Zoro muitas vezes velava as noites de sono de Sanji, ou pelo menos as pouquíssimas horas que ele se permitia passar dormindo. O cozinheiro era certamente a pessoa que menos dormia naquele navio e Zoro entendia o porquê, mas ao mesmo tempo não entendia. O trabalho de Sanji no navio com certeza era um dos mais exaustivos. Bom, claro que não chegava nem perto de treinar pesado o dia inteiro como Zoro, mas o espadachim reconhecia que aquele cozinheiro trabalhava um bocado. Mas, às vezes Zoro sentia que Sanji trabalhava além do necessário para sua função. O loiro era exageradamente perfeccionista e não descansava até tudo estar absolutamente impecável na cozinha. Até mesmo quando não tinha nada para fazer aquele homem parecia inventar tarefas absurdas para cumprir o dia inteiro, como se fosse matá-lo apenas descansar por um segundo. Além disso, ele se apropriava de várias outras funções no navio, em sua maioria funções que deveriam ser das garotas que, aos olhos de Zoro, eram apenas duas preguiçosas que passavam o dia descansando ao sol em espreguiçadeiras.

Mesmo ficando tão cansado e trabalhando tanto, Sanji tinha apenas algumas horas na madrugada para se recuperar até o dia seguinte. E Zoro havia notado há muito tempo que muitas vezes esse tempo que o loiro passava dormindo sequer funcionava. Que ele ficava agitado enquanto dormia, que acordava a todo momento e amanhecia com olheiras horríveis debaixo dos olhos tão belos. E esse era um dos motivos pelos quais Zoro o vigiava enquanto dormia. Durante todas aquelas horas, Zoro se mantinha quase imóvel, a mão apoiada no punho das espadas e os olhos de vez em quando observando o homem que dormia atrás das suas costas. Zoro não o vigiava porque estava correndo perigo. Aquele navio era sua casa, ali dentro apenas havia sua família. O vigiava para que se sentisse seguro. Para que pudesse descansar de verdade. Para que não fosse acordado e dormisse em paz no pouco tempo que tinha.

Mas, Zoro não tratava aquilo como uma obrigação. Ele gostava de velar o sono de Sanji. O que era engraçado porque o espadachim adorava dormir e certamente era um dos membros que menos se voluntariavam para vigiar o navio. Mesmo quando era obrigado a fazê-lo, Zoro caía no sono em quase todas as vezes. Entretanto, ele nunca dormia enquanto velava o sono do cozinheiro.

Mais que isso, ele atentava para as mínimas mudanças em seu ritmo de respiração, para a forma como ele ressonava baixo. Para os pelos finos e dourados em seus braços que se arrepiavam quando o loiro estava com frio. Para as pequenas gotas de suor que desciam pelo seu rosto angelical quando estava com muito calor. E talvez Zoro mudasse o cobertor de lugar dependendo desses fatores.

Principalmente, Zoro prestava atenção nas palavras que Sanji pronunciava enquanto dormia. Algumas soavam vergonhosas e eram apenas para seus próprios ouvidos. E algumas não eram para os ouvidos de ninguém. Eram segredos do loiro, traumas do passado, muito bem trancafiados em seu subconsciente. Coisas que Sanji não queria falar e que Zoro jamais questionaria. Mas que mesmo assim eram faladas no escuro daquele quarto enquanto o loiro dormia e sua testa fervia da febre causada por seus pesadelos. E Zoro sabia que Sanji detestava ficar vulnerável tanto quanto ele próprio. Então o espadachim cuidava para que ninguém mais ouvisse aquilo.

E, quando o cozinheiro acordava após ser vigiado, ele nunca o agradecia. Mas, a primeira coisa que fazia, antes mesmo de acender um cigarro, era abraçar as costas largas que o protegiam e colocar seus próprios dedos pálidos sobre a mão morena que repousava sobre as três espadas.