Macarons e chocolates escrita por Aislyn


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O vídeo havia terminado há alguns minutos, mas Hayato permanecia encarando a tela do notebook, soltando um suspiro vez ou outra. O primo havia lhe indicado o anime e, a princípio, não levou muita fé. Ele comentou sobre a história e lhe pareceu interessante, mas não tinha o costume de ver tantos animes. Aquela foi uma boa surpresa. O protagonista, um joalheiro, era um dos tipos de homem que considerava ideal; que Takeo, seu namorado, não ouvisse seus pensamentos. Era educado, gentil, cortês, bonito… ah, aqueles olhos ora azuis, ora verdes… Izumi não se esforçou em conter outro suspiro.

 

O ponto curioso do personagem era a semelhança com seu sócio da cafeteria. Não que ficasse suspirando por ele ou que tivessem a mesma educação, mas pela aparência. Ambos loiros e de olhos claros, além do apreço por ternos.

 

Fechou o notebook com um último suspiro, se forçando a ir trabalhar. Não podia deixar o café nas mãos do namorado sozinho por muito tempo. Ele tendia a querer testar novas misturas com a bebida. Contudo, sua mente permaneceu na história durante todo o percurso, lembrando da cena final: um amigo do joalheiro comentou a respeito de chocolates e ele se prontificou em aceitar os doces, caso lhe fossem oferecidos. E novamente a semelhança com seu sócio veio à tona… Será que Mikaru aceitaria chocolates também?

 

— Takeo, Takeo, Takeo! – Hayato abordou o namorado, todo animado – O que acontece se a gente der chocolates pro Mikaru?

 

— Ele vai comer, é claro. – Takeo respondeu rindo, imaginando de onde veio aquela ideia. Ele sabia que Mikaru gostava de doces, mas imaginou que o amigo podia negar caso eles viessem de Hayato. O amigo e o namorado não se davam tão bem, apesar de ultimamente se tratarem como… adultos, na falta de uma palavra melhor.

 

— Vamos mandar alguns pra ele no Valentines?

 

— O que você espera conseguir com isso?

 

Hayato se fez de chocado, afirmando que o presentearia com a melhor das intenções, apenas imaginando se Mikaru ficaria feliz com os doces. Takeo sugeriu alguns recheios que sabia que o amigo gostava, mas Hayato chegou à conclusão que compraria macarons, o que gerou o comentário irônico de Shiroyama sobre obtê-los em tom pastel, o que deixaria tudo mais fofo.

 

Após uma rápida inspeção no salão da cafeteria, o casal subiu para a gerência para lidar com a papelada do dia, alheios ao fato que alguns funcionários ouviram o assunto tratado a pouco.

 

— Será que podemos dar chocolates também? – Miura comentou baixinho com uma colega, pensando que, se os sócios dariam doces em uma data como aquela, não teria problema ela presentear também, teria?

 

Era algo pessoal, notar que o chefe não era o carrasco que pintavam. No começo, quando foi trabalhar ali, ela também tinha certo receio, para não dizer medo de falar com Mikaru. Ele era sempre sério e de poucas palavras, de modo que ela não sabia se aproximar. O tempo e várias circunstâncias a mostraram que ele não era o que parecia à primeira vista. E fazia algum tempo que procurava uma forma de se desculpar por tudo de ruim que pensou a respeito dele… Será que podia mesmo aproveitar aquela oportunidade?

 

— Ele aceitou o mochi que fiz no outro dia e até elogiou. – Saki acenou em afirmação, gostando da ideia – Eu não me importaria de fazer alguns pra ele. Sabe, como forma de agradecer às folgas extras, mesmo que a gente tenha trabalhado um monte antes.

 

— Será que as outras meninas querem participar também? – Miura pareceu se animar mais depois da confirmação da colega, e não ficaria tão envergonhada se ele recebesse chocolate ou doce de outras pessoas – Vamos falar com elas!

 

* * *

 

Takeo não precisou de muito esforço para convencer Mikaru a cuidar da cafeteria naquela fim de semana. Seria o sábado após o Valentine's e o local ficaria cheio de casais, assim como foi naquele dia. O movimento esperado era grande, já que a data caiu durante a semana e várias pessoas viriam aproveitar no dia seguinte, mas tinha certeza que seria fácil de lidar, já que estariam mais ocupados com a pessoa amada do que qualquer outra coisa. Ou era isso que Takeo imaginava.

 

Na verdade, Shiroyama não estava muito preocupado com a cafeteria, e sim com o encontro que teria com Izumi no dia seguinte.

 

O trio de sócios se reuniu na noite de sexta para repassar algumas informações, confirmando também a escala do dia e os pratos que seriam servidos e enfeitados. Miura, a supervisora, também estaria escalada para aquele dia, então Mikaru não estaria realmente sozinho. Só precisava ficar de olho no movimento, instruir algum funcionário e resolver problemas com clientes, caso surgisse.

