Oblivío escrita por Fluffe


Capítulo 1
Capítulo Unico


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ❤



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JACKSON

— Agora não, Jaebum! — Praticamente berrei em seu rosto quando o percebi indo em minha direção para falar alguma coisa.


Peguei meu celular, chave de casa e arranquei de qualquer jeito o casaco que antes estava com todo cuidado apoiado em minha cadeira no trabalho.


Por alguns segundos o meu melhor amigo franziu a sua sobrancelha não entendendo muito bem o que estava aconteceu, não quando era a pessoa mais propensa a falar sobre qualquer coisa naquele escritório. Gritei um "depois falo com você" antes de sair em disparada para o elevador.


Meu coração a cada batida se inflava mais com a adrenalina. Apoiei a minha cabeça no espelho e quando me olhei não conseguia nem me reconhecer mais. Meus olhos esbugalhados, o suor aparecendo em minha pele, assim como os pensamentos tão rápidos que nem conseguia saber como colocar em ordem. A pessoa no espelho demonstrava, cem por cento, alguém em Pânico.
Como não tinha condição nenhuma para dirigir, peguei um Uber – que acho que percebeu o quão fora de mim eu estava, já que a todo instante tentava me oferecer água e, bem no final da corrida, disse que tudo iria ficar bem. Dei um sorriso, claro que não foi o suficiente para minhas pernas pararem quietas, ou a respiração voltar ao normal, mas me fez um pouco menos desesperado.


— Boa tarde, sou o contato de emergência do Mark Tuan.
Deveria estar parecendo uma pessoa louca, pois desde o momento em que tinha entrado no carro, a todo instante passava a mão em meu cabelo, para me dar uma ilusão de segurança, então naquele ponto achava que estaria com ele parecendo um ninho de passarinhos.


A mulher deu um sorriso e foi realmente bom para me acalmar, não esperava menos, pessoas que trabalham em um hospital deveriam lidar com pessoas em Pânico todos os dias, fazendo com que aprendessem a lidar com elas naquele estado. Cinco minutos depois estava esperando naquele puta corredor branco.


E o que era pior? Não era o fato que ninguém conhecido estava aqui para me confortar, o pior mesmo era o silêncio, me deixando cada vez mais centrado em minha própria mente, ouvindo aquelas palavras de que nada iria dar certo, Mark estava morto e não poderia fazer nada para mudar. Em algum ponto, a sensação de desespero estava tão em alta que comecei a andar de um lado para o outro.


— Ok, Jackson, tudo vai dar certo. Tudo vai dar certo. — Sussurrei aquelas palavras tão baixas, como se fosse um mantra, tinha certeza que se falasse por muitas vezes, tal desejo se realizaria.


— Jackson Wang? — Nunca em minha vida inteira, meu estômago se embrulhou tão rapidamente ao ouvir meu nome.


— O Mark sofreu um acidente, não está em risco… — O jeito que o médico me olhava e seus olhos percorriam do meu rosto ao prontuário, gritava claramente que teria um ‘mas’.


— Ele não lembra de você. — Acho que realmente deixei o homem a minha frente preocupado ao somente piscar, sem mais nenhuma reação. Segundos depois pediu para que eu me sentasse na cadeira e me deu água com açúcar para me acalmar.


Ok, aquilo não poderia ser real, certo? Cadê as câmeras em volta e o apresentador gritando que eu estava em um show de comédia? Não teria outra explicação para a brincadeira de mal gosto.


Para ser sincero, não sabia quanto tempo fiquei naquele corredor, era como se todo meu cérebro tivesse tido um apagão e não estava sentindo e nem fazendo nada, como se somente estivesse em um puta curto circuito. Em algum momento a enfermeira me chamou, pois se não entrasse naquele momento eu não poderia mais o visitar, uma vez que o horário iria acabar.


Quando bati o olhar em meu namorado, nada parecia diferente, somente o fato de ter um pequeno band aid em sua testa, mas nenhuma outra lesão preocupante aparente. Por alguns segundos minha mente me confortou, fingindo que tudo estava dentro do normal, que ele iria me olhar e abrir aquele sorriso como se tivesse visto a coisa mais preciosa, o que eu era para ele, assim como ele era para mim.


Mas nada disso aconteceu, Mark me olhou de cima a baixo, como se estivesse adivinhando o que uma pessoa qualquer estaria fazendo em seu quarto.


— Quem é você? — Claro que o médico tinha me falado exatamente o que esperar. Mas, foi como se aquelas palavras fossem diretamente em meu coração, como se fosse uma faca que não poderia fazer nada para retirar e conseguir estancar o sangue. Ela sempre estaria lá, uma dor em segundo plano.


— Jackon. — Seus ombros se curvaram um pouco e continuou olhando para o programa de tv em sua frente, como se eu somente fosse uma pessoa qualquer invadindo o seu espaço.


