Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 12
Capítulo 11




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Lockhart deveria ser trancado em um manicômio e ter a chave jogada fora. Naquela manhã o professor apareceu no Salão Principal mais enfeitado que o usual e Dallas pôde jurar que viu o cabelo loiro dele brilhar com purpurina. O Salão em si parecia que tinha sido atingido por uma bomba de confetes e serpentinas, e corações de papel laminado que piscavam como letreiros, com frases românticas neles. Muitos alunos adquiram expressões considerativas quando Lockhart explicou os seus planos para aquele Dia dos Namorados de temperaturas gélidas fora das paredes da escola, outros alunos torceram o rosto em expressão de nojo e Dallas estava prestes a socar o próximo anão que lhe aparecesse com um poema. 

— Você não pode partir até eu terminar a minha mensagem. — o anão vestido de cupido tinha uma cara amarrada que o deixava com um aspecto horrível e totalmente destoante da toga e asas que tremulavam às costas dele. Dallas olhou ao seu redor, para os alunos que haviam parado para testemunhar aquela cena bizarra. Fora a humilhação pública, para muitos aquilo estava sendo motivo de pura graça e divertimento sobre a vergonha alheia. Dallas não sentia-se envergonhada com as mensagens, algumas eram grotescas, infantis e sem graça, outras eram até interessantes, mas o que realmente a chocou foi a quantidade. Até o momento já tinha sido abordada dez vezes por vários anões-cupido e ainda era metade do dia. 

O anão-cupido limpou a garganta e então começou a recitar:

“Procure em seu coração e você encontrará;

Não há nada o que esconder lá;

Aceite-me como sou, aceite-me por inteiro; 

Eu te darei tudo, em sacrifício;

Não me diga que não vale a pena lutar; 

Não posso evitar, não há nada mais que eu queira;

Você sabe a verdade, que tudo o que eu faço, faço por você.”

O cupido terminou de recitar para o absoluto silêncio que desceu no corredor. Algumas meninas choravam de emoção, alguns garotos tinham expressões contemplativas e Dallas recebeu o cartão de Dia dos Namorados do anão com dedos trêmulos. 

— Isto foi… — Patrick comentou, sem fôlego, ao seu lado. Dallas não teria coragem de dizer à ele que, apesar de bonito, o poema na verdade era a letra de uma famosa música trouxa, não queria desapontar o menino romântico que havia dentro dele. Mas, ainda sim, mesmo sendo a letra de uma música, a mesma possuía mais que uma estrofe e se a pessoa que enviou o cartão escolheu àquela letra pensando justamente nela, era razão para fazer o seu coração bater acelerado em seu peito. — Quem enviou? — ele perguntou e Dallas revirou o cartão, mas não encontrou assinatura alguma e a letra rabiscada no papel não lhe era familiar. 

— Não sei. — declarou, para o desapontamento de todos que a rodeavam e, satisfeito por ter feito o seu trabalho, o anão-cupido partiu para atormentar outro aluno. 

Diferente dos outros cartões que ela transformou em cinzas, longe de olhares curiosos, este ela guardou com cuidado entre as páginas de seu livro de Poções, para não amassar o papel. 

O dia prosseguiu com mais anões abordando alunos desavisados e Dallas suspirou ao perceber que, pela parte da tarde, o seu número de admiradores secreto caiu a quase zero. Harry Potter não teve a mesma sorte e a expressão do garoto quando o anão-cupido o parou foi cômica e de dar pena. No momento em que o anão parou ao lado do grifinório, este ficou pálido como se a sua alma tivesse deixado o seu corpo por um breve momento. O poema que o anão-cupido recitou para Potter era infantil e sem nenhuma criatividade e Dallas reparou que a caçula dos Weasley, meio que escondida entre um grupo de alunos mais velhos, tinha no rosto uma curiosa variação de cores que ia do vermelho para o branco e voltava para o vermelho, então era claro quem era o remetente do cartão, se alguém prestasse uma parcela de atenção na menina. 

