Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 10
Capítulo 9




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— Ouch. Essa deve ter doído. — Patrick comentou quando o corpo de Lockhart caiu com um baque abafado sobre o tablado, após o ataque de Snape. Em seguida, o professor de DCAT pôs-se de pé, com cabelos loiros bagunçados e roupa em desalinho, e sorriu daquela forma abobalhada que as pessoas sorriam quando queriam disfarçar uma situação constrangedora. 

— Muito bom Severus, muito bom. E esta é a primeira lição senhores…

— Qual? — Patrick cochichou para Dallas. — Cair feito um peso morto? — Dallas riu e isto pareceu atrair a atenção de Lockhart, cujo sorriso pateta sumiu do rosto e os seus olhos azuis sérios miraram a dupla. 

— Talvez os senhores gostariam de ser os primeiros voluntários. — o professor soltou com um muito mal disfarçado tom azedo em sua voz. Aparentemente ele ouviu o comentário de Patrick. 

Dallas e Patrick entreolharam-se e subiram no tablado e Dallas foi em direção a Snape, que repousou uma mão sobre o seu ombro e cochichou em seu ouvido:

— Não me faça passar vergonha. — e afastou-se. 

— Legal. — ela murmurou sob a respiração. — Sem pressão. — Lockhart, do lado oposto do tablado, já tinha posicionado Patrick e dado à ele algumas instruções que, pelo rosto contorcido do corvinal, não foram bem vindas. 

— Okay, na contagem de três. Um — Patrick e ela ergueram as varinhas na altura dos olhos. — dois — ambos assumiram a posição inicial de duelo. — três! — e Dallas sentiu os seus pés deixarem o chão quando o feitiço a atingiu em cheio no peito. Ela voou por poucos metros ao longo do tablado e caiu com um embolar da capa do uniforme e mechas do cabelo cobrindo o seu rosto. Aplausos ecoaram pelo salão, vindo dos espectadores, e com a maioria sendo da Corvinal. De rabo de olho ela viu que Snape tinha a expressão de quem estava prestes a eviscerar algo, ela, provavelmente, e Dallas colocou-se de pé aos tropeços e arrancou a capa da escola que havia embolado-se em suas pernas, a arremessando bem na cara presunçosa de Draco. 

Do lado oposto do tablado, Patrick tinha um largo sorriso de triunfo e assumia novamente a posição de combate. Dallas o imitou e não foi preciso a contagem de três para o espetáculo estroboscópico de feitiços refletir nas íris de todos ali presentes. Dallas tinha um conhecimento vasto de feitiços, apesar de ainda estar em seu segundo ano, praticou dezenas durante a noite no silêncio de seu dormitório, escondida pelas pesadas cortinas da cama de dossel, mas Patrick tinha um irmão que trabalhava para o Ministério da Magia como instaurador de barreiras de defesa e de cunho repelentes e a irmã dele era uma auror. Com certeza ele tinha conhecimento de muito feitiço de combate, o que estava provando ser verdade pelo modo agressivo com que ele avançava sobre ela, com o brilho da competitividade e determinação iluminando as suas íris castanhas. Eram tantos ataques que tudo o que Dallas conseguia fazer era colocar Protego atrás de Protego a frente de seu corpo, mas o escudo cintilante era destruído com a mesma velocidade com que era erguido. 

Dallas recuou passo por passo, ouviu os seus colegas soltarem exclamações surpresas e apreensivas pois, pelos seus cálculos, o tablado estava acabando e ela estava prestes a encontrar o chão de pedra do salão principal de forma dolorosa. Quando Patrick destruiu mais um de seus escudos, Dallas respirou fundo e soltou em alto e bom som:

— Patrick, pare! — Dallas não esperava que Patrick a ouvisse diante da euforia da vitória que deveria estar pulsando em seu corpo e ecoando em suas orelhas, o ensurdecendo para o mundo ao redor, ou que realmente a obedecesse, mas no minuto em que a ordem saiu de sua boca, o garoto congelou no meio do movimento. O seu braço ficou erguido, o seu corpo parado a meio passo na direção dela, o rosto rubro agora tinha uma expressão vazia, assim como os seus olhos. — Patrick? — Dallas chamou baixinho, porque Patrick não parecia somente congelado, mas totalmente alheio a realidade, como um boneco de cera. Ela sabia que ainda era propensa a descontrole mágico, mas pensou que a escola tivesse feitiços de contenção para reprimir este tipo de arroubos e evitar acidentes. 

