Bella não é uma pessoa que gosta de manhãs. Está certo que as manhãs são cheias de possibilidades mas ainda assim, Bella achava que abandonar a cama confortável cedo pela manhã deveria ser considerado crime. Ninguém apontava uma arma na cabeça de Bella, obrigando-a a se levantar todos os dias, é óbvio, ela o fazia por espontânea vontade, mas seu humor era lastimável até que ela saia de casa e caminhava até à Cafeteria Colonial. 

No caminho, Bella olhava o relógio de pulso. Alice, sua irmã, sempre fez piadas sobre Bella ser praticamente a única pessoa que ainda realmente vê as horas num relógio de ponteiros. Bella achava um exagero mas em certos assuntos era melhor nem começar um debate com Alice. Tres minutos antes das 8 horas da manhã. Ela estaria na cafeteria em menos de 2 minutos. Bella deu uma olhada rápida na sua bolsa e fez a chamada mental de todos os itens que iria precisar para sobreviver a mais um dia. O livro que ela fingia que estava lendo, a sua agenda, carteira, celular e a chave de casa e da sua loja. Bella sorriu satisfeita. Odiaria ter esquecido alguma dessas coisas em casa. Olhou mais uma vez o relógio de pulso. Tinha passado apenas uns 15 segundos desde a última vez que ela olhou. Era ridículo ao que ela se prestava todas as manhãs. Sua própria irmã já a tinha chamado de louca, sem rodeios. Conhecendo Bella como uma irmã conhece a outra, Alice achava inacreditável que Bella saísse cedo de sua cama apenas por causa de um desconhecido. Principalmente por causa de um desconhecido. Bella tentou amenizar a indignação de Alice, dizendo que não era bem isso. Disse que gostava de ler pela manhã, enquanto tomava a sua dose de cafeína. Que gostava dos bolos que havia na cafeteria. Disse até que desse modo, nunca chegaria atrasada ao trabalho. Nada disso era mentira. Ela realmente gostava de ler pela manhã enquanto tomava café. Ela realmente gostava dos deliciosos bolos da cafeteria e ela realmente não chegaria atrasada ao trabalho porque a cafeteria ficava praticamente do outro lado da rua. Com o acréscimo que Bella detesta atrasos. 

Mas Bella não podia mentir para si mesma. Não tinha como se tentar enganar. Não era pela leitura que ela estava na cafeteria todos os dias na mesma hora. Ela podia muito bem ler na sua cama enquanto tomava o café e ainda assim chegar cedo o suficiente ao emprego. Era por causa dele. O desconhecido. Tinha algo nele que lhe inquietava o estômago. Levando em conta que nunca antes ela sentiu isso, ainda não tinha decidido se era uma coisa boa ou ruim. Ela gostava de o ver entrar, com os cabelos ruivos bagunçados. Gostava de ver quando ele abre a porta e deixa a senhora idosa entrar antes dele. Gostava de ver os seus passos confiantes e graciosos até ao balcão. Gostava de ver sua boca mexer, quando pede um café para o caminho. Bella não sabe que caminho ele faz. Segui-lo já parecia um pouco demais e fora dos limites aceitáveis daquela loucura, embora a ideia já lhe tivesse passado pela cabeça algumas vezes.