Óbvio que Draco não pôde deixar a oportunidade de caçoar Potter de fora e Dallas sentiu um estranho comichão surgir na boca de seu estômago e as palavras saíram de sua boca antes que ela pudesse repensá-las:

— Qual o problema, Draco? Com inveja? Ao menos Potter recebeu um cartão mostrando que alguém gosta dele desta maneira, e você? Quantos cartões recebeu hoje? — Dallas fez uma falsa contagem na ponta dos dedos e deu um sorriso mal para Draco, que estava vermelho de fúria contida, porque ele sabia exatamente a resposta e isto não era de ferir o ego? — Ah, é! Nenhum. Nem um cartão foi enviado para você. Patético, Draco. — desdenhou e as risadas diante da vergonha de Draco foram imediatas e ecoaram pelas paredes do corredor. 

Draco rasgou o cartão de Potter com puro ódio refletido em seus gestos endurecidos e arremessou os pedaços de papel na cara do grifinório, que ria dele. Potter não abalou-se com a grosseria, apenas continuou rindo com os seus amigos enquanto Draco fazia a sua melhor imitação de Snape e deixava o corredor com as vestes farfalhando às suas costas. 

— Obrigado. — Potter pediu quando as risadas morreram. Os seus olhos verdes ainda brilhavam de divertimento e ele tinha um rubor saudável nas bochechas, o que fez novamente aquele comichão estranho surgir na boca do estômago de Dallas.

— Não acostuma, Potter. Não é sempre que eu vou estar aqui para te defender. 

— Eu sei. Ainda sim, obrigado. — Dallas sentiu-se verdadeiramente o Príncipe Encantado naquele momento, como a sua avó disse para ela ser. Outro garoto teria ficado irritado por ter uma menina lutando as batalhas dele, Potter sorria e agradecia pela ajuda com uma sinceridade que fez Dallas corar de forma involuntária. 

— De nada. — rebateu e deixou o corredor apressada, não querendo ouvir nada mais que Potter tivesse para dizer. As suas bochechas queimavam de uma vergonha que ela não sabia dizer qual era a origem e o comichão irritante havia aumentado na boca de seu estômago. 

O que estava acontecendo com ela?

 

oOo

 

Dias depois o jogo da Grifinória contra a Lufa-Lufa foi cancelado devido a mais dois ataques, duas meninas, e uma delas foi Hermione Granger. A tensão aumentou em Hogwarts e o Ministério da Magia mandou um representante para resolver a questão, o que terminou com Hagrid preso e Dumbledore suspenso. Os alunos passaram a andar em grupo pelos corredores, com o peso de um novo ataque nas costas, mais as provas finais. Exceto Draco, Draco parecia divertir-se com tudo isto e enquanto os seus colegas da Sonserina absorviam as palavras politizadas do menino como se fossem o novo Evangelho, Dallas perdia a paciência a cada nova asneira saída da boca dele. Pessoas estavam se machucando, ninguém sabia quem era o culpado e embora as Mandrágoras de Sprout fossem a solução para trazer de volta os petrificados, ninguém garantia que a próxima vítima terminasse somente como uma estátua ao invés de morta. E Draco divertia-se com isto, como se a proeminente morte de um colega de classe fosse razão de piada. 

O tapa ecoou tão alto na sala comunal da Sonserina que silenciou todas as conversas. O rosto de Draco estava virado e com uma marca vermelha na bochecha que era a silhueta da palma da mão de Dallas, que vibrava de fúria. 

— Você me dá nojo. — a expressão dela corroborava completamente o que ela havia dito. Draco a enojava e cada segundo na presença dele apenas aumentava a vontade que tinha de vomitar. 

