A Reserva escrita por MORPHEU


Capítulo 1
Doug Mattew




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A chuva tropical caía em camadas encharcadas, martelando o teto enrugado da tenda, rugindo ao descer pelas calhas metálicas, salpicando no chão em uma torrente. Doug Mattew suspirou e olhou para fora. Da tenda, mal podia ver a praia ou o mar logo além, escondidos em uma neblina baixa. Não era isso que ele esperava quando embarcou em um navio em direção as ilhas Tonga, a oeste da Austrália, para passar dois meses como consultor de caça. Doug Mattew esperava sol e belíssimos animais depois de anos extenuantes como agente de campo da Reserva Natural do Congo.

Ele já está a na Ilha Tonga Sul há três semanas e tinha chovido todos os dias.

Todo o restante era ótimo. Ele gostava do isolamento e da simpatia dos funcionários. As ilhas Tonga na Oceania tinham uma das cinco melhores reservas naturais do mundo, e mesmo nessa remota tenda litorânea, os recursos eram bem conservados e dispunha de amplos suprimentos. Desta forma poderia fazer seu trabalho da mesma forma que fazia no Congo.

Mas a chuva! A chuva constante, inacabável!

Do outro lado da tenda, Kauri inclinou a cabeça.

 - Ouça - disse ele.

 - Acredite, estou escutando - Respondeu Doug.

 - Não. Ouça.

E então ele escutou outro som misturado ao da chuva, um rumor mais grave que se ampliou e emergiu até ficar claro: a batida rítmica de um helicóptero. Ele pensou: Eles não podem estar voando em um tempo desses.

Mas o som aumentou gradualmente, e então o helicóptero irrompeu, baixo, através da neblina oceânica. Rugiu lá no alto, circulou e retornou. Ele viu o helicóptero voltar para cima da água, perto dos barcos de manutenção, depois se aproximar pela lateral da instável doca de madeira e voltar para praia.

Estava procurando um local pra pousar.

Era um EC130, com uma faixa azul na lateral escrita a palavra "Manutenção".

Ele imaginou o que seria tão urgente para que o helicóptero precisasse voar com esta chuva.

Através do para-brisa, ele viu o piloto exalar, aliviado, quando pousou na areia molhada da praia. Homens uniformizados saltaram para fora e abriram a grande porta lateral.

Ele ouviu gritos frenéticos em tonganês que é um idioma polinésio e Kauri o cutucou. Entre as poucas palavras que ele entendeu, uma delas era Doug.

Seu rádio acoplado ao cinto apitou, e uma voz robótica e ofegante sai dele.

— Capitão Awiki comando aéreo. Doug Mattew na escuta?

Em um salto Doug se levantou, sacou seu rádio e apertou o botão.

 - Positivo Comando, câmbio. - disse.

 - Suba a bordo imediatamente, câmbio.

Num segundo Doug já estava correndo na areia fofa em direção ao EC130, a chuva castigava seu rosto com pingos violentos e agitados pela hélice giratória.

Já abordo, as portas foram fechadas e o helicóptero decolou. Os tripulantes eram nativos, tinham traços faciais delicados e inconfundíveis assim como o tom de pele caramelo escuro. Todos se seguravam as alças laterais do veículo, que balançava e tremia sob a chuva intensa.

Doug só podia ouvir a chuva castigando o helicóptero, do lado de fora, uma cortina de água embaçava os vidros.

Nada foi dito até que ele pusesse os pés em terra firme. Os tripulantes abriram as portas e fizeram gestos com o braço para Doug entrar no prédio cercado de palmeiras a sua frente.

Dentro do edifício, Doug aprumou as vestes. Suas pernas estavam bambas.

 - Doug Mattew, agradeço por ter vindo. - disse uma voz feminina.

 - Bom, estou aqui. - Respondeu ele - Em que posso ajudar, senhorita..?

 - Maia, Ellis Maia. Sou gerente de acomodações. - disse ela ajustando um crachá em seu peito. - Seja bem-vindo ao Centro comercial da Reserva. Desculpe faze-lo voar sob estas condições, mas sua presença foi solicitada diretamente pelo sr. Page, ele vai passar o fim de semana na ilha junto a alguns investidores.

 - Desculpas aceitas, mas eu não entro naquele helicóptero novamente nem que o sr. Page beije a minha bunda. - disse Doug apontando para seu próprio traseiro.

 - Vamos disponibilizar um dos quartos para que você possa se arrumar para o jantar. Espero que entenda que se trata de uma ocasião importante, sr. Mattew. Vai encontrar tudo que precisa no quarto sete. - disse Ellis enquanto entregava uma chave presa a um chaveiro escrito "A Reserva - 07" para Doug. 

 - Sobre o que exatamente vamos tratar nessa ocasião importante? - perguntou ele.

 - Os investidores querem que um especialista renomado possa falar um pouco mais detalhadamente sobre o que temos em nossa reserva. Agora venha, vou deixa-lo em seu quarto e volto para te buscar as dezenove horas.

 

***

 

O relógio de pulso de Doug apontava dez para as dezenove, ele estava sentado a uma poltrona apreciando a vista embaçada das Palmeiras balançando do lado de fora.

Ele pensou: Mas que diabos, agora preciso ficar me arrumando pra fazer uma palestra para um punhado de advogados sedentos.

Mas no fundo Doug adorava falar horas e horas sobre seu trabalho. Inflar um pouco seu ego de intelectual de campo.

Pensou novamente: Mas estão me pagando uma fortuna...

O quarto de Doug era amplo com grandes janelas de vidro em toda lateral. Era decorado com detalhes de concreto e rocha bruta, algumas trepadeiras prendiam do teto nos cantos. Tinha tudo que um quarto cinco estrelas de Dubai teria, e ia além. Uma das paredes tinha prateleiras entalhadas diretamente na rocha, repleta de livros. Todos os livros eram da editora da própria reserva, e tinha todo tipo de informações únicas sobre o ambiente das ilhas Tunga.

O som de batidas na porta tirou Doug de seu devaneio, ele se levantou e abriu a porta. Ellis Maia o aguardava ao lado de fora.

 - Está pronto Sr.Mattew? - perguntou ela.

 - Mais que pronto Ellis. - Doug pigarreou - Sabe, eu andei pensando se tem algo que eu deva saber sobre o jantar de hoje.

— Na verdade eu imagino que vá ser mais tranquilo do que o senhor pensa. Os investidores já viram o que temos no parque, e parecem muito animados. Acredito que o senhor vá sanar as dúvida que estejam a seu alcance. - disse Ellis enquanto passava pela porta que dava acesso a uma belíssima sala de jantar. - sente-se, eles vão chegar a qualquer minuto.

 - Tomara que os figurões não demorem muito. - disse Doug em zombaria.

 - Os figurões chegaram. - disse uma voz masculina logo atrás de Ellis.


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