Valeran - A Ascensão dos Reis escrita por Lorde Vallex


Capítulo 12
Batalha Pelo Fim


Notas iniciais do capítulo

Hello!
Continuando, desta vez bem rápido, temos o penúltimo capítulo desta parte da história. Ele é bem focado em luta.
Boa leitura ^^



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Haviam aberto a grande porta. Ou melhor, Herys o havia feito de alguma maneira. Mas aquele não era o momento de discutir sobre isso. O ritual poderia ser feito a qualquer momento, e eles percorreram um longo caminho para impedi-lo.

— Vamos — declarou Tio Sid, que havia tornado-se inesperadamente entusiasmado com o objetivo.

Os seis companheiros então começaram a andar por mais um corredor escuro. O ar era inesperadamente denso naquele local, extremamente desagradável e que parecia alimentar emoções negativas. Por um lado, uma vantagem para o jovem Soren Heirdarus.
Chegaram ao fim do corredor. Após saírem deste, admiraram o local em que estavam.
Era uma área feita de terra dura. As paredes também. Era como se estivessem no interior de uma grande montanha. O local em que pisavam criava um largo arco de terra quase completamente plana. No fim do arco, iniciava-se uma extensa ponte também de terra que parecia poder comportar cinco cavaleiros montados lado a lado. Distante, após a ponte, havia outro arco de terra que parecia um reflexo da superfície em que agora estavam.
Mas havia uma diferença. Enquanto atrás deles havia uma porta gigante, na extremidade do arco de terra após a ponte havia um grande cristal amarelo que emitia raios dourados para todos os lados.
E, esperando os seis, estavam três figuras. Um homem jovem de cabelos alaranjados, peitoral de aço e sobretudo escuro, portando uma espada mágica; um mago de vestes negras adornadas em ouro e uma máscara dourada sem expressão, formato ou desenhos; por fim, um draconato de mais de dois metros, com escamas vermelhas, focinho repleto de cicatrizes, cauda longa, chifres negros curvados para trás e com olhos alaranjados e brilhantes. Parecia um verdadeiro dragão humanóide. Ele também vestia uma armadura de aço e portava uma curta e intimidadora maça estrela.

— Hoho, irmãozinhos — cumprimentou Adrian. — Demoraram um pouco, sabiam? Estávamos esperando por vocês há algum tempo. Admito que, por um momento, pensei que vocês não viriam…

— Silêncio, Adrian — rosnou Isnar, o draconato. — Se estão aqui, podemos finalmente fazer o que viemos fazer. E que a purificação seja iniciada.

— Chega de suas discussões notoriamente infantis e irrelevantes — pediu Alastair, o Mago Dourado, com calma. — Mas Isnar tem razão. Fico muito satisfeito que tenham chegado. Poderemos finalmente concluir o ritual.

Tio Sid, Killian, Soren, Herys, Artariel e Lira prepararam-se. O mesmo fizeram os seus dois perigosos adversários. A única exceção foi Alastair, que cruzou os braços atrás das costas.

— Podem começar a se matarem mutuamente — disse ele, virando-se em direção à ponte de terra incrivelmente comprida. — Estou ocupado demais para perder meu tempo com isso.

Os seis atacaram. Adrian e Isnar estavam preparados. O mercenário voou contra eles, mas o kopesh de Tio Sid cintilou e Adrian foi jogado para o lado. Antes que conseguisse recuperar a postura, teve que desviar rapidamente de Tio Sid.
Artariel correu para o lado do veterano. Adrian sorriu animado.

— Que bom, irmãozinhos. Espero que me deem uma luta melhor que aquele escudeiro tolo.

Tio Sid girou o kopesh, e deu um sorriso desafiador. O kopesh e a espada mágica se chocaram.
Os outros quatro continuaram avançando, mas tiveram seu caminho barrado por Isnar, que atacou-os. Killian pôs seu escudo entre Lira e a maça do draconato, sentindo a potência do golpe.

— Vão! — disse o escudeiro.

— Soren — chamou Lira, e os dois irmãos correram na direção de Alastair.

Herys colocou-se ao lado de Killian.

— Precisamos equilibrar as nossas chances — explicou ela, calma, olhando para o enorme draconato.

