Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 8
Avançar ou Recuar?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787573/chapter/8

POV KATNISS

 

Após termos tomado o chá e conversarmos sobre os acontecimentos, seguimos direto para a cama.

Antes dei uma passada no quarto de cada um, me desculpei com um beijo na testa.

 

Dobro a ponta do lençol sobre a manta, tiro as meias antes de ficar sob as cobertas.

A atmosfera parece bem tensa ao nosso redor.

 

Peeta não me cobrou, sua revelação veio num momento inesperado.

Não posso dizer que o amo, tudo é novo pra mim.

Mas me sinto mal.

 

O loiro senta na poltrona, a equipa com travesseiros e uma coberta sobre suas pernas.

Puxa o abajur até que a iluminação esteja boa para ele e não me incomode.

 

Engulo as palavras que querem sair, travo os lábios jogando minha cabeça pro outro lado antes de colar as pálpebras.

Não é justo, deixá-lo ficar lá depois de fazer tudo por mim.

 

O pequeno relógio marca o passar das horas, quando são 4 da madrugada levanto incomodada.

Meu corpo está suando frio e mais pesado que o normal.

 

Fecho a porta ligando a luz do banheiro, não quero acordá-lo.

Debruço sobre a pia e jogo água gelada no rosto, me preocupo ao tocar minha pele. Muito quente.

 

A chuva me rendeu uma forte gripe.

 

Tremo de frio sendo obrigada a voltar pra cama, seguro os espirros que fazem meu nariz quase cair.

 

Rodo de um lado até recomeçar a suar, sinto um frio anormal. A temperatura do meu corpo desregulada, preciso de algum remédio ou irei piorar.

 

Ergo o corpo ficando tonta ao abaixar, caio pro lado batendo no guarda roupa e consequentemente acordando Peeta.

 

—Katniss?

 

Seu corpo levanta cambaleante, seguro o máximo que consigo mas não tenho o controle das minhas pernas.

Peeta parece perceber o mesmo pois corre me erguendo, toco minha mão em seu pescoço.

 

—Você está queimando.

 

Com a garganta totalmente seca, não arrisco falar.

 

Seus braços me deixam sobre os lençóis, não mexo um músculo.

 

—Não tive uma mãe curandeira, mas isso deve servir.

 

Um pano molhado e gelado é posto em minha testa, levanto a mão pegando a sua.

Parece tão gelada em comparação a minha, aproveito seus dedos colados aos meus.

 

—Vou cuidar de você.

 

Abro os olhos querendo ter o azul para admirar.

São pequenas belezas que colorem os bons momentos.

 

Seu olhar, sorriso, toque, voz mansa e boas palavras.

 

—Eu sei que vai.

 

Num intervalo de minutos ele vai refrescando o pano numa bacia de água fria, melhora um pouco.

Quando a temperatura parece ter voltado quase ao normal, peço para ele parar e ir descançar. 

 

O azul está circulado por uma linha vermelha, acordar no meio da noite acaba com o sono. Fora que Peeta está cansado depois de um dia de trabalho na padaria e ainda ter cuidado das crianças.

 

Preciso cuidar disso, não colocar todo o peso nas costas dele que já faz tanto por mim.

 

—Estou bem.

 

—Não, não está, Peeta.

 

Num suspiro derrotado, o loiro ergue o corpo e espreguiça antes de seguir até a poltrona.

 

—Peeta?- chamo timidamente, preciso deixar a vergonha e o orgulho de lado.

 

—O que foi? 

 

—Não durma nessa poltrona.

 

Ele aperta o azul desconfiado, no fundo sabe o que quero dizer, mas tem o prazer de me ouvir dizer.

Não posso culpá-lo, deve ter sido anos difíceis.

 

Me amar escondido, um amor que poderia se tornar platônico já que dificilmente eu teria reunido coragem para falar com ele se não fosse os Jogos Vorazes.

 

Sua mão agarra o travesseiro antes de voltar a me encarar.

 

—Essa cama é grande demais pra mim.

 

Minhas bochechas voltam a ficar quentes, mas ignoro ao adorar seu sorriso de lado. Nada com segundas intensões, parece satisfeito e feliz.

 

 

Ele deita á uma distância razoável, apaga o abajur ajeitando o travesseiro.

Espero passar uns minutos para raspar a mão direita até tocar na sua, posso jurar que ouço sua risada num tom muito baixo, mas seus dedos abrem me dando autorização e espaço.

 

Peeta entrelaça nossas mãos e ainda chega o corpo mais perto, o calor humano é tudo que preciso. Talvez motivada pelo delírio da alta temperatura, toco seu pé no meu.

