Spencer Sutherland escreveu sobre nós escrita por Biazitha


Capítulo 2
Eu fico inseguro e isso me deixa doente




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Tell me what you want, anything at all

I just need to know now

Are you freaking out?

O que mais um jovem cansado do ensino médio pode fazer em Konoha a não ser passar o dia todo no clube e torrar debaixo do sol?

— Deixa que eu bato! — Temari gritou com desespero, me deixando desestabilizado, e em seguida me empurrou para bater a bola no meu lugar. Jogávamos no mesmo time, mas a competitividade e a energia dela eram insuperáveis. Eu não conseguia acompanhar, por isso muitas vezes só deixava ela passar por cima de mim e fazer a jogada que queria para ganharmos. Diferente do time de boliche, no biribol nos dividíamos de outra forma: eu, Temari e Hinata contra Shikamaru, Shino e Ino. 

— Falta só um ponto para eles ganharem. Vamos, vamos. Façam alguma coisa! — A loira alta tentou nos animar ou ameaçar, não sabia dizer ao certo. Revirei os olhos enfezado. 

— Como se você fosse me deixar jogar... 

Tentei voltar para a minha posição de defesa e enquanto passava por Hinata — que era responsável pelo ataque — percebi que ela ria para mim. Tentei conter a animação por ter conseguido arrancar uma gargalhada dela; estava lutando para conseguir a sua atenção há um tempo. Repuxei os lábios em um sorriso de lado, pronto para soltar uma piada, mas quando abri a boca a maldita bola acertou a minha cabeça e perdi toda a postura. 

— Presta atenção, Kiba! — Temari voltou a gritar, grudando nas minhas orelhas e me chacoalhando com força. Fiquei ainda mais zonzo. — Eles acabaram de ganhar porque você não presta atenção.

Foquei nos outros três se abraçando e tentando pular em comemoração dentro da água. Dei de ombros, sem dar a mínima importância. O meu objetivo já havia sido alcançado.

— Você ‘tá bem? — A voz doce de Hinata sobressaiu toda a bagunça dos meus amigos e dos outros presentes no clube. 

— Nada que um milk-shake não resolva. — Sorri divertido, sentindo cada pedacinho do meu corpo derreter e depois congelar enquanto os olhos claros dela me miravam cuidadosos. — O de morango é mais eficiente do que qualquer remédio já inventado. 

— Você sabe que isso é mentira! — Fingiu-se de ofendida, juntando as mãos na frente do corpo de modo teatral. — O de chocolate sempre será a melhor opção. Leite combina muito mais com o sorvete de chocolate. 

Enquanto listávamos os nossos motivos e defendíamos o nosso sabor preferido de milk-shake, um grupo conhecido de colegas se aproximou. 

E, ah, não fui capaz de esconder o meu descontentamento quando vi a cabeleira loira de Uzumaki Naruto pular na água e emergir do nosso lado. Logo Rock Lee e Sarutobi Konohamaru também invadiram o nosso espaço, acabando com qualquer conversa ou diversão que tínhamos minutos atrás. 

— Ei, Ino... Temari! Vocês dois, venham aqui. — Começou a chamar os meus amigos para mais perto com um movimento de corpo exagerado. Troquei um olhar semicerrado com Shikamaru, que bufou incomodado também.

Ficamos alguns segundos em silêncio nos encarando. Aqueles três eram bem conhecidos pelo ego inflado e por terem conquistado algumas medalhas de futebol para o colégio, e a mistura dessas duas coisas só podia resultar em figuras excêntricas como eram. Nossos grupos não se misturavam, pouco interagíamos em qualquer lugar que nos encontrássemos, e aquele súbito interesse na gente não me cheirava bem. 

— Cara, todo mundo sabe que o meu aniversário ‘tá chegando e eu faço questão que vocês compareçam. — Naruto passou os dedos pelos cabelos úmidos e sorriu brilhante. Com certeza devia estar se achando maravilhoso demais. — Sábado que vem na minha casa.

— Vai ser do caralho! — Konohamaru vibrou e, como uma mosca pousando na minha sopa, começou a esfregar uma mão na outra. Ele tinha essa mania irritante de xingar a todo instante, parecia uma criança que havia acabado de aprender o que eram palavrões. 

— Obrigada. — A Yamanaka respondeu por nós, simpática. Esperei que eles saíssem dali, o que não aconteceu nem com toda a forte reza mental que eu fazia. 

— Você vai, né? Garanto que vai se divertir muito na festa. — Uzumaki se aproximou um pouco mais de Hinata e recebeu um aceno afirmativo como reposta. Eu sabia que não estavam ali à toa. — Vamos, está calor demais. Eu vou pagar um milk-shake para as meninas. 

— Se vocês quiserem acompanhar... — Rock Lee e seu cabelo de tigela completaram, no entanto estava mais do que óbvio que nós três não éramos bem-vindos.