*

Soren e Lira corriam na direção de Alastair, mas o mago sequer olhava para trás. Soren disparou um [Dardo Místico] contra ele, mas o homem apenas ergueu a mão, e uma [Barreira Arcana] fora feita, dissipando o feitiço de Soren.
O Mago Dourado continuou avançando sem dar atenção aos dois jovens, mas, quando já havia avançado uns sete metros da ponte, Lira e Soren alcançaram-no.
Alastair olhou para trás.

— Temos mesmo que fazer isso? — indagou ele. — Seria muito mais fácil se vocês apenas se rendessem.

— Pode esquecer!

Alastair assentiu.
Um pulso invisível foi disparado contra os irmãos. Lira conseguiu desviar, mas Soren foi atingido e mandado para o chão.
Lira olhou novamente para onde estava Alastair, mas não vira nada. “Feitiço de invisibilidade”, entendeu ela. Concentrando-se, pôde detectar a minúscula fonte de magia mental que denunciava a posição do inimigo, e então ela disparou um [Dardo Místico] nele.
Alastair foi atingido no peito, recuando levemente e perdendo a invisibilidade.

— Parabéns, Lira von Dartã. Me achou. Mas agora… [Ondrnvaadtu] — conjurou ele.

Lira, subitamente, sentiu-se cansada. O sono veio tão silenciosamente que ela mal conseguiu proteger-se. “Não… Não… Não!”, disse ela para si mesma, balançando a cabeça. “Isso é um feitiço da família das Palavras de Ativação, que implantam sentimentos falsos no alvo. Não estou com sono de verdade!”
Lira, com enorme esforço, conseguiu superar o cansaço. Alastair bateu palmas fracas.

— Este é o único problema de enfrentar magos que usam o mesmo tipo de magia que você — comentou ele. — Feitiços lançados por um mago em um alvo que usa a mesma magia são menos efetivos. Claro, isso não irá te impedir de morrer, jovem Lira.

Foi quando Soren disparou contra Alastair, mas o mago criou novamente uma [Barreira Arcana].

— Com o Mana que eu tenho — alertou o Mago Dourado —, posso lutar com vocês por algum tempo e não irei perder nem metade da minha Mana.

— Você obviamente tem mais que o dobro de Mana que nós dois juntos — concordou Soren. — Mas nossa intenção não é competir com você em vigor.

Lira rolou para o lado e disparou um pulso invisível em Alastair. O Mago Dourado fora arremessado para fora da ponte e caiu no vazio que havia abaixo da mesma.
Antes que sequer pudessem comemorar, o mago criminoso começou a levitar e, logo, estava novamente na ponte.

— Repito: vocês não possuem chance nenhuma de me derrotarem.

— Não saberemos até tentar.

— Está bem — suspirou Alastair. — Então, irei conceder a você, Lira, uma morte rápida. Quanto a seu irmão, infelizmente ele possui outras utilidades.

Alastair continuou na defensiva enquanto avançava pela ponte. Soren e Lira percebiam o desprezo com que o mago revidava seus ataques, e aos poucos percebiam que as chances de pararem ele antes de chegar ao fim da ponte eram praticamente nulas.

*

Tio Sid e Adrian continuavam trocando golpes com grande velocidade. Entretanto, estava claro que o mercenário era ainda melhor que o veterano, pois conseguia pressionar o velho mesmo enquanto defendia-se dos [Dardos Místicos] de Artariel.
O ex-Cavaleiro Santo golpeou com uma série de estocadas, porém Tio Sid desviou de todas e contra atacou com uma finta que foi rebatida por Adrian.
Artariel disparou novamente contra Adrian, mas o jovem homem rebateu o tiro de Mana e o fez atingir a cabeça do pequeno alto elfo.
Enquanto Artariel cambaleava, Tio Sid e Adrian cruzaram as lâminas. O mercenário sorriu.

— Seu kopesh é resistente. Sem dúvidas mágico — observou ele. — E você é bom com ele. Diga-me, já foi cavaleiro?

— Cale a boca e lute, fedelho.

