Ao Tempo escrita por Leticiaeverllark


Capítulo 31
Paz




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787573/chapter/31

POV KATNISS

Devagar...— seu sussurro elimina a pouca segurança que tenho em mim mesma. - Aperta calmamente, querida.

—Certo. Quer que eu estrague tudo de vez?- ele nega rapidamente, encarando meu rosto sério quando viro o pescoço. -Então não use esse tom, agora.

—Oh, entendi.- um sorriso malandro começa a desabrochar.

Bufo dando-lhe as costas, deixando suas mãos ficarem sobre as minhas. Seus dedos pressionam o espaço entre os meus, moldando e endurecendo a massa.

—Não está tão ruim...- piso em seu pé, tentando não entregar o jogo de uma vez.

—Eu te disse que não sei fazer nada, se ficar ruim, a culpa é sua!

É sua! Por me distrair enquanto tento sovar a massa.

Distrair?- fecho minha mão prendendo seus dedos, ele ri nasalado antes que eu sinta um aperto de seus braços em minha cintura.

—Sabe como está difícil ficar nessa posição?- depois da noite que tivemos, claramente está difícil nos mantermos afastados.

Peeta insistiu em fazer pão juntos, depois de quase gastar 10 minutos negando e avisando-o do perigo, acabei cedendo.
E aqui estamos nós, minha barriga contra a lateral da mesa enquanto seu corpo fica colado as minhas costas.

Uma típica cena entre casais, já vi meus pais assim quando era criança. E misteriosamente, fui lembrar dela logo agora.

Será que era Peeta quem meu pai falava?
Eles já se conheciam?
Pois claramente encontrei o cara especial, aquele que meu pai avisou.

—Peeta, você conhecia o meu pai?

—Da onde veio essa pergunta?

Não faz nenhum sentido mesmo, antes estávamos num pequeno jogo de sedução. E aleatoriamente perguntei sobre algo nada a ver com o momento.

—De uma lembrança. Você o conhecia?

O loiro abandona a massa, prefere juntar seus dedos aos meus. Seu queixo permanece repousado sobre meu ombro, acabo por encostar minha têmpora na sua.

—Eu o via quando ia escondido vender os esquilos na padaria, vez ou outra você ia com ele, então eu sempre arrumava um jeito de ficar lá.

Ergo as sobrancelhas, admirada por suas ideias mirabolantes só para me ver.

—Você ficava lá todo dia me esperando?

—Não, meu pai sabia os dias certo que o seu passava. Ele simplesmente me alertava, e eu fingia que ia ajudá-lo. Foi ai que me interessei tanto em decorar e preparar os pães, bolos e doces.

—Seu pai...- encosto a ponta do nariz contra o seu, intrigada com as verdades.
—Ele sabia?

—Como não saber? Eu ficava desenhando você, seus olhos eram os meus preferidos. Eu passava as tardes lá e como era pequeno, não fazia muita coisa. Então, meu pai via tudo e descobriu.

Sua voz começa a embargar. A saudade aperta com a vinda das lembranças.

—Aposto que ele deve estar rindo de nós agora.

—E me dando parabéns por ter finalmente conseguido você.

Suas mãos saem das minhas quando ameaço de sair, bato uma palma na outra tirando o excesso de farinha e massa grudada. Viro chapando meus dedos em suas bochechas, num puxão consigo tê-lo colado a mim.

—Ainda não entendi o porque da sua pergunta repentina.- concordo, terei que abrir a boca e deixar as lembranças e pensamentos saírem.

—Meu pai, um dia na floresta, me disse que eu iria conhecer um cara especial. Mas de alguma forma ele ja parecia saber quem iria ser, por isso perguntei se vocês conheciam.

—Não poderia ser Gale?

—Nós não conhecíamos ele. Gale foi aparecer quando eu tinha 11 anos, na floresta. Meu pai já estava morto.

O loiro planta um beijo em minha testa, convencido e solidário.

—Então realmente sou eu.
O que acha disso?

—Que meu pai era um vidente!- ganho sua risada, logo após um beijo longo e quente, estamos voltando a sovar a massa.
—Você disse que ficava as tardes na padaria esperando por mim, daí que começou seu amor pela cozinha?

—Sim, ajudava meu pai quando Delly não aparecia por lá...- ele se cala quando percebe que invocou o nome dela, talvez sendo bombardeado pelas memórias.

—Então, ela era sua companhia.

