Kigasuru escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Kigasuru




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Era noite, os alunos estavam na sala de recreação e logo iriam dormir. Aizawa não os vigiava a todo momento, eram jovens com bastante responsabilidade nas costas para saberem a hora certa de dormir. Ele preparou uma xícara de café e foi para o quarto.

Os trabalhos estavam se acumulando, então Aizawa sentou-se diante do computador para preparar as aulas seguintes. Depois, corrigiu alguns trabalhos e, quando viu a hora, já passava da meia noite. Estava sem sono.

O celular vibrou sobre a mesa de trabalho, o nome de Hizashi saltava a tela e ele podia até mesmo ouvir a voz do melhor amigo ordenando que atendesse a ligação.

Shota levou o celular ao ouvido, a primeira coisa que ouviu foi um barulho característico de uma boate. A voz de Hizashi era de puro êxtase, o que fez Aizawa esfregar a ponta dos dedos nas pálpebras.

— Estou indo para uma festa na cobertura de uma pessoa que você nem vai acreditar. — Disse o herói. — Advinha quem é?

— Eu não quero adivinhar. — Respondeu, levantando-se e olhando a varanda pela porta de vidro.

— Faça um esforço, vou dar uma dica, ela tem uma jacuzzi com vista para floresta.

— Isso não ajuda em nada. — Aizawa virou-se, olhando para a pilha de provas que havia corrigido. — Eu tenho trabalho a fazer.

— Não me diga que ainda está corrigindo provas? — Hizashi perguntou, mas no momento seguinte sua voz se tornou mais aguda e Shota ouviu outras vozes. — Então, vamos?

— Para onde?

— Para a festa. Você precisa sair desse quarto, não faz bem para um homem ficar tanto tempo trabalhando sem se divertir.

Aizawa suspirou, era típico de Yamada Hizashi tentar levá-lo para festas, socializar com as pessoas, mesmo sabendo que ele não gostava. Seu melhor amigo era o seu total oposto. Ele era comunicativo, divertido e popular. Sempre chamou a atenção e as pessoas gostavam dele. Hizashi não tinha apenas uma presença vibrante, e uma alma festiva, ele também era gentil e doce com as pessoas. Prestava atenção no que elas diziam, ele era de fato uma pessoa que sabia se relacionar com as outras.

Contudo, Aizawa não era esse tipo de pessoa.

Ele não gostava de festas, tumulto e muitas pessoas no mesmo lugar dançando. Ele sequer dançava. Claro, beber, ele bebia, mas preferia fazer isso na companhia de uma ou duas pessoas. Até mesmo nas festas dos professores da escola ele evitava ficar muito tempo.

— Desculpe, não poderei ir. — Foi a única coisa que falou, mesmo sabendo que o amigo iria enviar mensagens de cinco em cinco minutos para saber se ele tinha certeza.

As duas da manhã, Eraser Head fazia sua vigilância pela cidade. Não era todos os dias que Aizawa vigiava a cidade, afinal de contas, ele possuía muito trabalho na U. A. High. Desde que se tornou professor interino, as horas como herói nas ruas diminuíram. Apesar de gostar de estar no meio das pessoas, ajudando diretamente a elas, ele tinha um objetivo claro. Treinar os futuros heróis. Achava que esse era o trabalho mais importante para um herói. A futura geração precisava de apoio de todos os tipos, e ele não queria que mais nenhum jovem morresse em serviço.

Foram poucos os casos que cobriu naquela madrugada, a agência de Endeavor era, sem dúvida, muito organizada e cheia de heróis competentes, por isso eles faziam um bom trabalho pela redondeza em que Shota estava.

Ao retornar para seu quarto, ele removeu os óculos e a malha que vestia. Amarrou os cabelos e trocou a calça jeans preta por um moletom mais confortável. Pegou o celular e viu as mensagens de Hizashi, a última dizia que ele estava a caminho.

— A caminho de onde? — Quando Shota ergueu a cabeça, viu o amigo na varanda, batendo na porta de vidro com uma mão e na outra um engradado de cervejas em lata.