Novamente Dallas sentiu a mão de Snape em seu ombro e o rosto do professor era uma mistura de desgosto e compreensão. Ele tocou com a ponta da varinha uma parte da pele exposta no braço de Patrick e deu um mini choque nele, o que fez o corvinal pular no lugar, piscar repetidamente, e olhar para eles com surpresa.

— O que aconteceu? — ele perguntou, confuso. 

— Você venceu, senhor Gordon. — Snape disse com sua voz de seda e em tom grave e Dallas abriu a boca para protestar, Patrick não havia vencido, ele havia parado em meio ao ataque e então Snape meteu-se na história. Mas então, um olhar do professor de poções a fez reconsiderar o seu protesto e ficar calada.

Dallas e Patrick desceram do tablado e um bolo de panos a atingiu na cabeça. Quando recuperou-se do súbito ataque e conseguiu desfazer-se do bolo, viu que era a sua capa do uniforme que Draco havia devolvido da mesma forma “delicada” com que ela havia oferecido à ele. 

Os próximos a duelarem fora Draco e Potter, para a surpresa de ninguém, e seja lá o que Snape tenha dito para Draco não havia sido as mesmas palavras “encorajadoras” que ele disse para ela, não pelo modo como os lábios de Draco torceram-se no sorriso escarninho padrão. 

O duelo começou com uma troca de ofensas entre os dois garotos e então uma cobra brotou da ponta da varinha de Draco e já caiu no chão sibilando de forma ameaçadora para Potter que, ao invés de recuar ou fazer alguma coisa para desaparecer com o réptil, começou a sibilar de volta para ela, como se estivesse em transe. 

A cena fez um burburinho de espanto percorrer os telespectadores, como o esperado. A língua das cobras não era um talento bem visto no mundo mágico, ainda mais que o único bruxo que eles conheciam que era fluente neste “idioma” era Você-Sabe-Quem. 

Snape desapareceu com a cobra, encerrando o duelo, e Potter foi arrastado para fora do salão por Granger e Weasley. Após este incidente, o clima ficou pesado demais para dar prosseguimento ao Clube de Duelos e os alunos foram dispensados de volta para as suas casas. 

— Senhorita Winford. — Dallas parou a caminho das masmorras quando ouviu ser chamada pelo professor de Poções. — Uma palavra, por favor. — pediu e ela seguiu o diretor de sua casa até o escritório deste. — Sente-se. — Snape ordenou e Dallas acomodou-se na desconfortável cadeira que havia em frente à mesa dele que era atulhada de caldeirões, frascos de poções, livros e pergaminhos com anotações. Snape estava de costas para ela e procurava algo em seu armário de poções, virando frascos com a ponta dos dedos e lendo rótulos, até encontrar o que procurava. Com a varinha ele acendeu um fogareiro sob um dos vários caldeirões ao longo da mesa e derramou o conteúdo do frasco. O líquido viscoso começou a emitir uma fumaçava arroxeada e depois de um minuto de fervura, um cheiro adocicado e enjoativo. — Onde está? — Dallas ouviu Snape murmurar enquanto abria e fechava gavetas até que ele encontrou o que queria, uma pequena caixa de madeira em formato retangular, fina e que exibiu uma pena branco-prateada quando ele abriu a tampa. 

A pena foi parar dentro do caldeirão borbulhante e a fumaça mudou de cor de roxo para prata. Dallas soltou um gritinho surpresa quando Snape segurou em seu pulso e puxou a sua mão em direção ao caldeirão. Ele a forçou a esticar o dedo indicador e com um toque de varinha causou um corte na ponta deste e espremeu três gotas de sangue no caldeirão. Com outro toque de varinha ele curou o ferimento causado e largou a mão dela. 

