Um boto rosado que subia contra a corrente chegou numa doca. Saltou da água em forma de boto e chegou em terra firme em forma de homem. Um elegante homem de pele morena e cabelos negros vestindo um elegante terno branco, usando belos sapato lustrados e um chapéu sobre a narina que não sumia com a transformação.

Seguiu a direção da musica até chegar em um estabeleciemento onde o forró comia solto. Varias moças dançando com seus senhores, mas algumas ainda esperavam ser cortejadas. E era ai que ele entrava em cena.

—Nome? - Perguntou o leão de chacara que guardava a entrada.

—Procura ai, Joaquim Bezerra.

—Não tá na lista nao, mas o senhor pode pagar a entrada se quiser.

—Como não? Eu sou amigo o bigode.

—Ah sim, sinto muito. O senhor pode passar.

— Obrigado. - Disse dando um leve toque na borda do chapéu como um cumprimento. 

Não demorou muito, já havia dançado com metade das moças. Dançava, rebolava, se aproximava e se ajuntava com as madames e donzelas do recinto. Logo era ele o cortejado pelas moças para dançarem a próxima.

Assim seguiu a festividade. O grupo de forrozeiros encerrou a canção e todos bateram palmas. O formoso rapaz se despediu da moça e se direcionou para a saída, mas foi impedido com as palavras do cantor.

—E para encerrar, uma de nosso querido gonzaga. Vem Morena!

E esse era um convite que não podia recusar. Olhou ao redor e tinha dançado com quase todas, exceto uma. A timida Maria que ficou sentada a festa inteira.

Chegou nela cumprimentando-a com um beijo na mão e logo fez o convite. Maria aceitou, mas pediu que fosse devagar pois não sabia dançar. 

Não sabia era uma mulétia. A moça dançou que o cavalheiro quase não a acompanhou. Uma a uma as duplas paravam de dançar apenas para ver os dois. Rodavam, giravam, faziam paradas e inversões. A saia de Maria parecia um ventilador de tanto que girava, revelando as belas pernas da moça. Alguns juram que os sapatos fumaçearam de tanto que esquentaram o chão.

Terminda a musica, todos aplaudiram tanto a banda quanto o casal. 

—E onde que uma moça linda como a senhorita vai  depois daqui?

—Ah... onde o senhor quiser me levar.

—Então conheço um lugar otimo.

Sairam de braços dados se entregando as caricias e risadinhas. Chegaram na margem do rio. O moço tirou seus sapatos e o paletó, cobrindo a moça que tirou seu salto. 

—Você toda quietinha achei que não dançava nada.

—E você todo animado achei que ia me tacar pra cima.

—Se eu soubesse que vc tinha pé de valsa até tentava.

—E agora que sabe, quer tentar o que?

—Quero tentar isso. - Beijou-a - Posso?

—Agora que fez é que pede?

—É pra não ter risco da senhorita dizer não.

—Pois saiba que a resposta é sim.

Voltaram a se beijar. Beijaram-e e namoraram a noite toda.

Quando Maria acordou na manha seguinte na margem do rio, estava sozinha, sem sinal do moço. Tudo que viu foram alguma pegadas indo pro rio, e foi a ultima coisa que notou antes do enjoo.