"Acima de tudo, o tempo nos traz verdades."

O relógio parou quando você foi embora.

O tempo parou de ser cronometrado no momento em que você decidiu que não queria mais uma vida ao meu lado. No exato instante em que você pôs suas coisas em uma mochila e saiu pela porta, levando consigo todas as promessas de um possível futuro. Um futuro perdido.

Eu sei que não fui exatamente um exemplo de melhor pessoa do mundo, mas tudo o que eu queria era que você pensasse duas vezes antes de atirar tudo aos sete ventos, antes de deixar para trás apenas o caos em que me tornei, presa ao tempo que não avança mais. Eu queria que sua decisão final não fosse exatamente igual à decisão espontânea, que você olhasse para trás e percebesse o quanto eu ainda te amo.

Porque eu sei que no fundo, tudo o que você queria era um pouco de paz, um minuto de silêncio e algum tempo consigo mesmo. Mas meu medo não deixou que o tempo corresse sozinho.

Não deixei seu relógio funcionar por conta própria, quis que ele corresse com as minhas engrenagens, nas minhas próprias regras. Quis que você dependesse de mim como eu dependo de você, quis que seu tempo fosse apenas meu.

Porque, querido, o meu tempo era só seu. E o pior de tudo, é que ele continua sendo.

Quando você estiver longe o suficiente para não ser mais capaz de voltar, quando seu tempo correr por outra pessoa, lembra-se de mim. Recorde-se dos minutos, segundos e horas que compartilhamos e, se possível, não cultive raiva ou rancor, não deteste nossas memórias, e não se arrependa. Por favor, não se arrependa de tudo pelo que passamos juntos.

Porque no fim, você foi embora, deixando um relógio que não funciona para trás. Um relógio preso às quatro e dez de uma terça feira qualquer, sem nunca ir adiante.

Eu sei que esse relógio não irá se concertar sozinho, e no fundo você também sabe.
 

Porque esse relógio, querido, sou eu.