— Professor, o que está acontecendo? — Snape não respondeu, apenas colocou uma colher dentro do caldeirão, que começou a mexer o seu conteúdo sozinha, e só então ele sentou-se à mesa, do lado oposto à Dallas. — Professor? 

— De que é feita a sua varinha, senhorita Winford?

— Hã? Carvalho? Pena de Veela? 

— Uma varinha feita com cabelo de Veela é extremamente rara. Essas tendem a ser temperamentais. Uma feita com uma pena de Veela, mais rara ainda, e capaz de ser manuseada por somente um tipo de criatura. Sabe dizer qual, senhorita Winford? — Dallas fez que não com a cabeça. — Veelas. 

— Veelas não empunham varinhas, senhor, os poderes delas não são como os das bruxas. — Snape deu um discreto sorriso para ela, satisfeito pela garota possuir tal conhecimento que seria aplicado apenas em seu quarto ano. 

— Veelas também não têm o costume de cruzar com trouxas e aqui estamos, não é mesmo? — Dallas olhou para o caldeirão borbulhante e ainda emitindo a fumaça prateada e de cheiro adocicado. 

— Professor, a minha mãe é uma bruxa, não uma Veela. — porque este fato era fruto de pura lógica. Se a sua mãe fosse uma Veela, Dallas não estaria em Hogwarts aprendendo magia. Veelas eram criaturas mágicas, mas os seus poderes em nada se assemelhavam aos dos bruxos e elas não eram capazes de fazer metade do que os bruxos faziam, por isso costumavam cruzar com bruxos, para diversificar a espécie e ter maior alcance mágico, uma gama maior de poderes. Isto é, se a sua prole fosse fêmea, porque somente as fêmeas herdavam os traços e poderes veela de suas mães.

— Eu não disse nada sobre a sua mãe e não disse que você é uma Veela pura. — Snape deu um relance para a poção. — Pela reação da poção ao seu sangue, ao menos metade de seu DNA é Veela. 

— Ainda sim não faz sentido, professor. Porque para metade do meu DNA ser Veela, meu pai teria que ser Veela e não há machos na espécie e ele não foi adotado. — disto Dallas tinha certeza. Albert parecia-se muito com Amélia e tinha alguns poucos traços de seu falecido avô, Francis. 

— Correto. Se você fosse a terceira geração de mulheres na sua família, se o seu pai fosse uma mulher, então você seria ⅓ Veela. Como isto não aconteceu e como a sua avó casou-se com um trouxa e não houve gene mágico por parte do seu avô para ofuscar o gene Veela, você pode ser considerada ½ Veela. 

— Espera! — Dallas pediu com uma mão erguida para que Snape parasse de falar, porque a revelação era absurda e ao mesmo tempo fazia absoluto sentido. A sua avó era uma Veela. Amélia era uma Veela, e uma Veela mentirosa, ainda por cima. Ela disse que desconfiava que Dallas fosse uma bruxa por causa de sua mãe, quando este tempo todo ela sempre soube da existência da comunidade mágica e nunca lhe contou. — Como o senhor descobriu isto? Pelo incidente de hoje? — Dallas não fazia ideia do que fez para que Patrick parasse os seus ataques, mas desconfiava que estava relacionado à esta revelação ou Snape nunca a teria levado até ali para ter aquela conversa. 