— Deixa pra outro dia. — Murmurei desgostoso. 

A Hyuuga olhou-me por um tempo, tinha uma feição estranha, quase como um pesar em seus olhos. Sorri minimamente, forçado; havia perdido a vontade de ir até a lanchonete do clube e nem mesmo a mistura de leite com morango seria capaz de me animar. 

Os seis saíram da água e nos deixaram sozinhos para trás. Shino e Shikamaru quase me carregaram até as cadeiras de sol, estavam tão enfezados quanto eu.

Joguei-me de barriga para baixo e comecei a relembrar a última sexta. Depois do jogo de boliche Hinata perguntou se eu queria o meu suéter de volta, comentou que havia pensado em me devolver antes, mas gostava dele, e também que Ino só estava brincando. Pedi para que ela cuidasse bem dele e fui embora. O nervoso por quase tê-lo perdido para o lixo foi abafado pelo pensamento de que ela ainda o teria, de que talvez ficasse sentindo o meu perfume nele e sentia-se bem ao lembrar de mim.

Eu estava tentando dar um espaço para que ela percebesse que eu gostava dela de verdade, como namorada e companheira. Não queria que ela tivesse a impressão de que eu estava brincando com os seus sentimentos e que teríamos uma relação ioiô; queria ser levado à sério, do jeito que ela havia pedido.

Por Hinata eu tentaria ter calma para me expressar de forma direta e clara. 

— Você ‘tá fodido. — Shino constatou depois de uma meia hora que estávamos na mesma posição. Olhei-o de soslaio, tentando entender sobre o que falava e voltar à realidade. Busquei as suas esferas zombeteiras por detrás dos óculos escuros verdes que cobriam quase o seu rosto todo — ele parecia um besouro —, todavia não consegui nenhum contato visual. Só me era exposto o sorriso quase cômico do Aburame. 

— O que aconteceu?

— Boa sorte, camarão. — Foi o que me respondeu, fazendo menção com as mãos para que eu me virasse. 

Foi aí que eu percebi a merda. 

Tentei me mexer e um gemido sôfrego saltou de dentro de mim sem que eu me desse conta, no mesmo segundo os meus olhos ficaram ardentes e aguados. O calor subia, especialmente, das minhas costas.

— Eu não acredito que você esqueceu do filtro solar! — Shikamaru se deu ao trabalho de levantar da outra ponta e vir rir de mim, quase cuspindo na minha cara contorcida. Ele fez um movimento provocativo, tentando me tocar, e eu dei um berro tão desesperado que foi capaz de acabar com a sua brincadeira rapidinho. Ainda sim, os dois continuavam rindo. — Toda vez é a mesma coisa, ele nunca aprende. Esse menino é mais teimoso que uma mula. Olha só...

Eu continuava de barriga para baixo e contava apenas com a visão periférica para entender o que acontecia à minha volta. Vi três pares de pernas próximos a nós, não precisei racionar muito longe para saber quem estava ali para observar a burrice e rir de mim também. 

— Kiba! Eu devo ter um creme hidratante para te ajudar. — Ino avisou antes de sair correndo. Escondi o meu rosto entre os braços, dividido entre gargalhar ou chorar. Os outros murmuravam entre si e eu me mantive alheio, desaproveitando os minutos de dor e queimação.

— Posso passar em você?

Abri os olhos de supetão e acenei com a cabeça agitado, temendo que Hinata se arrependesse de ter oferecido ajuda caso eu demorasse demais para responder. Com pouco esforço as meninas empurraram a minha cadeira até estar debaixo do grande guarda-sol e sentaram conosco, iniciando um papo animado que eu não queria participar no momento. 

Senti o gelado do creme em meio a todo o fogo e não contive um suspiro. Ela continuava se preocupando comigo e cuidando de mim. Por que eu tive que ser tão bundão mesmo? 

— Você devia ter mais cuidado. — Resmungou ela enquanto esfregava as minhas costas. Sorri por cima do ombro, fazendo pouco caso. Os dedos finos encostavam na pele com certa pressão, mas traziam um grande conforto. — Não é a primeira vez que esquece do protetor.

— É sempre bom inovar. Vermelho é o novo preto. — Brinquei me sentindo instantaneamente muito melhor. Era a primeira vez, em muitos meses, que a Hyuuga encostava em mim e agia de forma mais natural; estava tão gostoso que quase acabei pegando no sono. 

— Eu... Ahn... Você vai na festa do Naruto? — Indagou incerta, depois de um tempo, ainda massageando a minha vermelhidão. Contorci o rosto em uma careta, pensativo. 

— Acho que sim.

— Que bom. — E aquela resposta com um visível alívio na voz foi o suficiente para me deixar flutuando nas nuvens. Fechei os olhos e me deixei embalar na música aconchegante que saía das caixas de som.


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: https://youtu.be/VyHxSb5VSDs



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