Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 55
Capítulo 54




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De certa forma, Harry não estava surpreso em saber que era uma Horcrux acidentalmente criada pelo Lorde das Trevas na noite em que ele atacou a casa de seus pais. A revelação colocava fim a muitas dúvidas que Harry sempre nutriu sobre tudo o que viveu desde o dia em que Hagrid sentou-se em um sofá puído, dentro de um casebre castigado pela chuva de meio de verão, e lhe disse que era um bruxo.

Ser uma Horcrux explicava a conexão bizarra que tinha com Tom, as visões, o tenebroso talento que tinha para falar com as cobras, as semelhanças em personalidade que às vezes assustava Harry. Perceber o que deveria fazer agora que detinha desta informação foi algo que não assustou Harry, pelo contrário. De certa forma, lá no fundo, ele sempre soube que este seria o grand finale de todo este drama que estava arrastando-se em sua vida por dezessete anos e, pela primeira vez, ele não poderia compartilhar isto com os amigos. Não iria compartilhar isto com os amigos. 

Hermione e Ron estiveram ao seu lado por sete anos. Arriscaram a própria segurança, a de suas famílias, arriscaram a vida para ajudar e proteger Harry e agora era a hora de ele retribuir o favor. O sacrifício garantiria a segurança deles, daria à eles um futuro.  Com todas as Horcrux destruídas, só sobraria Tom, fraco demais, humano demais, para ser finalmente parado e incapacitado para sempre. E, se informasse aos amigos do fato, dos seus planos, sabia que ambos tentariam impedi-lo, convencê-lo do contrário. Porém, Harry não podia partir sem despedir-se de uma pessoa em particular. 

Encontrar Dallas no Mapa do Maroto havia sido fácil. A trégua oferecida por Tom era apenas um alívio antes da tempestade final. Ela estava no corredor que comportava a classe de Runas Antigas, acompanhada por dois aurores que a ajudava a identificar os corpos de alunos para ensacá-los e levá-los ao Salão Principal, onde feridos eram atendidos e combatentes caídos enfileirados para serem retornados as suas famílias quando todo este pesadelo acabasse. 

— Harry? — Harry sorriu quando a ouviu chamar pelo seu nome. Uma raridade tamanha que sempre acelerava o seu coração. 

— Ei. Eu posso falar com você? — pediu em quase um sussurro e estendeu a mão para Dallas, que a tomou e deixou-se ser levada para uma das salas de aula, milagrosamente intacta diante de um ataque tão devastador. Com cuidado, a guiou para uma das mesas e indicou o tampo desta como forma de assento. Dallas recostou-se na beirada da mesa e Harry imitou o gesto dela, fazendo o mesmo em uma mesa oposta. — Sobre o ultimato de Tom, de que ele cessaria fogo se eu me entregasse… — Harry deixou vagando no ar. Dallas não poderia, nem de brincadeira, ser considerada estúpida e por isto não levou muito tempo para a feição dela mudar de confusa para uma expressão de fúria. 

— Você não pode estar realmente pensando nesta possibilidade, Potter! — vixe, ele voltou a ser Potter, e pelo modo como os olhos dela estavam ganhando tons de violeta, ela estava mais do que furiosa, estava colérica. — É muita estupidez a sua realmente acreditar que Você-Sabe-Quem vai cessar fogo depois de finalmente te matar! Você não pode ser tão imbecil assim! 

Harry suspirou, cansado demais para discutir, cansado demais para se defender, e o seu gesto derrotado pareceu ser o suficiente para desinflar toda a raiva que crescia dentro de Dallas. O modo como os ombros dela arriaram, o modo como o seu rosto ganhou uma expressão que misturava preocupação e comiseração, eram sinais claros de que ela compreendia claramente que Harry estava em seu limite, que ele queria apenas que tudo aquilo acabasse, seja como for. E, ainda sim, ele não poderia simplesmente partir sem dar uma explicação. Ele havia prometido a Dallas que reencontrariam-se no final, que sairiam disto juntos, e vivos, mas era uma promessa que ele não poderia mais cumprir. 

