As Quatro Sessões escrita por ingridsousa
POV: Nicole
Victor Duarte tinha 16 anos. Ele mesmo tinha solicitado o atendimento com a autorização de sua mãe, o que já considero um ótimo passo para iniciarmos. Ele sabe que tem alguma coisa. Minha estratégia em todas as primeiras sessões é muito simples: descreva como foi o seu dia.
— É a minha primeira vez em um consultório assim. Eu tô meio nervoso. - disse ele balançando os dedos no sofá.
— Não se preocupe com isso. - respondi. - Com o tempo você vai ver que esse é o lugar mais confortável que sua mente poderia conhecer.
— Que bom. - ele deu um sorriso nervoso.
— Então, qual é o primeiro passo? Eu vou ter que interpretar algumas pinturas ou algo do tipo?
— Vamos começar com o seu dia. O que você fez hoje?
— Bom, eu acordei, tomei café, tomei banho, claro...
— O que você tomou no café?
— Ovos e suco.
— Ok, continue.
— Então, eu peguei minhas coisas e vim para cá.
— Com a sua mãe, certo?
— Sim.
— Ótimo e como foi a viagem?
— Bem, ela dirigiu. A gente não fez muitas paradas... Como exatamente quer que eu descreva?
— Do jeito que está falando já está ótimo. - comecei a fazer anotações. - Então, Victor, o que o trouxe aqui?
— Eu tenho problemas.
— Que tipo de problemas?
— Eu não sei... É muito complicado.
— Sem problemas, vamos descomplicando aos poucos. - me inclinei mais um pouco. - O que você acha de... me dizer as situações que te deixaram desconfortáveis?
— Bom, eu... discuto com os meus amigos, sabe... direto. É eu não sei, eu... sinto que eu nunca consegui os amigos que eu quero, sabe, companheiros, leais...
— Então, você se acha incompreendido?
— E injustiçado. Eu sinto que eu mereço coisa melhor... Ou talvez não.
— E por que não?
— Porque talvez eu seja ruim demais para eles.
— Então você quer encontrar amigos que o faça se sentir equilibrado?
— Não, acho que não. - ele abaixou a cabeça. - Eu não sei.
— Vamos começar de novo. Me descreva as experiências que você passou com seus amigos.
E assim foi a sessão. Ele se abriu para mim a respeito do seu círculo de amizades. Eu já tinha diversas informações para investigar sobre ele e sua conduta social. Essa é uma esfera primordial para ser estudada. Preparei meus livros na mesa de escritório, enquanto isso, meu secretário foi até minha sala para compartilhar uma informação.
— Dra. Fernandes. - disse ele, aparentando estar bem apreensivo. - É da Universidade de Northwestern.
— O que eles querem?
— Eu acabei de transferir a ligação. - ele se retirou e meu telefone tocou.
Sem muitas expectativas sobre a ligação, atendi o telefonema.
— Hospital Infantil Prosperidade, setor psicólogo, Dra. Fernandes, como posso ajudar?
— Muito prazer, sou o reitor da Universidade de Northwestern, venho lhe comunicar que seu hospital foi selecionado para receber um de nossos estagiários.
— Sim, eu fui informada há uma semana.
— Porém, devido a um contratempo com o Departamento de Transportes teremos que transferir nosso aluno mais cedo.
— E que contratempo foi esse?
— Informaremos com mais formalidade na nossa carta de apresentação, mas é importante que saiba que lamentamos muito pelo contratempo.
— Sem problemas. Com quanta antecedência o estagiário chegará?
— Já deve estar pousando.
— Pousando? Ele veio de avião para Chicago?
— Não, a distância é insignificante para levarmos de avião.
— Então, onde ele vai "pousar".
— No terraço do hospital. Ele está indo de helicóptero.
— Como?!
Me apressei imediatamente antes de terminar a ligação. O Hospital é muito rígido em questão da utilização dos recursos do prédio. O setor de Psicologia é de longe o menos valorizado. Se descobrissem que uma Universidade estava ocupando o espaço de pouso de helicópteros de emergência médica para trazer um estagiário de Psicologia, por mais interessante que isso soe, não irá soar nada bem para o meu chefe.
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Espero que tenham gostado, até a próxima!