Ohana escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Nada como o anúncio do fim para me fazer escrever algo sobre H50. Apesar de meu nome nesse site trazer o sobrenome do Comandante da Força Tarefa, eu nunca tinha conseguido escrever nada relacionado à série, tentativas não faltaram, porém, desde sexta-feira eu venho pensando tanto no final da série e no que eu queria que McGarrett tivesse que essa ideia pipocou na minha cabeça e sim, foi ouvindo Nothing Else Matters do Metallica.

Espero que gostem!

Boa leitura!
P.S.: Ohana quer dizer família! Só para constar.. ehehe



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— Você tem certeza de que quer fazer isso, Steve?

— Não é uma opção, Danno, Annia me ligou chorando. O serviço Social vai separá-las.

— Mas daí a tomar essa decisão?

— É a mais lógica.

— Olha, Steve, não que eu não confie que você possa tomar conta de uma criança, mas são três. E tem uma bebê no meio.

— Não tem ninguém melhor do que eu para tomar conta dessas três, Danno. Pode apostar com quem quiser, não tem!

— E eu presumo que você vai até a casa onde elas estão agora?

— Vou.

Danno ficou olhando o parceiro de dez anos sair apressado do QG, ainda sem acreditar na decisão que ele havia tomado.

Lou e Tani que haviam acompanhado a conversa perto da mesa high-tech da 5-0, ficaram olhando para a porta que vidro que se fechava devagar, indicando que Steve já se fora há um tempo.

— Esse caso e essas meninas mexeram demais com ele, não foi?

— Pode apostar que sim, garota. Eu nunca vi o Steve assim. Eu já o vi com raiva, com ódio, com sede de vingança, mas preocupado a esse ponto? Nunca.

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SEIS SEMANAS ANTES

Um casal de turistas ingleses foi assassinato dentro do quarto de hotel. Não havia nenhuma testemunha, de início, pelo que a HPD havia apurado.

Mas havia, na suíte de luxo escolhida pelo casal, havia dois quartos, o que eles foram encontrados e mais um, devidamente trancado por fora e com a porta travada.

Quando toda a equipe chegou na cena do crime, Steve ficou olhando para a dita porta. Ele não se conformava que aquela porta estivesse trancada daquele jeito. E, sendo o teimoso que sempre foi, resolveu perguntar se o quarto anexo à suíte estava interditado.

A resposta que recebeu foi que não, que, inclusive, o casal Weston estava fazendo uso do quarto.

Ao voltar para dentro da suíte, a primeira coisa que fez foi chamar Junior para lhe ajudar, ele iria colocar aquela porta abaixo de qualquer jeito.

Uma tentativa e nada. Duas e nada, da terceira a porta mexeu, mas a tranca não cedeu.

Como foi que Danno o chamou uma vez? Houdini, não foi? Então, aqui estava o truque de mágica. Steve pegou uma bala, abriu a cápsula e de lá tirou a pólvora, depositando-a no buraco da fechadura. Andou de um lado para outro, Danno já estava o chamando de cachorro perdigueiro, até que encontrou.  Fósforos.

Acendeu um e jogou sob a pólvora. Com um estrondo, a tranca explodiu e a porta foi aberta.

E, no outro quarto, encolhidas e assustadas, estavam duas meninas e um bebê. Elas nem se mexeram quando Steve, de arma empunhada chutou a porta e entrou no quarto, vasculhando por algum suspeito. Apenas olhavam para o homem que agora tinha a sua atenção voltada para as três.

Guardando a arma no coldre da perna, McGarrett caminhou devagar até que, quando estava há uns dois passos de onde elas estavam, uma das meninas se levantou e muito bravamente disse:

— Fique longe das minhas irmãs.

— Eu não vou lhe fazer mal. Nem a você, nem à suas irmãs. – Steve lentamente se abaixou até que ficou na altura da garota.

— Não se mexa. – A garota de cabelos castanhos e olhos azuis o encarou.

— Você pode me falar o seu nome? – Steve tentou.

— Não. Minha mãe me disse para não falar com estranhos. Muito menos com pessoas que entrassem por aquela porta. – Ela apontou para a porta arrombada, por onde, agora, entravam Danno, Tani e Adam.

— Eu preciso saber o seu nome e de suas irmãs. Eu sei que você tem que respeitar as regras da sua mãe, mas eu preciso saber, você pode fazer isso por mim?