— Snape está morto. — declarou e o rosto de Dallas não esboçou surpresa, mas sim um leve tom de pesar. O Mestre de Poções foi o diretor da casa dela, Dallas o conhecia melhor do que Harry que tudo o que sustentou durante anos foi desprezo pelo homem, somente para ter todos os seus preconceitos derrubados por terra quando finalmente descobriu a verdade. Snape quem era o verdadeiro herói de toda esta história, Harry era apenas o garoto desafortunado que foi escolhido como rival por Tom. 

— E? Eu não acredito que você tenha vindo aqui para me dizer isto apenas. Ou para me dizer que vai servir de bucha de canhão contra o Lorde das Trevas. — pelo tom de voz dela, ainda havia um pouco de ressentimento dentro de Dallas diante da decisão de Harry, e ela estava absolutamente certa. Harry era nada mais do que uma bucha de canhão, não é mesmo?

— Não, claro que não. — respondeu e pôs-se a relatar de forma metódica, quase enfadonha, o que descobriu nas lembranças de Snape, e a verdade sobre a sua ligação com Tom Riddle. Quando terminou, Dallas estava em absoluto silêncio, a sua expressão era vazia e ela desviou o olhar para uma das janelas da sala de aula, avistando ao longe as torres de observação do campo de Quadribol que estavam em chamas. 

— Uma vez você me disse que a única maneira de parar Tom Riddle seria o matando. — Dallas declarou, com a voz tão vazia quanto o seu olhar distante. — E eu não vou te impedir. — finalizou e desceu da mesa. Com dois passos, cobriu a distância que a separava de Harry, segurou o rosto dele com ambas as mãos e o beijou. Quando se separaram, as suas respirações mornas misturavam-se, os seus olhos estavam fixos uns nos outros e com as pontas dos dedos, Dallas mapeou as feições de Harry de forma a guardá-lo eternamente em suas lembranças. — Eu te amo, Harry. — declarou. Um sentimento que ela nunca pensou que iria sentir, uma emoção que ela pensou que nunca iria declarar para ninguém, mas Harry sempre foi especial, não somente para o mundo mágico, mas para ela também. 

Harry soluçou e segurou nos pulsos de Dallas, impedindo que ela se afastasse, não querendo perder o calor do corpo dela contra o seu. Ele esperou anos, anos, para ouvir essas três palavras saírem da boca desta garota tão orgulhosa, e agora que as tinha, não poderia aproveitá-las, não tinha nem voz para replicá-las. Seria a primeira e última vez que ouviria Dallas dizer "eu te amo" para ele e somente isto enfraquecia todas as suas resoluções. 

— Eu não quero ir. — confessou, pela primeira vez sentindo o medo ocasionado pela verdade que era finalmente registrada pela sua mente: ele iria morrer. 

— Eu sei. — Dallas ainda acariciava o rosto de Harry, não soluçava como ele, não tinha lágrimas escorrendo pelas bochechas como ele, mas os seus olhos brilhavam de forma intensa e sofrida, expressando tudo o que ela sentia naquele momento de forma tão clara que Harry sentiu-se abençoado por finalmente ter este vislumbre de quem verdadeiramente era Dallas Winford.  — Eu sei. — ela repetiu em um sussurro. — Mas você precisa. — enfatizou e a força dela, a ordem subentendida, deu forças à Harry, que afastou-se, soltou os pulsos de Dallas e com uma última troca de olhares, deixou a sala de Runas Antigas, deixou-a para trás. 

 

oOo

 

