Menina de Ouro escrita por Stella


Capítulo 3
Capitulo Dois




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Dimitri apenas me olhou, parecendo curioso e eu senti seu peito tremer levemente quando ele riu.

— Não – declarou, me colocando no chão e enfiando a mão no bolso de suas calças. Ele desligou o alarme e eu olhei para um Aston Martin novinho. Dimitri pareceu ter notado minha expressão surpresa – Bonito, não é?

Eu quis perguntar quantas aulas de luta eu teria que dar por mês para comprar um igual... Minha última experiência com homens e carros caros não havia sido legal, mas ao invés disso, eu apenas entrei quando Dimitri abriu a porta do passageiro para mim. Seu carro estava incrivelmente limpo, quer dizer, era o carro de um homem. Não havia embalagens, os vidros estavam limpos, nada de camisinha exposta entre os bancos também ou lixo no chão.

Sentei ereta no banco, após arrumar o cinto de segurança. Dimitri ficou calado durante o trajeto de 5 minutos a minha casa – o que levaria bem mais se eu estivesse andando e manca e poderia ser mais rápido ainda se ele usasse a potência que eu sabia que aquele carro tinha.

Quando ele parou em frente ao prédio de quatro andares, eu retirei meu cinto. Dei um rápido olhar a ele, ainda me sentindo constrangida por ter sido pega em minha avaliação sobre o perfume que exalava dele.

— Valeu pela carona.

Saltei para fora do carro, tentando andar com o mínimo de dignidade enquanto eu sentia meu tornozelo latejar ainda. Eu definitivamente não estava com sorte.

— Precisa de ajuda? – ouvi Dimitri perguntar, mas não me virei, fazendo um gesto com a mão que eu esperei que ele entendesse como uma recusa, mas pareceu não funcionar, quando novamente ele passou seus braço ao redor da minha cintura – Este prédio não tem elevador, se apoie em mim.           

Eu queria pedir que ele tirasse suas mãos de mim e jogar em sua cara que no dia anterior ele havia me enxotado de sua academia por – supostamente – estar ali para abusar do seu corpo, mas eu me encontrava em uma situação que não permitia usar todo o repertorio de ofensas que eu conhecia. Então, eu apenas levei meu braço até seu pescoço, me apoiando nele.

Entramos no prédio e como sempre, sra. Bennet estava sentada a portaria. Seu gato Oscar a sua frente. Teria passado silenciosamente por ela, se esta não tivesse aberto um sorriso cheio de dentes para Dimitri.

— Dimka! – ela falou, dando a volta no balcão mais rápido do que eu pensei que sua idade permitisse e jogando seus braços ao redor do pescoço de Dimitri, me ignorando completamente – Você está ótimo! Veio visitar Barbara?

Eu olhei confusa entre eles, não entendendo os nomes. Quem era Dimka? Barbara era a netinha da sra. Bennet. Eu sabia porque ela mantinha quadros da criança por toda a portaria. Perguntei-me se Dimitri dava aulas a crianças também...

— Não, Olivia. Estou apenas de passagem. Diga que eu mandei lembranças.

Dimka era ele, percebi um tempo depois.

Eu limpei a garganta e a velha voltou seus olhos para mim, parecendo não satisfeita.

— Oh, não sabia que conhecia Hannah.

— Rose – eu corrigi, percebendo que ela se referia a mim – Meu nome é Rose.

Sra. Bennet agitou as mãos no ar como se não fosse grande coisa, mas eu sabia que ela sabia meu nome. Ela vivia deixando bilhetes para mim sobre o tempo que eu gastava no chuveiro ou sobre as vezes em que ela jurava que eu havia deixado a lixeira aberta.

Eu esperei que eles terminassem de falar para então Dimitri me ajudar a seguir meu caminho. Eu estava suada e péssima. O cabelo que eu havia deixado de prender eu tinha certeza que estava uma destruição total.

Dimitri me segurou em seus braços pela segunda vez em menos de uma hora, e a forma como ele me ergueu fez parecer que eu não pesava quase nada.

Meu quarto era no terceiro andar, de forma que ele teve um bocado de trabalho até chegarmos nele após eu indicar o caminho.  Quando finalmente chegamos a minha porta, Dimitri me colocou de volta no chão e não parecia minimamente cansado ou ofegante.

