Hatstall escrita por Snowfall


Capítulo 3
Madrinha.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787397/chapter/3

Draco nunca pensou muito sobre párias. Sabia o que a palavra significava, não era ignorante. Também sabia que representava uma situação em que ninguém queria se encontrar. O que ele não sabia era o que se sentia quando se tornava um.

Não se importava nem um pouco em ser ignorado pelos alunos da Grifinória, os ignorava também. Porém todos, independentemente da casa, o evitavam. Até as pessoas que conhecia antes de chegar a Hogwarts.

De repente ele se tornara o Malfoy defeituoso que ninguém queria chegar perto.

Os conhecidos da Sonserina eram os piores. Crabbe e Goyle formaram uma aliança com Zabini baseada, ao que parecia apenas na vontade de atormentá-lo.  

Os colegas sentavam perto dele na sala de aula, mas o faziam a contra gosto. Muitas vezes tinha que dividir a mesa com Granger, que como ele, era evitada a todo custo pelos outros alunos.

Draco não os culpava. Se pudesse ficaria bem longe dela também.

Contudo, Hermione servia perfeitamente como fonte de divertimento dada à facilidade com que ela se irritava. Fazê-la perder o controle era sua única distração naquela escola enfadonha.

Na aula de História da Magia, Draco contemplava a possibilidade fisiológica de se morrer de tédio quando Granger ofereceu a oportunidade perfeita de diversão naquele dia.

A garota estava debruçada sobre um pedaço de pergaminho, tentando desesperadamente escrever tudo que o Prof. Binns dizia. A manga da camisa apresentavam manchas de tinta, assim como a bochecha direita.

Draco reparou no pote de tinta mal equilibrado a frente dela, qualquer movimento faria derramar tudo sobre o seu trabalho duro.

Curvando-se para o lado, fingindo tentar alcançar a mochila, ele empurrou a mesa bruscamente, se deleitando quando a menina soltou um gritinho.

Quando se endireitou, viu o estrago. A tinta atingira tanto o pergaminho como a frente das vestes dela.

— Olha só o que você fez! – ganiu ela, mais alto do que deveria, uma vez que o Prof. Binns parou de falar e voltou-se para eles.

— O que foi isso? – perguntou ele sem emoção. Parecia até que o fantasma se esquecia que havia alunos ali.

Granger começou a abrir a boca, mas Draco foi mais rápido.

— Minha colega aqui, professor. Não tem consideração o suficiente para fazer silêncio enquanto o resto de nós tenta estudar – a sala inteira riu- É triste vê a pouca consideração que alguns têm com uma matéria tão importante como História da Magia.

As risadas se espalharam. E a garota abria e fechava a boca escandalizada.

Os olhos do fantasma pareceram repentinamente focados. Ele flutuou até a mesa deles e Hermione se encolheu.

— Eu não... – começou ela, mas foi interrompida pelo professor.

— Cinco pontos a menos para a Grifinória – sentenciou ele – e da próxima vez que interromper minha aula a porei para fora.

Granger que estava à beira das lágrimas, apenas abaixou a cabeça.

O resto da aula passou sem que Hermione respondesse uma pergunta sequer. Ela nem levantou a cabeça até chegar a hora de deixar a sala. Draco caminhou para a próxima aula, particularmente bem humorado.

Thomas passou por ele e surpreendentemente lhe deu tapa no ombro.

— Valeu a pena perder cinco pontos – sorriu ele – A gente se ver em Herbologia, Malfoy.

Draco sorriu em resposta sem perceber. Infelizmente, outras pessoas perceberam.

Quando Dino saiu de vista, ele teve seu caminho tampado por um paredão de garotos de onze anos.

— Vejo que se enturmou bem com seus colegas de Sangue-ruim, Draco – zombou Zabini – Que dirão seus pais quando souberem que criaram um Traidor do Sangue. Acho que eles deviam, desde já, começar a planejar outro filho. O primeiro obviamente foi um fracasso.

Crabbe e Goyle riram como se Zabini tivesse dito a mais esperta e engraçada das piadas.

— É isso que sua mãe vem fazendo esse tempo todo? Trocando de marido a procura de um progenitor para fazer um filho melhor? – divertiu-se quando Zabini fechou a cara e lhe apontou a varinha.