Bella entrou na cafeteria. Ouviu o sino tilintar quando abriu a porta. Acenou para Leah atras do balcao. A atendente respondeu com um sorriso. Bella se sentou no lugar de sempre. Tirou seu livro da bolsa e esperou o seu café forte. Olhou o relógio. Faltava menos de 1 minuto. Ela se mexeu inquieta na cadeira. Quase podia sentir como se eles tivessem marcado um encontro. Podia ser engraçado se não fosse ridículo, já que eles não se conheciam ou nem mesmo tinham trocado uma única palavra.  Bella abriu o livro e agradeceu a atendente quando ela lhe entregou o cafe. A porta se abriu e ela fingiu ler quando ouviu o sino que confirmava a entrada de alguém. Entre os cílios, ela avistou os cabelos ruivos estranhamente familiares. Ela já tinha alguma experiência em fingir que lia muito concentrada, embora não tivesse assim tanta importância porque ele nunca olhava para ela. Com o livro à sua frente, ela o seguiu com o olhar. Ele passou a mão nos cabelos, tal como todo dia. Numa tentativa de domá-los e deixá-los apresentáveis. Bella mordeu o lábio, para tentar esconder o sorriso e tentou não pensar no quanto ela era tola. Ele fazia o movimento todos os dias, e todos os dias era em vão. Ele acenou para a senhora idosa que hoje tinha chegado mais cedo e já estava sentada no lugar do costume. Em seguida caminhou graciosamente até ao balcão. Pediu seu cafe. Olhou em redor, Bella desviou o olhar dele e focou o livro na sua frente. O que mais lhe faltava na vida era ser acusada de lunática que observa estranhos aleatórios. Ele olhou em redor mais uma vez. Leah lhe entregou o café sorrindo. Ele era o tipo de homem que arrancava sorrisos das mulheres. Bella desconfiava que ele era o tipo de homem que fazia as mulheres arrancar até sua própria roupa. Ele pegou seu café e agradeceu, educadamente. Era tempo dele ir embora. Sempre era assim. Ele entrava, era observado sem saber e saia. Mas hoje por alguma razão ele pegou seu café e caminhou até uma das mesas vazias. Bem na frente de Bella. Ela se remexeu inquieta e a cadeira se tornou desconfortável. Ele nunca ficava. Talvez ele estivesse esperando alguém. Ou talvez hoje fosse o seu dia de sorte, Bella pensou. Poderia vê-lo por mais de apenas alguns minutos. Ele estava ali, bem à frente dela, mas de repente ela parecia sem coragem de tirar os olhos do livro. Bella gostava de o olhar sem que ele percebesse. Ele bebeu um pouco do seu café. Parecia ter todo o tempo do mundo. Discretamente Bella o olhou, ainda com o livro à frente dela. Ele falava com a senhora idosa que de repente estava ao lado dele. Ele parecia simpático. Parecia conversar com a senhora porque realmente queria. Bella via seus lábios mexer, mas não conseguia ouvir as suas palavras. A idosa gargalhou, divertida. Céus, além de educado e lindo, ele também é divertido, Bella pensou. O coração dela bateu um pouquinho mais forte, mas Bella fingiu que não tinha percebido isso. A idosa tocou amigavelmente no ombro dele como se fossem velhos amigos, despediu-se e voltou para o lugar dela, ainda parecendo muito divertida. Bella estava morrendo de curiosidade sobre o tema da conversa deles. Ele pegou seu café, olhou pra sua frente. Os olhos dele diretamente nos dela, como se soubesse que ela o observava. O coração de Bella parou. Nervosa ela olhou para o seu livro e cobriu o seu rosto com ele. O estranho sorriu, embora Bella não tivesse visto. Ele olhou para a idosa em seguida, que lhe devolveu um olhar cheio de sabedoria. O celular de Bella tocou. O coração dela subiu até à boca, como se aquilo fosse colocar muita atenção em cima dela. Um pouco nervosa, Bella o procurou na bolsa. O nome de Alice surgiu na tela. “Alô Ali.”-Bella disse, e colocou o marcador na página que ela não estava lendo. “Bom dia maninha, como vai a minha stalker preferida?-Alice perguntou com voz de quem tinha acabado de acordar. Bella levou a mão ao rosto, envergonhada, como se alguém pudesse escutar Alice. “Cala a boca Ali, tá doida?”-Bella falou entre dentes. “Estou atrasada também. Pode levar café pra mim? Não quero perder mais tempo, hoje o dia vai ser louco, estamos recebendo a nova coleção.”-Alice disse. Bella concordou rapidamente e sentiu uma pontada de animação. A parceria entre Bella e Alice na sua marca registrada de roupa estava sendo um sucesso maior que o esperado. Bella é boa em colocar visuais no papel e Alice é boa em fazê-los reais e em vendê-los. Juntas provaram que todos estavam errados quando diziam que as duas juntas seriam um desastre para a moda e em menos de 2 anos, sua marca era conhecida e seus nomes famosos. Embora a mãe não concordasse que as duas eram realmente uma boa dupla e deixasse claro que desaprovava a sociedade das duas, Alice e Bella eram felizes gerindo seu próprio negócio. Alice agradeceu e as duas irmãs se despediram. Bella suspirou um pouco chateada com a situação. Logo hoje que o estranho parecia ter tempo para ficar, ela tinha que ir embora mais cedo. Talvez hoje não fosse o seu dia de sorte, afinal. Do outro lado, o estranho observava os movimentos dela. Observava as suas mãos delicadas e seus dedos finos. Ela jogou o celular na bolsa, sem nenhum cuidado especial. Ela fazia um pequeno biquinho com os lábios rosados. Beijáveis, ele pensou. Muito beijáveis. Ela chamou Leah com um aceno. Colocou o livro na bolsa, com muito mais cuidado do que com o celular. Ele sorriu. Por alguma razão, ele notou isso. Por alguma razão ele tinha gostado disso. Leah se aproximou e ela pediu 2 cafés para a viagem junto com 2 pedaços do seu bolo favorito de mel e noz. Com nada na sua frente além do copo de café vazio, Bella olhou em redor. Se recusou a olhar para ele. Não sentia mais a confiança que sentia com o livro na mão. Leah voltou com o pedido e Bella pegou a carteira e tirou o dinheiro. Sorriu e disse para a atendente ficar com troco. Não olhou para o estranho uma única vez, poderia ser considerado um recorde. Se ela tivesse olhado para ele por apenas 1 segundo, saberia que ele também a observava e não tão discretamente. Bella se levantou e saiu. Ouviu o sino da porta da cafetaria.  Caminhou por alguns instantes em direção a loja, distraída. Pensando para si mesma que tinha que parar com esta situação ridícula de observar o homem desconhecido. Equilibrou os cafés na caixa de papel que continha os pedaços de bolo, querendo procurar a chave da loja dentro da bolsa. De longe ela ouviu sirenes se aproximar. Não pensou muito o que poderia ser. Nem mesmo ponderou se estava acontecendo algo, ela não dava mais atenção aos sons que a rodeavam na cidade. Bella sentiu o chaveiro com a ponta dos dedos. Se concentrou em manter o café equilibrado na caixa de cartão. As sirenes estavam muito próximas. Ela ouviu vozes desgovernadas em tom de aviso. Talvez fossem gritos. Antes que ela tivesse tempo para olhar em redor, ela caiu no chão, sentiu o café quente derramar no vestido dela, viu os pedaços de bolo caírem no chão junto com ela em câmera lenta. Não sentiu dor, embora soubesse que tinha sido atingida por algo. E em breves momentos de confusão ela pensou ver cabelos ruivos antes da escuridão se apoderar dela.