— Está entregue – ele disse, fazendo um gesto para a porta.

Eu assenti com a cabeça, enfiando minhas mãos no bolso do moletom e tirando minhas chaves. Eu precisava desesperadamente de um banho. Enfiei a chave na fechadura e entrei, mas antes que eu pudesse fechar a porta, Dimitri colocou uma mão nela, segurando.

— Eu fiquei curioso no outro dia, – ele começou olhando para baixo, mas então ergueu o olhar, me fitando. Seus olhos eram castanho escuros quase como pretos – Por que procurou a minha academia? Tem outras dezenas em Missoula que poderiam te treinar...

Dei de ombros.

— Eu te disse. Achei que pudesse me ajudar.

— É – concordou – Você havia mencionado Alberta. Eu não a vejo faz alguns anos.

Percebendo que aquilo demoraria mais do que eu esperava, eu suspirei e cruzei os braços sob o peito.  Ele não parecia curioso sobre mim, apenas como alguém tentando ser... Gentil!?

— Obrigada pela carona – falei – e por ter me ajudado, mas eu preciso cuidar da minha vida agora.

Ele entendeu o recado e, sem ao menos me responder, me deu as costas, sumindo pelo vão que dava nas escadas. Tranquei rapidamente a porta e me joguei no sofá. Ainda era sete da manhã. Eu teria algum tempo até ter que ir para o trabalho, então deixei meu celular sobre a mesa e tirei meu casaco, o jogando sobre uma cadeira, antes de ir até o banheiro e tomar um relaxante banho. Meu tornozelo ainda doía, mas eu não tinha muito o que fazer. Então apenas coloquei um pouco de gelo antes de colocar um faixa para prendê-lo mais firmemente e calçar meu tênis branco e ir para a lanchonete.

Cada passo parecia uma tortura, mas eu não podia me dar o luxo de simplesmente sentar. No dia seguinte vai estar melhor, eu disse a mim mesma. Foi o estimulo que eu precisava para aguentar o dia todo.

Felizmente a lanchonete fechou bem antes do esperado, devido há alguma dedetização que fariam ali, e me vi agradecendo por não ter que ficar mais tempo em pe. Caminhei com calma de volta para meu apartamento, lembrando da hidromassagem que minha mãe tinha em seu quarto e imaginando como seria poder estar nela agora. Eu também queria uma xícara de chocolate quente e algumas panquecas. Mas não tinha nada disso quando eu fechei a porta atrás de mim, sozinha outra vez. Tirando meu celular do bolso eu digitei um rápido SMS para Lissa me desculpando por não poder ir até seu teste e dizendo que eu havia torcido o tornozelo, mas lhe desejando sorte.

Um barulho chamou minha atenção. Era uma música calma, tranquila. Quase parecida com as que tocam em salas de espera de um dentista e que era horrível. Olhei ao meu redor, procurando a origem do barulho e tentei segui-lo.

Meu casaco ainda estava sob a cadeira e eu o revirei, notando que o barulho vinha dali. Enfiando a mão em seus bolsos, eu tirei um celular, não reconhecendo o aparelho em minhas mãos.

Ele ainda tocava e o nome Vika piscava sem parar na tela quando eu me toquei.

Era de Dimitri. Eu me chutei por dentro, pensando em como pude ser tão distraída. Ótimo! Era tudo o que eu precisava, ele pensaria que eu havia feito de propósito. Provavelmente eu devo ter pego por engano logo depois dele ter nos levado ao chão mais cedo...  

Eu tomei um rápido banho, sabendo que meu corpo não seria capaz de aguentar caso ele não relaxasse por alguns minutos.

Em seguida, vesti calça jeans e uma blusa vermelha de gola alta, colocando um casaco preto por cima e calçando meus sapatos.  Deixei meus cabelos recém lavados soltos, afim de esperar que secassem.

Saí do meu apartamento, descendo até a portaria e tocando o sino para atrair a atenção de sra. Bennet que parecia entretida em alguma serie da Netflix.

— Oi Rose – ela disse, sorrindo para mim – Não chegou tão tarde assim hoje.

Ignorei o que ela disse com sucesso. Sabia que ela ficava fuxicando a vida de todos os inquilinos.

— Lembra de Dimitri? – falei – Ele esteve mais cedo aqui comigo.

