Andando de maneira desajeitada pelo corredor, meus pés doem, os sapatos obrigatórios apertam meus dedos. Os cabelos puxados fortemente para tras fazem minha cabeça latejar, o fardamento esmaga minha pele e me causa calor.

Mas por você, eu aguento absolutamente cada uma dessas coisas. Não me importo com a dor se estiver cansada pelo simples fato de passar tanto tempo na ponta dos dedos para alcançar seus lábios, ou se meus fios estiverem sendo tragados com vontade pela sua forte mão enquanto você se encontra entre minhas pernas. Ligo muito menos para o fervor que sinto enquanto nossas peles friccionam, seu corpo sob o meu.

O vejo a paisana, meu coração bate com força ao observar seu modo de se portar formalmente, repentinamente minhas entranhas esquentam. Preciso manter-me calma.

Aproximando-me, procuro não sorrir —por motivos de ordens superiores — ao cumprimenta-lo, me mantendo afastada para fazer de conta de que não conhecemos cada centímetro do corpo um do outro. Apenas um faz de conta.

Olhando para seus olhos, verbalizo algo que não me dou conta, de tão perdida que fico perante sua presença. Seus olhos castanhos parecem adentrar minha alma, tão fortes, tão bonitos.

Percorro sua face, tão bela, cada detalhe, cada sinal, traço, tudo. Seus lábios rosas parecem prontos para me beijar, sua língua — que rapidamente apareceu enquanto você falava — empolgada para me adentrar, o sorriso que se abre em seu rosto me faz derreter por onde não deveria. Andando de maneira desajeitada pelo corredor, meus pés doem, os sapatos obrigatórios apertam meus dedos. Os cabelos puxados fortemente para trás fazem minha cabeça latejar, o fardamento esmaga minha pele e me causa calor.

Mas por você, eu aguento absolutamente cada uma dessas coisas.

A farda lhe cai tão bem.  Ajustada ao corpo, lhe traz um ar ainda mais autoritário e de respeito. Fito seus braços, seu antebraço parece ainda mais forte com o relógio que usa. Suas mãos são grandes, bonitas. Lembro-me de cada uma das vezes em que me apertaram por inteiro, ou procuraram meu local mais fundo.

Fico mais suada diante de sua presença, entretanto sequer eu noto.

Conversamos civilizadamente, completamente diferente do que ocorre em minha cabeça. Ninguém imagina o que já fizemos, somos secretos e devemos nos manter assim.

Quero tocá-lo, despir-me diante de ti e ser tomada ali mesmo. Quero sentir sua pele sob meus seios macios, apertando-os.

No momento em que você me elogiou e sorriu, gostaria de poder parar o tempo, sua beleza radiante acende minha alma, tenho vontade de nunca tirar os olhos de você.

Outros passam em nossa volta, não ligo para ninguém, sou toda e completamente sua. Minha mente gira e divaga em tantos diferentes pensamentos, como vim parar nessa situação? Quando? Completamente aos pés de alguém que não me quer.

Sua feição agora séria faz meu corpo bambear. Gostaria de sua mão em meu pescoço, seus dedos em minha boca, uma parte especial completamente dentro do meu calor.

Escuto o sinal ao longe, precisamos nos retirar. Você afasta-se levemente enquanto se despede. Faço  o mesmo com o peito apertado.

Gostaria que todos soubessem sobre nós, gostaria de poder dizer a todos que sou sua.

De repente todas as dores me voltam, a dor no coração mais forte do que nunca. Andando de maneira desajeitada, volto para a sala de aula.