A garota olhou para a irmã que estava parada bem atrás dela, procurando por uma opinião. Elas poderiam ser gêmeas, se a cor do cabelo e a altura não fossem tão diferentes, a outra, apesar de dividir a mesma cor de olhos, era loira e bem mais baixa que a morena.

— Tudo bem... Eu sou Annia, essa é a Bella – ela apontou para a outra menina, não muito mais nova do que ela – e ela é a Zoe.

— Olá, Annia, Bella. Eu sou o Steve. E aqueles ali são a Tani, o Danno e o Adam, nós estamos aqui para ajudar vocês.

A mais velha das meninas encarou os outros três ocupantes do quarto.

— E por que vocês vão nos ajudar? – Bella perguntou com seu sotaque inglês.

— Nós só queremos saber se vocês viram ou ouviram alguma coisa nessa noite? – Tani tentou a sorte.

As duas irmãs se encararam.

— Sim. – Responderam juntas.

— Ótimo. Vocês podem nos contar o que foi?

Bella começou a chorar e Annia abraçou a irmã, tentando não chorar junto. Seja o que for que elas ouviram, ainda estavam muito assustadas para contar. E Steve, vendo isso, resolveu que talvez, se tirassem as meninas dali, elas pudessem se lembrar de qualquer coisa que lhe fosse útil.

— Como Noelani está ali? – Ele perguntou para Danno.

— Quase terminando.

— Me avise quando ela terminar. – Ele pediu e se levantou de onde estava ajoelhado e caminhou para onde as meninas estavam. A mais velha deu um passo para frente, bloqueando as irmãs e o encarou.

— Você é corajosa, Annia. Eu também teria feito a mesma coisa para proteger a minha irmã.

— Você tem uma irmã? – Bella, muito curiosa, perguntou.

— Tenho.

— E onde ela está?  - A loirinha continuou.

— No continente. – Steve respondeu e recebeu dois olhares confusos em troca.

— Ela mora em Los Angeles. Não aqui na ilha do Havaii. – Ele tentou explicar.

— Nós também moramos em uma ilha! – Bella já estava à vontade na presença do Comandante, algo que espantou Danno e Adam. – Só que lá não é ensolarado assim.

Nessa hora, Junior entrou e avisou que já estava tudo limpo. Steve olhou para as três meninas, agora órfãs, e ponderou o que iria fazer. Entregá-las para o Serviço Social era fora de cogitação, principalmente se elas ainda tivessem algum parente vivo, mesmo que na Inglaterra. Não tinha outro jeito, alguém da equipe teria que ficar com as meninas.

Ele olhou em volta e notou que aquele ali era o quarto onde a mãe delas as havia colocado para dormir. Brinquedos de praia, todos os produtos e coisinhas que um bebê precisa, bem como as malas. Se ele iria tirar as meninas dali, ele iria precisar ir preparado.

— Bem, Annia. – Ele tentou, pelo que McGarrett já havia notado, era a morena quem estava protegendo as outras duas.

— Oi? – Ela respondeu desconfiada.

— Podemos pegar algumas coisas de vocês?

— Por quê?

— Vocês não vão poder ficar mais aqui. E para onde vamos levar vocês, vão precisar.

— E por que temos que sair daqui, sendo que papai e mamãe estão aqui?

— Eles precisam ser levados para um médico, e nos pediu que tomássemos conta de vocês. – Steve mentiu e se sentiu muito mal por isso.

— Bem... se a mamãe disse, pode. Quer que eu arrume as minhas coisas? – Annia perguntou, chegando perto dele.

— Pode arrumar, vai me ajudar muito. Você se importa se a Tani nos ajudar? – Ele apontou para a policial que sorriu na direção das meninas.

— Não. Ela parece legal.

— Muito bem. Agora me mostre onde estão as coisas da – Ele olhou para a bebê, tentando lembrar o nome dela.

— Da Zoe? – Bella passou na frente.

— Sim, da Zoe.

— Estão todas aqui. – Annia apontou para uma cômoda. – As minhas e da Bella estão no guarda-roupa.

Com a ajuda das meninas, logo as coisas estavam arrumadas, na verdade, todas as coisas. Steve, por precaução, não quis que elas tivessem que voltar para aquele quarto. E, pegando a bebê, sob o olhar atento da irmã mais velha, ele saiu da cena do crime para o dia ensolarado do Hawaii.

