Pamela Isley não estava nem atenta. Só regava as plantas da estufa pela manhã, quando Harleen Quinzel se sentou numa cadeira e ficou em silêncio, o que já era estranho.

Com os braços cruzados e um bico enorme, passou a suspirar alto. Pamela estava lá no alto, elevada por uma de  suas trepadeiras para alcançar as outras. Olhou a esposa lá embaixo, pressionou os lábios para não rir do comportamento infantil dela. 

Hera Venenosa usava camisola verde e o penhoar da mesma cor por cima, mas Harleen nem estava com sua rosinha transparente com a qual tinha dormido e a deixava maravilhosa no ponto de vista de Hera. Estava vestida de Harley, de Arlequina; o short, as botas, regata, tudo intercalando as duas cores, os losangos estampando e até o martelo estava ali no canto. Estavam claras as suas intenções. Harley nunca foi muito sutil.

— Querida, o que foi?

Tinha um ar de vitória nela quando Hera lhe deu finalmente atenção.

Chegava ser cômico e adorável vê-la assim.

O que Pamela poderia fazer se sua esposa era tão adorável? (Diferente dos demais humanos que não suportava).

— Vamos sair? Mexer com a cidade!

— Lembra que estamos tentando ser discretas por hora, Harley?

Em resposta ela bufou alto voltando a cruzar os braços e bater os pés com força no chão fazendo birra.

— Ser discreta é um porre! Estou entediada.

— Não é difícil você se entediar, deveria se acostumar a dar umas pausas.

— Eu gosto de pausas! Amo férias! Lembra quando a gente viajou pro México?

Pamela inclinou a cabeça ao se lembrar e encarou Harleen:

— Não foi por quê estávamos fugindo do Asa Noturna?

— Hm… é só uma observaçãozinha, pequeno detalhe insignificante em nossas férias.

— Fuga. — a corrigiu.

— Você captou. E na verdade foi… até melhor! Todas aquelas sirenes e a agitação, foi bem animado e divertido, podíamos — se levantou num salto só erguendo suas pernas usando-as num impulso de ginasta — fazer algo assim de novo, tipo hoje.

— Concordo.

Harley bateu palmas animada, até ouvir ela terminar de falar:

— Mas não hoje.

E brochou como uma das plantinhas da bela Hera.

— Um sequestrinho?

— Não.

— Um roubinho?

— Não.

— Nem num banquinho?

— Querida?

— Sim? — Fez pose piscando os longos cílios.

— Hoje não.

— Aaaaah, red! — Se retirou da estufa pisando duro.

Pamela só cobriu o rosto com a mão se divertindo com a situação.

Sabia ao ouvir ao longo o som do motor da moto que sua querida saiu a passeio, o que levou um tempo e quando chegou saiu novamente com as suas hienas. Era bom que ela estivesse se distraindo por ai, porém Hera estava preocupada com que Arlequina poderia fazer em suas saidinhas.

Os planos estavam sendo deixados para depois, era importante não atraírem problemas por enquanto. Batman estava sempre se preparando e de olho nas ruas de Gotham, então não faz sentido sair fazendo crimes por impulso se pode os calcular antecipadamente.

Harleen Quinzel era uma mulher extremamente inteligente, entretanto impulsiva. Deveria se preocupar?

A Hera Venenosa estava sentada nos galhos de árvore, aproveitando a luz do Sol. Estranhou o tempo que Arlequina tinha voltado do passeio com as hienas, mas ainda estava em silêncio.

Pode ouvir os passos dela se aproximando e olhou para baixo notando como ela mordia a própria bochecha, os joelhos juntos, esfregando uma mão na outra. Sua postura visivelmente nervosa, ainda mais ao olhar para cima e lhe encarar, desistindo logo em seguida olhando para o chão.

Era o que faltava…

— Ruivinha?

Suspirou ao ouvir ela chamar tão receosa. Girou os olhos e massageou as têmporas.

O que ela teria aprontado?

Se estava apreensiva deve ser maior do que uma briga de trânsito e acerta um idiota com um martelo ou bastão num bar. Não ouvia sirenes, ou seja, a polícia não estava atrás, mas podia significar coisa pior. Eles são fáceis de enrolar, mas a Super Girl vindo pelos céus atrás delas, ou ainda pior, a Mulher Maravilha? Não eram.

Já pensava nas plantas carnívoras e as venenosas que poderia usar. Só precisava entender primeiro o que se passava.

Como a mão fez festo incentivando as raízes fortes abaixo da Arlequina crescerem tanto ao ponto de a erguerem e ela ficar diante de si. Harleen nem sabia dizer se era bom isso, porque por um lado estar a altura do olhar de Pamela era menos estranho do que vê-la de cima com sua postura soberana, por outro lado era mais difícil de fugir da encarada dela tão próximas assim e de como ela ficava brava.

— O que foi?

Engoliu em seco.

— Eu fiz uma coisica.

— Hmm… — batucava o galho onde apoiava o braço. — Me conte mais.

— Você vai ficar brava.

— Talvez não.

— Mas talvez sim?

— … eu não sei. Só me diga.

— Não é tão fácil.

— Harley… 

— Ok, ok! — Respirou fundo tomando coragem e disse num fôlego só. — Me desculpa, red, mas eu fiquei sem nada para fazer que… o iogurte acabou!

Ficaram um tempo em silêncio.

Pamela Isley estava boquiaberta:

— O que?

— Eu sei, eu sei, me desculpa. — Harley já chorava deixando a sua amada mais perdida ainda.

Fez a raiz a trazer mais para perto. Harley se sentou ao seu lado no grosso galho.

— Eu não fui uma boa namor-, quero dizer, esposa hoje.

— Se acalme, não é o fim do mundo. — Sentia pesos saírem de seus ombros. Felizmente tinha se preocupado à toa dessa vez. — Céus, era só um iogurte.

— Mas você estava guardando para mais tarde, seu favorito.

— Nosso favorito. — Passou o braço por cima dos ombros dela. — E existe algo chamado mercado, não se condene assim. — E a abraçou.

— Eu sei, eu fui comprar, mas não achava o do sabor tutti-frutti mais. Então te trouxe de coco que era o que tinha.

— E está ótimo. — Beijava sua testa. — Tolinha. Uma rainha do drama.

E sendo uma dramática passional adorando o aconchego e carinho que recebia, tirou proveito, puxou a Pamela para um intenso beijo, mordiscando seus vermelhos lábios os deixando ainda mais vermelhos de tanto beijá-los, assim como o pescoço dela que passou a atacar.

— Minha maluquinha é tão atrevida…

— Não viu nada, meu amor.