— Abre. — Ele sussurrou e sua voz se transpôs pelo vidro sem dificuldades.

Aizawa balançou a cabeça de um lado para o outro, não acreditando que ele estava ali.

— O que faz aqui? — Perguntou, assim que abriu a porta. Por outro lado, Hizashi nada disse, apenas pegou uma latinha de cerveja e entregou para ele, sentando-se em seguida no deque da varanda. Aizawa não perguntou novamente, aceitou a cerveja e sentou-se ao lado dele.

— Estava lá na festa, mas eu fiquei desanimado, sabe? — Yamada falou, levando a latinha até a boca, dando um longo gole na bebida.

— Desanimado, você? — Aizawa ergueu a sobrancelha, mas depois também bebeu a cerveja.

— É, eu estava cercado por pessoas legais, descoladas, divertidas...

— E qual o problema disso? — Ele virou-se, encarando os pequenos olhos do amigo.

— Nenhuma daquelas pessoas era você. — Hizashi respondeu, de forma tranquila, voltando a beber. Enquanto isso, Aizawa fitava a lata de cerveja na mão com seriedade. — Eu sempre chamo você para sair comigo, mas você sempre recusa. Por um momento achei que você não gostasse da minha companhia, a gente não se diverte juntos?

— Idiota, é claro que nos divertimos juntos. — Aizawa virou-se bruscamente. — Você sabe que eu não gosto de barulho e festa.

Hizashi riu, abaixando a cabeça.

— É claro que eu sei, você fugiu da nossa formatura. — Ele moveu a cabeça para o lado, dobrando o joelho para apoiar o braço sobre. — Desculpe, foi um pensamento idiota mesmo.

— Sim, foi idiota.

— Pode parar de dizer isso. — Hizashi estalou a língua no céu da boca e riu depois. — Eu acho que estou ficando velho demais para isso?

— Isso? Você quer dizer festas todo dia, farrear com várias modelos e beber?

— Hã? — O herói ao seu lado enrugou a testa, balançando a latinha de cerveja depois. — É, é, essas coisas.

Aizawa sorriu.

Hizashi era mesmo uma pessoa popular, namorava qualquer pessoa que achasse atraente. Aizawa não conseguia ser assim tão sem pudor. Tinham a mesma idade, não eram tão velhos, 31 anos. Contudo, Shota era mais reservado, um pouco tímido quando o assunto era romance e, definitivamente, ele não conseguiria dormir com qualquer pessoa só porque estava com tesão. Aliás, ele não sentia tesão com qualquer pessoa, não era do tipo que se achava atraente, nem buscava ser.

Gostava dos cabelos bagunçados, fazia a higiene como qualquer pessoa normal, mas não passava do básico necessário. Ele mal tinha saco para cortar os cabelos e falando a verdade, nem usava condicionador no cabelo. Hizashi achava um absurdo, tanto é que deu de presente para ele uma cesta de produtos para os cabelos ao qual Aizawa ainda tinha em seu banheiro. Mas dava muito trabalho usar tanto creme, um específico para uma parte do cabelo. Quem tem paciência de fazer isso?

Ao seu lado, Hizashi suspirou, ao amassar mais uma latinha de cerveja que havia bebido. Ele tinha os cabelos loiros lisos e bem aparados. Os fios eram cheirosos e ele os mantinha para cima usando um creme com gel. Agora, naquele momento, os cabelos dele estavam naturais, soltos e balançando suavemente com a brisa da noite.

Ele era sempre sorridente e usava óculos, mas, naquela noite, o sorriso era mais ameno e os óculos jaziam pendurados em sua camiseta. A jaqueta de couro combinava com as luvas meio dedo das mãos, das quais ele sempre usava. Também combinava com a moto que Aizawa imaginou estar estacionada na frente do prédio.

— Você disse que as pessoas da festa não eram eu... — Aizawa puxou a conversa, retornando ao assunto anterior.

— Sim, sim. Como você disse, estou cansado de dormir com modelos. — Ele coçou o nariz e depois deu uma gargalhada. — Um cara muito bonito hoje me deu mole, mas eu não conseguia parar de pensar em você.

— Ah, é?