Quando chegaram na porta do elevador, Bella instintivamente, pegou a mão dele e apertou.

— O que foi Bella? – Perguntou preocupado.

— Eu não gosto de elevador. – Ela respondeu se escondendo atrás dele. – Tenho medo de ficar presa...

Os outros cinco adultos ficaram observando a conversa entre Steve e a garotinha loira com um sorriso no rosto, todos pensando que já passava da hora de McGarrett ter a suas próprias crianças. 

— Eu te prometo, loira, que não vai cair, tudo bem?

— Tudo bem, mas eu posso segurar a sua mão até que acabe? – Ela tinha os olhos apavorados.

— Pode.

— Bella, - Annia a chamou. – O Sr. Steve já está com a Zoe, não tem como ele fazer isso.

— Mas Annia....

— Eu posso segurar a mão da Bella e tomar conta da Zoe, Annia. Não precisa ficar preocupada. – Steve garantiu,

Quando o elevador chegou, Steve entrou carregando o bebê conforto, onde estava Zoe, de mão dada com Bella, Annia entrou logo em seguida, sempre observando como a caçula estava.

Eles atingiram o hall de entrada sem o elevador fazer nenhuma parada. E assim que as portas se abriram, Bella saiu de lá aliviada, mas não deixou de agradecer Steve com um abraço, que o pegou de surpresa.

— Ela parece ter gostado muito de você, McGarrett! – Lou passou e disse. – Como vamos fazer para levar as três para a sede?

Danno olhou para o próprio carro - que ele nunca podia dirigir enquanto Steve estava por perto – e falou.

— As três não cabem lá dentro. E eu acho praticamente impossível de separá-las, já que a mini-McGarrett ali, não vai deixar. – Ele apontou para Annia e estava parada pacientemente perto da entrada do hotel, de mãos dadas com a irmã do meio.

— Achei que só eu tinha percebido como ela toma conta das irmãs, meio como o McGarrett toma conta de todos... – Tani deu uma risada.

— E como são dois cabeças-duras não iriam se dar bem logo de início. – Junior continuou o raciocínio.

— Muito engraçado. – Steve falou. – Lou, eu vou precisar do seu carro.

— É o carro da Renné! Eu não vou te emprestar. – Grover bateu o pé.

— Sua chance de dirigir o carro do Danno! – McGarrett arremessou a chave na direção do ex-capitão da SWAT.

— É o meu carro, Steve, você não pode ficar rifando a chave para todo mundo.

Steve fingiu não escutar a reclamação do amigo e começou a ajeitar as meninas no carro.

Annia foi a última a entrar, ainda não confiando muito no Comandante da 5-0.

— Você é um policial, não é? – Ela perguntou depois que tinha afivelado o próprio cinto.

— Sou.

— Mas não usa farda. Por quê?

— Somos um tipo especial de policiais. – Ele respondeu já se sentando atrás do volante. Tani ocupou o banco do carona e tentava não rir do interrogatório da garotinha.

— Na Inglaterra não tem um tipo especial de polícia. Por que tem aqui no Hawaii?

— Porque a Governadora Jameson criou.

— Estranho... mas eu achei o distintivo bonito. – Annia falou com um mínimo sorriso.

Steve não pensou duas vezes e tirou o próprio distintivo da cintura e entregou para a garota que o pegou de primeira e ficou observando. Bella, curiosa como só, chegou mais perto para ver melhor.

— O que significa isso aqui dentro do círculo? Está em havaiano? – Bella perguntou.

Ua Mau Ke Ea o Ka’Aina I Ka Pono— Steve falou fluente.

— Nossa... havaiano é difícil... – Annia disse deslumbrada com a rapidez com a qual ele pronunciou as palavras.  – E o que significa?

— Bem, literalmente é um pouco difícil de traduzir, mas você pode ficar com “Pelo direito da Terra e das Pessoas”.

— Ou seja, vocês trabalham para proteger as pessoas e as terras havaianas?

— Exatamente!

— Por isso que vocês são um tipo diferente de polícia. – Bella disse.

— Estamos mais para uma força-tarefa. Pois fazemos coisas que a polícia não faz. – Tani falou entrando na conversa.

