Menina de Ouro escrita por Stella


Capítulo 1
Prólogo




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Mascar chiclete era um hábito comum quando eu estava ansiosa. O que acabava por me deixar ainda mais nervosa, mas ainda assim, era melhor do que eu ficar andando em círculos. Havia chegado há cerca de meia hora e Deus sabe que esperar pacientemente não era uma habilidade que eu praticava muito bem. Paciência nem de longe era uma característica que eu sequer possuía.

Suspirei, lutando contra a vontade de fazer algum barulho para que se lembrassem da minha presença ali. Comecei a caminhar pela pequena sala tentando encontrar algo que pudesse me distrair. As paredes precisavam de pintura, estavam descascando e a cor verde-limão não era nenhum pouco agradável aos olhos. Tinha alguma infiltração no teto também, e um ligeiro cheiro de mofo pairava no ar. Tudo parecia impessoal demais. Na parede oposta a mim, em um canto, parecendo estar escondido, consegui vislumbrar uma espécie de estante de vidro, exibindo algumas medalhas, cinturões e troféus. Eu me aproximei, vendo que a maioria era de ouro, enquanto outros de prata e apenas alguns de bronze.

Lancei um rápido olhar para a pequena porta que permanecia fechada. Mordi o lábio inferior, antes de voltar minha atenção toda a para a estante e sutilmente virar o trinco de ferro e o levantar para abrir a portinha de vidro. Eu busquei por um cinturão que tinha um homem entalhado na placa redonda de ouro, me perguntando o quão longe chegou o dono dele. O ergui na altura dos meus olhos e me perguntei se eu poderia conseguir um igual

— Coloque de volta!

Eu tremi com o susto quando fui pega de surpresa   , deixando o cinturão cair no chão e pisquei surpresa. Havia me distraído e não percebi quando não estava mais sozinha. Tinha um homem parado a porta, me encarando com um olhar sério e o que parecia ser assustador. Abaixei-me rapidamente, pegando o cinturão de volta que agora não parecia mais tão brilhante e chamativo.

— Desculpe – eu disse, tentando soar realmente arrependida – Eu não tive a intenção.

— Coloque de volta! – o homem repetiu, e eu tinha certeza de que agora havia uma careta em meu rosto. Coloquei o cinturão de volta em seu lugar e me voltei novamente para o homem.

Ele era realmente alto, com músculos que davam perfeitamente para serem observados por baixo de uma regata branca. Tinha os cabelos puxados para traz em um curto rabo de cavalo. O queixo altivo me levou direto para seus olhos... que ainda me olhava irritado e agora com uma sobrancelha erguida. Só então percebi que o encarava por mais tempo do que “permitia os bons modos”.

— Hm, você é Dimitri Belizoti? – perguntei, tentando me lembrar se estava correto.

— Belikov! – corrigiu-me em um tom duro e me deu uma rápida olhada de cima a baixo, parecendo desgostoso – Veio ao lugar errado, o shopping fica a quatro quarteirões daqui.

Eu olhei para baixo, vendo os sapatos de salto que Mia havia me emprestado e que – honestamente – eu sabia ser uma péssima ideia usá-los, mas ainda assim o fiz. Antes que eu pudesse dizer algo, Dimitri caminhou para fora do escritório e eu me adiantei para entrar em sua frente.

— Na verdade meu assunto é com o senhor – falei, e então engoli uma boa quantidade de saliva quando disse a última palavra, lutando para demonstrar toda a educação que minha mãe não havia me dado mesmo que Dimitri não parecesse tão mais velho do que eu – Ouvi dizer que pode me ajudar.

— Não posso – falou, parecendo não se importar com o que eu disse – Dê meia volta e volte a fazer o que estava fazendo antes.

Ele voltou a andar e não parou quando eu o seguiu para fora da sala, descendo as rangentes escadas de ferro, em forma de espiral.

— Acho que você não me compreendeu. – disse, irritada por ser ignorada feito uma criança e mais irritada ainda por ter escolhido aqueles sapatos que agora se enfiavam entre os buraquinhos da escada.

Dimitri parou abruptamente. O problema foi que sua parada sem aviso prévio fez com que eu me chocasse contra suas costas, contra, literalmente, uma parede de músculos – tal como eu havia pensado que eram.

— Ai! –gemi, tocando meu nariz para ter certeza de que não o havia quebrado.

Dimitri se virou para mim, apontando o dedo em minha direção e parecendo irritado demais para aquela hora do dia.

