Quando seus olhos encontram os meus

É difícil para mim enxergar outras pessoas

Ah, meu amor, enquanto você está comigo eu vi o suficiente

E meus olhos te dizem "é isso"

Sasuke levou o áraque até a boca, saboreando seu gosto forte. 

Ele não tinha se sentindo inclinado à visitar esse restaurante árabe, cuja divulgação incluía muitas garotas com suas barrigas à mostra e tops brilhantes, até o irmão, um degustado assíduo, garantisse que seria divertido. 

Certamente, Sasuke precisava de diversão. 

Os papéis estavam se acumulando no canto de sua mesa de madeira talhada, muito antiga, e ele começava a se questionar se assumir o posto de vice presidente tinha mesmo valido a pena.  Itachi não costumava responder diretamente seus desejos de largar tudo e ir viver como um nômade, simplesmente o arrastava para um lugar novo, a fim de demonstrar que, bem, algumas coisas valiam a pena, sim, nessa vida.

Quando o Uchiha entrou, se viu cercado por um forte cheiro de incenso, canela e erva-doce misturados como uma única essência, queimando todos o espaço de sua boca e narinas. Foi como adentrar num mundo completamente novo; tecidos se desprendida do teto e a luz avermelhada, brilhando em fogosos tons de laranja, o acolhia como se cantasse "bom dia" no lóbulo da sua orelha. Era tudo quente, apimentado, e logo tinha tirado sua gravata e guardando dentro de um dos bolsos internos do paletó. Uma percurso encheu seus ouvidos, antes mesmo da hora das apresentações começarem – o derbake, seu irmão murmurou, com um sorriso, ao ver que Sasuke procurava as caixas de som com os olhos. É claro, elas não estavam lá. Um grupo, em roupas tradicionais, fazia a música ao vivo.

A comida trouxe sensações mistas em sua boca; quando misturada com a bebida, ele soube que foi feita para seus consumida assim. O gosto agridoce deixou seus lábios formigando, mas era bom demais para ele parar apenas no primeiro prato e, sorrindo para o irmão, que tinha desabotoado a camisa e falava da loira impressionante com quem estava saindo, eles pediram por mais. 

Sasuke não imaginou, no entanto, que sentiria todos os seus sentidos tão despertos, como nunca antes, quando as apresentações começaram. As dançarinas se dividiam em grupos e em solos; havia muitas garotas japonesas e mestiças, mas de linhagem árabe, com suas peles bronzeadas e olhares instigantes, eram a atração principal. Pareciam respirar o ritmo da música em cada momento em que mexiam seus quadris e sorriam, batendo-os no ritmo da flauta. Ele nunca teria imagino o quão glamuroso tudo podia ser. Era brilhante, colorido, e cada nova dançarina que sorria para ele, para os homens e famílias ao redor do palco, fazia com que fosse impossível que ele desviasse os olhos.

Na oitava apresentação, imaginou que nada seria capaz de superar o modo como aquela mulher, de vermelho, equilibrava a espada em sua cabeça, no osso do quadril, e então nos seios tímidos. Não, aquilo era impressionante. Como alguém podia ser tão graciosa com uma arma letal servindo de mero acessório?

Sasuke aplaudiu, ouvindo os gritos incomuns das mulheres no recinto, parecia um "lililili" interminável. 

— É o zaghrouta – Itachi explicou, quando o viu franzir as sobrancelhas, com um pequeno sorriso. O Uchiha se perguntou como o irmão podia saber tanto sobre aquela cultura tão diferente; mas tudo era explicado porque sabia que Itachi era incapaz de trabalhar preso numa mesa de escritório. – Elas estão saudando a bailarina.

O caçula assentiu, entendendo porque parecia que o grito ecoava dentro de sua cabeça, seu peito, como uma comemoração vibrante. De repente, a música mudou e a banda acompanhava muito mais baixo. Antes, as músicas tinham sido pura percussão; parecia óbvio que, para a dançarina da espada, a música deveria ser mais lenta e mais suave. 

Agora, porém, Sasuke franziu a sobrancelha. Isso era força. Em cada batida dessa música nova, era força pura, invadindo-o por cada um de seus poros, ecoando em sua mente. Ele a procurou, a bailarina, quem tinha escolhido esse som. Quem se atrevia a ser tão diferente das outras…?