Dallas ficou parada, estática, por um bom tempo depois da partida de Harry. Não deixou a sala, não correu atrás dele e implorou que ele não a deixasse, implorou que ele mudasse de ideia, abandonasse aquele plano louco, retirasse de sobre os ombros aquela manta pesada que era o complexo de herói que ele sempre vestia, não caiu em prantos, prostrada aos pés dele, como uma donzela desesperada. Não era do feitio dela, nunca seria do feitio dela tamanho drama. Mas ela sentiu, no momento em que a porta da sala fechou com um suave clique da fechadura, às costas de Harry, ela sentiu a sua alma inteira despedaçar, como cristal sob a força bruta de um martelo. Todo o seu ser doía, as paredes de pedra a sufocavam, os dedos apertavam-se tão forte em um punho fechado, que as juntas estalavam. Dallas não queria chorar, ela queria gritar, gritar até perder a voz, até a sua garganta doer como se gatos estivessem afiando as unhas em suas cordas vocais. Ela queria quebrar alguma coisa, e a mesa na sua frente foi a vítima perfeita. Um chute a arremessou contra a parede, com a cadeira em mãos, começou a castigar o móvel de forma violenta por minutos e então, quando nada mais sobrou do que pedaços irreconhecíveis de madeira, ela ouviu a pior notícia que poderia ouvir em toda a sua vida.

A voz embevecida de Voldemort ecoou por toda a Hogwarts, anunciando com felicidade mal contida a morte de Harry Potter.

Dallas sabia, de forma consciente, que não era uma veela pura, que não podia transformar-se em harpia e arrancar os olhos de Voldemort com as suas garras, mas o ódio que sentia crescer dentro de seu corpo, borbulhando o sangue em suas veias, lhe dava a sensação de que poderia transformar-se a qualquer momento.

A porta da sala de Runas abriu com um estrondo, tão súbito e violento, que arrancou-a das dobradiças. Mais tarde Dallas lembraria que foi a própria magia dela, movida pela fúria, que causou tamanho estrago. O corredor agora estava vazio, alunos e aurores que antes recolhiam os corpos tinham partido, junto com os sacos embalando corpos de bruxos e bruxas caídos. Dallas não sentiu o tempo passar, não notou o trajeto que tomava em direção a entrada principal, a sua mente tinha apenas um único objetivo: o Lorde das Trevas. A raiva dentro dela era tamanha, que tinha a certeza que conseguiria lançar um Avada Kedavra naquela fuça ofídica na primeira tentativa, e era isto que ela faria. Sem dó, sem piedade, sem arrependimento

— Dallas! — alguém extremamente inconveniente segurou no braço de Dallas. A abordagem abrupta a fez girar no lugar e reagir de forma automática. O feitiço brotou da ponta de sua varinha, o ataque foi rápido e o seu interceptador bloqueou a azaração com uma expressão de choque no rosto pálido.

Draco abaixou a varinha, com ambas as sobrancelhas erguidas diante do ataque súbito. Dallas emanava fúria, Draco podia sentir a magia dela estalando no ar, refletindo as suas emoções. 

— O que você está fazendo aqui? — perguntou quando reconheceu a pessoa estúpida que a tinha pego pelo braço sem aviso algum. Pelo que recordava, Dallas havia deixado o irmão, ainda em estado catatônico por causa da morte de Crabbe, na sala comunal da Sonserina. As masmorras estavam praticamente nas profundezas do castelo, eram seguras, fora do foco de ataque dos Comensais da Morte que concentraram as suas investidas nas áreas comuns e nos pisos superiores, o lugar perfeito para esconder e proteger o irmão que ela pensou que seria esperto o suficiente para permanecer lá até toda esta confusão acabar. 

— Eu estava te procurando, para irmos embora daqui. — Dallas riu com deboche diante da sugestão absurda de Draco. 

— Embora? Não! Eu não vou embora! Eu tenho contas a acertar.

— Dallas! — Draco a segurou novamente quando percebeu a intenção dela de continuar a marchar sabem-se os deuses para onde. — Você não pode estar pensando em fazer o que eu penso que você quer fazer, pode?

— O que exatamente? Enfiar um Avada Kedavra no rab…

— DALLAS! — Draco gritou, horrorizado, e Dallas rolou os olhos. O seu irmão, senhoras e senhores, tão enojantemente puritano. Entretanto, a interrupção dele serviu para amainar o ódio que nublava a mente dela, o suficiente para sentir o castelo tremer sob os seus pés e um grito de fúria ecoar pelas paredes. Um grito na voz familiar de Voldemort.