O medo tomava conta de Hogwarts como um miasma sufocante e os professores tentavam manter a normalidade dentro de suas capacidades. As provas finais não tiveram o seu calendário alterado, mas Dallas suspeitava que este ano as notas de todos não seriam das melhores. Ela própria duvidava que conseguisse nada além de vários “Passável”, pois cada vez que tentava ler as questões, a enxaqueca de tensão, que latejava em sua têmpora, a fazia ver dobrado. O último sinal ecoando pela escola resultou em um suspiro de alívio coletivo e os alunos estavam tomando o caminho do Salão Principal quando a voz da professora McGonagall soou em um alto falante por Hogwarts, com a ordem de que todos voltassem às suas salas comunais. Um buffet como o que foi servido no ano anterior no Dia das Bruxas já esperava pelos alunos quando estes entraram na sala da Sonserina, mas Dallas estava com o estômago embrulhado demais por causa dos acontecimentos dos últimos dias para comer alguma coisa e decidiu refugiar-se em seu quarto após um bom banho quente. No colchão à sua frente estava aberto o livro de Poções, justamente na página onde ela havia guardado o cartão. O único cartão que ela guardou dentre tantos que transformou em cinzas. A mensagem não era original, o cartão em si era o menos chamativo possível, em uma cor amarelo bem claro, com um bordado de coração em renda branca na capa. Por um único e breve momento louco ela desejou que o remetente do cartão fosse Potter e então, ao lembrar-se da cara de pavor e vergonha que ele havia feito ao receber o cartão da garota Weasley, era óbvio que este cartão não era dele.

Potter era como todos os meninos de sua idade e a única coisa que tinham na cabeça era Quadribol e como passar nas provas com o mínimo de esforço. No caso de Potter em particular, ainda havia todos os problemas que pareciam encontrá-lo, relacionado ao seu status de herói do mundo mágico. Mandar cartões românticos para uma sonserina com certeza era a última coisa na lista de prioridades dele. 

Sentindo-se ridícula, Dallas fechou o livro com mais força que o necessário e enfiou-se sob as cobertas, na esperança de que uma boa noite de sono lhe tirasse essas ideias sentimentalóides da cabeça. 

O dia seguinte, no entanto, que encarregou-se de fazê-la esquecer da teoria absurda de que Potter poderia ser um possível remetente do cartão, porque o novo assunto da escola era como o grifinório derrotou um basilisco dentro da Câmara Secreta e ao mesmo tempo salvou Ginny Weasley, que estava na ala hospitalar junto com Gilderoy Lockhart, que não fazia ideia de quem era. O fim da ameaça trouxe Dumbledore de volta para Hogwarts e as provas de quem estava por detrás disso foram apresentadas ao Ministério, inocentando Hagrid. Dallas estava a caminho do Salão para o café da manhã, sob a trilha sonora das fofocas que eram espalhada de pintura em pintura, as melhores e mais confiáveis fontes de informação da escola, quando ouviu um baixo ofego 

— O que foi? — Potter, que estava no meio do corredor, perguntou a criaturinha esquisita ao lado dele, pequena e de pele cinzenta e enrugada, com aspecto que lembrava couro envelhecido. Pela descrição, Dallas concluiu que fosse um elfo doméstico e ele tinha olhos enormes, que lhe ocupavam a cara praticamente inteira, e esses estavam fixos nela. — Dobby?

— Nada, Harry Potter. — Dobby grasnou e Dallas percebeu que os olhos do elfo brilhavam por causa de lágrimas que escorriam pelas suas bochechas magras e encovadas. — Muito obrigado, Harry Potter. — ele desejou e também havia em sua mão uma meia que com certeza já viu melhores dias. O elfo agradeceu mais uma vez antes de desaparatar do corredor. 

— Não me diga que você acabou de libertar um elfo doméstico? — Harry encolheu os ombros brevemente e então sorriu meio sem jeito. — Você faz jus a sua fama de herói, não? — o sorriso dele desapareceu no segundo seguinte. 

— Eu não sou herói. — protestou e Dallas arqueou ambas as sobrancelhas para ele em um gesto de descrença. 

— Não é o que os quadros da escola estão dizendo. Você salvou Ginny Weasley de um basilisco, desvendou o mistério da Câmara Secreta e agora libertou um elfo-doméstico. — ela parou e ponderou um pouco. — Por que você libertou um elfo-doméstico?