Quando a achou, não pôde ver seu rosto. Tampando-a, havia dois leques enormes, que se tornavam grandes demais em suas mãos delicadas e femininas, e cuja seda caia até seus pés. Ele começava branco, puramente branco, e se tornava azul escuro nas pontas, perto das unhas perfeitas dos pés descalços. 

Parecia…

— Água. É um fan véu água – Itachi murmurou, outra vez, bebendo do copo de seu irmão. Sasuke não se importou.

Ele tinha razão, aqueles fan véu, como tinha chamado, parecia água pacífica, parada, pronta para ser movimentada. Sasuke tinha visto um grupo dançando com véus, mais cedo, e parecia impressionante, mas aqueles leques… 

Quando a batida se duplicou, ela os moveu de uma vez e, como se ela pudesse controlar cada pequena ondulação de tecido, eles flutuava no ar conforme sua vontade. Ela os vibrou para cima, como uma cascata de água quente, e Sasuke sentiu todo o seu ar ir embora. Os cabelos negros caiam por seus ombros como um céu estrelado, profundo e enigmático contra cada dobra rosada de sua pele muito leitosa. Os lábios, pintados de vermelho, eram a única coisa que remetiam fogo; ela era água, fria contra todo o contraste avermelhado do local, pura água, em cada pedacinho de seu traje azul claro. Os seios, fartos, brilhavam com jóias furtacor. As nesgas de sua saia lembravam a espuma do mar.

Quando ela rodou com os leques, e os véus acompanharam seus movimentos, foi impressionante. Foi único. A seda parecia pertencê-la, como uma extensão de seus braços perfeitos, torneados, uma extensão que ela controlava como se costurada. Rodando o leque direito para cima, para baixo, ela moveu seu quadril, para frente e para trás. Sasuke foi incapaz de tirar os olhos de seus oitos perfeitos, o osso do quadril descendo e subindo como um aviso.

Ela estava bem ali. 

A dançarina fechou os leques, juntando-os em seus ombros, os véus caindo para trás, e todo o destaque ia para a parte inferior de seu corpo. Quando todos acompanhavam o jeito como ela mexia seu cinturão de forma habilidosa, com a cintura fazendo pequenos fincos, Sasuke tinha ido parar em seu rosto. Tinha subido pelo nariz arrebitado, pelas bochechas rosadas, e então os encontrou. Os olhos. Seus lábios formigaram, seu estômago sofreu pequenos solavancos. Sua virilha ardeu.

Leite de leão, como seu irmão fizera questão de chamar. Áraque. Seus olhos redondos, as íris preciosas como duas jóias, lembravam a bebida que tinha acabado com sua garganta. Ela desceu o leque direito, passando tentadora mente por seu corpo já suado da dança, e andou como a bailarina que era. Desceu o leque esquerdo, e o movimento, lento, totalmente fora do ritmo avassalador da música, em cada dum de fazer pulsar seu peito, o lembrou de uma serpente.

Estava próxima dele. Sasuke não sabia como, mas ela estava lá, na sua frente, e a ponta azul de seu fan véu poderia ter feito cócegas no nariz dele. Poderia. Ela os girou no ar, os balançou como uma onda, e o cheiro de canela foi totalmente perdido para os lírios e a pimenta-rosa. O Uchiha teria fechado os olhos de prazer, mas não queria perder nenhum detalhe dos movimentos hipnotizantes.

Não queria perder nenhum detalhe no jeito assombroso como ela podia mexer os braços e as pernas em direções diferentes. Da forma como seus dedos agarravam os leques com tanta força que as veias saltavam. No jeito como ela entreabertos os lábios, estreitando os seu olhar curioso, incapaz de se mover para longe dele.

A luz alaranjada brilhou contra o véu multicolor, principalmente azul anil, e ela terminou o número com eles abertos, mas agora sem cobrir seu rosto bonito. O peito dela desceu e subiu numa respiração ofegante, as palmas ecoando como numa caverna abandonada. Sasuke não aplaudiu.

Estava perdido demais naqueles olhos de serpente.  

Se eu tivesse a chance de viver minha vida outra vez,

eu a passaria com você

Mas sei que, no fundo do seu amor,

Isso não é o suficiente.