Então me dei conta que Mark não ligava para quem eu era, oh puta merda. Se antes já tava doendo, agora não poderia respirar regularmente, pois a realidade nunca bebeu mais de frente comigo.


Tive que sair do quarto antes de me sentar no primeiro lugar disponível, quando minhas lágrimas e os soluções saíram desesperadas e sem impedimento. Para quem passasse, poderia até pensar que se tratava de alguém que perdeu alguém importante. De fato eu tinha, perdi o amor da minha vida.


— Puta merda Jae, ele não se lembra de mim. — O desespero corria tão intensamente por meu corpo que nem disse uma saudação quando liguei para Jaebum, somente vomitei as palavras enquanto minha garganta fechava com os soluções de outro mundo.


— Jackson, fala mais devagar e respira. Quem não se lembra de você? — Ouvi suas chaves caindo, acho que porque estava com pressa de sair do escritório para me encontrar.


— Mark. — O mundo realmente girava, se alguém me perguntasse ontem mesmo qual era a minha palavra favorita no mundo inteiro, iria responder sem nem hesitar: Mark, pois era o amor da minha vida. Sim, era totalmente apaixonado por esse cara que não poderia colocar em palavras. Mas agora? Era uma dos que mais me fazia sofrer.


— Como assim? Jacks, me manda o seu endereço, estou indo para aí. — Cinco minutos depois de perguntar se queria que me fizesse companhia, meu amigo desligou o telefone.


Naquele momento eu não precisava que ele se envolvesse em um acidente de carro por estar tão preocupado comigo.


Quando o vi, foi como se uma represa tivesse aberto e todos os sentimentos que estava negando viessem com força total. Praticamente esmaguei os seus ossos quando lhe dei um abraço de urso e comecei a chorar como se não tivesse amanhã. Enquanto isso ele somente falava palavras de conforto passando suas mãos suavemente em meu ombro e costas, deixando claro que estava presente naquele momento.


— Que merda, cara. — Foi o que quebrou o silêncio depois que nós dois finalmente nos sentamos e expliquei toda a história.


— Exatamente. — A verdade, por mais que dolorida, era exatamente aquela. Uma daquelas situações que não sabíamos nem o que falar de tão horrível que estava sendo.


Antes de entrar no quarto de meu namorado, senti Jaebum entrelaçar as suas mãos na minha, dando um alicerce que nem sabia que precisava até ter minha ansiedade e pensamentos acalmados.


— Ah, é você. — Nem teve a vontade de ficar me encarando por mais de dois segundos, pois logo seus olhos estavam novamente na televisão.


Uma das coisas que mais odiava sobre Mark era o fato que, quando queria, ele sabia muito bem ser frio. Sendo comigo, ainda por cima, senti meu coração se quebrar mais uma vez.


O ar na sala estava tão tenso, que tinha quase certeza que alguém poderia cortar com uma faca. Jaebum até tentou me ajudar, perguntando algumas coisas, mas Mark sempre o dava um fora, então desistiu para ir se sentar na poltrona mais perto.


— Você estava como o meu contato de emergência, qual é a nossa relação? — Para qualquer pessoa de fora, suas palavras casuais iriam indicar não estar ligando, mas dois segundos o olhando pude perceber o quão curioso estava.


— Somos melhores amigos. — Jaebum me beliscou, gritando silenciosamente a merda que estava me enfiando.


Eu tinha somente duas alternativas: Deixar claro que éramos namorados e colocar uma pressão enorme nele, achando que deveria se apaixonar por mim novamente, ou falar que era seu amigo e conviver com isso.


O bem estar do Mark sempre seria a minha prioridade número um, então não foi uma decisão muito difícil de ser tomada, e, para ser sincero, preferia mil vezes ser seu amigo do que ser somente um desconhecido.


— Sr Tuan, iremos fazer os exames para que você possa finalmente ir embora. Ninguém aguenta mais ficar preso nesse quarto, não é mesmo? — O médico deu um sorriso antes de apontar uma lanterna em seus olhos.


O sorriso do mais velho foi tão rápido, mas mesmo assim tão verdadeiro, que, foi como se eu me lembrasse exatamente do porquê eu era tão apaixonado por ele, somente com pequenas coisas tipo aquele sorriso.


O médico deu a prescrição dos remédios, falou também que Mark deveria seguir a sua vida o mais normalmente possível, para que o seu cérebro ficasse confortável o suficiente para, quem sabe, lembrar alguma coisa. Quando falei que morávamos juntos ele deu de ombros, mostrando claramente o quão cansado estava para pensar mais profundamente sobre isso.


Vinte minutos com um carro silencioso, somente com a música ambiente, estávamos na porta de casa. Xinguei em cantonês quando lembrei das fotos em casa de nós dois, pedi para esperar alguns minutos e rapidamente tirei os resquícios de nossa relação.