— Sim, é. — Ele inclinou a cabeça. — Não faça essa cara surpresa, você sabe dos meus sentimentos.

Sim, ele sabia. O que tornava tudo aquilo mais complicado para Aizawa. Ele achava complicado relacionamentos com heróis, com colegas de trabalho, ou, simplesmente, achava complicado relacionamentos.

— Por que não ficou com esse cara? — Aizawa tentou parecer pouco interessado. No fundo, seu coração estava balançado e com ciúmes. Não era apenas ciúmes de uma outra pessoa, mas da facilidade de Hizashi em se relacionar com as pessoas. Parecia tudo muito simples para ele.

— Eu disse, pensei em você. Ele tinha cabelos negros, iguais aos seus, mas não tão bonitos... sabe que mesmo não usando os cremes que te dei, ainda assim seus cabelos ficam bonitos?

Ele falou, erguendo a mão e tocando nos fios, seu corpo girou levemente para ficar mais próximo de Aizawa, enquanto o rosto inclinava para o lado. Aizawa conhecia aquele olhar, e da última vez eles acabaram acordando na manhã seguinte pelados na cama.

— Eu não posso, os meus alunos estão dormindo aqui do lado. — Disse, pouco convincente em sua voz.

— Me poupe, seus alunos transam embaixo desse teto. Você sabe disso. — Hizashi deu uma risadinha e Aizawa girou os olhos, ele não mentia.

— Nós somos os adultos, temos que dar o exemplo.

— Ok! Shota, vamos para meu apartamento, lá podemos transar sem a presença de crianças.

Aizawa balançou a cabeça e se levantou, Hizashi o acompanhou, mas não parecia tão animado mais. Era hora de ir embora.

— Me desculpe, eu não queria ser rude.

— Não, Shota, eu conheço você. Gosta de fugir dos sentimentos. — Hizashi riu sem muita animação. — Mas não pense que eu estarei sempre disponível.

Ele jogou o cabelo para trás e fez uma pose dramática, movendo a mão em seguida e dando as costas.

— Espere. — Aizawa aproximou-se dele e o beijou sem prévio aviso. Apenas segurou seu rosto e levou os lábios na direção do rosto de Hizashi. Permitiu que o beijo se aprofundasse, ao abrir mais a boca e a língua do outro explorasse seu interior com ansiedade. O beijo se desenrolava apressado, em estalos. Hizashi puxou seu lábio com uma pequena mordida e riu, segurando a mão em seus cabelos. A força em seu punho o mantinha numa posição ao qual não poderia se mover muito além das mãos que escorregaram para os braços de Hizashi.

— Shota, eu quero tanto você. — Ele sussurrou em seu ouvido, sua voz o fez estremecer e Aizawa fechou os olhos. Seu corpo despertou com as carícias e ele se forçou a parar, pousando as mãos sobre o peito do amigo.

— Domingo é a minha folga. — Aizawa disse, observando um pouco de confusão nos olhos de Yamada. — Podemos, sabe? Sair, eu acho.

— Sério?

— Sim, mas um lugar sem música alta e dança. — Ele falou, sendo contagiado pela animação de Hizashi.

— Sem problemas, podemos ir para minha casa e lá só vai ter nós dois. — Assim que se aproximou de Aizawa, ele o beijou novamente. — Eu vou te esperar, Eraser Head.

E com uma boa habilidade, ele saltou da varanda. Aizawa apoiou-se na grade e observou Hizashi subir na moto, colocando o capacete em seguida, partindo.

Ele voltou para o quarto, fechando a porta da varanda. Jogou fora a latinha com o restinho de cerveja e escovou os dente, indo para a cama. Ao pegar o celular, viu uma nova mensagem de Hizashi, combinando melhor o horário para se encontrarem no domingo.

Aizawa deixou o celular carregando na mesinha lateral da cama e levou as mãos para detrás da cabeça, apoiado no travesseiro. Fechou os olhos e sorriu, sorriu satisfeito.


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Notas finais do capítulo

ahhhhh lindos lindos lindos HUAUHAUHAUHAUH
O que acharam?
Beijos



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