 

— Não vai sair com Kasuya amanhã? – Takeo questionou enquanto organizavam a cafeteria para fechar, recebendo um olhar confuso.

 

— Ele vai trabalhar. Amanhã não é feriado. – Mikaru esclareceu, guardando alguns papéis além do notebook na mochila.

 

— Sim, eu sei, mas estamos falando de Valentine’s! Pelo menos comprou chocolate pra ele?

 

— Por que eu faria isso? Ele pode comprar sempre que quiser.

 

Takeo pareceu travar por um instante. Era o que havia entendido mesmo? Aquilo significava que Mikaru nunca havia dado chocolates para o namorado? Nunca passaram a data juntos?

 

— O que vocês costumam fazer no Valentine’s? – talvez eles tivessem algum costume só deles. Então não seria um caso perdido.

 

— É só uma data comercial, Shiro.

 

Shiroyama abriu a boca, mas preferiu não falar nada. O amigo, na maioria das vezes, era um caso perdido no quesito romantismo.

 

— Tenho pena do Katsuya… – Takeo murmurou mais para si, não conseguindo evitar um sorriso travesso com o pensamento que cruzou sua mente. O jeito seria convencer o rapaz a comprar os doces, assim como ele e Hayato fizeram – Eu vou pegar minha mochila lá em cima.

 

Hayato parecia estar esperando aquela brecha. Assim que o namorado subiu as escadas, se aproximou de Mikaru, que ficou aguardando em uma mesa do salão, sentando ao seu lado e pousando a mochila no colo.

 

— Tem certeza que não se importa de cobrir o turno pra gente amanhã? – Hayato questionou tentando não mostrar interesse na resposta, mas como de praxe, recebeu um olhar enviesado – No último feriado eu meio que decidi sozinho, não queria fazer isso de novo.

 

— Eu não me importo. Não precisa fingir que se importa também.

 

— Gentil como sempre… – Hayato revirou os olhos, apertando a mochila contra seu corpo – É só pro caso de você ter planejado algo com o Katsu… ou vão sair hoje?

 

Outro olhar enviesado. Mikaru odiava quando Izumi se dava aquelas liberdades e chamava seu namorado por apelidos.

 

— Não planejamos nada, não vamos fazer nada. Satisfeito?

 

Satisfeito? E como estaria? Decepcionado era o correto. Mikaru ainda precisava melhorar.

 

Passos descendo a escada e Takeo pousou no salão após pular os últimos degraus, fazendo barulho desnecessário. Aquele era o sinal.

 

— Bom, melhor eu ir. – Hayato voltou a se levantar, olhando para o namorado que o chamava enquanto caminhava para saída, a seguir encarando Mikaru, a coragem se esvaindo – Bom… a gente se fala…

 

— Não se depender de mim. – Kazunari se levantou também, visto que os funcionários só estavam esperando os chefes para poderem realmente fechar as portas.

 

— Grosso. Está precisando adoçar sua vida! – Hayato abriu a mochila, retirando um embrulho de dentro e empurrando nas mãos do sócio – Pra você.

 

Mikaru quase não conseguiu segurar o pacote, tão abrupto que foi estendido em sua direção. Lançou um olhar reprovador para Izumi e tentou lhe perguntar o que era aquilo, mas o sócio já havia caminhado para a saída, olhando uma única vez por cima do ombro antes de sair do estabelecimento.

 

Hayato sabia que não era seguro permanecer por perto, ainda mais depois de provocá-lo. Queria ficar para ver sua reação ao abrir o presente, mas não seria uma boa ideia. Teria que descobrir depois por Takeo ou Katsuya, já que o sócio certamente comentaria com os dois a respeito dos doces.

 

A caixa em vermelho e marrom tinha um laço exagerado na parte de cima e exalava um cheiro doce bastante atrativo, mas Mikaru não confiava no conteúdo. Havia um cartão preso entre as fitas que talvez explicasse aquela atitude. Guardou-o na mochila. Ia ligar para Takeo quando chegasse em casa, para confirmar se ele fazia parte daquilo e se era seguro abrir.

 

* * *

 

Após três ligações que chamaram até cair na caixa de mensagens, Mikaru desistiu de falar com o amigo. Do jeito que Shiroyama era, não ia esperar até o dia seguinte para comemorar a data. Mesmo que atualmente estivesse namorando, Mikaru não entendia aquela animação com as festividades. Podia aproveitar com Katsuya sempre que quisessem e estivessem ambos livres. Sem contar que essas comemorações deixavam os lugares cheios e impossíveis de frequentar.

 

Ignorou a existência do pacote naquela noite, pois teria outras oportunidades de abordar o amigo, contudo, a manhã seguinte na cafeteria o deixou apreensivo ao entrar na sala da gerência e encontrar três pacotes sobre a mesa, todos com bilhetes com seu nome. Pegou o primeiro e abriu o envelope, mas não havia remetente. Na verdade não havia nada, fosse uma assinatura ou mensagem, nada além do seu nome. Aquilo só reforçou a ideia de que estavam brincando consigo. Izumi colocou o plano em prática e devia ter seguidores que acharam divertido imitá-lo. Era aquilo que podia esperar de alguns funcionários no fim das contas, não gostavam dele e aproveitavam as ocasiões para zombar.

