Together escrita por Mille Evans


Capítulo 2
Here I Go Again




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TOGETHER

. . .

“… Here I go again on my own

E aqui vou eu de novo, sozinho

Going down the only road I've ever known

Seguindo pela única estrada que conheço

Like a drifter, I was born to walk alone

Como um andarilho, eu nasci para caminhar sozinho

But I've made up my mind

Mas eu me decidi

I ain't wasting no more time

Eu não vou mais perder tempo

(…)

'Cause I know what it means

Porque eu sei o que significa

To walk along the lonely street of dreams

Caminhar ao longo da solitária rua dos sonhos”

(Whitesnake – Here I Go Again)

. . .

Passava das dez horas da noite quando Kagome Higurashi fechou o notebook, largando-se na cama. Os cabelos, úmidos após o banho, espalharam-se pelo lençol branco enquanto a morena encarava o teto branco, pensativa.  

Contando com aquele dia, fazia uma semana que havia saído de casa. E sua saída teve direito a tudo: um pai indignado quando ela impôs sua negativa definitiva quanto a se casar, uma mãe que implorou para ela reconsiderar sua posição e uma irmã que assistiu a tudo em silêncio.

Kagome fechou os olhos, sentindo-se emocionalmente exausta ao relembrar da situação. Seu pai tinha ficado tão enfurecido que por um instante ela cogitou que ele fosse sofrer infarto ou algo parecido. Conseguia visualizar perfeitamente o rosto dele ficando vermelho vivo, enquanto sua mãe chorava todas as lágrimas possíveis, pedindo para ela não contrariar o patriarca dos Higurashi.

Kagome sentiu os próprios olhos úmidos. Tinha sido muito difícil fazer aquilo. Colocar o essencial numa mala às pressas e ir embora brigada com pessoas que sempre lhe amaram e que nunca mediram esforços para lhe dar uma vida confortável parecia mimado por parte dela. Ir embora deixando tudo que lhe era familiar, seguro, estável…

A morena suspirou, cobrindo o rosto com as mãos. Lágrimas quentes escorreram pela lateral do rosto enquanto ela tentava conter o choro, que naqueles dias tinha se tornado rotineiro quando colocava a cabeça no travesseiro e pensava na loucura que tinha feito. Era assustador estar sozinha. Mas quando se lembrava do pai, das discussões, da mãe implorando para ela acatar aquele casamento absurdo, tudo aquilo fazia sentido. E era inegável: ela se sentia muito mais leve desde que havia saído de casa. Era um mundo assustador, mas assustador seria mesmo continuar parada aonde estava e ser infeliz pelo resto da vida.

Kagome suspirou e decidiu não pensar mais naquele assunto. Sentou-se na cama, limpando as lágrimas do rosto, e pegou o celular, seu único meio de comunicação com mundo, ocupando-se nos minutos seguintes de abrir o Whatsapp. Pelo menos dez novas mensagens surgiram, todas de pessoas que num passado recente tinham sido próximas o suficiente para serem chamados de “amigos”.

A garota abriu um sorriso amargo. Engraçado que ninguém tinha perguntado se ela estava bem. Queriam apenas saber o que tinha acontecido.

E ela estava cogitando dar uma resposta mal criada a uma das pessoas mais insistentes, quando o aparelho começou a tocar. A foto na tela pertencia a uma moça muito bonita, com os cabelos presos num rabo de cavalo alto e sorriso largo.

Kagome sorriu pela primeira vez.

— Alô – Atendeu a ligação sentindo o estômago se contorcer de ansiedade.

— KAGOME! – A voz estridente no outro lado da linha fez o cérebro de Kagome se chacoalhar. – Por que você não me ligou antes?

— Do que você está falando, Sango? – Kagome questionou, tomando cuidado para manter uma distância segura entre seu tímpano e o telefone.

— Você saiu de casa. Eu estava fora do país e não sabia. Por que não me ligou, Kagome?

Kagome sorriu soturnamente. Sango Kuwashima era sua prima por parte de mãe. Elas tinham sido criadas muito próximas e se tornaram boas amigas, isto é, até Sango ser descoberta como modelo e viver viajando o mundo. Ainda conversavam e tinham muito carinho uma pela outra, mas naturalmente tinham se distanciado.

— Eu não queria atrapalhar.

— Deixe de ser tola. Aonde você está?

Kagome hesitou, sentindo que novas lágrimas estavam embaçando seus olhos.

— Num hotel.

— Aonde?

