Lena escrita por Rapha Jorge
— Estou falando com você, Milena._ Seu pai falou, enquanto a garota permanecia estática_ Roger veio te conhecer.
— É um prazer._ O jovem se aproximou e beijou a mão de Milena.
— Pra mim seria um prazer se eu não soubesse o verdadeiro motivo de você querer me conhecer._ Ela soltou sua mão da de Roger_ Muito obrigada, sendo assim, não tenho interesse.
— Milena!_ Seu pai a repreendeu_ Só um instante, Rogério, preciso falar com a minha filha._Ele falou para o homem de bigode parado ao lado de Roger, seu pai_ Eu acabei não conseguindo avisá-la da sua vinda antes. Milena, me acompanhe por favor.
— Qual a necessidade, papai? Eu já entendi. Não sou tonta como você imagina.
—Milena! Agora. Me acompanhe._Ele falou pausadamente e logo depois se virou para a esposa e o filho, sentados silenciosamente no sofá menor_ Rodrigo, Sônia, fiquem com eles, por favor.
Lena revirou os olhos e acompanhou o pai até o escritório. Lá, ele a empurrou para dentro e bateu a porta.
— Não precisava me trazer aqui, eu já entendi tudo.
— Da próxima vez que me desafiar na frente das pessoas, não vou me preocupar em fazer cerimônia antes de te dar a surra que você merece!
— Se fizer isso, não vai conseguir me trocar por benefícios políticos.
— Não ouse repetir isso! Depois conversamos! Já que já sabe o motivo, finja ser educada pelo menos para conhecer o seu pretendente.
— E o que eu ganho com isso?
— Não ganha nada, mas deixa de ganhar uma surra ou perder a liberdade que o seu irmão conseguiu que eu te desse com o passar dos anos.
— Pois é. Antes eu vivia em regime fechado, agora vivo em um semiaberto. Puta mudança...
— Se continuar com esse vocabulário, te entrego pro Roger agora.
— Vai me entregar de qualquer forma._ Ela falou com desdém, enrolando uma mecha de cabelo.
— Mas pelo menos terá a chance de se despedir dos seus amiguinhos favelados. Agora vá. E não quero ouvir nenhuma reclamação do Roger.
— Aquele sardento tem cara de insuportável.
— Então comece desde já a se acostumar com a forma dele de ser.
— Não vou te perdoar nunca por isso. E nem a mamãe, mesmo que ela finja que está feliz o tempo inteiro pra te agradar.
— Vai logo, garota maldita!
Milena secou a lagrima que tentava fugir de seu olho esquerdo, respirou fundo e andou em direção à sala onde estava seu pretendente.
— Desculpa pela minha reação, não passou de um mal entendido._ Roger seu nome, não é?_ Ela se aproximou para abraçá-lo.
— É sim. É um prazer._ Ele a abraçou e deu um suave beijo no rosto da garota.
— Milena,_ Sua mãe a chamou_ leve o Roger pra conhecer a fazenda à cavalo.
— Eu..._ A garota olhou para seu pai, que estava sentado em sua poltrona, sempre com o olhar severo e assustador_ Claro... Vamos. Vou pedir pra prepararem seu cavalo.
— Sim. Obrigado._ Ele se levantou_ Com licença.
Os dois saíram e foram buscar os cavalos. Como o funcionário encarregado não estava, Milena começou a encelar o animal.
— E você sabe encelar cavalos?
— Sei._ Ela continuou colocando os equipamentos, sem nem olhar para o pretendente_ E fique tranquilo, você não vai cair. Se eu te derrubar, meu pai me mata._ Ela balançou tudo para ver se estava bem firme_ Já pode subir, e me fala se tá firme.
O jovem subiu no cavalo e se balançou para confirmar se estava bem preso. Confirmado, Milena pegou outro cavalo e também subiu nele.
— Já podemos ir._ Ela falou.
— E você? Não vai colocar equipamentos pra se firmar?
— Não.
— E você não cai?
— Se eu cair vai ser a melhor coisa que poderá me acontecer.
Ela se virou e saiu com o cavalo, acompanhada por Roger.
...
— O que aconteceu de tão grave pro Rodrigo precisar ir até a estufa buscar a Lena?_ Henrique se preocupava enquanto jogava dardos em um alvo pendurado na porta de seu quarto_ Não deve ser nada, vou dar um passeio à cavalo pra parar de pensar bobagem.