— Um conjunto de fatores. Você ameaçou quebrar os dentes do senhor Malfoy em seu primeiro dia de escola. Veelas são extremamente temperamentais e absurdamente adeptas a violência corporal para fazerem-se entender. Você, como uma bruxa vinda de família trouxa, aprendeu mais rápido do que o esperado o currículo de Hogwarts, adaptou-se mais rápido do que o esperado. Descobrir-se uma bruxa geralmente é um choque cultural, há um período de adaptação, portanto é normal nascidos-trouxas terem notas baixas em seu primeiro ano em Hogwarts. Você teve notas altíssimas. Veelas são extremamente inteligentes, é um dom natural da espécie, creio que no mundo trouxa elas seriam consideradas gênios. Temos a beleza e o carisma que atrai. Deve ter notado algumas pessoas se aproximando de você sem razão aparente ou aceitando as suas palavras sem contestar. — Dallas pensou em Potter e Draco e a insistência deles em serem seus amigos e Daphne, Pansy e Millicent em seu primeiro dia de Hogwarts, aceitando a sua desculpa de que a sua mãe era uma bruxa, sem terem provas concretas. — E os seus olhos refletem um tom de violeta quando sob luz intensa. Em Veelas amadurecidas, quando elas estão em pleno uso de seus poderes, os olhos tendem a mudar de cor para um tom violeta. Em Veelas amadurecendo, esta mudança só pode ser percebida quando vemos os olhos delas contra a luz. 

Agora que Snape mencionou, Dallas lembrava-se de alguns incidentes em que pôde jurar que viu os olhos de Amélia ficarem violetas, mas descartou esta possibilidade, achando ser um truque de luz. 

— Eu vinha a observando por um tempo e o incidente de hoje somente cimentou as minhas desconfianças. 

— O duelo? Eu achei que fosse um arroubo mágico, como os vários outros que já tive antes de vir para Hogwarts. 

— Achou mesmo? Você é uma menina inteligente, sabe que não existem arroubos mágicos em Hogwarts. A escola tem proteção para isto. 

— É, eu sei, mas quis me iludir um pouco, é melhor do que saber que eu tenho um poder que é mais eficiente do que a Maldição Imperius. 

— Estudiosos acreditam que a Imperius foi criada baseada no Encanto das Veelas. No poder delas de controlar a mente humana somente com a voz e uma pitada de feromônios. 

— Muito didático, professor. Mas como é que eu desligo isto? — porque hoje foi apenas uma ordem de pare, inocente e sem conhecimento de causa. E amanhã? Dallas não sabia que tipo de entonação era preciso para ativar o chamado Encanto das Veelas e não queria correr o risco de dizer algo que acabasse com alguém ferido, ou coisa pior. 

Snape a olhou com a sua usual expressão de azedume e reprovação. 

— Você não desliga, você aprende a controlar. O Encanto vai ficar mais forte a medida em que a puberdade avançar. Uma Veela amadurece no mesmo período de tempo que uma mulher humana. Ou seja, durante a adolescência. Então eu sugiro que você comece a prestar atenção no que vai dizer para os outros. 

— E a poção? — Dallas perguntou, apontando para a poção borbulhante no caldeirão em banho-maria.

— Estou testando novas variações da poção Mata-Cão. Veelas são temperamentais, mas, em contrapartida, possuem um poder que envolve o controle absoluto. É uma contradição interessante. Lobisomens são temperamentais e não tem controle, acredito que uma poção com elementos Veela possa ser uma solução mais viável do que o que temos no momento. — Dallas piscou repetidamente, não podendo acreditar no que ouviu.

— O senhor não poderia ter me pedido por favor, antes de arrancar o meu sangue sem aviso? — disse, inconformada com a ousadia dele e já sentindo o sangue ferver no que agora era explicado ser o temperamento explosivo característico das Veelas. 

— Poderia, mas que graça isto teria? — a irritação de Dallas sumiu no mesmo instante em que apareceu, diante do que ouviu. Aquilo havia sido uma piada? Parecia ter sido uma piada. De Snape? Sério e sisudo Snape que estava sério e sisudo até mesmo para contar uma piada?

Dallas saiu da cadeira rapidamente. O professor já disse o que queria dizer e agora era hora de deixar a presença dele para não ser ainda mais traumatizada com o faro de que Snape possuía uma personalidade sob aquele manto de morcego. 

— Era só isso, professor? 

— Sim. — uma única palavra e a dispensa foi mais do que clara para Dallas deixar o escritório apressada, de volta a sua sala comunal. 

Horas depois Justin Finch-Fletchey e Nick-Quase-Sem-Cabeça também foram encontrados petrificados e os novos rumores eram de que Harry Potter era o tal herdeiro que abriu a Câmara Secreta. 

 


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