 

Mikaru colocou os pacotes em cima da impressora, bem longe de suas vistas, após descartar o primeiro pensamento de jogar tudo no lixo. Pra ele já bastavam as brincadeiras de Shiroyama. Abriu o notebook para adiantar a parte da papelada que Izumi deixou do dia anterior e, assim que ficasse livre, iria ajudar Miura com o salão. A moça conseguia se virar bem sozinha, mas não podia deixar tudo pra ela, ainda mais num dia onde esperavam um grande movimento.

 

Desceu para o salão da cafeteria na hora do almoço, precisando caminhar próximo ao corredor da parede para se locomover. Estava mais cheio do que imaginou. Liberou a supervisora para sua hora de pausa após perguntar sobre o andamento do dia, escolhendo um canto próximo ao balcão para se acomodar. Odiava aglomerações e mais ainda as cenas que se desenrolavam entre os casais nas mesas. Alguns adolescentes estavam fazendo ele sentir vergonha de estar no ambiente. Não ficava se agarrando com Katsuya perto dos sogros, menos ainda perto dos amigos ou de sua cunhada, não conseguia nem se imaginar fazendo aquilo em público.

 

Desviou o olhar, focalizando nos funcionários atrás do balcão e nos que andavam entre as mesas, levando os pedidos nas bandejas. Miura disse que não havia faltado ninguém, então conseguiriam lidar com o movimento, mesmo com as pausas para almoço e jantar. E o alívio só veio quando chegaram ao fim do expediente e tudo correu tão bem quanto o esperado.

 

Deixou a equipe cuidando da organização no salão para fecharem em breve, subindo para a gerência junto com a supervisora. A moça precisava pegar sua bolsa e ele a mochila, além de desligar e trancar tudo por ali.

 

— Kazunari-san, não gosta de doces? – Miura se atreveu a perguntar enquanto vestia o casaco, encarando o chefe que a esperava ao lado da porta, distraído com o celular. A moça imaginou se ele estava mandando mensagem para Kurosaki. Os dois também deviam fazer algo para comemorar a data, não é?

 

— Ah, sim gosto… – Mikaru a encarou após guardar o celular no bolso, sem entender onde ela queria chegar. Talvez perguntar se presentearia o namorado ou se havia ganhado algo dele, supôs.

 

— Não vai levar pra casa? – Noriko pegou os pacotes abandonados na impressora, sentindo-se envergonhada. Talvez não tivesse sido boa ideia.

 

— Não. – a resposta veio direta, confirmando as suspeitas da moça – Izumi deve ter sugerido alguma brincadeira e alguns funcionários acharam divertido me zombar. Não tenho certeza do conteúdo, mas é melhor não descobrir. Está pronta? – Kazunari indicou a porta, mostrando que apenas a esperava para sair.

 

— Ah, não! Não é uma brincadeira! Esses são meu e de outras meninas. – não sabia se ficava aliviada por ser um mal entendido ou com vergonha por assumir pessoalmente.

 

— Seu?

 

— Isso… bom, a ideia pode mesmo ter partido de Izumi-san… Ele perguntou a Shiroyama-san sobre você gostar de doces e o que aconteceria se te desse alguns. Eu acabei ouvindo e achei que não teria problema dar alguns também… sabe, pra compensar… porque a gente meio que falava mal sem te conhecer…

 

Era melhor calar. Estava falando demais e se enrolando com as palavras, além de se sentir muito constrangida. O chefe não havia saído de perto da porta e nem dito nada e agora não queria encará-lo. Ele a julgaria muito intrometida? Ou talvez pensasse errado devido à data.

 

Pegou os pacotes nos braços, pensando em devolver para as colegas. Explicar que o chefe não ia aceitar. Podia contar que ele estava namorando e não queria ser mal interpretado. Não era de todo mentira, mas evitaria que pensassem mal a respeito.

 

— Eu vou levar. – Mikaru resmungou após um instante de silêncio, se aproximando para pegar as caixas e afastando sem encarar a moça, parando novamente na entrada – Pegou tudo? Vamos.

 

Se fosse algo vindo de Izumi, realmente não consideraria confiável. Não se davam bem e não gostava de nada que partia do sócio, mas se viera da supervisora e ela conhecia os remetentes dos outros presentes, então não precisava ficar na defensiva.

 

Mikaru resmungou um ‘Feche tudo’ quando chegou ao pé da escada e um ‘Boa noite’ antes de passar pela porta, ainda sem lançar nem um olhar em outra direção que não fosse o caminho que seguia.


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Notas finais do capítulo

História em dois capítulos! O próximo será postado amanhã, que é o Valentine's Day oficialmente.

Espero que tenham gostado! E se gostaram, não deixem de me contar! ♥



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