Ele se levantou da cama, vestiu a camisa e saiu para cavalgar.
...
Após algum tempo de passeio, Lena e Roger passaram por um lugar no alto de um monte, do qual se tinha uma linda vista da paisagem. A vários metros dali, mas ainda no campo de visão, estava a estufa na qual ela e Henrique se encontravam.
— Podemos parar aqui?-_Roger perguntou.
— Pra quê?
— Admirar essa linda paisagem.
— Se insiste...
Ela desceu do cavalo em um pulo e amarrou o animal em uma árvore. Roger fez o mesmo. Depois, os dois assentaram em uma cerca de madeira de frente para uma imensidão de verde.
—Por que você é assim?
— Assim como?_ Ela se fez de desentendida.
— Seca... Fria...
— Você não imagina?_ Milena olhou com ironia no olhar.
— Nossos pais querem nosso casamento.
— E você tem cara de quem está amando essa "obrigação".
— Pareço estar me aproveitando da situação?
— Quer sinceridade?_ Ele assentiu com a cabeça_ Pra mim você não passa de um mauricinho insuportável e encalhado. Seu pai não quer que você termine sozinho e, por isso, é capaz de "comprar uma noiva" pra você em troca de apoio político.
— E você se incomoda com essa situação?
— Só me incomodo com o fato de EU ser a noiva comprada.
— Não sou tão ruim assim... Sou rico, bonito, inteligente, simpático...
— Exibido..._ Ela falou olhando para a paisagem, como se não se importasse em estar magoando ou não.
— Não sou exibido... Pelo menos, isso é o que todo mundo fala de mim.
— Com "todo mundo" você quer dizer seu pai e os bajuladores da sua família?
— Vai continuar arisca assim por quanto tempo? Até eu falar com o meu pai que não quero me casar com você?
— Seria uma excelente ideia. Eu poderia ter pensado nisso antes...
— Sinto em informar que, da mesma forma que você não pode recusar se casar comigo caso eu faça a proposta, não é tão fácil pra mim simplesmente não te pedir em casamento.
— E o que isso significa? Que você não me quer como sua esposa de livre e espontânea vontade?
— Não exatamente. Eu adoraria ter uma mulher bonita como você ao meu lado...
— Como um enfeite pra mostrar aos seus amigos riquinhos? Ou porque você acha que eu sou melhor na cama do que outras mais feias que eu?
— Talvez...
Quando Roger disse isso Milena o olhou com ódio nos olhos, como se quisesse bater no rapaz, mas algo chamou mais sua atenção do que a raiva: uma linda silhueta iluminada pelo sol, que ia a cavalo até a estufa. A garota olhava fixamente e mordia o lábio. Sim. Aquela silhueta podia ser reconhecida a quilômetros. Era o homem que ela amava. Aquele com quem ela se casaria sem hesitar. Era Henrique.
Roger começou a ficar incomodado com a situação. Sua futura esposa olhava para outro homem e mordia o lábio, sem reparar na presença do rapaz ao lado.
— Pode me explicar quem é aquele cara?
— Que cara?_ Milena pareceu ter acordado de um feitiço.
— Aquele a cavalo pra quem você tanto olha. Estava até mordendo o lábio.
— Que bobagem..._ Ela sorriu, tentando despistar_ Eu tava exatamente tentando ver quem era. Mordi o lábio porque não tava conseguindo enxergar.
— Me responde uma coisa?_ Ele desceu da cerca e se colocou de frente para Milena_ Pra enxergar alguém, você precisa parecer que vai dar pra essa pessoa?
— Do que tá falando?
— Você sabe muito bem do que eu tô falando! Você sabe muito bem quem era! E sabe como eu sei disso? Porque você sorriu e mordeu os lábios, sua cachorra!
— Você é louco, e imagina coisas que nunca existiram!
— Você é uma vaca!
Ao escutar isso, Milena deu um tapa na cara de Roger e tentou descer da cerca. Mas ele foi mais rápido, segurou a garota pela cintura e ficou entre suas pernas.
— Você não sabe com quem está lidando, mimado idiota!
— A partir de agora, você só abre as pernas pra mim.
E a beijou.
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