O Enforcado escrita por themuggleriddle


Capítulo 4
O diadema de Ravenclaw




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“Desde quando ele está assim?” perguntou Helena, observando enquanto Hufflepuff se ocupava em ajudar o menino a beber a poção de uma caneca de madeirda.

“Desde que chegou aqui, três dias atrás,” disse Helga, sorrindo de leve e afagando as costas da criança quando esta fez uma careta ao engolir o líquido. “É ruim, mas você sabe que está ajudando.”

“E o que você vem dando para ele?”

“O mesmo que dei para as outras crianças que você já viu com os mesmos sintomas, Helena.” A mulher pegou a caneca de volta e bagunçou os cabelos do menino, antes de se levantar da beirada da cama da enfermaria. “Agora descanse.”

“Que é a mesma coisa-“

“Que você tem levado nas suas... ahm... expedições, sim,” disse Helga enquanto saía da sala da enfermaria e ia para a antessala desta, seguida pela garota. “Ele está bem melhor. A febre baixou ontem e permaneceu assim hoje. A tosse diminuiu bastante e ele voltou a respirar sem sentir dor.”

“Isso em três dias... Os outros foram assim também?”

“Todos nessa média. O maior tempo foi cinco dias para a tosse passar, mas a dor e a febre já haviam terminado,” Hufflepuff explicou, antes de ir até um armário e pegar três frascos que continham uma poção amarelada. “Vai precisar de mais?”

“Sim.” Helena se aproximou, pegando os frascos com cuidado e os colocando dentro de sua bolsa. “Obrigada.”

“Helena... Eu sei que isso é uma pesquisa, mas tem certeza que vale o risco?” perguntou Helga, franzindo o cenho enquanto segurava uma mão da garota de leve. “Se alguém a pegar-“

“O espírito sem limites é o maior tesouro do homem, não?” murmurou Helena, sorrindo meio sem graça antes de escapar da mão da outra bruxa.

“Não dê uma de Rowena Ravenclaw aqui, Helena,” a mulher falou, franzindo o cenho. “Deus sabe o que eu tive que enfaixar na sua mãe por causa desse ‘espírito sem limites’. Eu preferiria que não precisasse fazer isso com você também.”

“É importante,” disse a garota. “É importante para mim.”

“Eu sei disso, querida, mas... Só tenho medo que algo ruim lhe aconteça. Você pelo menos falou para sua mãe o que está fazendo?”

“Eu lhe pedi para não falar nada para ela por razões óbvias...”

“Mas, Helena-“

“Eu vou falar, prometo.” Ravenclaw sorriu, tentando passar alguma calma para Helga do jeito que seu pai conseguia apenas com um sorriso. “Mas eu quero ter certeza do que estou falando e, para isso, preciso de dados.”

“E para ter dados, você precisa pesquisar,” a bruxa completou, suspirando fraco. “Já ouvi esse discurso muitas vezes.”

“Vai ficar tudo bem, Helga.” Helena se aproximou rapidamente, apenas para segurar a mão da mulher e apertá-la de leve. “Prometo.”

***

Hogwarts era um lugar a parte de todo o resto do mundo, Helena percebia isso sempre que se aventurava em alguma vila ou cidade. Toda a calma e segurança do castelo parecia não existir, dando espaço para um sentimento esquisito de curiosidade e receio, mas sempre acabava atribuindo o medo ao fato de estar entre trouxas.

Não era como se os trouxas realmente soubessem quem ou o que ela era. O nome pelo qual a conheciam era diferente em cada vila que passava e sempre tentava alterara um pouco de sua aparência com magia. Até então, ninguém parecera desconfiar dela: todos achavam que aquela moça não passava de uma curandeira com tempo demais nas mãos e que decidira visitar alguns doentes e tratá-los. Em parte, era isso mesmo, exceto pelo fato de que ela não era nenhuma curandeira e que os doentes que escolhia eram sempre pessoas com os mesmos sintomas. Ela não confiava na sua habilidade para tratar uma dor de dente ou uma dor de barriga, nesses casos, sempre lançava mão de algumas ervas que se lembrava de conhecer graças ao seu pai e pedia para as pessoas visitarem um curandeiro de verdade... Mas quando se tratava de pessoas com febre, dor para respirar e uma tosse terrível, ela se sentava ao lado deles e perguntava sobre todos os detalhes da doença e lhes dava as poções de Helga.

Até agora os seus resultados estavam sendo bem interessantes quando comparava os trouxas e os alunos de Hogwarts. Todos recebiam a mesma poção tão logo ela ou Helga ficavam sabendo da doença e, apesar de arriscado, Helena ainda tentava manter as mesmas condições para os dois grupos, garantindo que a casa dos trouxas doentes ficassem mais seguras contra o frio e que eles recebessem comida o suficiente para se recuperarem.

A diferença, no entanto, estava no resultado de cada um. Enquanto os alunos de Hogwarts normalmente melhoravam em três dias, os trouxas levavam mais tempo, às vezes até semanas.