— Legal. – A garota loira disse.

— Não é? Somos os policiais mais legais da ilha! Ninguém vence da gente! – Tani falou e arrancou um sorriso das duas meninas.

Assim que chegaram na sede, Tani e Adam ficaram responsáveis por tentar localizar algum parente vivo das três, e informá-los do ocorrido. Enquanto isso, Steve não sabia o que fazer com as três. A bebê, a pouco, havia acordado aos prantos. Se não fosse por Danno e sua experiência, dificilmente ele saberia o que fazer. Quanto as outras duas, elas eram mais espertas do que ele poderia imaginar e ficaram rindo da cara de desespero dele.

Não passou muito tempo, e com todas as informações sobre a família Weston na tela, Steve teve um vislumbre de quem era quem e quantos anos as garotas tinha. Annia, como ele suspeitou desde o início, era a mais velha, com seis anos; Bella tinha quatro, e Zoe apenas um.

— Elas disseram que ouviram alguma coisa... – Tani começou.  - Devemos perguntar ou vamos esperar mais um pouco? – Ela olhou para o escritório de Steve onde as três estavam.

— Na verdade, a pergunta de um milhão de dólares é: onde elas irão ficar? – Junior disse.

— Comigo. – McGarrett respondeu sem titubear.

— Tem certeza? – Os outros perguntaram juntos.

— Tenho.

— Eu preciso te lembrar que Annia não foi muito com a sua cara? – Danno perguntou.

— Ela já está se acostumando comigo. Até conversou comigo no carro.

— Isso depois que ele a comprou entregando o distintivo dele para ela. – Tani emendou.

— Steve, é melhor entregá-las para o Serviço Social. – Danno aconselhou.

— Elas vão ficar comigo.

— Você tem um cachorro e um gato. Crianças costumam ser alérgicas, principalmente bebês. – Lou tentou apaziguar as coisas.

— Annia! Annia! – Steve chamou e a garota levantou a cabeça na direção dele. – Venha aqui por favor.

E a morena saiu do escritório do Comandante e parou do lado dele, olhando como que o mandasse continuar.

— Você ou alguma das suas irmãs é alérgica a pelo de cachorro ou gato? – Ele se agachou para ficar na altura da garota.

— Não. Nós temos um cachorro e um gato em casa. Por quê?

— Porque, até que nós encontremos os seus parentes, vocês vão ficar na minha casa.

— Parentes? – Ela perguntou.

— Sim. Estamos tentando achá-los.

— Não tem. Vovô e vovó estão no céu! – Ela informou.

— Nenhum tio ou tia?

— Só a tia da escola.... – Ela respondeu. – Serve?

— Ela não serve, Anni.

— E como vai ser?

— Eu ainda não sei. Mas pode ficar tranquila, vamos dar um jeito, tudo bem?

— Eu acredito em você. – Ela balançou a cabeça.

— Obrigado pelo voto de confiança. Agora pode voltar para dentro do escritório que logo vamos arranjar algo para vocês comerem.

E assim os dias passaram, enquanto a investigação ficou aberta, as duas meninas e a bebê ficaram na casa de McGarrett. E não deram um minuto de sossego para o Comandante. Afinal, ele teve que se acostumar a tomar conta das crianças e ter todos os cuidados que Zoe precisava, e isso incluía passar metade da noite acordado tentando fazê-la dormir.

Com muito custo, depois de três noites sem dormir, Steve descobriu que a bebê gostava que cantassem para ela. Assim, ele buscou alguma música que ele conhecesse e que pudesse ser cantada no ouvido de um bebê. Chegou à conclusão de que Nothing Else Matters era uma boa opção e começou a cantar a música no ouvido de Zoe, acontece que ele não tinha percebido que o dia já raiara e quando ele deu por si, Danno estava parado na porta da casa, olhando para ele horrorizado.

— Você quer apavorar essa menina? Não me impressiona que você está de pé até agora tentando fazê-la dormir!

— O que você está fazendo aqui? – Steve interrompeu o balanço e a cantoria para encarar o amigo.

— Eu queria ver se essas meninas estão bem, mas já estou vendo que não. – Danno disse, tirando a bebê dos braços de McGarrett. E, assim que Zoe sentiu a troca de colo, abriu um berreiro sem precedentes, que acabou por acordar a outras duas meninas.