— Deixe-me lhe dizer algo, garota! Quantos anos você acha que eu tenho? Você provavelmente nem completou 18. E sim, eu sei o que você quer aqui. E não, não vou. Também não sou casado, e não adianta vir com estúpidas ironias me chamando do que quer que seja. Eu não vou cair nessas idiotices. Portanto, poupe-nos tempo e vá de uma vez embora! – ele despejou em cima de mim e se virou, andando ainda mais rápido e eu ainda tentava processar o que havia escutado. Pude captar um forte sotaque russo em meio as suas palavras ásperas.

Revirei os olhos e o alcancei já ao final das escadas, quando chegamos ao que era o ambiente de treinamento da academia.

— Não, não. Você me entendeu errado. E eu tenho 19 anos, faço 20 daqui um mês, é perto da páscoa – eu disse, sabendo que aquilo não importava para ele. Quão forte era seu ego para achar que alguém iria ali para se jogar aos seus pés? – E eu não quero nenhum envolvimento com você. – afirmei, embora não negasse que um cara que tinha um corpo que claramente merecia ser reverenciado, tinha algo que com certeza me interessava e em outros tempos eu teria flertado descaradamente. Balancei a cabeça para me focar em meu objetivo quando percebi que Dimitri nem ao menos parecia dar atenção ao que eu falava – Merda, você pode só me ouvir?

Ele soltou um suspiro, antes de se virar e me encarar de braços cruzados e parecendo extremamente descontente.

— Você tem um minuto.

Tomei uma respiração profunda, tentando me lembrar das palavras de Alberta e me convencer de que ele não era tão idiota quanto parecia.

— Estou aqui porque Alberta Petrova me falou de você e de sua academia. Sou Rosemarie Hathaway – estendi a mão, mas quando não tive resposta, recuei– Eu acabei de chegar a Missoula e-

— Direto ao ponto – falou impaciente, dando um suspiro pesado.

— Eu quero aprender a lutar. A me defender – eu disse a meia verdade. Os outros motivos não interessavam a ele.

A resposta de Dimitri foi curta e grossa.

— Sinto muito, não treino garotas.

— Por que elas podem dar encima de você? – acusei, não evitando a pontada de sarcasmo.

Tinham alguns homens a poucos metros de nós treinando, parecendo completamente alheios a nossa presença.

— Eu já dei minha resposta. Não treino garotas, isso é tudo.

Eu sabia que podia ser mais convincente que aquilo, mas não parecia valer a pena ferir o meu orgulho quando um babaca era machista demais para ao menos pensar naquela possibilidade. Talvez Alberta tivesse errada sobre eu conseguir o que procurava ali. Talvez eu conseguisse de outra forma... uma que não envolvia me humilhar.

— Castille! – Dimitri gritou e eu rezei para que a decepção não estivesse evidente em meu rosto enquanto ele ainda me olhava. Um rapaz que parecia ter a minha idade se aproximou, suado e ofegante. Ele tinha cabelos cor de areia e sorriu quando chegou perto o suficiente. – Apresente a porta para a senhorita aqui.

Eu poderia dizer uma série de palavrões que com certeza fariam Janine corar de vergonha, mas ao invés disse, eu engoli todos eles.

— Alberta disse que você a deve. Ela disse que me ajudaria porque você tem uma dívida com ela.

Aquele era meu único trunfo. A amiga de minha mãe não havia sido clara quanto à o que exatamente aquele homem lhe devia, mas a certeza em como ela afirmou aquilo para mim dias atrás, me fez pensar que eu poderia conseguir. Só percebi que talvez não tivesse sido algo tão importante assim quando Dimitri fechou seus punhos com força e estreitou seus olhos para mim.

— Ela lhe disse, exatamente, o por que eu a devo a algo? – ele perguntou, em um tom duro, mas eu não respondi. Alberta não havia me dito – Foi o que eu pensei – ele assentiu com a cabeça e fez um gesto para o garoto que continua nos olhando – Leve-a até a porta. 

— Eu sei onde é a saída! – Murmurei de má vontade, já andando para fora.

Quando havia decidido sair de Montana há 2 meses, não parecia tão difícil assim começar uma vida nova. Haviam acontecido coisas lá que eu não poderia deixar que acontecessem em Missoula também. Minha última ligação para Alberta me convenceu de que Dimitri Belikov era alguém que poderia me ajudar, e agora eu teria que encontrar outra forma de resolver as coisas.


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