“Faz quanto tempo mesmo que ele está assim, senhora?” perguntou Helena, enquanto dava outra dose da poção de Hufflepuff para um rapaz que encontrara em uma vila em Yorkshire.

“Duas semanas,” disse a mulher, a mãe dele, que estava sentada ao lado dele na cama. “Mas a febre finalmente foi embora. Vem melhorando faz dois dias, mas hoje ele passou o dia sem ela.”

“Isso é ótimo,” disse Helena, sorrindo de leve enquanto levava uma mão até a testa do garoto, que parecia se encolher sempre que ela fazia aquilo. Realmente, a temperatura estava boa e a pele não estava mais suada como antes. “Agora é só esperar até a tosse ir embora também. Vocês receberam a comida?”

“Sim, senhora.” A mulher sorriu, antes de abaixar a cabeça em uma pequena reverência. “Muito obrigada por isso também. Nem temos como agradecer.”

“Não precisam... Ver Nicholas melhorar já será ótimo,” a garota falou, antes de se levantar e segurar as mãos da mulher quando esta também ficou de pé. “Ele vai ficar bem, Bertha. Já está muito melhor. Poderia até parar com o remédio, mas prefiro continuar só para garantir.”

Helena saiu da casa do trouxa ainda ouvindo a mãe deste agradecendo sem parar, só parando quando ela acenou e finalmente tomou o caminho da estradinha que deixava a vila. Agora só faltava um último vilarejo, ainda em Yorkshire. Ela tinha um certo medo daquele. A senhora da qual estava cuidando era bem mais velha que Nicholas ou os alunos de Hogwarts e estava mal o suficiente para que a bruxa considerasse a possibilidade de ela morrer nas suas mãos. E aquilo era a última coisa que precisava no momento.

Já estava anoitecendo quando aparatou fora da vila, dentro de um bosque que a rodeava e onde preparou as coisas que iria precisar: a poção, as ervas e sua aparência – deixar alguns fios de cabelo

mais esbranquiçados, mudar um pouco o seu vestido, deixá-la o mais invisível possível.

A casa a qual visitava ficava nas margens da vila e parecia incrivelmente gelada sempre que entrava nela, mas não sabia se isso era por causa do vento que se esgueirava por debaixo das janelas e portas ou era alguma energia estranha lá dentro. Normalmente gostava de acreditar que era o vento, mas, ao ver o senhor da casa abrir a porta para ela naquela noite, o frio pareceu muito mais forte do que o normal.

“Senhor,” ela murmurou, fazendo uma reverência.

“A curandeira?” o homem perguntou, arqueando uma sobrancelha. Sabia que aquele era o marido de Corinna, a mulher da qual cuidava, apesar de ser a primeira vez que realmente falava com ele. Quem normalmente a recebia era a filha deles. “Venha.”

A garota o seguiu, hesitando um pouco ao atravessar o batente da porta e sentir um arrepio atravessar o seu corpo. Quando chegaram ao quarto, todas as janelas estavam fechadas e as velas, apagadas.

“Como ela ficou desde a minha última visita?” perguntou Helena, aproximando-se da cama e xingando mentalmente a falta de luz. Quando a alcançou, apoiou uma mão na testa da mulher, que parecia adormecida, e levou um susto ao sentir a pele dela gelada.

“Ela piorou,” disse o senhor e, antes que a bruxa conseguisse fazer algo, sentiu a presença dele perto demais de si. “Ela morreu.”

A garota arregalou os olhos, levando uma mão ao pulso da mulher, sem sentir nada ali. Não que fosse dar tempo de sentir algo também, já que o marido a empurrou para longe.

“Você matou a minha mulher,” ele falou por entre os dentes e tudo o que Helena conseguia ver era a silhueta dele se aproximando. E aquele medo que sentia sempre que ficava perto de muitos trouxas se intensificou, paralisando-a no lugar. “Você e suas poções e seus feitiços-”

“Senhor, eu não- Hey!”

O homem a agarrou pelo braço e, sem que pudesse fazer nada – odiava o fato de sua magia parecer simplesmente sumir quando se assustava demais, levando alguns minutos para realmente voltar ao normal -, a arrastou até a porta e a levou até lá fora.

“Bruxa!” ele gritou o mais alto possível, sacudindo-a com força enquanto algumas pessoas saíam de suas casas para olhá-los. “Essa bruxa matou a minha mulher!”

“Eu não sou- Merda,” Helena resmungou, chutando uma perna do outro com o máximo de força que tinha e o fazendo gritar e a soltar por um momento.

Aproveitando aquela brecha, murmurou um feitiço e saiu correndo. Só podia esperar que aquilo fosse funcionar e lhe desse alguns minutos até encontrar um esconderijo para poder esperar um pouco e conseguir aparatar de novo. Correu sem olhar para trás até encontrar uma casa um pouco mais isolada do resto do vilarejo. Ela parecia quieta demais e já estava toda escura. A família devia estar dormindo.