— O que a Zoe tem? – Annia foi a primeira a aparecer e ficou na ponta dos pés para poder ver a irmã mais nova.

— É só o tio Danno que cismou que ela não gostava da música que eu estava cantando para ela. – Steve explicou antes que ganhasse uma encarada da mais velha das meninas.

— Zoe gosta de todas as músicas. – Bella falou no meio de um bocejo. – Só não gosta de dormir.

— Isso eu já notei. – Steve disse, se sentando no sofá e pegando Zoe no colo novamente, que se acalmou na hora. Bella aproveitando que ainda estava com sono, escorou no Comandante e dormiu quase instantaneamente. Annia, por sua vez, se sentou do outro lado e ficou quieta.

— Não está com sono? – Steve perguntou para a mais velha.

— Tô.

— Pode dormir então.

Annia o olhou um tanto desconfiada, mas como estava muito cansada, acabou cedendo e dormiu no sofá, assim que entrou em sono profundo, acabou escorada no braço de Steve.

— Isso até merecia uma foto. Você tomando conta de três meninas! – Danno falou e tirando o celular do bolso, tratou logo de tirar uma foto do momento.

— Vai colocar no Instagram? – Steve perguntou ofendido.

— Muito melhor, vou encaminhar para todos os nossos amigos. Sang Min vai adorar isso aqui. 

Steve quis responder algo, porém a presença das meninas impedia que ele falasse o que estava pensando.

— Pense que você foi salvo pelas três. – Foi que ele grunhiu e se ajeitou melhor para tentar dormir um pouco, aproveitando que as meninas estavam todas quietas.

— Você não deveria se apegar tanto a elas, Steve, você sabe que vai ter que mandá-las para o Serviço Social. – Danno alertou.

— Eu ainda tenho esperanças de que vamos encontrar algum parente vivo.

— O que dá na mesma, elas vão embora.

McGarrett ignorou o amigo e resolveu viver o momento, certo de que ele não sentiria falta das três.

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Uma semana depois da conversa com Danno, o caso foi fechado. Acharam o assassino e infelizmente, não encontraram nenhum parente vivo das meninas. E logo que isso foi noticiado, o Serviço Social foi notificado e informou que pegaria as três irmãs e as colocaria para adoção.

Como era de se esperar, Steve não gostou nenhum pouco, por mais estranho que pudesse parecer, ele tinha se acostumado com o pequeno caos que a sua casa virara, ainda mais agora que a mais velha já tinha começado a confiar nele.

Afinal, foi com o depoimento de Annia que eles haviam localizado o assassino.

Uma noite, bem depois da meia-noite, ela bateu na porta do quarto de McGarrett.

— Sr. Steve? O senhor está aí? – Ela perguntou incerta.

Steve demorou um pouco para perceber que realmente tinha uma criança o chamando. E logo abriu a porta, para achar Annia, de pijamas e abraçada com um coelho de pelúcia a lhe encarar.

— Aconteceu algo, Anni?

— Lembra quando nós nos conhecemos e você perguntou se nós tínhamos ouvido algo?

McGarrett meneou a cabeça, instando a menina a continuar.

— Então... eu ouvi. Eu sei que era só uma pessoa, pois além da voz do meu pai e da minha mãe, eu só pude ouvir mais uma pessoa. E ele falava esquisito. – Ela informou.

— Esquisito como Anni? – Steve tinha levado a garota para a sala e sentado ao lado dela no sofá. Toda a sua atenção voltada para o que a garotinha falava.

— Como se ele tivesse a língua presa... eu achei estranho e tentei abrir a porta.

— Você viu como ele era?

— Mais ou menos. Ele tinha cabelo preto comprido, e uma tatuagem no braço. Que pegava o braço inteiro

— Mais alguma coisa?

A menina parou para pensar.

— Sim. Ele também tinha uma outra tatuagem. Na mão esquerda. Parecia uma estrela, mas tinha um bicho no meio... e logo acima um crucifixo...

— Você foi muito corajosa de ter aberto aquela porta, Annia. E mais ainda de estar falando o que viu. Assim que amanhecer, eu vou passar essas informações para a equipe, você acha que pode identificar a pessoa.

— Eu acho que sim... mas ele vai me ver? – Ela se encolheu em pensar.

— É claro que não.