Foi a vez de Draco rir.

— O que significa isso? – perguntou uma voz severa atrás dele.

A professora McGonagall se aproximou deles a passos largos.

— Nada, professora – responderam os quatro.

— Sr. Zabini, o uso de varinhas é estritamente proibido nos corredores – disse ela – Se o pegar de novo com tal comportamento cumprirá detenção, estamos entendidos?

— Sim, professora.

Quando os três se foram apressados, ela se virou para Draco.

— Não deveria está nas estufas agora, Sr. Malfoy. Ande logo antes que seja você a cumprir detenção.

Draco desceu o caminho até as estufas pensando que deviam ter uma Diretora da Casa diferente. McGonagall tirava mais pontos da Grifinória do que qualquer outro professor. A não ser Snape, é claro.

Mais uma vez teve que dividir o vaso em que cultivavam Visgo do Diabo com Granger, que ainda estava ressentida com o acontecimento em História da Magia.

— Por sua causa a Grifinória perdeu cinco pontos – acusou ela, enquanto tentavam arrancar as folhas secas da planta relutante – Você não se importa com a nossa casa.

— Não precisa ficar afirmando o óbvio, Gringer – Há muito havia aprendido o nome dela, mas era divertido ver as bochechas dela se inflamarem de raiva toda vez que ele a chamava de Gringer ou Herminia – E cinco pontos é um preço pequeno a pagar para ter você calada uma aula inteira.

— Você só não se conforma em ser o segundo melhor – rebateu a garota puxando com força o tentáculo que se enrolara em seu braço – Não aguenta que eu me saia melhor que você em tudo.

Que ousadia a dela. Cacarejava a torto e a direito tudo que lia e se achava melhor que ele. Um Malfoy.

Era verdade que ele ainda não conseguira superá-la academicamente até ali, mas ele não tentara para fazê-lo. Até parece que se esforçaria para ganhar pontos para Grifinória.

— É isso que os seus pais te dizem quando você chega em casa reclamando que ninguém quer ser seu amigo? – zombou ele - Odeio dizer que isso é uma mentira para fazer você se sentir bem consigo mesma. Você não é melhor bruxa apenas porque resolveu engolir os livros escolares. 

— Então me diga, por que sempre me saio melhor nas aulas?

— Simplesmente porque não preciso provar que sou melhor do que ninguém. É um esforço desnecessário para mostrar o que está na cara.

Ela pôs as mãos na cintura e riu. Riu! Garota insuportável.                                              

— A preguiça é a desculpa dos incompetentes – citou ela.  Provavelmente a fala de algum pensador trouxa da pá virada.

— Pois veremos no final do ano –desafiou ele – quem se sai melhor.

Ela arrebitou o nariz numa expressão de desdém.

— Quer comparar as notas finais?

— E quem vai conseguir mais pontos. Vou te mostrar do que é feito um bruxo de verdade.

Ela estendeu a mão.

— Muito bem, então.

Encarou a mão dela um pouco, antes de apertar.

Draco estava disposto a não perder e achou que o melhor momento para começar era agora. Virou- se e continuou a arrancar as folhas amareladas.

— Professora Sprout – chamou a atenção da mulher que ajudava Longbotton a desvencilhar-se da planta – Pretende mandar essas folhas secas para enfermaria?

Ela se virou e o encarou curiosa.

— Por que a pergunta Sr. Malfoy?

— O chá de Visgo do Diabo é muito bom para combater a tosse. Imaginei que como a temporada de resfriado está chegando, Madame Pomfrey fosse fazer bom uso dessas folhas.

A professora sorriu.

— Na verdade, o destino dessas folhas será esse mesmo. O senhor saberia informar aos seus colegas para o que mais serve o Visgo do Diabo?

Draco viu pelo canto do olho, Hermione folhear o seu exemplar de Mil ervas e fungos mágicos.

— A raiz pode ser usada para evitar Varíola de Dragão, certo?

Ele se lembrava de um verão desagradável em que os Elfos Domésticos lhe serviram uma xícara do chá com gosto de meia velha todo dia, quando houve um surto da doença.

— Muito bem, Sr. Malfoy. Quatro pontos para a Grifinória.

