— Acho que só sirvo para machucar as pessoas... — Kyle ouviu Ike dizer em voz baixa de seu quarto.

Kyle estremeceu ao ouvir isso, em pleno dia de seu aniversário. Era pra ser um dia perfeito para toda sua família, já que eles iriam à Whistlin' Willy, a pizzaria favorita de Kyle, e também de Ike e da maioria das pessoas que foram convidadas a estar lá.

Ele não poderia fazer com que essa pequena festa fosse tão boa quanto queria se seu irmãozinho, uma das pessoas mais importantes para ele, estivesse daquele jeito.

A voz do irmão tinha um tom triste, e ao olhar pela porta do quarto do pequeno moreno canadense, o ruivo viu que ele estava sentado em sua cama, no escuro. A única luz do que havia ali era a do celular de Ike, que iluminava seu semblante, tão triste quanto seu tom de voz.

A visão era de cortar o coração para qualquer um que passasse, mas para Kyle era ainda mais. Ver seu irmão, que normalmente era tão alegre e divertido desse jeito o fazia ficar tão triste quanto o pequeno canadense de apenas dez anos, e por isso, ele resolveu bater no lado do arco da porta e tentar ajudar com a tristeza do pequeno. Ou apenas escutá-lo até que ele melhorasse.

— O que aconteceu, Ike? — Perguntou Kyle, olhando fixamente para seu irmão. — Não está animado para a festa mais tarde?

Ike retornou o olhar para Kyle, e agora o ruivo conseguia ver que havia alguns resquícios de lágrimas em seu rosto.

— Nada, Kyle. — Disse ele, friamente. Kyle esperava por essa resposta, pois Ike sempre pensava ser independente o suficiente para não precisar da ajuda de seu irmão mais velho. — Nem sei se quero ir mais.

Kyle ficou horrorizado. Os dois falaram a semana toda daquela festa, e era muito estranho que algo tivesse o feito sentir assim.

— Cara, você estava chorando, e não quer ir naquilo que estava animado a semana toda. — Apontou o ruivo, já entrando no quarto. — Algo aconteceu.

Ike suspirou, percebendo que seu irmão insistiria até que ele contasse.

— Briguei com o Filmore. — Explicou ele, finalmente. — Íamos fazer um trabalho juntos, e acabei quebrando minha promessa e fiz com outra pessoa.

— E vocês brigaram por isso, cara? — Perguntou Kyle, já sentando ao lado de Ike na cama, para ouvi-lo melhor.

O moreno limpou as poucas lágrimas que existiam em seu rosto, e fitou o chão em diagonal, coisa que o ruivo achava bastante estranho, comparada com a animação usual de seu irmão.

— Ele ficou decepcionado, e disse que deixei ele fazendo com o pior aluno da classe. — Disse Ike, com o mesmo semblante.

— Você deve ter tido um motivo de deixar de fazer com ele, não teve? — Perguntou Kyle.

Ike levantou o rosto, olhando diretamente para o ruivo.

— Sim, a professora me pediu para fazer com o Frikle, porque ele precisava de nota. — Respondeu ele, ainda parecendo triste.

— Você já tentou explicar isso pro Filmore? — Perguntou o ruivo, já vendo aonde aquilo ia dar. Ike era péssimo em explicar esse tipo de coisa.

O moreno franziu as sobrancelhas.

— Não, acha que ele entenderia se eu explicasse? — Perguntou Ike, ele não se dera conta que talvez seu amigo só estivesse se sentindo preterido, Kyle pensou.

— Acho que sim, cara, fala pra ele. — Falou Kyle, com um pequeno sorriso. — Tenho certeza que ele vai entender.

Ike sorriu de volta, timidamente, e pediu para Kyle sair do quarto para ele ligar para Filmore. O ruivo saiu, e voltou para seu quarto para fazer seus deveres de casa, o Ensino Médio estava exigindo bastante do ruivo.

Demorou um pouco até que Ike voltasse, e dessa vez ele tinha um pequeno sorriso no rosto.

— O Filmore disse que entende, mas que eu deveria ter contado antes. — Contou ele, parecendo mais animado. — Obrigado pela ajuda, Kyle.

— Você é meu irmão, eu não te deixaria sozinho nessa. — O ruivo respondeu, sorrindo de volta.

Os dois sorriram um pro outro e deram um rápido abraço apertado, que era raro entre os dois desde que ambos cresceram. Mas durante esse rápido momento, Kyle mal podia acreditar que o irmão que ele sequer considerava no começo iria se tornar tão importante para ele.

— A festa é daqui a pouco, Ike. — Apontou Kyle, ainda sorrindo. — Você ainda quer ir?

— O que você acha? — Perguntou Ike, retoricamente. — Acha que deixaria de ir à melhor pizzaria da cidade?

O ruivo sorriu, e acenou para seu irmão quando ele saiu do quarto, dizendo que iria se arrumar já que sairiam logo.

A noite com certeza seria muito divertida naquele dia.