— Do outro lado da cidade.

— Me passe o endereço. Vou passar aí pra te buscar.

Kagome piscou, sentindo as lágrimas que estava tentando conter escorrerem pela bochecha.

— M-me buscar?

— Sim, é claro. Esqueceu que eu moro sozinha? Além do mais, eu mal fico em casa. Não vou te deixar sozinha num momento desses.

— N-não vou atrapalhar? Seus pais não vão achar ruim?

Não houve resposta. Kagome ouviu um audível bufar do outro lado da linha. Pouco antes de desligar, Sango murmurou um “espero o endereço nos próximos segundos”.

Kagome limpou as lágrimas do rosto e passou o endereço. Dois minutos depois Sango anunciou que estava indo busca-la.

A morena correu para fazer todos os trâmites necessários para deixar o hotel, um lugar bem simples – o que ela podia pagar no momento com as economias que tinha guardado. Não demorou muito para a garota ver um Nissan Kicks parar exatamente na porta do hotel tão logo ela parou ali, a mochila pesando nas costas. Quando o vidro elétrico desceu e o rosto preocupado de Sango surgiu, Kagome sentiu todo o pranto que estava tentando conter vir à tona como um tsunami.

Ela não soube dizer exatamente em que momento elas haviam entrado no prédio de Sango, já que estava ocupada chorando. Havia chorado porque sentia medo, porque não falava com sua família a dias e porque sabia que eles esperavam que ela voltasse correndo para casa dois ou três dias depois de ter saído.

Sobretudo, Kagome chorou porque descobriu que ninguém tinha fé nela ou em sua capacidade de se virar perante dificuldades, mesmo que seus pés estivessem cheio de bolhas por caminhar pelas redondezas procurando emprego – e ela sequer sabia como fazer isso. Na verdade, não sabia praticamente nada sobre a vida e seus aspectos práticos, mas estava disposta a aprender. E isso, mais do que qualquer outra coisa, era melhor do que se manter ignorante como antes.

Quando finalmente se acalmou, sentada no sofá de Sango, Kagome respirou fundo e contou, inicialmente de forma resumida, tudo que tinha acontecido. Ocultou a conversa com o desconhecido na sacada, o ponto de partida daquilo tudo, porque não conseguia pensar naquilo com clareza no momento, embora os olhos dourados dele fossem marcantes o suficiente para se embaralharem em seus pensamentos quando estava distraída.

— E então, depois de negar se casar com aquele paspalho, você saiu de casa.

— Sim. – Kagome desabafou, juntando as mãos sobre as pernas. O cabelo estava agora preso num coque alto e desleixado, e as roupas que usava no momento, uma camisa branca simples e calça jeans, não faziam dela alguém que poucos dias antes podia ser considerada filha de um grande político. – E de lá pra cá… Eles não tentaram falar comigo. Acho que pensaram que eu voltaria logo. – A morena riu fracamente, encarando as próprias mãos.

Sango segurou as mãos da prima com carinho e a fez encará-la. Como Kagome, ela tinha cabelos escuros como a noite, sedosos e caindo em ondas suaves pelas costas. O vestido azul que usava era notadamente de marca e o par de saltos nos pés delicados denotavam elegância.

— Ninguém nasce sabendo de tudo. Eu vou ajuda-la e você vai mostrar aos Higurashi que decência e dignidade valem muito. Agora vá se arrumar. Nós vamos sair.

— O quê? – Kagome arregalou os olhos. – Sango, eu…

— Usamos quase o mesmo número de roupa. Tome um banho, escolha a roupa que quiser no meu closet e vamos distrair essa cabeça antes de arregaçarmos as mangas!

Kagome piscou, chocada demais para responder, mas respirou fundo, indo para o quarto aonde a prima tinha a instalado. Sabia que era meio inútil bater de frente com Sango quando ela enfiava uma ideia na cabeça.

 . . .

— Muito bom, esse arranjo ficou ótimo! – Inuyasha apertou o botão onde estava escrito “on”, mantendo o pequeno dispositivo acionado enquanto dava continuidade – Vamos encerrar por hoje. Obrigada, vocês foram ótimos.

A banda dentro do estúdio isolado por uma parede de vidro sorriu, acenando para o hanyou, enquanto ele fazia um gesto de “jóia”. Pressionou o botão “off” e ficou sentado na confortável cadeira de couro, dessa vez mexendo num complexo sistema de som com diversos botões e funções que compunha o painel que ele controlava. Um a um os músicos deixaram o espaçoso local onde estavam gravando, trocando alguns cumprimentos rápidos enquanto iam embora. Afinal, tinham estado ali o dia inteiro gravando. Estavam moídos.

