Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 1
Primeira Carta


Notas iniciais do capítulo

Esse primeiro cap se passa quando os personagens estão na sétima série. Os primeiros capítulos são um tanto independentes pq o protagonista não tem muito interesse a principio sobre quem tá escrevendo as cartas. Aos pouquinhos isso vai mudar.



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As meninas na sala pareciam histéricas de tão animadas, os meninos bocejavam focados em mexer no celular escondido e em fazer a lição.

— Por que elas tão assim? – perguntei, olhando confuso pro Paulo, que sentava ao meu lado.

Aquela nova escola tinha um monte de coisas estranhas, semana passada, passaram nas salas entregando cartas que os pais escreveram para os filhos, antes disso tivemos uma semana inteira apenas de palestras e antes... Enfim, deu para entender.

O tédio nunca chegava. E quando estava para chegar, os alunos inventavam alguma briga para animar as coisas.

— Semana de festa junina. – Paulo respondeu dando de ombros. — É hora do correio elegante.

— Três dias delas assim. – Gabriel bufou sentado na minha frente e apontando para as garotas. — Tão chato. Eu nunca recebo nada.

Uma menina de marias-chiquinhas e mechas roxas no cabelo entrou, toda sorridente, com uma cesta no braço e um vestido verde de chita. Não parecia ser muito mais velha do que nós, o que me fez pensar por um instante em como ela acabou responsável pela entregar das cartas.

— Posso interromper a aula, rapidinho, professor? – perguntou educadamente.

O professor de espanhol coçou a barba espessa e concordou com a cabeça, com uma cara de quem sabia que não tinha escolha.

—Tá, gente, eu tenho umas cartas para entregar então eu vou chamando os nomes e vocês vêm buscar. Quem quiser, pode ler lá fora porque vão tirar foto das reações para postar no insta da escola, okay? – ela sorriu amigavelmente, os olhos verdes se fechando quase por completo com isso.

As meninas deram gritinhos de animação lá atrás o que me fez massagear as têmporas com dor de cabeça.

— Tá tudo bem? – a Gabriela perguntou, colocando uma mão no meu ombro, sentada atrás de mim.

— Só uma enxaqueca boba. – murmurei.

— Espera. – ela fez um sinal com a mão e abriu a bolsa tirando várias cartelas de remédios dali. — Remédio para enjôo, para cólica, colírio, remédio para gripe... – ela ia distribuindo as cartelas pela mesa enquanto falava. — Aqui! Remédio para dor de cabeça. Paracetamol.

— Valeu, Gabi. – sorri pegando o comprimido.

— Paulo. – a garota de vestido verde chamou, entregando uma carta para o meu amigo e beliscou sua bochecha quando ele foi pegar. — Luíza. Gabriela. Vanessa. Juan. E Marcos.

Olhei surpreso, sem saber se ela se referia a mim ou ao outro Marcos da sala.

— Eu?

— Marcos Felipe So... Sold... Sal...

— Soldeville. – suspirei me levantando para pegar o envelope feito de folha de caderno.

Tinha um adesivo de gatinho mantendo-a fechada e dava para ver que a carta tinha sido escrita com alguma folha colorida.

Observei que a maioria das meninas, estava parada em pé, lendo no meio da sala, com os olhos úmidos e cheios de lágrimas e decidi que não queria ficar no meio daquilo.

Foda-se se acabasse com alguma foto minha no Instagram da escola, era melhor do que me misturar com todo aquele bando de gente emocionada.

Sai da sala e me sentei num banco do pátio, totalmente ciente da mulher com roupa de secretária com uma câmera na mão e as garotas de outras salas no pátio, também lendo suas cartas, da mesma maneira emocionada. Pelo menos elas estavam mais distantes, então eu podia sentir como se estivesse sozinho.

Abri o envelope e tirei a folha de papel roxo. A caligrafia era corrida, mal passava de um garrancho que tive de me esforçar para ler.

“O sol não nasce. O sol não se põe. O sol está ali parado. Na minha sala. O sol da sala. O sol da vila. Com o sorriso doce e o jeito quieto, fica ali parado, ao meu alcance e fora dele. Encantador e suave. Veludo em meio à aniagem. Doce no amargo. Está ali quieto, ali distante e perto, aos olhos admirados daquele que escreve, ansioso pelo momento que o sol da vila cruzará a soleira da porta.

Soldeville.”

Dei um meio sorriso tentando não revirar os olhos. Tinha como ser mais clichê do que aquilo?

Mas, o desenho do sol sorridente logo abaixo do escrito era fofo. Pelo menos isso.

Voltei a pegar o envelope, a fim de ver se havia escrito o remetente, mas, só havia meu nome e série. E embora houvesse sido escrito na folha “remetente”, na frente da palavra só havia um monte de números.

15-12-21-1-16.

Franzi os lábios, confuso e guardei a carta no envelope, voltando para dentro da sala.

— O que tinha na sua carta? – a Gabi perguntou atrás de mim.

— Só um monte de frases clichês sem graça. – dei de ombros guardando a carta entre as folhas do meu caderno.

Bocejei.

— Gabi... Que remédio foi mesmo o que você me deu? – murmurei, deitando a cabeça na mesa.

— Paracetamol. – ela respondeu, enrolando o cabelo no dedo.

Bocejei de novo.

— Ah, eu não devia ter tomado. – murmurei. — Pressão baixa.

— Meu Deus, você é um idiota! – Paulo deu risada do meu lado. — Pede pra ir embora.

— Depois.


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