Respirando fundo e tomando coragem, murmurou um encantamento para destrancar uma das portas e se esgueirou para dentro, ficando na escuridão. A garota tentou tatear o caminho a sua frente, sentindo várias mesas e o que pareciam ser pedaços de madeira aqui e ali, até sem querer bater contra algo maior que soltou um som parecido. Uma harpa.

Usou as mãos para abafar o som das cordas e prendeu a respiração, esperando que ninguém tivesse ouvido a sua bagunça, já com a varinha em mãos. Mas parecia que seu dia estava destinado a ficar pior e pior, pois logo uma porta se abriu e, iluminado pela luz de uma vela, um homem adentrou o aposento.

“Você!” O homem estreitou os olhos.

“Senhor, eu-“

“Estão gritando atrás de você lá fora! Eu não sei o que diabos gente como você tem com a minha casa,” ele falou, avançando para cima dela e a segurando pelo braço. “Mas eu não vou ter outro demônio como vocês aqui dentro! Já basta tudo o que ouvimos por causa daquele rapaz! Vinte anos! Vinte anos com toda essa maldita vila falando daquele demônio! Vinte anos sem ninguém querer comprar uma harpa ou qualquer instrumento porque ele tinha colocado as mãos neles!” Ele a sacudiu, arrastando-a para a porta. “Dessa vez eu vou entregar você antes que possa sequer enfeitiçar algum-“

“Estupefaça!”

O homem voou para longe, batendo contra um monte de madeira e caindo desacordado no chão enquanto Helena puxava o ar com dificuldade e percebia que, sim, já havia gente do lado de fora gritando por ela.

Helena foi até o fundo da sala, escondendo-se entre as várias harpas e alaúdes e outros instrumentos que estavam estocados ali, enquanto tentava se concentrar. Só precisava de um pouco de concentração para aparatar, só um pouco de calma. Conseguia ouvir um leve som parecido com o da harpa ao fundo e se perguntou se havia batido em alguma outra vez, mas não... Era como se alguém estivesse tocando muito delicadamente e aquilo, surpreendentemente, foi trazendo uma certa calma ao seu corpo.

Respirou fundo uma, duas, três vezes, e então girou no lugar e o mundo girou junto.

***

Sempre que parava para imaginar sua mãe irritada, a primeira imagem que vinha à cabeça de Helena era dos dias que se seguiram a morte de seu pai. Rowena andando para lá e para cá, irritada com coisas simples e, principalmente, com a própria Helena, que também não estava sendo a pessoa mais tranquila naquela época. Quando não estavam agindo como pessoas de luto, as duas sempre acabavam mais irritadas do que o normal. E agora, enquanto via Rowena Ravenclaw andar para lá e para cá em sua sala, era como se tivesse dez anos outra vez.

“Você poderia ter sido morta,” ela disse. Já era a décima terceira vez que a mulher repetia aquilo. Helena havia contara. “Você podia ter nos exposto-“

“Uma bruxa sendo morta não iria expor todo o mundo bruxo. Não iria expor nem mesmo Hogwarts, não precisa se preocupar,” a garota murmurou.

“Mas você estaria morta, Helena!” a bruxa falou, elevando o tom de voz.

“Hogwarts ainda estaria segura-“

“Helena!” A mulher praticamente gritou, virando-se e encarando a garota por um longo tempo antes de se aproximar e agachar-se na frente dela, segurando-lhe as mãos. “Você poderia ter morrido e é isso que me preocupa. Você, acima de qualquer pessoa, sabe o que acontece com bruxos encontrados por trouxas. Você já viu as crianças que chegam aqui depois de terem sido pegas, você viu Sigfried, você viu seu pai...”

A bruxa mais nova piscou uma, duas vezes, enquanto digeria as palavra da mãe e ouvia o som de harpas que sempre acompanhavam Rowena ficar mais forte. Aquela casa onde entrou para se esconder... Ela agora percebia o que era aquela música suave que ouvira antes de conseguir aparatar. As palavras do homem que a encontrou também lhe voltaram à mente: ele conhecera um bruxo, um homem que fora acusado de bruxaria e que, pelo jeito, trabalhara com ele. Talvez fosse uma aposta muito alta, mas... E se fosse isso mesmo?

“Da onde ele era?” perguntou Helena, quase sem perceber.

“O que?”

“Meu pai, da onde ele era antes de vir para Hogwarts?” a garota insistiu, vendo a mãe franzir o cenho.

“Não desvie do assunto-“

“Uma vila em Yorkshire?” ela perguntou, vendo os olhos de Rowena se arregalarem por um momento.

“Helena, podemos discutir isso depois,” disse Ravenclaw, mantendo a voz estável enquanto falava e respirando fundo. “No momento, só quero que você entenda que o que fez poderia ter custado a sua vida e é com isso que eu me preocupo-”

“Ele trabalhava com um artesão de instrumentos, não era isso que ele dizia? Um trouxa,” a menina continuou a falar, todas as histórias que ouvira de seu pai parecendo fazer sentido em sua mente. “Era o mesmo homem que encontrei lá... Ele disse que já havia tido gente como nós na casa dele, que as pessoas da vila nunca mais compraram dele porque achavam que meu pai havia enfeitiçado os instrumentos.“

“Ele devia estar falando de outra pessoa. Seu pai não foi o primeiro a ser confundido com um bruxo.” A mulher começou a falar, antes de se interromper abruptamente, fazendo com que a filha erguesse o rosto e a encarasse com um longo momento com o cenho franzido.