Inuyasha perdeu-se por mais uma hora pelo menos, dessa vez de olhos fechados ouvindo a melodia que tinha sido gravada. Vez ou outra ele rabiscava alguma coisa numa folha, distraído. Quando deu-se por vencido, ele levantou-se, se espreguiçando, e deixou a sala, caminhando vagarosamente até a copa. Para sua decepção, a geladeira estava completamente vazia.

O hanyou bufou, indignado consigo mesmo. Estava trabalhando na gravação de pelo menos três álbuns, mal tinha tempo para respirar, quem dirá para abastecer a geladeira, organizar a própria agenda – ele sabia que precisava marcar reuniões e principalmente, comparecer a elas -, e encontrar alguns amigos para pelo menos trocar ideias e fazer possíveis contatos com as pessoas do meio.

Inuyasha suspirou. Tinha começado naquele estúdio a dois anos. Por sempre ter se interessado por música, conhecia muita gente e havia trabalhado em pelo menos dois álbuns que foram absoluto sucesso entre a crítica. Pelo menos até saberem que o produtor do estúdio em questão era membro da família Taishou, youkais de sangue puro e ocupantes da mais alta posição hierárquica entre os da própria raça e razoavelmente respeitados pelos humanos em razão do seu poder – aquisitivo e físico, de uma maneira geral. Mas ele, Inuyasha, apesar de integrar a dita família, era um hanyou. Seu sangue não era puro. Ele era um mestiço. E esse fato, de algum modo, vinha prejudicando seriamente seus esforços em conseguir novos álbuns para produzir. Tudo porque ele não era um youkai poderoso ou um humano com elevada posição social.

Ver críticos duvidando da sua competência, mesmo depois dele ter sido elogiado num primeiro momento, tudo unicamente em decorrência de sua raça, era difícil. Aquilo fazia seu sangue ferver de raiva. Eram coisas sutis, mas estavam lá. Uma nota nove que tinha se transformado em sete duas semanas depois em um artigo de jornal, e por aí ia. Não era toda banda que se arriscava a ter vínculos com ele.

Subitamente irritado pelo rumo dos próprios pensamentos, Inuyasha decidiu que era melhor ir para casa. Por isso, trancou tudo no estúdio e montou na sua moto, uma Harley Davidson Night Rod, e estava decidido a rumar para casa. Isso é, até seu telefone tantas vezes seguidas, que ele teve que parar numa rua qualquer, tirar o capacete e resmungar irritado ao ver a foto de Miroku no visor do telefone.

— Espero que haja um bom motivo pra você me fazer encostar numa rua pra atender esse maldito telefone, feh! – Atendeu já irritado.

Como sempre, bem humorado. Escuta, a Sango-chan voltou de viagem ontem e chamou a gente pra ir num bar. Disse que vai levar uma prima dela que precisa se animar. E aí, vamos?

— Não estou com humor para sair Miroku, não me leve a mal.

É a Sango-chan!

Inuyasha hesitou. Havia conhecido Sango, que era basicamente a namorada não oficial de Miroku porque os dois eram dois teimosos enrolados, a muitos anos. A garota era gente boa e tinha sido uma das poucas que ele havia conhecido na vida que não havia o olhado com preconceito. Ela era uma boa amiga.

O hanyou suspirou.

— Tá bom. Aonde encontro vocês?

— Nos encontre no Shikon Jewel às oito.

— Estarei lá.

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Notas finais do capítulo

E AÍ RAPAZIADAAAAAA! Tô de volta no pedaço! Tô realmente animada com essa história. Por ser uma temática mais séria, não tô explorando tanto o aspecto cômico, mas pode ter certeza que no próximo capítulo vai uma coisinha ou outra pra rir. E aí, o que acharam do capítulo? Eu não quis narrar a briga da Kagome com a família porque não curti muito a cena que escrevi. Mas acho que consegui passar o sentimento que gostaria sobre isso.
Eu peço por favor que vocês comentem! Quero muito saber o que estão achando.
Muito obrigada, aliás, a Maria Cecilia Ghiraldelli Elias e Eliane77 pelos coments! Tá aqui o capítulo novo, meninas!
Logo menos tem mais!
Um acenozinho de longe pra vocês (lavem as mãos!),
Mille Evans



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