O sol brilhava naquela manhã como se as trevas do mundo houvessem, enfim, se extinguido. A imensidão do céu estendia-se sobre o lago e recortava a silhueta do castelo destruído sobre o penhasco, evidenciando agora todas as marcas deixadas pela batalha da noite anterior.

As chamas que disputavam luminosidade com os raios solares ainda se alastravam pelos gramados, ardendo em fogomaldito. As árvores ressecadas da Floresta Proibida se ofereciam como presas fáceis ao incêndio, num silêncio profundo onde só se ouvia o estalar de galhos sendo consumidos pelo fogo. Tudo estava quieto. Nem mesmo a superfície do Lago Negro se movia, como um enorme espelho refletindo melancolicamente as ruínas da Escola, sem nenhuma ondulação para interferir. 

Ruínas. Pela primeira vez em mil anos esta era exatamente a imagem que qualquer olho, bruxo ou trouxa, enxergaria ao mirar aquele canto escondido do mundo. A barreira mágica que por tantos séculos guardara e protegera o castelo e seus segredos havia sido rompida e desfeita pelas artes das trevas que a desafiaram, expondo ao mundo a edificação arruinada que, agora, assemelhava-se em muito com a visão que os trouxas tinham ao observá-la: uma velha ruína tombada e abandonada, prestes a desmoronar sobre seu terreno. Se houvesse uma placa informando “PERGIGO, NÃO ENTRE! INSEGURO!”, todos poderiam fingir que estavam apenas observando o local pelo olhar de um não-bruxo e que, na verdade, nada mudara.

Mas esta seria a pior das mentiras, pois tudo havia mudado. Inclusive Hogwarts. 

Suas vidraças estavam quebradas. Suas paredes desmoronadas. Nas cento e quarenta e duas escadarias havia mais degraus faltando do que inteiros. Seus corredores estavam entulhados. Seus telhados arrancados. Seus pátios, banhados pelo sangue de alunos, funcionários, aurores e comensais da morte e que agora se misturava como um só, estavam desertos de vida e repletos de morte.

Ao menos as torres ainda estavam de pé. E era no sétimo andar de uma delas que um rapaz com uma fina cicatriz de raio na testa descansava. Um rapaz que, após se tornar uma lenda com apenas um ano de idade por derrotar o maior bruxo das trevas de todos os tempos, acabara de entrar para a história do mundo da magia novamente, aos dezessete, pelo mesmo feito.

O menino-que-sobreviveu, pela segunda vez.

O Eleito.

Harry Potter.

O herói que salvara o mundo de um destino terrível dormia tranquilamente em sua antiga cama de dossel, no alto da Torre da Grifinória, como não fazia há tempos. Um descanso merecido, o qual nada no mundo poderia perturbar.

Pois o mundo estava a salvo. Salvo das mãos de um bruxo cujo nome não deveria ser nomeado. Um bruxo que atormentou famílias e corrompeu corações. Um bruxo que, de tanto ambição por poder, acabou sendo derrotado por ele. 

Lord Voldemort estava morto... 

Por ora.