Rowena acabara de dizer que Thomas Ravenclaw não havia sido o primeiro trouxa a ser confundido com um bruxo, mas seu pai não era um trouxa, ele era um aborto. Sempre ouvira aquilo, que Rowena Ravenclaw havia se casado com um aborto e que isso era loucura, afinal, os filhos deles poderiam vir a não ter magia e isso seria terrível... Mas ninguém discutiria com Rowena também.

“Ele era um trouxa?” perguntou Helena, forçando sua voz a sair.

“Helena...” a bruxa mais velha murmurou e ali a garota já conseguia ver que era verdade. O rosto de Ravenclaw raramente a denunciava, mas agora ele o fizera com maestria. Não era apenas a sua expressão que entregava à menina a verdade, mas aquele brilho estranho nos olhos e o tom de voz.

“Ele era um trouxa,” disse Helena, baixinho e para si mesma, como se falar aquilo fizesse parecer mais real. “Vocês nunca me disseram isso.”

“Você era muito nova quando ele-“

“Mas você podia ter me falado!” a garota falou, antes de se levantar, forçando a mãe a se afastar e se levantar também. “Ele era meu pai e eu tinha direito de saber disso!”

“É só um detalhe, Helena. Ele ser um trouxa ou um aborto nunca fez diferença. Ele não conseguia fazer magia e é isso o que importava,” disse Rowena, inspirando fundo como se tentasse trazer a expressão neutra de volta ao seu rosto. O problema, Helena sabia, era que bastava trazer seu pai ao assunto para a bruxa perder parte de seu tão bem construído controle. “Além disso, ele está morto. Não é como se essa informação fosse alterar algo em sua vida.”

A mais nova ficou parada, em pé, por um momento, observando a mãe em silêncio. Odiava ouvir alguém falar aquilo, lembrá-la que seu pai estava morto e que não havia mais nada dele naquele mundo.

“Posso me retirar, senhora?” a garota pediu, tentando manter a voz tão impassível quanto a da outra.

“Helena...”

“Eu entendi: quase me matei, quase expus os bruxos e Hogwarts. Eu errei, devia ter me preparado melhor com minhas pesquisas,” ela falou, deixando escapar o fato de que tudo aquilo fora para uma pesquisa para ver se Rowena demonstrava algum interesse, mas nada aconteceu. A bruxa mais velha continuou a olhando com aqueles olhos indecifráveis, antes de suspirar.

“Você pode ir,” murmurou Ravenclaw, virando-se e indo até a sua mesa, mexendo com algo sobre esta.

Helena repreendeu-se por sentir os olhos arderem e engoliu em seco, antes de fazer uma rápida reverência e sair da sala.

***

O quarto de Helena ficava na mesma torre que o de sua mãe e isso nunca fora um problema. Na verdade, quando mais nova, isso era ótimo: não era preciso mais do que se esgueirar por algumas salas e subir algumas escadas para chegar até a cama de seus pais e se enfiar entre eles no meio da noite.

A garota sentia falta daquela época, quando podia encontrar conforto nos abraços deles e quando eles pareciam reter todas as respostas para todas as inúmeras perguntas que gostava de fazer. Queria poder ir lá agora e encontrar seu pai dedilhando a sua harpa e sorrindo ao vê-la. Queria se sentar ao lado dele e perguntar se aquilo era verdade enquanto observava as rugas ao redor de seus olhos e os fios brancos em seus cabelos. Ele a chamaria de ‘estrela’ ou ‘fogo-fátuo’ e lhe responderia com calma. Com sorte ele também acalmaria Rowena e a faria sorrir. Ele sempre conseguia arrancar um sorriso da esposa.

Mas tudo o que podia fazer no momento era respirar fundo diversas vezes para ver se aquela sensação ruim que sentia no peito iria passar, enquanto se encolhia mais e mais na cama, com os olhos presos na harpa feita por seu pai e que agora descansava no canto de seu quarto.

Em parte, entendia a razão de seus pais esconderem o fato de Thomas Ravenclaw ser um trouxa. O Conselho podia ser bem irritante com certas coisas e ter um trouxa dentro de Hogwarts significaria uma possibilidade daqueles velhos anunciarem para todos que a escola não era tão segura quanto diziam ser, afinal, havia um trouxa, um daqueles que queimavam bruxos, ali dentro. Mas seu pai nunca faria isso, ele nunca machucaria um bruxo... Lembrava-se de ouvir Thomas e Rowena lhe falando para ter cuidado quando saísse dos terrenos com Godric, Salazar ou Helga, lembrava-se das cicatrizes que seu pai ganhara depois de ter sido acusado de bruxaria. Mas o Conselho não veria isso, mas sim um material para acusar Hogwarts de ser uma farsa.