Adrian sorriu ainda mais, rodopiou e aplicou um corte na coxa de Tio Sid, mas o homem revidou, atingindo o peitoral de aço do mercenário.
Artariel, após recuperar-se da dor de cabeça, iniciou uma conjuração e invocou um grande lobo cinzento que atacou Adrian.
O antigo cavaleiro recuou rapidamente e, antes que Tio Sid alcançasse-o, o cavaleiro viu o lobo de Artariel pular em sua direção.
Adrian rolou, desviando do lobo e, logo em seguida, interceptou o kopesh de Tio Sid, dando um chute na perna do velho e atingindo seu nariz com o pomo da espada, fazendo o velho cambalear para trás.
O lobo de Artariel investiu contra ele novamente, mas Adrian disparou uma faca no animal invocado. Este cambaleou, mas continuou avançando.
Adrian avançou rapidamente, rodopiando e cortando a cabeça do lobo. Mal Artariel tinha conseguido surpreender-se quando Adrian arremessou duas adagas em sua direção, acertando o ombro e a mão do elfo.
Artariel caiu no chão, e Tio Sid investiu contra Adrian novamente.

— Você é forte, velho! Mas a sua luz já se escureceu. O meu brilho está inevitavelmente ofuscando o seu, irmãozinho.

Trocavam golpes em alta velocidade, com ataques e contra-ataques. As lâminas soltavam faíscas e rebatiam sem parar, mas nenhum conseguia ferir o outro.
Mesmo assim, Adrian parecia estar superando Sid. Ele desferiu um arco com a espada, afastando o velho. Então atacou novamente, a espada arcana e o kopesh mágico cintilando e se chocando com enorme rapidez.
Foi quando Tio Sid afastou-se quase dois metros de Adrian. O mercenário, suando levemente, sorriu de canto.

— Já se cansou, velho?!

Tio Sid não disse nada, apenas olhou friamente para o mercenário, apontando o kopesh para ele.
E então a lâmina dourada da arma começou a pegar fogo.
Adrian sorriu. Ergueu a sua espada mágica de lâmina pálida, enquanto Tio Sid girou o kopesh dourado com a lâmina em chamas.

— Agora venha, mercenário.

Voltaram a se chocar.

*

A alguns metros de onde Tio Sid e Adrian duelavam, Isnar encarava Killian e Herys. O draconato não parecia extrair qualquer diversão daquele combate e estava assustadoramente calmo.
Killian atacou, mas o draconato nem se mexeu. Apenas deixou que a espada do garoto atingisse sua armadura e então revidou com a maça, atingindo o metal no centro do escudo de Killian, mas nem isso foi o suficiente para aplacar a força do golpe.
O escudeiro sentiu o braço do escudo enfraquecer.

— Sabem que não possuem chance — avisou Isnar, calmo, apesar de sua voz parecer um rosnado furioso. — Seria prudente desistir.

— Desgraçado — murmurou Killian, com a espada erguida. — Você traiu meu pai e abandonou meu irmão para morrer, e agora fala sobre desistir?! Você desistiu da vida no momento em que abandonou o Kane!

O enorme monstro pareceu surpreso.

— Você é o irmão de Kane Maklaw, a Flecha Cinzenta?

O draconato balançou a cabeça. Então, guardou a maça na cintura. Aquilo não servira em nada para diminuir a presença dele. Além do fato de ser um draconato — consequentemente muito forte, com uma cauda poderosa, escamas duras e resistentes e capaz de disparar um sopro elemental —, ainda usava uma robusta armadura. Era um inimigo com uma defesa quase impenetrável.

— Você não sabe de nada — rosnou Isnar, agora verdadeiramente enfurecido. — Se soubesse, não teria vindo até aqui.

— Cale-se!

Herys disparou um raio de gelo na cabeça do draconato, e Killian aproveitou para atacar, mas Isnar quebrou o gelo e deu um soco no peito de Killian. Apesar de estar usando a armadura de aço daquele cavaleiro andante que havia derrotado tempos atrás, o escudeiro sentiu a potência do golpe e foi mandado para o chão com tanta força que sentiu o mesmo rachar.
O draconato tornou a avançar. Herys disparou um relâmpago contra ele que, embora não tenha penetrado suas escamas, arrastou-o pela terra quase três metros para trás.

— Rá! Uma criança que acha que domina o poder que a Mana representa. Que tolice.