— Parte porque ele merecia, parte para irritar Lucius Malfoy. 

— O elfo era de Lucius Malfoy?

— Disse bem, era. — Dallas gargalhou e a risada dela fez algo revirar na boca do estômago de Harry. Estava cansado, sujo, passou a madrugada inteira dentro de uma câmara fedida e correndo por canos de esgoto, fugindo de uma cobra gigantesca e parte do início da manhã com Dumbledore, colocando todos os pingos nos devidos ‘is’. Conheceu a versão adolescente de Voldemort e tudo o que queria agora era comer alguma coisa, tomar um bom banho e dormir por umas doze horas, e então Dallas surgiu no corredor, uma visão que sempre surpreendia Harry quando aparecia.

Dallas não era diferente das outras meninas do ano deles, embora ela já tivesse uma beleza que se destacava das outras colegas de classe. O seu cabelo castanho era em um tom escuro de mel e brilhava sob a luz do sol da manhã e era tão bem arrumado, sem nenhum fio fora do lugar ou frizz, que não parecia real. Os seus olhos eram azuis e escuros, em tom cobalto, quase violeta, o rosto ainda era redondo, pequenas sardas pintavam a ponte do nariz e as maçãs do rosto e os lábios eram rosados e bem desenhados. Eram detalhes que Harry não repararia em uma pessoa, mas em Dallas sempre chamavam a atenção, como um ímã. A pele dela parecia sempre emitir um brilho próprio, o seu uniforme não era diferente dos outros, mas parecia ser mais caro e de melhor qualidade e moldando perfeitamente o corpo da pré-adolescente. Ela andava com altivez, falava com altivez e até mesmo a sua risada não era exagerada ou escandalosa, durando o tempo necessário para expressar a sua graça e deixando o espectador desconcertado com esta manifestação de emoção, porque Dallas era uma menina séria para idade, então as micro-expressões que ela fazia quando demonstrava alguma emoção sempre eram absorvidas com ardor pela mente de Harry. Ele queria decorar cada uma delas sem razão alguma além de ter algo bonito e agradável do que se lembrar. 

— Vá descansar, Potter, porque você está com cara de quem vai dormir a qualquer momento, onde está. — e somente para provar o que ela disse, Harry balançou no lugar, como um bambu verde contra o vento, e os seus olhos demoraram mais que o usual em uma piscada. — Ah, Potter! — Dallas chamou quando Harry deu meia volta para ir para a torre da Grifinória. Ele ouviu os passos dela às suas costas e então o corpo menor surgiu em seu campo de visão e sem aviso lábios mornos pousaram em sua bochecha esquerda, em um beijo breve mas que derreteu todos os músculos de Harry e causou um curto circuito em seu cérebro. 

— Por-por que disto? — conseguiu gaguejar e refreou-se de levar a ponta dos dedos à bochecha, tocar a área beijada com reverência. Dallas sorriu e piscou de forma marota para ele. 

— Achei digno. Afinal, todo herói que volta vivo da batalha merece ganhar de prêmio o beijo da donzela. 

— Isto quer dizer que toda vez que eu retornar vitorioso de uma batalha eu vou ganhar um beijo seu? — Dallas recuou um passo diante da pergunta. Potter ainda estava vermelho, mas a sua voz saiu firme e havia um brilho decidido em seus olhos, como se ele estivesse selando algum acordo. 

Ela ponderou por poucos segundo antes de responder:

— Sim. 

— É uma promessa? — ele perguntou e então a sua voz ganhou um tom mais divertido. — Pode, então, selar o acordo com outro beijo? — Dallas riu. 

— Não abusa, Potter. E vá dormir. — ordenou e seguiu o seu caminho para o Salão Principal, com a ideia na cabeça de que o beijo, dado por impulso, seria uma situação de ocorrência única. Os anos a provariam que estava enganada. 


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