Mesmo que Mude escrita por Gabinos, Supernova


Capítulo 5
Mesmo que seja mentira




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— Ele tentou te beijar de novo? 

    Bian gesticulava com o isqueiro em mãos. Foi a primeira coisa que notou quando adentrou o quarto de Io, mesmo estando ocupado, aos beijos, com o namorado. Io não fumava, para que teria um isqueiro? Ainda mais um daquele tipo, coisa de quem não pretende largar o hábito. 

    — Não, Bian… Ele disse que vai embora, se mudar e tal.

    — E precisava fazer isso aqui, no seu quarto?

    Io não queria mais dar explicações. Achava um saco quando Bian se alterava àquela maneira. Foi uma vez só, apenas um beijo, que fizera questão de interromper em respeito ao namorado. Talvez devesse ter continuado. Nunca havia percebido Isaak como alguém além de um amigo.

    Foi um beijo. E nunca mais se viram, até aquele mesmíssimo dia. E em várias das outras ocasiões em que sentiu a falta da pessoa mais próxima que tinha, pensou que não deveria tê-lo interrompido. A esmagadora maioria das vezes, pela ausência de Izzy, embora eventualmente tivesse despertado sua curiosidade.

    O “e se” era algo que sempre martelava suas ideias até lhe causar dores de cabeça.

    — Pare com isso, ok? Se veio aqui para dar chilique, já pode ir embora.

Io gostava muito de Bian. Como não gostaria? Seu namorado era extremamente bonito e parecia amá-lo de maneira desmedida. Todavia, esse era justamente o problema. Bian, volta e meia cobrava algo dele, desde que contara sobre o beijo roubado há tanto tempo. E, sinceramente, não sentia mais as borboletas no estômago desde que as brigas tornaram-se parte da rotina. Assim, o deixou ir quando o moço passou pela porta, enfurecido.

Esperava no consultório pela vez de Lobinho para a aplicação das vacinas, enquanto checava o celular compulsivamente. Torcia para que Bian fosse quem o procurasse, afinal fora ele quem saiu batendo a porta, furioso. Com a distração, afrouxou a guia de Lobinho, que estava curioso demais para interagir com os três gatos mantidos em duas caixinhas de transporte entre dois homens bonitos.

Para a sorte do cachorro, a gradezinha impediu que a gata de três cores o machucasse mais seriamente quando desferiu a patada sobre o enorme focinho negro. Já os gatinhos de pelagem "vaquinha" esconderam-se ao fundo da outra caixinha, que era grande o suficiente para os dois. 

— Desculpem, minha cabeça está meio longe.

Um dos homens estendeu a mão para Lobinho, que imediatamente apoiou a parte do enorme corpo sobre suas pernas, recebendo muitos carinhos atrás das orelhas, compensando pelo susto causado pela gata.

Io admirou a cena. O outro homem mal se movia, possuía o nariz voltado para o teto e parecia estar o julgando fortemente por detrás daqueles óculos de grau pintadinhos que usava. O moço que acariciava Lobinho era muito mais amigável, inclusive era engraçado como o estilo de vestir daquele cara o lembrava de Isaak.

— Lobinho?

O veterinário chamou pela vez de seu paciente que, ao reconhecer o nome, saiu correndo, atacando sua próxima vítima. Os moços dos gatos não precisaram nem se olhar, controlando muito mal o volume do riso devido ao nome estúpido escolhido para um cachorro de aparência tão bestial. Mas Io estava acostumado. Deu uma risada simpática, piscando para os carinhas da sala de espera, o que lhes aliviou um pouco a culpa pelos sorrisos jocosos que, por sinal, persistiam em seus rostos, ainda que de modo mais controlado.

Após uma longa sessão de afagos para consolar Lobinho pelo trauma da vacina, Io notou a foto de um cachorro, que parecia ainda maior que o seu, sobre a mesa do veterinário, que atualizava a caderneta.

— Esse é o Ginge.

Io estava maravilhado pelo belíssimo exemplar canino, deixando transparecer. Queria jogar uma bolinha e fazer carinho na barriga daquele animal magnífico. O médico de Lobinho, notando aquela fascinação, deixou escapar um sorrisinho.

— Ele é um cão-lobo. Ia se dar bem com o seu cachorro. Ele é sociável, mas não costumamos achar outros cães de grande porte, que aguentem as brincadeiras dele.

— Você está me convidando para alguma coisa?

— Bom, eu convidei o seu cachorro, em nome do meu. Mas talvez, só talvez, eu possa estar te convidando também.  Para alguma coisa.

Juntamente com o cartão de vacinação, Io recebeu também um papel com o número do celular pessoal e o nome de Fenrir escrito. Como se fosse possível esquecer-se de que aquele conjunto de números o levaria direto ao veterinário charmoso. Ponderou por vários dias se devia ligar ou não, decidindo por enfim fazê-lo. E, por fim, os dois cães pareciam se dar muito bem enquanto ele trocava gracinhas com o dono de Ginge. 



 

— Você já contou pra ele?

Bian recusou-se a responder, vestindo suas roupas apressadamente. O que diria? Que o homem que julgava pertencer-lhe estava nem aí para sua cena? Que Io ainda não havia ligado e pedido para conversarem como acontecia habitualmente? 

— Vou levar isso como um não. Pois bem, já estou de saco cheio. Não vou ser o outro, passar o resto da vida fazendo parte dessa palhaçada. Pode ir embora e não precisa voltar.

Krishna havia caído na velha história do homem comprometido que promete trocar o oficial pelo amante. Logo ele, que também não era santo. Deveria saber! Aqui se faz, aqui se paga. Mas, Bian era tão atencioso e bonito que era muito simples o desejar para si somente. Seria capaz de ter um relacionamento sério com ele, mas não era idiota. Soltar, muitas vezes acabava por ser menos doloroso que prender.

Quando saiu da casa de Krishna, Bian ligou algumas vezes para Io, mas este não ouviu o telefone tocar. Estava muito ocupado passeando e jogando o frisbee vermelho, presente de Bian para Lobinho, aos dois cães que lutavam para abocanhá-lo ainda no ar.



 


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