Mas sua mãe podia ter lhe contado depois! Quando pequena, é claro que poderia ter deixado escapar o fato de Thomas ser um trouxa, mas agora já tinha quase dezenove anos, já passara da maioridade bruxa, apesar de ainda não ter sido efetivamente apresentada ao Conselho.

Talvez Rowena não quisesse que os outros soubessem que sua filha era uma mestiça? Talvez acreditasse que não fossem lhe dar o devido crédito por ter sangue trouxa e não completamente bruxo? Ou talvez simplesmente não quisesse o fato de ter se envolvido com um trouxa sendo exposto, mas isso não fazia muito sentido.

“Helena?” A garota piscou algumas vezes, saindo de seus devaneios, antes de virar o rosto para ver Rowena parada na porta de seu quarto, ainda do lado de fora, como se esperasse por autorização para entrar.

Helena fez uma leve e rápida reverência com a cabeça e a outra bruxa entrou, fechando a porta atrás de si. A mulher observou o quarto enquanto se aproximava, até chegar à cama da filha, onde sentou-se do lado oposto dela.

“Está machucada?” perguntou Ravenclaw. “Nem consegui perguntar mais cedo.”

“Não. Está tudo bem,” Helena respondeu, voltando a olhar a harpa para se distrair.

“Isso é bom...” a mais velha murmurou, antes de rir fraquinho e subir na cama para se aproximar devagar, esticando uma mão para tocar os cabelos da garota. “Pode não estar machucada, mas só falta um ninho de tronquilhos aqui.”

“Isso é normal,” a garota falou, encolhendo-se um pouco ao sentir os dedos da mãe em seus cabelos, antes de relaxar de novo.

“Sempre foi assim, não?” Ravenclaw falou, sua voz soando distante enquanto seus dedos ocupavam-se em soltar alguns nós e afagar os cachos. “Você e seu pai sempre conseguiam trazer tronquilhos para dentro do castelo, sempre na cabeça. Vocês podiam ter uma ninhada de estimação se quisessem.”

“Eles são muito irritantes para ficar cuidando,” disse Helena, sentindo um bolo se formar em sua garganta e involuntariamente inclinando a cabeça na direção do carinho da mãe.

As duas permaneceram em silêncio, Rowena ocupada com os cachos da filha e a garota, tentando dividir a atenção entre aproveitar o carinho e observar a harpa no outro canto do quarto. A única coisa que quebrava o silêncio era um eventual estalo da língua da bruxa mais velha quando esta encontrava um nó mais complicado de desfazer.

“O nome dele nunca foi Didymus, não é?” perguntou Helena, lembrando-se de como, em todas as reuniões oficiais com professores ou com o Conselho, seu pai era chamado de Didymus Ravenclaw, mas bastava ele voltar para um ambiente casual que parecia que seu nome nunca fora aquele, mas sim Thomas.

“Foi o nome que ele escolheu e pelo qual a maioria das pessoas daqui o conhecia, então, sim, esse era o nome dele,” disse Ravenclaw. “Mas o nome de batismo era Thomas.”

“Então não era só porque eu não conseguia pronunciar Didymus...”

“Não. Ele havia se acostumado com esse nome, mas acho que queria ser conhecido por quem ele realmente era pela família. Foi uma boa desculpa essa: a filha dele não sabia pronunciar direito o nome dele quando pequena, então ele pedia para ela usar a outra forma desse nome,” a mulher falou, sorrindo fraco. “Ele fazia isso com outros alunos também, para explicar a razão de eu e Helga e os outros o chamarem de Thomas.”

“Combina mais com ele.”

A garota suspirou ao sentir a mão de Ravenclaw apenas afagando os seus cabelos, antes de arriscar virar-se para olhá-la. Apesar de já ter algumas poucas rugas no rosto e alguns fios brancos salpicando os cabelos negros, Rowena Ravenclaw continuava incrivelmente bela. Quando um pouco mais nova, Helena costumava ter um pouco de inveja dessa beleza... Dos cabelos tão cacheados quanto os seus, mas que conseguiam ser arrumados de forma bela; do rosto sem nenhuma sarda; do nariz mais delicado; dos olhos cuja cor, como seu pai sempre dizia, parecia ser indefinível. Agora dizia para si mesma que era uma preocupação boba, mas sempre admirara o poder que a mãe tinha de deixar todos sem palavras quando queria apenas com um olhar ou com uma forma de falar, coisa que ela sempre quisera ter e nunca conseguira.

“Sabe,” a mulher começou a falar, levando uma mão até o rosto da outra. “Acho que talvez esteja na hora do Conselho a conhecer de verdade, o que acha? Você está crescida, tem suas próprias pesquisas para apresentar... Além de já conseguir deixar boa parte daqueles bruxos de queixo caído.” A bruxa deu uma piscadela, sorrindo de lado. “O que me diz?”