— Mas professora – meteu-se Granger na conversa como era de seu costume – Não há nada aqui sobre Visgo do Diabo sendo usado para isso.

— É por que essa informação não tem corroboração dos especialistas. O que eu particularmente acho um desserviço. É um fato amplamente conhecido na comunidade mágica.

Hermione fechou o livro com força.

— Calma, Gringer. Não precisa se desesperar. Vou até deixar você colocar na sua conta os pontos que você já ganhou até agora. Sabe, para você não perder tão feio.

— É Granger! – gritou, fechando os punhos.

Draco riu alto.

O resto da aula foi um sucesso. Ele conseguiu mais um elogio da professora quando puxou os tentáculos enroscados no cabelo de uma Hermione em pânico.

Nem ela notou que tinha sido ele próprio que enganchou a planta na sua juba leonina.

.............

De algum modo sua estadia em Hogwarts melhorou muito nos dias que se seguiram.

Granger conseguia ganhar mais pontos do que ele, porém, a diferença não era tão grande assim. E cada ponto que ele ganhava parecia uma facada na garota, para sua extrema satisfação.

Naquela quinta teriam a primeira aula de voo. E sabia que seria ali que arrancaria os pontos para se aproximar de Granger no placar. Até então contara 17 pontos. Sabia que ela tinha ao menos dois terços disso a mais que ele.

Quando impressionasse Madame Hooch com sua habilidade com a vassoura, por certo a alcançaria.

Draco ria por cima de um copo de suco de abóbora. Vendo Hermione recitar nervosamente as lições de Quadribol Através dos Séculos para, o mais nervoso ainda, Longbotton.

Nesse momento o correio chegou. Centenas de corujas invadiram o salão, soltando as cartas e encomendas no colo dos alunos ansiosos.

Draco era um deles. Animou-se quando viu sua coruja trazendo um embrulho retangular.

No dia anterior havia escrito a mãe pedindo que mandasse um livro de porções que tinham na biblioteca.

O livro não ensinava receitas, apenas dava dicas sobre como cortar, picar e cozinhar certos ingredientes. A maneira certa de manusear o caldeirão e outros instrumentos como facas e conchas.

O livro havia sido escrito a mão, por um Malfoy desocupado à quase dois séculos. Pelo sabia, nem a biblioteca de Hogwarts tinha um exemplar.

Abriu a carta que a mãe mandou.

“Estou muito satisfeita em ver que está levando seus estudos a sério. Amanhã mandarei aqueles caldeirões de chocolate que gosta tanto.

Com amor, mamãe.”

Draco fechou logo a carta antes que alguém visse essa última parte.

O que a mãe não sabia era que o que levava a sério era vencer Hermione e esse livro poderia lhe conferir os pontos em poções que nenhum dos dois conseguira ainda.

Snape não dava nenhum ponto a não ser para alunos da Sonserina, que não precisavam nem se esforçar para conseguir.

Comentara isso com Finnigan certa noite enquanto se trocavam para dormir.

“- McGonagall devia começar a nos dar pontos também. Não é a toa que a Sonserina ganhou a Taça das Casas, seis anos seguidos. Snape vem virando o jogo para o lado deles.

— Cuidado Draco, tá até parecendo que você se importa com a Grifinória – comentou o outro garoto lançando um olhar a Weasley.”

Draco nem se dignou a responder. É claro que não se importava com aquela casa de idiotas. O que o irritava era aquele sorriso nojento na cara de Zabini quando Snape tirava pontos da Grifinória.

Um pacotinho caiu na frente de Longbotton.

Quando ele abriu, revelou um Lembrol.

— Vovó sabe que me esqueço das coisas- explicou Neville enquanto a fumaça no interior da esfera ficava vermelha.

A cara de Longbotton era cômica tentando lembrar o que esquecera.

— Agora você só tem de lembrar-se de não esquecer o Lembrol, Neville – comentou enquanto se servia de ovos mexidos e bacon.

— Isso aí é um livro que você recebeu? – perguntou Hermione que ignorava o sofrimento de Neville.

— Sim-respondeu puxando o livro para longe dela, que tentava ler o título de cabeça para baixo.

