O pirata observou atentamente a jovem adormecida em seu peito e suspirou em contentamento. Jack não conhecia bem o sentimento de “paz”, sendo um pirata, sua vida era sempre agitada, cercada de perigos, mas ao lado dela ele podia sentir seu coração mais leve. Ele lembra quando a conheceu, aquela jovem espanhola de uma beleza incomparável que o fascinou desde o primeira vez que a viu.

Desde esse dia, ela esteve ao seu lado, enquanto ele lhe ensinava lutas de espadas, lhe mostrava as belezas deste mundo e o romance entre os dois, florescia. Mas, ele sabia que não duraria para sempre. Por mais que ele quisesse estar com ela, aquela parte dele que sabia que o inevitável aconteceria não lhe deixaria em paz.

Ele iria deixa-la. Era um gesto covarde, ele estava certo disso, mas sabia que o mar lhe chamava, e ele não poderia trazê-la com ele.

Ele estava ciente de que havia muitos perigos por aí, principalmente para ele que na maioria das vezes parecia funcionar como um ímã para situações... Complicadas.

Naquela madrugada, ele conseguiu se desvencilhar dela, a deitando na cama que compartilhavam e olhou em seu belo rosto.

 Eu te amo.

Ele se sacudiu quando percebeu o que tinha acabado de pensar. Era ridículo, ele não a amava. Ele nem estava certo que tal sentimento existia. Ele apenas... A admirava, afinal, ela era uma mulher ardente, inteligente, feroz, sedutora e... Linda. Era somente uma certa... Admiração, só isso, pelo menos era o que ele sempre dizia para si mesmo.

Beijando sua testa e seus lábios suavemente uma última vez, ele se afastou dela e saiu.

Algum tempo depois, Angélica acorda, e vê os pequenos raios de sol adentrando pela janela. Ela sorri e se vira na esperança de encontrar o pirata ao seu lado, mas se surpreende ao perceber que ele não está lá.

— Jack? — Ela olha ao redor do quarto, mas ele não está em nenhum lugar e não a responde.

— Jack! Jack? – Ela sai a sua procura, gritando freneticamente por seu nome e consegue obter uma informação de um homem que lhe disse que o tinha visto no cais, prestes a entrar em um navio. Ela corre o mais rápido que consegue, esperando que ele não tivesse feito o que ela mais temia que o pirata fizesse. Ao chegar ela o procura, se virando de um lado para o outro. Ele tem que estar aqui, tem que estar...

Então ela o vê, em um navio como o homem havia dito, e a embarcação já havia se afastado um pouco, mas Angélica consegue reconhece-lo mesmo assim.

— Jack! – Ela corre em sua direção, mesmo sabendo que é inútil, ele já tinha partido... Ele a tinha deixado... – Jack!

Ela percebe que os olhos dele estão nela, mesmo à distância, mas eles não parecem demonstrar nenhuma emoção ou arrependimento. Como ele pode ser tão frio?

— Jack! Por que Jack...? Por que? – Ela chega ao fim do cais e está chorando, muitos estão a olhando de maneira reprovadora, mas ela não se importa... A única coisa que importava naquele momento era o fato de que o único homem que ela já tinha amado na vida, a tinha abandonado.

— Tudo bem Sparrow! Eu não quero mais saber de você...! – Era uma mentira, ela sabia, mas a raiva falou mais alto. O navio se afastava cada vez mais, mas a indiferença no comportamento dele só a fazia se sentir pior... Ele realmente não se importava?

— Jack, por favor... - Caindo de joelhos, ela deixou que suas lágrimas escorressem, caindo no mar...— Eu te amo Jack, por favor, volte... 

Ele se foi e ela ficou.

Por anos, ela encontrou uma maneira de poder ficar cara a cara com ele de novo e conseguiu. Ao lado de seu pai, Barba Negra e com a ajuda de Jack, embarcaram em uma aventura em busca da fonte da juventude. Ela estava com raiva, com muita raiva dele, mas sabia que o sentimento que tinha por ele nunca havia mudado... Ela o amava antes e o amava agora, mas não estava certa de que ele pudesse sentir o mesmo... Ela imaginou se algum dia poderia ter certeza de seus sentimentos por ela...

Após os planos com a fonte da juventude não ocorrerem da maneira planejada, ela se viu em desvantagem novamente. Com Jack amarrando seus braços e a colocando num bote, ela só conseguia pensar se ele seria capaz de abandoná-la de novo. Ela sabia que não era uma santa, ela havia errado com ele também, mentido para ele, mas abandoná-la novamente não era justo. Nunca foi.

A se ver sendo deixada numa ilha por ele, ela percebeu aquela mesma indiferença irritante em seus olhos, como se ela não importasse para ele. Ela odiava isso. Eles já haviam compartilhado tantos momentos carinhosos e amorosos, que ela havia guardado com carinho em seu coração... Será que ele não sentia a mesma coisa? Será que esqueceu...?

— Eu te amo... – Ela disse essas palavras. Palavras que ela havia evitado contar a ele por anos. Desde que se conheceram, ela queria ter lhe dito, mas tinha tanto medo de ser repreendida por ele, de não ser correspondida no sentimento que nunca lhe contou. Mas, agora... Ela não tinha nada a perder... Ela não tinha mais um pai, não tinha para onde ir... Ela só tinha o homem que estava em pé bem na sua frente. O pirata que havia roubado seu coração.

Mesmo que estivesse com os olhos vermelhos por lágrimas não derramadas, e com areia em seus cabelos, a beleza de Angélica o deixou sem fôlego por um momento, antes que ele a respondesse.

— Eu também... Sempre amei e vou amar pra sempre... – Ele perdeu a conta de quantas vezes desejou lhe dizer essas palavras e a abraçou desejando que esse momento com ela perdurasse para sempre... Embora ele soubesse que era impossível, ele sempre teve essa mania incontrolável de desejar o impossível.

Mas, ele sabia que teria de fazer o inevitável... Ele não podia permitir que ela mudasse seus planos e o ‘enfraquecesse’, ainda mais agora que ele estava tão perto de conseguir tudo o que sempre quis. Ou, quase tudo.

Só mais uma vez ele desejou resistir a isso e se permitir seguir um futuro ao lado dela. Mas, ele tinha... Medo. Por mais que odiasse admitir isso, ainda que apenas para si mesmo.

Embora, Jack soubesse que se ficasse com ela, se ele hesitasse, nem que fosse por um segundo e a beijasse (que era o que ele mais queria fazer), ele seria capaz de esquecer todo o resto. E isso era algo que o emocionava e o aterrorizava. Ele já havia enfrentado tantos perigos, vivido tantas aventuras, mas nada conseguiu ser mais enigmático para ele do que os sentimentos por essa mulher.

Eu te amo Angélica, quero ficar com você, mas...

Ele a deixaria novamente.

Ele esperava que um dia ela pudesse perdoá-lo. Esperava que um dia tivesse coragem de voltar para ela...

Meu desejo é de que um dia eu não tenha medo de te amar, Angélica.