“Se a senhora achar que está na hora,” disse Helena, encolhendo os ombros.

“Não depende de mim,” ela falou. “Depende de você, de quando você estiver pronta. Se apresentar como alguém ativo na área da magia tem certas implicações. Eles vão querer ver o que você é capaz de fazer...”

“Eles não exigem isso de todas as bruxas.”

“Não, mas da minha filha eles irão,” disse Rowena, acariciando de leve o rosto da menina. “Eles irão tentar fazer a sua cabeça também, irão lhe oferecer benefícios em troca de suas descobertas. Sempre tome cuidado com isso, meça bem as propostas.”

“Qual foi a proposta que lhe fizeram?”

“Me deixariam livre para viajar e pesquisar o que eu quisesse, desde que sempre voltasse e lhes entregasse pelo menos algum novo conhecimento todas as estações,” disse Ravenclaw. “Me deixaram não ficar sob a guarda de meu tio e não me casar com quem eu não queria. Eu teria que eventualmente me, mas eu poderia escolher o homem.”

“E você escolheu um trouxa.”

“Para o resto do mundo, ele era um aborto,” a mulher falou. “Mas eles nunca especificaram que deveria ser alguém que conseguisse fazer magia.”

“E se me propuserem a mesma coisa?” perguntou Helena, respirando fundo. “Eu ter que me casar. Quero dizer, eu não... Não é todo mundo que tem a sorte que a senhora teve.”

“Então você enrola eles,” Ravenclaw murmurou, um sorrisinho repuxando os cantos de seus lábios. “Realmente acha que eu pretendia me casar? Seu pai que puxou o tapete debaixo de meus pés e me fez cair nessa, não estava nos planos.”

“Uma raposa enganando uma águia,” murmurou Helena. “Como na história.”

“Pelo menos essa raposa não colocou fogo no meu ninho. Na verdade, ela me deu um ninho com um filhote lindo.” A bruxa mais velha sorriu, segurando o rosto da menina entre as duas mãos. “Veja o que acha dessa possibilidade e me avise, sim?”

“Certo.”

“Agora deixarei você descansar,” Rowena murmurou, esticando-se para beijar a testa da filha. “Sonhe com as estrelas, pequeno corvo.”

***

Helena Ravenclaw sabia que o fato de sua mãe ser bonita não fora a única coisa que comprara o Conselho, mas sim os conhecimentos que ela lhes apresentara quando ainda tinha menos de quinze anos. A “arte de sumir no ar”, como foi apresentada pela primeira vez, e a majestosa águia na qual Rowena se transformava foram o grande golpe dela, foi isso que impressionou aquele bando de velhos e fez com que ela ganhasse o respeito deles como Rowena Ravenclaw e não como sobrinha de Amis Ravenclaw ou filha de Darius Ravenclaw.

Mas ela, Helena, não tinha nada disso. Não havia nenhuma grande magia nova que pudesse usar para impressionar o Conselho, não havia nenhuma grande pesquisa, nenhuma grande descoberta. Se ela realmente fosse apresentada ao Conselho naquele momento, seria eternamente conhecida como a filha de Rowena Ravenclaw e nada mais. Tinha que encontrar algo para si, algo grande que pudesse impressionar os bruxos que ditavam as regras da comunidade mágica da Bretanha, algo que impressionasse a sua mãe. Ela sabia que não conseguiria isso ali.

Apesar de não fazer magia, seu pai era fascinado por ela e não se contentava em estudar apenas sobre a magia das ilhas britânicas. Isso talvez fosse influencia de Rowena, mas Thomas Ravenclaw sempre estudava coisas de outros lugares: pergaminhos escritos com letras esquisitas que ele conseguia entender nem que fosse um pouco, plantas trazidas da Índia e que o faziam ficar com urticárias até ele saber lidar com elas, criaturas mágicas do outro lado do oceano, lendas do oriente e todo o tipo de coisa.

Claro que seria mais lógico pedir para sua mãe alguma ajuda nisso, mas queria fazer isso por conta própria. Assim, tudo o que Helena fez foi tirar o pó dos inúmeros baús com os pertences de seu pai, carregá-los para o seu quarto e afundar-se neles. Aquilo resultou em dias perdida entre pergaminhos e livros, objetos de madeira que ele havia esculpido e presentes que ganhara em suas viagens, capas que uma vez pertenceram ao homem e alguns rabiscos que eram para ser desenhos.

Tudo lhe trazia um misto de curiosidade e dor. Sentia o coração apertar sempre que via uma pequena águia de madeira que havia visto Thomas esculpir, assim como as lágrimas insistiam em querer escapar dos olhos quando sentia o cheiro de gardênias que exalava da capa dentro da qual ela decidiu se enfiar. Mas também sentia o coração bater mais rápido ao ler sobre os dragões montados por bruxos e trouxas, sobre as magias eslavas e sobre as florestas de bétulas afundadas no meio da neve. A maioria das pesquisas dele – ou pelo menos as mais desenvolvidas – eram daquele outro canto do mundo, do país das florestas brancas de bétulas. Havia registros de lendas e mais lendas de lá, incluindo uma bruxa que encantara a própria casa para esta se movimentar dentro da floresta e um bruxo que, de acordo com os escritos, ‘sabia todo o seu destino’.