—Delly sempre foi minha melhor amiga.- ele dá uma pausa, sente se é confiável continuar. - Brincávamos sob a macieira, fazíamos as tarefas e inventávamos brincadeiras.

—Você teve uma boa infância... com ela.

—Sim, mas não se compara ao futuro que iria ter e ao presente que estou tendo, com você.

Rolo os olhos antes de aceitar seus cheiro junto a uma mordida leve no ombro.

Mamãe, estou com fome!— um grito da sala nos separa, mais um desses e Rye irá acordar.

Agarro o pano indo para a sala, minha garota permanece deitada no sofá enquanto toma um grande copo de chocolate quente e canela.
Peeta sabe exatamente como ela gosta.

Limpo bem a farinha antes de agarrá-la, entro numa longa sessão de beijos junto a um forte abraço.

—Mamãe estava fazendo pão com o papai. Quer participar?- sua cabeça confirma, sorrio pegando seu peso nos braços.

Peeta sorri ao perceber a euforia da pequena para começar a preparar a massa, a coloco em pé numa cadeira e amarro um avental para proteção do seu pijama.

—Vou ver Rye.- beijo a testa dela e sorrio com o aperto discreto do loiro.

                              

—Está tão gostoso!- sorrio por trás da caneca cheia de chá, fortemente açucarado.

—Mamãe que fez.- nego, repousando a ceramica antes de torcer a boca.

—Papai preparou tudo, eu só coloquei minhas mãos na massa e você foi fazendo tudo.

Willow solta uma risada infantil, a encaramos sem entender.

—Vocês estão felizes.- ela diz calmamente antes de voltar a lotar a boca com pão acompanhado de geléia.

Sua inteligência nos surpreende, seu senso alto de observação e captação das expressões e palavras.

—Você está certa.- seu pai limpa uma pequena quantidade de geléia que escorre por seu queixo. -Estamos muito felizes.

—Por que?

—Ora...- chega a minha vez de responder. Preciso omitir certas coisas. -Você fez 4 anos, seu irmão logo fará 2, temos uma boa vida, papai tem a padaria, temos vocês...- sorrio ao me deparar com a realidade sensacional que pertencemos.
—Eu estou muito feliz!

—Eu também, Wi.- Peeta pega minha mão estendida sobre a toalha lotada de farelo. - Estamos felizes por tudo.

—Então eu estou feliz!- beijo sua têmpora, ajeitando seu cabelo embaraçado. -Vou pra escola logo?

Minha mão cai.
Escola?

Olho para meu marido em pânico, sendo pega de surpresa.
Esqueci totalmente que a escola começa obrigatoriamente aos 4 anos.

—Você..- aperto seus dedos, esperando que me ajude. E Peeta nunca decepciona. -Acho que precisamos comprar bastante lápis de cor.

Ela larga o pão e joga as mãos pro ar, dando um jeito de toda sua felicidade extravasar.
Gargalho ao notar o tamanho da sua empolgação, será uma garota brilhante, mais do que já é.

—Vamos comprar hoje?

—Não, querida. Amanhã as lojas estarão abertas, vamos fazer uma lista primeiro.

A felicidade continua contagiante, Rye desperta e grita meu nome. Aposto que sei qual seu café da manhã exigido, preciso saber tudo sobre eles. Se não tiver feito um albúm de lembranças, farei.

—Vou pegar nosso bebê.- corro escada acima, mas o encontro cambaleante no corredor. A costumeira manta cinza sendo puxada, os pés cobertos pela meia colorida, a calça do pijama arrastando pelo chão.

—Bom dia.- paro a sua frente, sorrio tendo-o de braços abertos para me receber.

Cheiro com vontade seu pescoço, capturando o gostoso aroma de bebê. Rye não poderia parecer mais com Peeta, até o jeito de andar quando está recém acordado é igual.

—Quer comer algo?- ele nega enfiando a cabeça entre meus seios, esfrega o nariz manhoso.
—Entendi sua preferência.

Sento no grande sofá da sala, o café foi transferido pra mesa de centro. Wi faz carinho nos cabelos do irmão enquanto come morangos, Peeta nos observa ao terminar de abastecer minha caneca.

—Você se acostumou bem.- ele indica o ato de amamentar, que por mais estranho e novo que seja, parece que  faço isso sempre.

—É bom, um momento só nosso. -afago os fios que caem na testa de meu bebê, tão puro e apaixonante.
—Rye pediu, devia sentir falta nos dias que estávamos nos acostumando.

Sua cabeça balança concordando, logo tenho um bebê adormecido nos braços.