— Tudo bem...

Logo que amanheceu, Steve ligou para Danno e pediu que ele o encontrasse na sede, tinham uma pista.

Da pista que Annia tinha dado, até a prisão, foi questão de horas.

O culpado foi para a cadeia e Steve teve que se despedir das meninas.

Como Danno havia lhe dito, ele não deveria ter se apegado tanto assim, pois dizer adeus seria difícil. A quem ele estava enganando, ele nunca fora bom em dizer adeus.

A responsável por levar as irmãs chegou pontualmente, e as duas mais velhas se recusaram veementemente a irem embora, tanto Bella quanto Annia se agarraram nas pernas de Steve e pediam para ficarem.

Internamente era o desejo dele também. Mas como ele iria tomar conta de três meninas ao mesmo tempo?

Elas choraram tanto, que ele decidiu que levaria as três por ele mesmo, acompanhando de carro a Assistente.

Na porta do Lar temporário, as duas petrificaram, e ainda choraram, pediram mais uma vez para que não fossem deixadas ali. O coração de Steve se quebrou em mil pedaços, pois ele se viu no lugar das meninas, ele sabia o sentimento, era o mesmo de quando o seu pai lhe mandou para o continente e o separou de sua irmã.

Ele puxou as meninas em um abraço e prometeu que nunca deixaria de visitá-las e, ainda, que iria se encarregar de que elas não fossem separadas. Para terminar, pegou um pedaço de papel, escreveu o número do celular dele e do telefone do QG da 5-0 e entregou para Annia:

— Você, como a mais velha, vai guardar isso aqui. – Ele estendeu o papel. – Qualquer problema, você pode me ligar. E se tentarem separar vocês três, me avise. Me ligue a qualquer hora, tudo bem? – Ele precisou de todo autocontrole para se manter firme ao olhar as grossas lágrimas que rolam pelo rosto da menina.

— Tudo bem, eu ligo. – Annia pegou o papel e o segurou como se a sua vida e das suas irmãs dependessem disso.

A assistente as colocou para dentro e Steve temeu que nunca mais veria as garotas que se enraizaram tão fundo dentro dele e por quem ele tinha um carinho inexplicável.

Assim ele pensava, até que três semanas depois, enquanto ele lia as últimas atualizações de segurança que o Governador mandou, seu celular tocou.

Annia, chorando, pedia para ele ajudá-las, queriam levar Zoe embora e deixar Bella e ela na casa.

Desnecessário dizer que Steve arremessou a primeira coisa que ele viu na parede de vidro do escritório, chamando a atenção do restante da equipe, mas foi Danno quem teve a coragem de entrar na sala. E, assim que Annia encerrou a chamada – ou melhor dizendo, assim que ele ouviu que alguém brigava com a menina e batia o telefone no gancho – Steve tomou a decisão que mudaria a sua vida.

Três semanas foi tempo suficiente para que ele pensasse na vida. Ele não estava ficando mais novo, e pelo andar das engrenagens do tempo, ele se via cada vez menos propenso a ser pai de uma criança sua. Será que o destino não tinha colocado aquelas três irmãs para mostrar para ele que se tornar pai é muito mais do que ter um filho com o seu próprio DNA?

E se levantando de súbito ele se decidiu. Seria ele quem adotaria as três.

Foi quando Danno se manifestou pela primeira vez:

— O que aconteceu, Steve?

— Eu vou adotar Annia, Bella e Zoe.

— Você tem certeza de que quer fazer isso, Steve?

— Não é uma opção, Danno, Annia me ligou chorando. O serviço Social vai separá-las.

— Mas daí a tomar essa decisão?

— É a mais lógica.

— Olha, Steve, não que eu não confie que você possa tomar conta de uma criança, mas são três. E tem uma bebê no meio.

— Não tem ninguém melhor do que eu para tomar conta dessas três, Danno. Pode apostar com quem quiser, não tem!

— E eu presumo que você vai até a casa onde elas estão agora?

— Vou.

E correndo mais do que o normal, ele chegou em tempo recorde até a casa. A assistente, que havia prometido não separar as irmãs, olhou assustada quando notou a sua presença.

— Comandante McGarrett, em que posso ajudá-lo?

— Você me prometeu que elas ficariam juntas. E agora Annia me liga falando que um casal quer levar a Zoe e deixá-la, junto com Bella, para trás.