Precisava achar algo que ainda não fora estudado completamente por sua mãe e nunca acharia aquilo tão perto de casa.

***

Antes de qualquer coisa, Helena queria deixar suas coisas bem guardadas.

Havia uma sala no castelo que ela havia descoberto sem querer, pouco depois da morte de seu pai, quando queria apenas ficar sozinha. Enquanto tentava fugir de Helga e Godric, acabou entrando em uma das inúmeras portas do sétimo andar e, para a sua surpresa, se deparou com um lindo jardim: havia lírios e gardênias, lavandas e damas-da-noite, rosas e margaridas... Era aconchegante e tudo o que fez foi deitar no meio de todas aquelas flores e dormir. Dormiu até se sentir descansada como não se sentia em dias, sentindo o perfume das flores e brincando com elas de vez em quando, fazendo coroas com elas, como seu pai havia lhe ensinado.

Depois daquele dia, Helena descobriu como a sala funcionava: sempre que precisava de algo, aquele lugar lhe dava o que necessitava. Nem sempre ele estava ali, apenas quando era preciso. Por isso a chamara de Sala Vai e Vem. E era exatamente daquele lugar que precisava.

Naquela noite, pedira um lugar para esconder suas coisas e a sala lhe deu um salão gigante cheio dos mais diversos objetos. Havia pilhas de livros e armários, estátuas quebradas e gaiolas vazias, diabretes voando por aqui e ali, caixinhas que emitiam músicas delicadas e brinquedos de tecido. Suas coisas não chamariam a atenção ali.

A garota procurou um lugar mais escondido para deixar a harpa e o baú que trazia consigo, antes de sentar-se em um sofá e os observar por um momento. Ela puxou a harpa para si, apoiando-a no ombro e dedilhando uma música. Seu pai dizia que aquela música trazia a primavera, mas ela nunca conseguira tocá-la como ele o fazia. Suspirando, a menina deixou os dedos acariciarem o corpo do instrumento, desenhando os padrões diferentes que havia ali até chegar na águia entalhada no topo e, depois, descer até a raposa no pé.

Deixando a harpa de lado outra vez, Helena puxou o baú e o abriu. Havia misturado suas coisas com as do pai: havia vestidos seus e roupas dele, livros que ganhara da mãe e livros que ele adquirira ao longo da vida, pergaminhos com a sua caligrafia e outros com a dele. Mas tudo o que puxou dali foi uma capa azul escura junto com o broche para prendê-la, deixando-a dobrada sobre o sofá, e uma espada ainda dentro da aljava.

A última coisa que havia trazido consigo era uma tapeçaria. Pouco antes do pai morrer, Helena pedira para ter aquela tapeçaria em seu quarto. Depois da morte dele, ela a escondeu dentro de um baú e só a tirava quando se sentia mal. O desenho em fios coloridos mostrava Rowena e Thomas Ravenclaw, de mãos dadas, um olhando para o outro. Era engraçado como, mesmo em coisas simples como essas, sua mãe sempre tinha um ar mais importante. Seu pai sempre a olhava com enorme respeito e amor. No olhar de Ravenclaw, no entanto, também não faltava carinho.

Deixou os dedos acariciarem os rostos deles por um momento, sentindo a garganta apertar e os olhos arderem enquanto o fazia. Daria tudo para ver aquele olhar no rosto de Rowena outra vez e ver seu pai em carne e osso, não só feito de fios coloridos.

“Vai dar tudo certo,” ela murmurou para a tapeçaria. “Prometo devolver a sua capa e a espada.”

Voltou a dobrar o tecido, deixando-o sobre o baú e se levantando. Prendeu a espada - muito mais leve e delicada que as de Godric – no cinto e colocou a capa nas costas, prendendo-a com o broche de prata com a águia e a raposa brincando. Tinha que sair dali logo, caso contrário iria desistir.

***

A sala de pesquisa de Rowena Ravenclaw era um local de acesso restrito para qualquer ser vivo que não fosse a própria Rowena. Helena se lembrava de estar lá dentro quando era pequena, quando seu pai não podia cuidar dela porque estava trabalhando com Helga ou algo parecido – o que era raro, já que ele sempre estava disposto a largar tudo para ficar com ela ou sua mãe. Não se lembrava de muita coisa, apenas de onde ficava a entrada e de que haviam estrelas, muitas estrelas.

Mas, para entrar na sala de pesquisas, era preciso ir primeiro até a sala de aula, quase na porta do quarto de sua mãe, onde esta devia estar dormindo naquele momento. O mais silenciosa possível, com um feitiço para abafar os seus passos, Helena se esgueirou para dentro da sala e parou na frente da parede ao lado da escada que levava ao quarto de Rowena. Sabia que era ali, se lembrava disso, além de ouvir o som da harpa muito mais forte naquele ponto. O som da magia de Ravenclaw.