Enquanto lutavam, Herys sentia algo estranho. Uma estranha conexão com o intimidador e poderoso draconato, que não usava armas, Mana ou qualquer outra coisa para segurá-los.
Killian levantou-se apressadamente e tornou a atacar Isnar, em um frenesi para atacar o responsável pela perda de seu irmão. O draconato desviava de alguns poucos ataques, mas na maioria das vezes ele apenas deixava que o escudeiro acertasse-o.
Aos poucos tanto Killian quanto Herys percebiam que seus ataques eram pouco efetivos. A espada de Killian não penetrava nem a armadura nem as escamas do inimigo, e tanto sua armadura quanto seu escudo não absorviam completamente o impacto dos esmagadores golpes de Isnar.
Quanto a Herys, ela até conseguia fazer algo. Embora as magias básicas fossem inúteis — as esferas de Mana sumiam ao chegar perto de Isnar e o draconato quebrava as barreiras mágicas com um só golpe —, e o inimigo fosse imune ao fogo, Herys conseguia congelá-lo com gelo ou arremessá-lo com seus raios.
Mesmo assim, a desvantagem deles era tremenda. Isnar mal atacava-os, e já conseguira muito mais resultados que os dois alunos da Academia Greyhorn.
Herys disparou um raio no momento em que Killian investia contra Isnar. O draconato desviou do raio com assustadora rapidez e deu um soco na cabeça de Killian, mandando-o contra o chão novamente. Porém, antes que o escudeiro conseguisse se levantar, Isnar chutou-o na direção de Herys e os dois caíram juntos.
O draconato caminhou ameaçadoramente na direção dos jovens humanos.

— Quando irão entender? As suas chances de vencerem esta luta são completamente nulas. Desistam, humanos nojentos, e eu talvez considere deixar com que vocês vivam.

Killian levantou-se com dificuldade, tossindo. Herys apoiou-se em seu próprio joelho.

— Não vamos nos render — afirmou Killian, com um brilho de raiva e determinação nos olhos.

O draconato vermelho suspirou, e de sua boca saíram pequenas labaredas de chamas.

— Então irão morrer.

*

Após um longo duelo em que os dois irmãos procuraram economizar o máximo possível de Mana, finalmente chegaram ao arco de pedra do lado oposto da ponte. Era um local espaçoso. Uma arena adequada para um combate.
Alastair avançou, e sua figura foi emoldurada pelo brilho belíssimo do grande cristal amarelo à sua frente, que emitia finos raios dourados.
O Mago Dourado virou-se para os dois irmãos.

— Lira von Dartã… Soren Heirdarus…

Ao dizer isso, ambos os jovens arregalaram os olhos. Como ele sabia daquilo?
O mago mental ignorou-os.

— Espero que reconsiderem. Unam-se a mim e me ajudem de bom grado, e eu posso prometer que Roderik e Ethel viverão. Claro, ao preço da morte de algumas milhares de pessoas, mas intelectos inferiores servem justamente para morrer.

— Ou podemos te matar aqui e acabar logo com isso — sugeriu Soren, sorirndo de canto.

Desta vez, Alastair permaneceu em silêncio por um longo momento.

— Você não pode me vencer, Soren. O único jeito de ter uma chance você já conhece. E então, está disposto a isso?

— Soren, do que esse maluco está falando?

— Soren Heirdarus. Está disposto a sacrificar-se? A sacrificar os outros? Diga-me, Soren Heirdarus, o filho da noite. Aquele que estava destinado a ser discípulo do próprio Röst Jyderion, o maior necromante da atualidade. Diga-me, garoto: está disposto a mergulhar no abismo?

Soren não respondeu. Disparou um [Dardo Místico] no inimigo, este que foi dissipado pelo escudo de Alastair.
O Mago Dourado sorriu por baixo da máscara.

— Então…

A imagem de Alastair começou a ser substituída por uma névoa roxa.

— Soren! Isso é um feitiço de Ilusão Corporal! Não importa o que você, ou nós, vejamos, não é real! Lembre-se, ele ainda é Alastair!

O aviso de Lira deixara Soren confuso, mas esta confusão sumiu quando Soren olhou para onde antes estava Alastair.
Pois, no lugar dele, estava Röst Jyderion, o Necromante.