— Ah sim – ela fez, como se tivessem se passado vários anos – Dimitri é um homem muito gentil. Eu o conheço há alguns anos.

— Ótimo! Eu acabei esquecendo uma coisa no carro dele e precisava ir buscar. Sabe onde ele mora?

Os olhos da velha seguiram por todo o meu corpo, parecendo avaliar toda a situação.

— Por que não liga para ele?

Porque eu estou com seu telefone. E se eu demorar muito provavelmente a polícia de Missoula irá aparecer aqui.

— Ah, ele não me passou seu número. Não nos conhecemos tão bem, na verdade – expliquei não querendo dar detalhes e tentando parecer amável – Enfim, você sabe onde Dimitri mora?

Ela me avaliou pelo que pareceu uma eternidade. Provavelmente imaginando coisas sujas entre Dimitri e eu o que, honestamente considerando sua aparência, não seria nenhum pouco ruim. Foco, Rose, foco.

— Ele deve estar na academia, sabe onde fica? É onde ele sempre está.

Eu agradeci, indo para fora e chamando por um taxi, não querendo ficar andando por aí quando meus pés claramente precisavam de um descanso.

No caminho, fiz uma nota mental para ligar para Lissa e perguntar como havia sido seu teste. Ela era o mais próximo que eu tinha de uma amiga aqui e eu não queria que ela pensasse que eu estava ignorando suas conquistas.

— Oito dólares – a voz grave do motorista me chamou a atenção.  Tirei o dinheiro do bolso, lhe entregando e saindo do carro.

Eu havia tomado o cuidado de colocar o celular de Dimitri dentro de uma caixinha e então dentro de uma sacola, com um bilhete de desculpas, e havia planejado algo como deixar aquilo na recepção da academia e sair, mas não foi necessário já que quando eu desci do carro, Dimitri estava bem na porta da academia, conversando com um rapaz que parecia ter a minha idade e de costas para mim.

O outro rapaz me olhou dos pés à cabeça e eu quase revirei os olhos quando ele me deu um sorrisinho. Ele estava na academia no outro dia e me lembrava dele. Dimitri se virou, quando notou que ele não prestava mais atenção em suas palavras.

— Rose?

— Hey, camarada! – eu disse, tentando não parecer como alguém que acidentalmente estava com o seu celular – Posso falar com você por um instante?

Ele me encarou por um instante, antes de concordar e eu me aproximei. O outro rapaz pareceu ter se recuperado, mas ainda me olhava.

— Eu falo com você depois, Eddie – ele falou para o outro, que pareceu finalmente se tocar e desviar seus olhos de mim, e então se afastar. Dimitri voltou sua atenção para mim e eu suspirei, estendendo o embrulho que estava em minhas mãos.

— Isso é seu – declarei e quando notei seus olhos surpresos, eu quase pude dizer que ele estava sendo metido de novo – Não é um presente. Eu só meio que talvez tenha me confundido.

Parecendo assumir que não era uma bomba ou um presente – quer dizer, sério? – ele tomou o embrulho das minhas mãos, retirando a caixinha e a abrindo.

— Ah! – ele fez, pegando o aparelho – pensei que tivesse esquecido em casa, mas não imaginei que você o havia pego.

Eu o olhei cética.

— Eu não peguei, ok? Esse é o primeiro ponto – me defendi. – O segundo é que você precisa mudar o seu ringtone. Eu quase enlouqueci escutando essa merda tocar. O terceiro ponto é: de nada, Dimitri.

Ele pareceu não ter prestado atenção, já que quando o telefone estava em sua mão, ele começou a tocar novamente e eu fiz um gesto tentando provar meu ponto. Aquilo era irritante!  Parecendo não se importar com minha crítica, Dimitri fez um gesto com a mão e atendeu a ligação da tal Vika que parecia estar ligando pela sétima vez naquele dia.

Eu me mexi desconfortável, quando Dimitri atendeu a ligação. Ele falava rápido e em russo, o que eu não entendia absolutamente nada, mas parecia estar com raiva já que ele gesticulava muito. Percebendo que eu estava sobrando ali e que aquele não era um assunto meu, comecei a caminhar para longe e apertei meu casaco contra mim. Sentia falta do calor da cidade em que eu cresci, e de como lá era agitado a qualquer hora da noite. Missoula era uma cidade relativamente pequena, e eu achava que nunca me acostumaria ao fato de todo mundo parecer saber da vida de todo mundo.