— O senhor tem que entender que as pessoas preferem os bebês...

— ELAS SÃO IRMÃS. NÃO SE SEPARA FAMÍLIA! – Ele gritou pouco se importando quem estava por perto. Que chamassem a polícia, ele era a polícia!

Foi enquanto ele encarava a assistente que a porta atrás dele bateu e menos de trinta segundos depois ele sentiu que alguém abraçava o seu joelho.

— O senhor veio!! – Era Annia, ainda chorando quem falara.

Steve pegou a garota no colo e perguntou para a assistente:

— Você realmente vai querer separá-la da irmã mais nova?

A assistente, olhando para a garota morena no colo de Steve não soube o que dizer. Parecia ser certo dar um lar para a bebê...

— Eu não quero que levem a minha irmãzinha! – Ela abraçou o pescoço de Steve e começou a soluçar.

— Elas nunca serão adotadas. Annia é a pior delas, não confia em ninguém, não gosta de ninguém. – A assistente falou sem nenhum pesar na voz de saber que a garota a ouvia.

— Eu gosto do Senhor Steve! – Ela retrucou na mesma hora.

Steve a apertou mais contra si e falou.

— Elas serão adotadas. Por mim.

— O senhor tem que entrar na fila. – A assistente não deu chances.

— Vai mesmo comprar essa briga?

A mulher pensou na pergunta. Ela sabia quem era a 5-0 e sabia da reputação do Comandante McGarrett. Quando ele prometia algo ou quando ele queria fazer algo, pode ter certeza de que ele não desistiria.

— Não vai ser tão fácil assim.

— Eu sei que não, mas a opinião dela deve contar para alguma coisa. – Steve respondeu para sentir uma pessoinha batendo contra si.

— Steve!! Steve!!! Oi Steve! – Era Bella quem vinha correndo e desastrada como só, tinha batido nas pernas dele ao invés de abraçá-lo.

— E a dela também. – Ele deu um meio sorriso para a assistente que apenas fechou a cara.

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Realmente não foi fácil. Demorou seis meses. Seis meses com visitas de assistentes sociais, entrevistas com psicólogos, até que a audiência com a Juíza da Vara de Famílias fosse marcada.

E McGarrett que já tinha enfrentado terroristas, os piores bandidos da face da terra, já tinha feito todas as maiores loucuras e doideiras que alguém poderia fazer sem demonstrar um pingo de medo ou receio, estava nervoso, ele, na hora em que se sentou no banco do lado de fora da Sala de Audiências, estava com medo.

Ao seu lado, Annia e Bella, as duas arrumadinhas, com vestidos e sapatos combinando, Zoe dormia no carrinho, alheia a tudo o que se passava. No banco da frente, Danno, Grace, Tani, Lou, Adam, Junior, Kamekona, Flippa, Nahele e Duke o acompanhavam. Todos sabendo que a decisão da juíza poderia mudar completamente o Comandante da Força Tarefa.

O celular de Steve apitou. Era uma mensagem, de Chin. Ele se desculpava por não ter conseguido voar até o Hawaii para conhecer as sobrinhas, mas sabia o que Steve estava passando. Falou que tudo daria certo e que no Natal toda a Ohana estaria reunida para uma festa na praia.

Mary, Kono e até o seboso do Sang Min já haviam mandado mensagens. Todos prometendo a mesma coisa.

O meirinho apregoou a audiência e Steve, vestido com o Blue da Marinha se levantou e dando a mão para Bella, conseguiu dirigir o carrinho para dentro da sala de audiências. Annia foi logo do seu lado, sua mãozinha agarrada na manga de seu paletó.

Logo que entraram a juíza já soube que não importava os relatórios ou até mesmo a reputação do Comandante dizia, ela não poderia separar aquelas três garotas da única pessoa em quem elas confiavam.

A audiência foi uma série de oitivas de testemunhas, pessoas que falaram bem do Comandante, mas todas tinham o mesmo porém: ele não tinha tempo.

Para dar o veredicto, a juíza pediu um intervalo de quinze minutos. Tempo não era uma justificativa para se definir a guarda de ninguém, afinal, quem tem tempo para tudo nos dias de hoje? Ela mesma gostaria de ter mais tempo para poder passar com os dois filhos.