— Sobre o que é? – o tom dela era de quem fazia exigência.

— Sobre a sua perdição, Gringer – disse com um sorriso. Ao mesmo tempo, que Longbotton se levantou de sobressalto.

— Minha varinha! – berrou enquanto corria.

 Neville, em sua pressa, tropeçou em um despercebido aluno da quinto ano que derramou leite em todos nas proximidades.

Draco se juntou as gargalhadas. Nem Hermione conseguiu refrear um sorriso. A Grifinória podia ser muitas coisas, menos monótona.

...............

Desceu para os jardins antes de todos e começou a folhear o livro de poções. Estava decido a arrancar uns pontos de Snape, quer o professor quisesse ou não.

“ A colher certa pode mudar o rumo do seu elixir.

Porções grossas são melhores mexidas com colheres de pau. Enquanto que, preparações mais finas exigem conchas de alumínio ou estanho.”

Draco não sabia o quanto essas dicas seriam uteis, mas valia a pena tentar.

Madame Hooch chegou quando todos já estavam presentes. Os olhos dela eram esquisitos. Será que já nascera assim ou os enfeitiçara para ver melhor durante os jogos de quadribol que apitava?

— O que estão esperando? – perguntou ela – estendam a mão sobre as vassouras e digam “Em pé”.

— Em pé! – repetiu a turma.

Apenas algumas das vassouras subiram imediatamente. A de Draco entre elas.

Hermione estava tendo problemas, sua vassoura apenas se revirava no chão.

Ah, esses pontos seriam tão fáceis.

Suas expectativas foram por água a baixo pouco depois, quando a professora veio corrigir sua maneira de segurar a vassoura.

— Deve pôr uma mão na frente da outra Sr. Malfoy.

Draco engoliu a resposta devida.

Pouco depois, Longbotton fez o favor de cair da vassoura e fraturar o pulso. Levando Madame Hooch a deixar a turma para acompanhá-lo a enfermaria.

O Lembrol caiu a poucos metros de Draco.

— Neville devia se lembrar de ter alguma coordenação motora – comentou apanhando a esfera, que continuou com a fumaça branca.

— Dá isso aqui, Malfoy – mete-se Potter.

Outro intrometido.

— Não – respondeu, montando na vassoura – Talvez deixe no topo de uma árvore para Longbotton pegar.

Enquanto o chão se afastava, viu a cara de poucos amigos do outro garoto.

— Alto demais para você, Potter?

Harry subiu na vassoura e Draco esperou que se esborrachasse como Longbotton, porém isso não aconteceu.

Potter ao que parecia sabia mais de vassouras do que aparentava.

— Devolve! Ou derrubo você dessa vassoura.

— Por que você não pega – disse jogando o Lembrol longe.

A comemoração por Potter ter conseguido apanhar esfera durou pouco. Logo, uma lívida Prof. McGonagall o arrastou dali, tão escandalizada que mal podia falar.

A aula foi encerrada sem que Potter retornasse e correu o boato de que ele seria expulso. O que achou improvável já que Draco ainda estava no ar quando a diretora da Grifinória apareceu e nada lhe acontecera até agora.

Ao meio-dia viu Potter sentado à mesa como se nada tivesse acontecido.

— Mas alunos do primeiro ano não entram nos times – espantou-se Weasley – Você deve ser o mais jovem jogador de quadribol do...

— Do século – informou Potter – Olívio me contou.

— Você entrou no time? – perguntou Draco sem conseguir conter-se.

Potter e Weasley se puseram de pé.

— Dá o fora, Malfoy – ameaçou Weasley, ficando extremamente vermelho. O garoto parecia pronto para a briga.

— O que foi Potter, agora precisa de um segurança para falar por você?

As condições não eram as ideais para ele. Dois contra um. Mas não recuaria.

— Não preciso de ajuda para acabar com você, Draco.

— Porque não prova isso então? – propôs – Duelo de Bruxos, apenas varinhas. A meia-noite na sala dos troféus.

— O quê?                                    

O garoto pareceu confuso.

— Não sabe o que é um duelo de bruxos, Potter?

— É claro que sabe. E eu serei o padrinho dele. Quem vai ser seu?