Ouvi meu nome ser chamado e eu parei de andar, me virando e dando de cara com Dimitri que me alcançava a passos largos.

— Obrigado – ele disse e eu apenas dei de ombros. Ele parecia mais educado agora – Como está seu tornozelo?

— Melhor – respondi, levantando um pouco minha perna e mostrando o local enfaixado – Amanhã vai estar melhor. Espero.

Eu já tinha feito o que havia ido fazer ali, mas ainda sim, eu não consegui dar as costas e ir.

Me lembrava com perfeição de como Alberta tinha descrito Dimitri. Educado, forte e corajoso. Ela não havia citado sua aparência física, mas quando eu olhava sua postura, determinação era tudo o que eu via ali. Seus olhos me analisavam como se puder ler meus pensamentos, mas eu sabia que ele não estava esperando por minha pergunta tão logo as palavras saíram dos meus lábios.

— Por que não treina garotas?

Ele me avaliou por um momento, parecendo pesar as palavras. Eu esperei uma resposta melhor do que a que havia tido na última vez que estive em sua academia.

— Elas não ficam por muito tempo – respondeu por fim – Elas desistem logo que aparece o primeiro hematoma ou que perdem a primeira luta. Muito trabalho para nada.

Algo em mim inflou.

— E você desistiu após treinar quantas garotas? – perguntei, achando aquela definitivamente uma desculpa estupida. Ele pareceu nem ao menos ter pensado ao falar aquilo.

— Alberta disse a você por que eu devo um favor a ela? – ele repetiu a pergunta que me fizera quando eu fui buscar sua ajuda – Ela te deu ao menos uma dica?

Balancei minha cabeça. Ela não tinha dito. Havia mencionado apenas que eu não precisava saber sobre aquilo, mas que ainda assim ele me ajudaria. Quando eu não respondi, Dimitri deu um passo, ficando ainda mais perto.

— Então por que está aqui? Por que uma garota como você vem até a minha academia pedindo que eu a treine quando o seu foco deveria estar em coisas que garotas da sua idade fazem?

Desviei meus olhos dos dele, não querendo voltar aos meus erros que haviam me levado aquela cidade. Eu poderia dizer um milhão de coisas estúpidas como “esse é meu sonho!”, ou que “acho que você é o melhor!”, mas a minha voz falhou quando eu tentei dar qualquer uma dessas desculpas. Virando minha cabeça de lado, eu limpei rapidamente uma lagrima teimosa que correu pelo meu rosto e então olhei para Dimitri, percebendo que ele havia visto meu gesto, mas não me importando mais.

— Porque eu preciso.

Aquilo era tudo o que eu podia dizer. Mas ainda assim, aquela era a única verdade. A única coisa que não faria Dimitri ter um julgamento falso de mim. Eu precisava estar pronta quando Red viesse atrás de mim, porque eu sabia que ele o faria. E

Dimitri pesou minhas palavras, sustentando meu olhar e parecendo avaliar minha resposta. O que será que ele via enquanto me analisava? Uma garota de 18 anos, sozinha em uma cidade que não tinha absolutamente nada para ela, chorando e implorando por ajuda? Bem, eu não sei exatamente o que ele via enquanto me olhava, mas foi algo que o fez repensar.

— Esteja aqui amanhã as 07:00 A.M. Sem atrasos.

Ele me deu as costas antes que eu pudesse absorver suas palavras ou eu pudesse fazer alguma piada sobre ele ter mudado de ideia para que ele não me achasse patética por ter chorado em sua frente, mas eu apenas me calei, o olhando seguir de volta para a academia e sumir em seu interior.

Algo em mim se agitou. Talvez fosse a esperança de que tudo ficaria bem a partir daquele momento. Eu ficaria bem.


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Notas finais do capítulo

Olá, espero que tenham gostado. Eu vou tentar definir um dia da semana para fazer as postagens e ficar regular, mas ainda estou tentando organizar minha rotina com o home office devido ao isolamento social. Mas prometo voltar em breve.

Me deixe saber o que voces estão achando, qual o favor que vcs acham q Dimitri deve a Alberta, como Rose vai se sair, se eles vão demorar a se apaixonar um pelo outro.

Até a proxima. - XX



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