— Este é teu destino, jovem corvo. Venha. Une-te a mim, filho.

— Não vou me render a estes sentimentos — murmurou Soren. — E não sou seu filho.

Disparou novamente contra o inimigo que foi atingido e cambaleou. A imagem voltou a ser de Alastair.

— Ha! Você tornou-se menos influenciável. Que estranho.

Com essas palavras, o Mago Dourado apontou o dedo para Soren, e um relâmpago de energia psíquica atingiu o garoto e arremessou-o para trás.
Antes que Lira pudesse pensar no irmão, Alastair disparou o raio contra ela também, mas a jovem desviou e disparou um pulso que jogou Alastair para trás.
O mago superior olhou para Lira. O fato dele esconder o rosto era irritante e atrapalhava. Alastair apontou para Lira e murmurou uma nova fórmula mágica — uma Palavra de Ativação.

— [Vamisututfarmezisu]!

Neste momento, Lira sentiu a sua audição ser lentamente comprometida. Sabia que aquele feitiço permitia a privação de um dos sentidos do corpo. Aparentemente, Alastair escolhera audição, o que era sábio contra magos. Sem poder ouvir a própria voz e sem capacidade de se equilibrar em pé, o uso de feitiços era quase impossível.
Alastair olhou para um ponto atrás de Lira. A garota virou-se para trás e viu seu irmão cambalear, com a mão na cabeça, que provavelmente latejava com o ataque de Alastair. A maga mental já percebera que aquele mago não os matava porque não queria.
Soren pareceu recuperar-se o suficiente da dor de cabeça para investir contra Alastair. O mago mais velho pareceu divertir-se com os disparos inúteis de Soren.
Lira viu Alastair apontar a mão para seu irmão, e então viu o Heirdarus colar os braços no corpo e juntar as pernas para em seguida cair duro no chão.
Feitiço de paralisia.
Alastair estalou os dedos, e Lira voltou a ouvir. Ela olhou com medo para o poderoso inimigo. Seu irmão esforçava-se para livrar-se do feitiço paralisante.

— Sabe, garota, eu até poderia despedaçar sua memória, ou te fazer gritar tanto que você esqueceria seu nome — listava ele, pela primeira vez deixando-se levar e praticamente emanando prazer. — Eu poderia obrigar seu irmão a te matar, o que seria uma cena simplesmente fantástica. Quase poética, levando em conta os fatores que levaram vocês dois a se encontrarem. Soren finalmente teria sua primeira vítima da nobreza de Valeran.

O Mago Dourado aproximou-se de Lira. Soren começou a conseguir debater-se levemente.

— E sabe por que eu não farei isso? — perguntou Alastair, sussurrando, acariciando os cabelos da garota. — É porque gosto de você, e acredito que seria um desperdício deixar uma criança com tanto potencial simplesmente ruir. Quanto ao seu irmão? Ele é um caso especial. Ele é importante para as coisas que virão. Ou melhor, ele é um dos fatores que levará este mundo a mudar.

Lira já sentia, normalmente, medo. Entretanto, Alastair murmurou outra Palavra de Ativação, e a garota ficou ainda mais amedrontada.

— Agora… Não quero que atrapalhe.

Alastair então utilizou um feitiço paralisante em Lira, porém conjurou, apenas por garantia, como um feitiço de oitavo círculo, para que a jovem não pudesse escapar.
Então, estalou os dedos novamente, e agora Soren estava livre do feitiço paralisante. Ele levantou-se apressadamente e olhou para Alastair com ódio.

— Como… Como ousa tocar nela?! — Suas íris eram contornadas por uma fina linha vermelha.

Alastair gargalhou.

— Isso é perfeito! Tudo o que eu desejo agora é ver você utilizar esse poder. Afinal, será o único jeito de me enfrentar. E então, Soren Heirdarus, aquele que, em outra linha do tempo, poderia ter se tornado um mago das trevas incrivelmente poderoso — discursou Alastair —, você, para me derrotar e proteger a sua preciosa irmã que, embora não seja sua irmã de sangue, você tanto ama… Para protegê-la, você está disposto a usar o poder que é seu por direito?