“Vamos lá,” ela murmurou para si mesma, respirando fundo enquanto olhava a parede, sem saber o que fazer. “Abra? Aperi?”

Nada. Suspirando fraco, a garota puxou a varinha e bateu com a ponta desta na pedra e depois, repetiu isso, mas agora tentando imitar o ritmo de uma das músicas que a mãe tocava na harpa. Nada outra vez.

Stercore, Helena resmungou, apoiando-se na parede e bufando. Ótimo, tinha todo um plano, mas tal plano dependia de conseguir entrar naquela sala e agora não conseguia isso. Não sem explodir aquela parede, mas isso iria acordar Rowena e isso estava fora dos planos.

O som da harpa pareceu se intensificar um pouco, acelerando as notas, e tal mudança fez a bruxa olhar a parede novamente, surpreendendo-se ao vê-la tremeluzir até uma pequena abertura aparecer ali. Esta abertura foi ficando maior e maior até formar uma passagem que dava espaço para um ambiente completamente diferente.

Entrar naquela sala era como entrar na mente de Rowena Ravenclaw, ou pelo menos era isso que Helena imaginava. O local era redondo e parecia enorme, coberto de prateleiras e mesas por todos os cantos, além de livros e pergaminhos e objetos alheios em cima de tudo e no chão. Era uma bagunça, mas uma bagunça linda que devia fazer sentido para Ravenclaw. Havia objetos esquisitos dentro dos armários de vidro, livros com títulos em outras línguas, pergaminhos flutuando ou jogados no chão, imagens presas nas paredes e se mexendo... E, onde não estava coberto por armários, mesas, livros, objetos ou pergaminhos, haviam estrelas. Não havia chão, paredes ou teto, mas sim o céu negro salpicado de estrelas que Rowena tanto amava. Seu pai tinha razão: sua mãe havia vindo das estrelas e era entre elas que Ravenclaw mais se sentia em casa.

Agora só precisava achar o diadema. O infame diadema sobre o qual todos falavam e o qual tantos cobiçavam. Nem sabia muito bem a razão para querer levar o diadema consigo: parte de si dizia que ele poderia lhe ajudar, enquanto outra dizia que era para, quando voltasse, pudesse provar que encontrara algo mais fascinante que aquela jóia. Uma pequena parte de sua mente, que Helena tentava ignorar, lhe dizia que queria apenas levar parte de sua mãe junto consigo.

Apesar da sala ser apinhada de objetos mágicos e a magia de Rowena estar grudada em cada milímetro dela, era fácil sentir o diadema. A magia dele era diferente, uma mistura da magia de sua mãe com as outras usadas para a criação deste... E essa mistura de sons a levou para um canto da sala, até um pequeno armário de madeira que descansava sobre uma pilastra.

Respirando fundo, Helena observou o armário e os detalhes esculpidos neste: arabescos, é claro. Depois de um momento, ergueu uma mão, hesitante, e tocou os entalhes de leve, desenhando-os com a ponta dos dedos e esperando que algo acontecesse. Mas a explosão ou a barulheira que esperava de algum feitiço de proteção não aconteceu. Houve apenas um pequeno estalo e as portinhas do armário se abriram. Lá dentro, descansando sobre uma almofada de veludo azul, estava o diadema de Rowena Ravenclaw.

Helena perdeu o ar por um momento. Não era a primeira vez que o via, estava acostumada a ver a mãe com aquele diadema na cabeça, arrumada para alguma festa. Lembrava-se de como era fascinada por ver Rowena e seu pai arrumados para as festas do conselho, o diadema muitas vezes brilhando sobre os cabelos negros da bruxa. Mas ali... Ali ela estava sozinha com ele, com o tesouro mais precioso de Ravenclaw.

Com cuidado e delicadeza, pegou o objeto nas mãos, observando-o com calma. Ele era realmente lindo. As hastes prateadas e delicadas imitavam as asas de uma águia, apesar de muito mais simples, e se encontravam no centro, ao redor de uma safira. De cada haste pendiam duas correntes finas de pedras brilhantes e algumas lápis-lazúlis penduradas. Nas hastes, as delicadas letras formavam o lema de sua mãe: “A mente sem limites é o maior tesouro dos homens”.

Aquela peça emanava magia de todos os tipos: branca, negra, cinzenta... A magia de sua mãe, magia de outras pessoas, magia de outras criaturas. Chegava a dar medo segurá-la, mas, mesmo assim, a garota inspirou fundo e, depois de alisar o trabalho em metal com calma, guardou-o dentro da bolsa que trazia consigo.

Horas mais tarde, mesmo quando já estava longe o suficiente para não sentir mais a magia de Hogwarts, ainda ouvia as leves notas da harpa de sua mãe ressoarem de dentro de sua bolsa.


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Notas finais do capítulo

Gente, por favor, ajuda o autor de quarentena com um comentariozinho.