— Que era uma história estranha. O único amigo de Carlisle que se chama Swan não tem filhos e nem mora em New Orleans. Tentei não contestar... mas claramente você não é filha de nenhum empresário de alto escalão.

Não me ofendi, Edward tem razão. Seu tom era sincero, e não me julgava como poderia parecer.

— Realmente – Sorri – Eu já te contei que sou órfã. Cresci em um orfanato, e fugi quando me tornei adolescente, achei que longe de todas aquelas pessoas egoístas minha vida seria mais fácil, até que eu percebi que se eu quisesse comer, ou dormir em algum lugar decente, eu deveria trabalhar e ganhar dinheiro. Mas logo eu percebi que nenhum lugar decente me contrataria.

— Bella... – Edward gemeu em agonia, talvez sabendo o que viria.

— Eu tinha catorze anos de idade. Meu primeiro emprego foi em um bar, eu era inocente e achava que aquilo seria suficiente para me sustentar, mesmo que todas as outras garotas ali fizessem serviços por fora... prostituição. Não foi, obviamente. A dona do bar fez minha mente e eu... caí – Declarei, sentindo meu coração pesar.

Nunca havia contado essa parte da minha vida para ninguém. Dizer em voz alta era como estampar em minha testa o quão burra e inútil eu havia sido.

— Amanda disse que eu deveria fazer aquilo, ou então eu seria demitida e não encontraria emprego em lugar algum, porque ninguém aceitaria uma vagabunda como eu – Virei o rosto, evitando o olhar de Edward, sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto – Uma vez que eu entrei naquele mundo, não houve mais saída. Amanda era uma filha da puta e eu consegui me livrar dela e fui trabalhar em outra boate, como dançarina, mas o dinheiro era pouco e não dava, então, novamente, eu me... prostituí. Depois ficou mais fácil, eu não pensava naquilo, era melhor assim. Criei uma outra personalidade para lidar com isso, era como se não fosse eu ali fazendo aquelas coisas, mas no fim do dia, eu sabia que sim, era eu.

Sequei minhas lágrimas com violência, esperando ouvir algo de Edward, mas ele se manteve em silêncio. O olhei, vendo que ele encarava um ponto distante na parede. Resolvi continuar.

— Conheci Carlisle na boate. Ele foi com uns amigos, e eu o levei para um quarto e tentei seduzi-lo, ele parecia ter dinheiro e isso era suficiente para mim. Mas a moral dele falou mais alto. Quis saber minha idade, e ficou indignado com a minha vida. Eu achei que ele fosse mais um cliente engomadinho, mas Carlisle não saiu dos meus calos. Ele continuou me encontrando dia após dia, contava sobre sua família, sobre seu trabalho, até concertou meu teto – Ri sozinha, limpando mais lágrimas – Ninguém nunca havia cuidado de mim dessa forma, então eu... me senti especial.

Respirei fundo, sentindo-me extremamente exausta. Meu coração estava acelerado e as lágrimas insistiam em cair, mesmo eu tendo prometido para mim mesma que nunca choraria pelo meu destino.

— Fale algo, Edward – Pedi em um fio de voz, odiando seu silêncio depois de tudo que eu contei – Você me odeia? Vai se afastar?

Ele me encarou finalmente, e tudo que eu pude ver em seu olhar foi dor. Franzi o cenho em meio as lágrimas. Era dor por mim? Edward sentia muito por minha vida?

— Eu já disse para você que nunca poderei te odiar – Ele disse. Se levantou e sentou na minha cama, puxando-me para seus braços – Está tudo bem, você não está mais sozinha, Isabella. E você é especial, querida.

Não consegui mais segurar as lágrimas, e me agarrei a sua camisa, chorando sem controle algum. Chorando por meu passado, pela dor que eu sentia, mas principalmente, por ser aceita por Edward apesar das minhas falhas.

— Edward – Me afastei, tentando limpar meu rosto das lágrimas e o encarando, mesmo que minha visão estivesse embaçada – Eu realmente não quis... eu...

— Shii, eu entendo – Ele me puxou novamente para seus braços e acariciou meus cabelos gentilmente – Não precisa se justificar ou se esconder de mim, Bella. Quero apagar todas suas dores! Só peço que não me afaste por medo ou vergonha.

Como ele poderia entender? Como poderia não me xingar ou me julgar? Em que universo paralelo era aquele em que um homem era compreensível dessa forma?

Muitas vezes eu havia sonhado com uma vida diferente, com algo que me levasse ao céu e tirasse minhas tristezas de dentro de mim, mesmo que apenas um pouco. Edward fazia isso comigo. Fazia eu me sentir normal e... amada, mesmo que eu não merecesse isso.

Se for um sonho, desejo nunca acordar. Quero ficar para sempre em seus braços fortes e receber seu carinho até o fim da minha vida.

Era pedir demais?

Edward, você também me abandonará um dia, assim como papai e mamãe? Aos poucos, fui me sentindo sonolenta, até que adormeci agarrada a Edward.