Um breve silêncio se seguiu àquelas palavras. Então, Soren olhou para Alastair, com as finas linhas vermelhas circulando suas cinzentas íris.
Aos poucos, uma fina fumaça negra começou a emanar do mago das trevas. Ele retirou a luva que usava. O pentagrama em sua mão brilhou em tom violeta, e o livro macabro da magia das trevas começou a flutuar à sua frente.
Alastair, por baixo do elmo dourado, sorriu de orelha a orelha.

— Isso. Mostre-me do que a magia das trevas de um mago que a rejeita é capaz.

*

Tio Sid, o veterano de guerra aposentado com o kopesh dourado em chamas e Adrian, o mercenário e ex-Cavaleiro Santo com a espada pálida, trocavam golpes em uma velocidade tão elevada que, para olhos inexperientes, era possível perder metade dos golpes que eram dados.
Piruetas, rodopios, fintas, arcos, cortes de diversas direções, estocadas, giros completos e mais faziam parte da dança de faíscas dos dois guerreiros. O kopesh flamejante de Sid deixava um rastro hipnotizante por onde passava, mas, mesmo com a súbita inflamação do item mágico, Adrian, passada a surpresa, logo voltou a tomar vantagem.
A espada arcana do mercenário movia-se rápida como um raio, silenciosa como uma sombra e traiçoeira como uma serpente, e aos poucos Sid ia perdendo espaço.
Artariel sangrava a alguns metros dos dois guerreiros.
Sid aparou um golpe de Adrian e contra-atacou, mas o mercenário desviou agilmente e cravou a espada no pé de Sid, fazendo o velho gritar de dor.

— Hehe, irmãozinho, não parece tão grande agora, hein?

Antes que Adrian voltasse a atacar, um corvo subitamente surgiu e começou a atacar, bicando, o mercenário, afastando-o de Tio Sid.
O velho soldado agarrou o pé, com dor, e as chamas do kopesh tremularam levemente. Enquanto isso, Adrian tentava afastar o corvo invocado por Artariel que, para a surpresa do mago, estava dando mais trabalho que o lobo.
O corvo era pequeno e rápido, e quase atingiu o olho de Adrian. O mercenário estava com o rosto — mais especificamente, a testa e o nariz — e a orelha sangrando.
Finalmente, a espada de Adrian perfurou o corvo mágico, empalando-o. O mercenário olhou com ódio para o pequeno e ensanguentado alto elfo.

— Vai se arrepender disso, inumano imundo.

— Você vai se arrepender primeiro — rosnou Tio Sid, avançando contra Adrian novamente.

A troca de golpes, por causa dos ferimentos de ambos os lados, não estava tão acelerada quanto antes, porém ainda deixaria combatentes comuns tontos.
A espada e o kopesh flamejante chocavam-se com tanta força que os ecos dos choques ressoavam pelo local. A tormenta de golpes estava mais equilibrada do que nunca. Aos poucos, o rosto machucado e ensanguentado de Adrian faziam-no errar golpes, atrasar-se em aparar e, logo, ele já não estava em uma vantagem tão extrema.
Aquilo era justificável. Tio Sid era um oponente habilidoso, e o irritante auxílio de Artariel, fosse com [Dardos Místicos], [Barreiras Arcanas], com seu lobo ou — principalmente — com seu corvo, atrapalharam muito o ex-Cavaleiro Santo.
Aos poucos, o resultado daquele combate parecia pender para o valeraniano aposentado.

*

A vitória não podia ser dada tão facilmente a Valeran na luta que ocorria ao lado do duelo entre Sid e Adrian. Isnar era um oponente infinitamente mais poderoso e perigoso do que o jovem mercenário.
Killian atacava e recuava, de maneira tão rápida e cautelosa que ele próprio estava irritado. Nunca havia tido de lutar contra alguém naquele estilo tão hesitante. Herys já não disparava sem pensar. Uma ideia formulava-se em sua mente, mas algo a fazia hesitar.
Herys disparou um raio contra Isnar, mas ele cruzou os braços à frente do corpo. O raio arrastou-o para trás, mas para ele não parecia nada mais que uma brincadeira.
Killian avançou, e Herys começou a aproximar-se do draconato também. Isnar sorriu. E abriu a boca.
Subindo pelo peito e pelo pescoço do ser e chegando à sua boca, Isnar disparou um potente jato de chamas. Killian jogou-se para o lado, conseguindo esquivar-se por muito pouco. O jato de chamas foi na direção de Herys, que disparou um raio de gelo que parecera infinitamente mais potente que o normal, causando enorme vapor quando atingiu as chamas do draconato.
O sopro enfraqueceu, mas não havia sido completamente apagado. Herys criou um escudo mágico e ajoelhou-se, enquanto a [Barreira Arcana] dissipava o jato de fogo.
Logo, Herys levantou-se, e agora ela e o escudeiro encaravam Isnar novamente.