E passou a ponderar não somente os depoimentos, mas como as meninas se comportavam perto do Comandante, até que algo repassou na sua memória. Bella, a loirinha falante e desastrada, tinha chamado McGarrett de papai...

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Do lado de fora da sala de audiências, Steve andava de um lado para o outro, deixando todo mundo maluco.

— Tio Steve, será que o senhor pode parar? – Grace pediu, já parecendo enjoada de tanto ver o tio ir e vir.

— Grace está certa, Steve, sua andança de um lado para outro não vai fazer o relógio ir mais rápido. – Adam concordou.

McGarrett se sentou entre “as filhas”, que estavam um tanto alarmadas com o nervosismo do pai. Annia, sem falar nada, apenas ficou de pé no banco e deu um beijo na bochecha dele, Bella por sua vez, deu um pulo do banco – e só não caiu porque Junior a pegou antes – e de frente para o “pai” disse:

— Eu sei que tudo vai ficar bem! – Ela era uma eterna otimista.

— A única coisa que eu sei é que essa keiki é um tanto destrambelhada! – Kamekona falou arrancando risadas de todos.

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Os quinze minutos se passaram e todos voltaram aos seus lugares, aguardando o momento em que a juíza voltaria.

Não demorou e todos ficaram de pé.

Ela começou dando o seu veredicto:

— Eu ouvi muito durante essa audiência. Ouvi os prós e os contras sobre o caso em questão. Mas, como todos sabem, um juiz não julga somente pelo que ele lê e escuta. Julgamos pelo que vemos também. E o que eu vi aqui, não é somente um homem que quer adotar três meninas. Mas sim alguém que só quer a confirmação daquilo que já sente e sabe e, infelizmente, como nos ordena a lei, precisamos de um papel confirmando isso. E hoje, Comandante McGarrett, você saíra daqui com este papel. E eu espero que você seja capaz de continuar a apoiar e criar essas meninas do mesmo jeito, com carinho, amor e com a presença de todos os seus amigos, mostrando a elas o verdadeiro significado de família. Te desejo boa sorte, apesar de saber que criação de filhos tem muito mais a ver com amor do que com sorte. Assim, sejam felizes. – Ela terminou e se encaminhou para o seu gabinete.

Assim que a porta foi fechada, todos se levantaram e começaram a gritar e a pular. A Ohana estava maior.

Mais tarde, todos se encontraram no trailer de Kamekona para comemorarem. E não poderia ser diferente, o brinde incluía as três novas adições da família.

O Aloha foi dado, no melhor estilo havaiano e a Ohana estava agora completa.

Steve precisou de um tempo mais afastado para processar tudo isso. Quando ele tomou a decisão de que queria adotar as três irmãs, ele tinha a esperança de que pudesse conseguir, mas agora, vendo que elas faziam parte da família, que agora ele voltaria para casa todas as noites para ser recebido por suas filhas, a sensação ainda era surreal.

— Ser pai é difícil, mas é uma das coisas mais gostosas que se pode ter na vida. – Danno disse quando parou ao lado do amigo e ficou olhando para o mesmo ponto que ele. Annia, Bella, Charlie e Grace estavam perto da rebentação, jogando pedras na água, tentando saber quem jogava mais longe. Zoe, no colo do pai, ainda muito pequena, estava brincando com a gola de sua camisa e balbuciava qualquer coisa. – Posso sugerir um brinde?

— Sempre Danno. Vamos brindar a que?

— A nossa Ohana?

— Você falando havaiano agora? – Steve brincou.

— Vamos ou não brindar?

— À nossa Ohana! – Os dois disseram. E levaram as bebidas à boca.

— Ohana! – Uma vozinha falou perto deles. Era Zoe quem concordava com tudo o que foi dito naquele dia.

— Sim, filha. Somos Ohana! – Steve deu um beijo na testa da menor que sorriu para ele, e ali, ele soube, estava tendo o seu final feliz, ele tinha tudo o que queria, suas filhas e seus amigos que sempre estariam ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Annia, Bella e Zoe entraram para a minha lista de filhotes que inventei.
Deixo aqui meu pesar pelo final dessa série, mesmo ainda não sabendo o que vai acontecer, eu já estou chorando!

Obrigada a você que leu!

Até qualquer hora por aí!

Mahalo e Aloha!



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