Draco olhou ao redor avaliando as opções. Pensou em dizer que não precisaria de padrinho, mas de alguma forma, não queria dar a impressão de que não tinha ninguém com quem contar.

Seu olhar recaiu sobre uma moita de cabelo castanho que escutava tudo um pouco adiante.

— Granger vai ser meu padrinho.

— O quê?! –o espanto dela foi maior que o de Weasley e Potter.

— Meia-noite. Não se atrasem – disse enquanto saía.

Agora só tinha de achar uma azaração particularmente dolorosa para acertar bem na cara de Potter.

No meio da tarde Draco já tinha um plano. Primeiro derrubaria o oponente com o feitiço da Perna-Presa, depois o acertaria com a azaração ferrante.

Treinou os dois feitiços e conseguiu cem por cento de sucesso. Longbotton foi a diversão da sala comunal quando tentou entrar pelo buraco do retrato com as pernas amarradas por cordas invisíveis.

Zabini foi parar na enfermaria, com a cara que parecia ter sido picada por uma centena de maribondos.

Nenhum dos dois viu quem os atingira.

Só houve um problema.

— Eu não vou – informou Hermione quando o encontrou a caminho do jantar – É contra as regras da escola sair à noite.

— Então não vai. Não vou precisar de um padrinho mesmo.

— Madrinha.

— O quê?

— Sou uma garota, não posso ser padrinho.

— Que seja. Não preciso da sua ajuda, de qualquer forma. Posso muito bem acabar com Potter e Weasley sozinho. Esquece que eu te pedi alguma coisa – disse se afastando.

— Você não pediu! – gritou ela à suas costas.

....................

Pareceu para Draco que todo mundo resolveu demorar a dormir naquela noite.

O jogo de Snap Explosivo pareceu não ter fim e só depois de muita insistência foi que Simas e Dino se calaram e foram dormir.

Faltando dez para meia-noite, os três desceram a escada em espiral para sala comunal.

— Que horas você marcou com Hermione, Draco? – cochichou Potter ao seu lado.

Estava quase dizendo que iria sozinho, quando um vulto se levantou da poltrona do canto esquerdo assustando os meninos.

— Já estou aqui – sussurrou Granger.

Ela com certeza se preparara. O cabelo estava preso em um coque no estilo McGonagall e na mão da varinha usava um protetor de couro de dragão.

Granger estava pronta para o combate.

— Vamos logo, então – apressou Potter.

Uma vez nos corredores escuros, Draco pensou que talvez tivesse sido melhor ter marcado ao meio-dia. Acrescentar dramaticidade ao duelo parecia não valer o risco de serem pegos fora da cama no meio da noite.

Mas o que estava feito, estava feito.

— Isso é uma péssima ideia – resmungou Hermione ao seu lado.

— Seu padrinho já está dando para trás, Malfoy – caçoou Weasley.

— Madrinha – corrigiu Granger.

— Obrigado Granger, por nos educar sobre os gêneros do substantivo – comentou Draco já se aborrecendo, não entendia por que ela havia mudado de ideia – Não sei o que seria de nós sem você.

Weasley riu alto.

— Calados – ralhou Potter à frente – Já estamos quase lá.

A sala dos troféus não tinha esse nome a toa. Estava abarrotada de taças, medalhas e condecorações. Ao menos podia acertar Potter na cabeça com uma taça de prata maciça se tudo o mais falhasse.

— Vamos nos meter em encrenca – insistiu Hermione – Vão nos descobrir.

— Não se preocupe – assegurou Draco lançando um olhar a Potter – Tudo vai acabar mais cedo do que imagina. Você não precisava dessa produção toda. Nem vai chegar a sacar a varinha.

— Então vamos logo com isso, Malfoy.

— Você parece ansioso por uma visita à ala hospitalar.

— Ah pelo amor de Deus! Querem começar logo! – ordenou Granger.

Draco e Harry se puseram um na frente do outro e ergueram as varinhas.

Um ronronar abafado quebrou a concentração dos dois.

— É a Madame Nora! – guinchou Hermione.

Todos se viraram quando o barulho de passos se fez ouvir no corredor.

— Por aqui, Madame Nora? Onde eles estão? – a voz de Filch estava bem próxima.