— Vocês são uma piada — rosnou o draconato. — Até agora, não senti nada.

Killian, enfurescendo-se, bradou um grito de guerra e correu contra Isnar.
O monstro de sangue dracônico apenas viu o escudeiro aproximar-se, e tirou da cintura a sua maça novamente. Uma maça com uma corrente que ligava a esfera com espinhos ao cabo.
Killian estava a quase dois metros do draconato quando ele começou a girar a maça, forçando o garoto a afastar-se. A cada passo de Isnar, o escudeiro afastava-se mais.
“Chega de recuar”, decidiu Killian.
O escudeiro avançou, desviando da maça e partindo em direção a Isnar, mas este pulou para trás, arrancando a maça do chão e tornando a girá-la. Killian esquivou-se mais três vezes da intimidadora arma, mas viu ela chegando até ele.
Killian ergueu o escudo, mas a força do impacto da maça de aço somada à força de Isnar partiram o escudo ao meio. Killian sentiu seu braço quebrar-se com o impacto da arma.
O jovem Maklaw ficou caído no chão, resmungando e gritando, com o braço em um formato horrível. Herys sabia que na bolsa de Lira poderia haver uma erva mágica para ajudá-lo, mas ela estava na ponte. Para chegar até ela, precisariam passar por Isnar.
Naquele momento, Herys sabia o que fazer. O único problema era o draconato de mais de dois metros que aproximava-se dela com calma.

*

Em meio à troca de golpes, a espada de Adrian finalmente falhou.
Mirou uma estocada, mas ela passou reto ao lado do corpo de Tio Sid. O velho, sem perder tempo, girou o flamejante kopesh e a espada mágica de Adrian saiu voando para cinco metros de distância dos dois combatentes.
Tio Sid atingiu o rosto de Adrian com o pomo da espada, logo em seguida dando uma rasteira no mercenário. Este caiu no chão, de costas.
Antes que Sid finalizasse o oponente, ouviu o estrondo da maça de Isnar quebrando o braço de Killian para, logo em seguida, o draconato começar a aproximar-se de Herys.
Tio Sid saiu correndo na direção do draconato.
Antes que Isnar notasse, o velho veterano já estava com o kopesh em chamas à sua frente. Estavam a uma pequena distância do abismo que existia de ambos os lados da ponte.

— A sua presença aqui não muda em nada o resultado estabelecido pelo meu sangue — alertou Isnar.

Tio Sid ignorou-o. Ao invés de responder, atacou o draconato.
Isnar era infinitamente mais forte. Na verdade, depois de lutar contra Adrian, Sid mal passava de uma mosca irritante para o herdeiro de dragões.
Foi neste momento que Herys agiu. Enquanto Isnar girava a maça, Herys congelou-a. Isso fez com que o draconato cambaleasse, porém Herys não parou. Disparou novamente o gelo, congelando por completo o herdeiro do sangue dracônico para, logo em seguida, disparar um relâmpago que arremessou o congelado draconato em direção ao abismo.
Herys foi até Killian, e Tio Sid até Artariel. Os dois estavam feridos, principalmente o escudeiro. Então viraram-se para a ponte, onde Lira havia deixado a sua bolsa com ervas mágicas.
E lá, distante, viram uma esfera de escuridão tão grande que cobria todo o arco de terra do lado oposto da ponte, tão escuro que já não era mais possível enxergar o cristal amarelado.
“Soren”, pensou Herys. “O que você está fazendo?!”


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Notas finais do capítulo

Hehe, agora ainda tem Soren vs Alastair (e é óbvio quem está na vantagem kkkkk)



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