—Quer que eu o coloque na cama?

Sinto o que Peeta quer, ter um momento com sua miniatura.

Libero o pequeno, deixando que seu pai o leve. Posso ficar com Willow e terminar meu café, aproveitar os momentos pois logo terei que acostumar com a novidade.
A escola.

—Eu quero uma mochila de borboletas, mamãe.

—Amanhã compraremos tudo e terei que ir na escola fazer sua matrícula.- ela continua brincando com o garfo, rola os miolos de pão até eles passarem no espaço sob a tampa do pote de geleia.

Engulo em seco, lembro do meu tempo de estudante. Só aprendíamos sobre carvão, algumas contas em matemáticas, a forma correta de se comunicar e escrever em português, as competições de luta livre nas aulas de educação física.

Aula essa que eu sempre ficava de olho em Peeta, lembro nitidamente de ver o final do campeonato, quando ele só perdeu pro irmão mais velho.

Estava atenta a ele, sempre.

                           

—O que esta preparando?- chego a cozinha, ignorando seus pedidos para permanecer com as crianças no quarto.

—Sai, Katniss!- suas mãos ágeis jogam uma toalha sobre a mesa, ergo as sobrancelhas curiosa.- Vai estragar o que preparei!

—Certo. Mas as crianças estão querendo ir brincar no jardim, seu tempo está acabando, Mellark.

Em rápidos passos avanço até ele e planto um beijo casto em sua boca, saindo em seguida.
Não chego na metade da escada, quando meu nome é chamado.

Volto encarando meu homem segurando uma grande cesta de piquenique.

—Preciso acertar um último detalhe com você.- salto os degraus, sentindo minhas pernas reclamarem pela noite passada.
—Eu estava planejando fazermos algo em família, diferente que ainda não tinhamos feito. Então pensei num lugar, é perfeito, mas preciso da sua ajuda...

—Quer ir a floresta?- mato a charada, sabendo que só existe esse lugar onde Peeta não se arrisca a ir sozinho. Eu conheço bem, sei nos proteger com meu arco.

—Não profundamente, mas perto da cerca. Até na campina, sei como gosta de lá.- sorrio adorando a ideia de voltar lá, quase não consigo caçar por conta das crianças.
—Eles ainda são pequenos. E eu queria ter um tipo de encontro com você.
Mas, se você não concordar eu posso...

—Você é brilhante, incrível e muito irresistível, Mellark.- agarro seu pescoço, começando uma sessão de beijos selvagens por seu pescoço.

—Acho melhor deixarmos esse piquenique para outro dia...- a cesta é posta no chão com urgência, suas mãos tomam posse das minhas costas.

—Não. Eles estão esperando...- desgrudo, deixando um bico adorável em seus lábios rosados e úmidos.
—E eu também.

—Certo. Vamos então?

—Vou chamá-los.

                            

Estendo a toalha tendo ajuda de Wi, Peeta começa a distribuir as comidas e tentar evitar que Rye role na grama recém crescida.

—Suco.

Os pedidos começam, mal almoçamos e eles querem mais. Provavelmente a fase de crescimento proporciona tamanha fome.

Willow vira a bolsa de brinquedos, boneca e carrinhos caem na grama. Mas minha garota prefere pegar uma bola e brincar com o pai, enquanto observo um Rye tentar chutar descordenadamente no meio dos dois.

Sorrio apertando minhas bochecha com a força de um sorriso feliz, a realização é uma benção doce.

Entre uma brincadeira e outra, distribuo copos de suco. Fico deitada aproveitando a paz, a sombra das árvores, os pássaros gozando da liberdade eterna. Relaxo ao som das risadas e até gargalhadas, da voz melodiosa das pessoas que mais amo.

Miro o olhar nas crianças, se divertindo tanto. Felizes e livres, tendo a melhor vida que poderíamos oferecer.

O companheirismo me lembra da relação que tinha com Prim. Era a mesma olhada cheia de amor, os abraços espontâneos, as risadas inesperadas e contagiantes.

Sinto sua falta, irmã.- sussurro vendo uma grande quantidade de pétalas coloridas fazer um redemoinho, imagino se deve haver Prímulas Noturnas no meio.

Fecho os olhos, aproveitando o breve momento de paz, reconhecendo a exaustão que nossa madrugada agitada me causou.
Devaneio, mas sou surpreendida por uma voz sombria.

—Oh não!- murmuro antes de, por puro instinto, fechar meus dedos na superfície do arco.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ao Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.