A pouca luz deu aos garotos os segundos que precisavam até a saída oposta.

Não sabiam que direção tomar.  Só queriam botar a maior distância entre eles e o homem. Que parecia rápido demais para alguém daquela compleição.

Dobraram em corredor escuro, e entraram em uma passagem secreta, aparentemente despistando o seu perseguidor.

Pelo que percebeu estavam no corredor de feitiço. Que ficava bem longe da sala de troféus. Mas logo viu que aquele não foi o melhor caminho a tomar.

Pirraça flutuava ali perto.

— Ora, ora. Aluninhos fora da cama.

— Cala a boca – Draco mandou enquanto olhava ao redor para ver se Filch se aproximava.

— Devia gritar. Devia mesmo. É para o seu próprio bem sabe.

— Por favor, pirraça. Se nos pegarem nos meteremos em encrenca – suplicou Hermione.

Foi a coisa errada a dizer. Se havia uma coisa que Pirraça gostava, era encrenca.

— Alunos fora da cama! Alunos fora da cama no corredor de feitiço! - Saiu gritando.

Eles correram novamente. Percorreram uma infinidade de corredores e passagens até se depararem com um beco sem saída.

— Trancada – lamentou-se Weasley se referindo à sala frente deles.

— Ah, sai da frente! – Grande o puxou para frente e apontou a varinha para a porta – Alohomora.

A aldrava se abriu com um clique.

Os quatro entraram em um quarto mal iluminado e se puseram à porta para ver se ouviam alguma coisa.

Ficaram tensos quando ouviram os passos de Filch no corredor. Mas o homem se afastou, depois de ser feito de bobo por Pirraça.

— Deve ter pensado que a porta estava trancada- comentou Weasley enquanto Draco se virava para dar uma olhada melhor na sala.

O que viu fez seu sangue gelar.

— Estava trancada – retrucou Hermione.

— E por que será? – indagou Draco com a voz fina – Potter, abre a porta devagar.

— O quê?

Mas era tarde demais, a fera já havia despertado e percebido que não estava sozinha. Os olhos piscaram, tentando focar melhor. Todos os três pares de olhos.

O grito que soltaram deveria ter acordado todos no castelo.

Como conseguiram sair de lá inteiros, não soube dizer. Mas podia afirmar que nunca sentiu-se tão feliz em entrar na sala comunal da Grifinória.

O calor da lareira provia um alivio bem vindo às suas extremidades geladas. Ele se jogou em uma poltrona, ofegante.

Rony foi o primeiro a recuperar a voz.

— O que eles estão pensando? Guardando uma coisa daquelas em uma escola?

— Você não usa os olhos, não é? – indagou Hermione - Não viu o que havia debaixo das patas?

— Não fiquei olhando para as patas. Estava mais preocupado com as cabeças. Ou você não reparou. Eram três.

— Era um Cérbero – informou Draco por nenhum motivo aparente.

— Obrigada Draco, por nos educar sobre o monstro que quase nos devorou - rebateu Hermione – Tinha um alçapão. O Cérbero guardava alguma coisa.

— O que pode ser? – perguntou Potter pensativo.

— Eu não sei – respondeu Hermione.

— Senhoras e senhores marquem esse momento na história. Hermione Granger não sabe de alguma coisa – Draco ergueu os braços solenemente.

Weasley e Potter riram. Hermione lhe lançou um olhar de desprezo.

— Eu avisei que era uma péssima ideia.

— Pelo modo que fala, parece que a arrastamos pelo cabelo até lá – Draco não tinha paciência para esse discurso do “eu te disse”.

— Bem, eu vou me deitar – disse ela se levantando – Antes que um de vocês tenha outra ideia brilhante que possa nos matar. Ou pior, nos expulsar.

— Oh! Granger, deve ser um pesadelo na sua cabeça – riu-se Draco.

Hermione apenas levantou a cabeça e subiu até o dormitório das meninas.

— Ela tem que decidir o que é prioridade – comentou Weasley.

Depois daquele dia, o duelo fora adiado por tempo indeterminado.

E Weasley, Potter e Draco começaram uma amizade improvável, fundamentada no mistério de um cão de três cabeças e numa experiência de quase morte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo capítulo,Halloween.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hatstall" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.