— Volte para a Sonserina, Draco. — Dallas ordenou, soltando-se de Draco e dando as costas para o irmão, para sair dali. Se Voldemort estava enfurecido, alguma coisa deu errado em seus planos, e o coração dela já acelerava no peito ao pensar nas possibilidades. Ao pensar na possibilidade de que Harry não estava morto. — Estará seguro lá. — completou e ignorou os gritos de Draco a chamando, exigindo que ela voltasse, e agradeceu a qualquer entidade superior por ele não ter a seguido. 

Quando alcançou um dos corredores que era caminho para o Salão Principal, encontrou este novamente abarrotado de combatentes, com a batalha a todo o vapor, como se em nenhum momento ela tivesse sido interrompida, como se tivesse começado naquele exato momento, Comensais contra Aurores, contra professores, alunos e aliados. Dallas viu Patrick e Davon, de costas um para o outro, com sorrisos nos rostos, o sorriso daqueles que tiveram as suas esperanças renovadas não tinha nem pouco tempo. Um Comensal esgueirou na direção deles, ergueu a varinha para aproveitar-se de um momento de fraqueza, pois ambos estavam ocupados demais com os adversários na frente deles para dar atenção ao que usava as sombras do castelo como camuflagem, Dallas girou a varinha e a explosão pegou todos de surpresa. O Comensal gatuno voou alguns bons metros pelo corredor, bateu no chão com um som enervante de ossos quebrando, e não mais levantou. 

Dallas seguiu seu rumo, passou por Patrick e Davon que cobriram a sua retaguarda e bloquearam os ataques dos Comensais que a viram derrubar o seu companheiro de forma tão prática, e chegou na entrada do Salão Principal, que aos poucos era iluminado pela luz do nascer do sol. Chegou justamente no momento em que um Avada Kedavra foi proferido junto com um Expelliarmus, no momento em que um feitiço foi mais rápido que o outro, que um ricochete fez o tiro sair pela culatra e então o corpo de Voldemort caiu sem vida no chão frio do salão, sob dezenas de pares de olhos como testemunhas, e Harry Potter permaneceu de pé, vivo, ao final deste duelo. 

Por um momento tudo ficou em suspenso, houve um silêncio sepulcral diante daquele fim tão mundano para aquele que foi o terror de toda a comunidade mágica por anos. E então vieram os estalos das aparatações, dos Comensais fugindo diante da derrota, rápidos como um flash de raios. Aurores os seguiram, o trabalho deles não estava terminado, e, daqueles que ficaram para trás, todos aliados da Ordem ou da Resistência, ainda tinham em seus rostos a expressão de incredulidade daqueles que ainda não acreditavam que finalmente aquele pesadelo tinha acabado. Harry era um daqueles com a expressão incrédula e somente voltou a realidade quando sentiu um corpo chocar-se com força contra o seu, braços o envolveram pelo pescoço e o aroma familiar de jasmim misturado a fuligem e poeira alcançou o seu nariz.

Dallas estava em seus braços e ela tremia e soluçava e chorava da forma que pensou que nunca mais iria chorar na vida, um choro de alívio, um choro de alegria. Sentia-se estúpida, claro, por desabar desta forma no meio do Salão Principal, desfazendo-se de sua fama de rainha do gelo e qualquer outra coisa infâme pela qual já foi chamada pelos seus colegas de escola. Mas não era como se ela realmente desse importância para a opinião dos outros, não é mesmo?

— Eu te amo. — Dallas ouviu Harry murmurar perto de seu ouvido, enquanto escondia o rosto contra o pescoço dele, e sorriu. 

— Ah, eu esqueci… — declarou ao afastar-se dele, quando finalmente conseguiu recuperar a compostura e parar de chorar feito uma idiota. 

— O quê? — Harry perguntou, genuinamente confuso. 

— Você é o bravo soldado que voltou vivo da guerra, Potter. Logo… — Harry gargalhou. 

— Eu mereço um beijo. — completou e Dallas o beijou, no meio do Salão Principal, sob os assobios e ovação de todos, como se este fosse o final feliz de uma comédia-romântica piegas. Mas quem se importa, não é mesmo? Hoje, ao menos, daria este gostinho à eles. Amanhã? Talvez azarasse todos eles, só para não perder o hábito, ou a má reputação.


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