 

Aos poucos vou caindo num sono, não dura muito pois a sensação ruim da gripe permanece até amanhecer.

Sou acordada pelo loiro que me estende um comprimido, aceito junto ao copo com água.

 

—Obrigada.

 

—Está melhor?

 

—Um pouco.

As crianças acordaram?

 

—Não. Mas irei fazer o café, quer algo especial?- nego, levantando as mãos, ele me ajuda a ir ao banheiro.

—Se precisar de algo me chame.

 

Seu rosto aproxima do meu, posso jurar que imagino seus lábios nos meus.

Mas ele levanta até plantar um beijo em minha testa.

 

Tomo um banho rápido, a água numa temperatura quase fria.

Ao sair vestida, me surpreendo ao vê-lo sentado na ponta da cama com uma maleta de primeiros socorros.

 

—Você se machucou ontem na floresta?

 

Assinto sentando ao lado, seu olhar corre sobre mim tentando achá-los.

 

—Posso?- volto a confirmar.

 

Permaneço analisando-o cada movimento, desde pegar o algodão e espirrar soro.

Passa no meu maxilar, depois pega um curativo protegendo o corte.

Em seguida faz o mesmo em meu braço, um arranhão que não precisa de tanta atenção.

 

—Tem mais algum?

 

—Não. Eu tive sorte.

 

Concorda fechando a caixa e juntando os algodões para descartar no lixo, permaneço sentada até seu corpo parar na frente do meu.

 

—Olha...- sua mão sobe a nuca, coça a pele rodando o olhar pelo quarto.

—O que eu disse ontem, não quis te pressionar a fazer nada.

 

—Eu sei.

Fico feliz em saber disso, confesso que achei que você iria me matar na arena.

 

Levanto ficando com o corpo rente ao seu. Por ser mais alto que eu, ele inclina o pescoço para ter o olhar no meu.

 

—No momento que ouvi o nome de Prim eu sabia que você iria tomar o lugar dela e não importaria quem fosse o cara que Effie iria sortear, iria me voluntariar.

 

Minhas mãos caem ao lado do meu corpo, balanço fingindo estar distraída até agarrar as dele.

 

—Você não faria isso.

 

—Por que acha que não? 

Katniss, ver você pela televisão, lutando com mais 23 pessoas, se machucando, passando frio ou fome. 

Oh não, jamais aguentaria algo assim.

 

Aperto seus dedos sentindo intensidade de sua frase, Peeta preferia ir para o inferno comigo do que me deixar sozinha.

Qual o tamanho de seu amor?

 

—Você é inacreditável, Peeta Mellark.

 

Sua boca abre pra soltar uma risadinha, mas logo se fecha quando seu rosto volta a se aproximar do meu.

 

É belíssimo.

 

A pele branca, com uma pinta aqui e lá, a boca rosada e fina, olhos intensos e impactantes, queixo angular, maxilar bem marcado, barba rala por fazer, uma cicatriz minúscula beirando a sobrancelha, os fios caindo bagunçados por sua testa e orelhas, o nariz ornando com a estrutura de seu olhar.

 

Peeta Mellark.

Simplesmente o garoto que está fazendo meu coração bater fora do ritmo.

 

—Por que acha isso, Katniss?

 

A quentura de sua respiração faz minha coluna quase desmontar e meus pêlos se arrepiarem.

Engulo em seco, reprimindo uma louca vontade de dar meu primeiro beijo.

 

Na minha mente de 16 anos, porque nessa realidade provavelmente já demos incontáveis.

 

—Porque é você, padeiro.

 

—Você e suas explicações confusas.

 

Sorrio corando, sua mão direita solta a minha esquerda, sobe raspando sua unha por meu braço até chegar e segurar meu queixo.

 

Passo a língua nos lábios os umidecendo, a febre parece ter voltado pois todo meu corpo esquenta de maneira anormal.

Abaixo o olhar focando sua boca, tão convidativa.

Como será beijá-lo?

 

Sua mão sobe até minha bochecha, seu dedão deixa um carinho sob meus olhos, me obrigo a fechá-los até colocar a mente no lugar.

 

Abro sendo presa no azul céu, meu estômago embrulha enquanto meus músculos parecem se embretarem me impossibilitando de nos distanciar. 

Mas não quero.

 

Peeta fecha ainda mais seus dedos nos meus enquanto sua outra mão vai pra raiz de meus cabelos empestiados de nós.

Seu rosto fica mais próximo, encerra metade da distância.

 

Não sou experiente no assunto, mas chuto achar que tenho que agir agora se quiser realmente beijá-lo.

 

Seus olhos fecham, esperam uma resposta.

A qual preciso decidir.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ao Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.