— Bem vindo ao seu lar. — Quase gritei de alegria, abrindo meus braços e fazendo uma reverência a ele, como se fosse um rei.


Meu namorado somente olhou por alguns segundos para mim, como se eu fosse realmente estranho, antes de dar um passo à frente. Seus olhos passaram com uma curiosidade de outro mundo para todos os móveis da casa, uma vez ou outra colocando as mãos em alguma coisa.


— Huhm, eu vou tomar banho. Suas roupas estão no quarto a direita. — Tentei ao máximo falar o mais baixo possível, pois não queria o atrapalhar.


Dez minutos depois dei um suspiro de prazer ao ter a água quente caindo em meu corpo. Quinze minutos depois, estava chorando no banho, me perguntando o que fiz a Deus para merecer algo tão ruim quanto aquilo.


— Jackson, nós temos somente uma cama? — Gelei de cima a baixo, não tinha lembrado desse detalhe tão importante.


Enquanto isso, Mark estava sentado nela, mexendo seus dedos na coxa, exatamente como fazia quando estava nervoso.


— Você tem medo de dormir sozinho. — Mais uma vez seus olhos me encararam com tanta intensidade, para saber se era uma brincadeira ou não, que quase senti no fundo da alma.


Foi muito estranho para mim estar na mesma cama que ele e não dormir agarrado ou nem mesmo estar virado ao leu lado para ver o seu rosto – que parecia ter sido esculpido.


— Você sabe se amanhã tenho alguma coisa marcada? Tenho a sensação que dia quinze algo importante iria acontecer… Huhm, por acaso é uma reunião, não é? — Meu cérebro ficou tão chocado, que demorei alguns segundos a mais para processar a informação.


O médico tinha dito que seria normal ele lembrar algumas coisas, nunca pensaria que fosse tão rápido assim. Meu coração, pela primeira vez desde que saí do hospital, começou a se encher de esperança. Se Mark lembrava de sua reunião, a probabilidade de lembrar de mim aumentava, certo?


— Oh, com os acionistas.


Era quase impossível não lembrar disso, uma vez que a cada dez palavras que ele falava, oito com certeza tinha a ver com essa reunião. Se tudo corresse bem, até uma promoção iria acontecer. Entretanto, com toda a correria e o dia de merda, a última coisa que passou por mim era o avisar sobre aquilo.


— Pode me levar até o trabalho amanhã? Não lembro onde é. — As suas orelhas se tingiram naquele tom tão bonito de vermelho, junto com isso, ficou extremamente sem graça.


— Claro que sim, melhores amigos servem para isso. — Sorri, esperando que ele fizesse a mesma coisa que eu, entretanto somente deu boa noite e apagou a luz do quarto.


Ok, estávamos pelo menos progredindo dormindo na mesma cama, poderia esperar um pouco mais para o resto.


No dia seguinte, acordei com um peso a mais em meu corpo, demorei alguns minutos para descobrir o que era, pois Mark sempre acordava muito cedo e com certeza eu não era uma pessoa da manhã. Seu corpo estava claramente abraçado ao meu, suas pernas faziam um ninho na minha, o famoso clichê de não saber onde uma começa e outra acabava. Seu rosto apoiado em meu peito, a suavidade de sua expressão e cabelo me deu uma vontade tremenda de passar minhas mãos por todo o seu corpo, mas respirei fundo, ainda não estava preparado para tentar invadir o seu espaço pessoal. Estaria feliz somente o observando.


— Oh merda, me perdoe. — Disse ao abrir os olhos. Seu corpo se separou tão rapidamente do meu que nem tive tempo suficiente para uma reação. — Eu vou tomar banho. — E então saiu tão rápido da cama, com o que parecia ser muita vergonha, que até esqueceu de suas roupas.


Dei um riso antes de ir fazer o café da manhã para nós dois.


Às oito em ponto, Mark apareceu com seu terno azul petróleo que sempre foi meu favorito. Dei graças a Deus que não estava segurando nada, pois com certeza iria cair com essa obra prima. Minha primeira reação foi me imaginar o empurrando para a parede ou móvel mais próximo, transar com ele e fazê-lo gozar até que o estresse sumisse. Seria uma boa também deixar chupões em seu pescoço, para gritar para todos que aquele cara perfeito tinha dono.


— Huhmm, vamos. — Limpei minha garganta antes de pegar a chave do carro.


Sério, o fato de seus olhos passarem por mim com aquele olhar julgador tinha virado um hábito, mas nessa situação eu até entendia, uma vez que ainda estava com pijama, somente tinha colocado um moletom, um óculos de sol e boné para tentar ficar mais apresentável. Pelo jeito, não aconteceu.


No começo o ambiente ficou extremamente silencioso, mas pelo menos hoje Mark estava tentando realmente me conhecer e achei extremamente fofo de sua parte. Quando o deixei na frente de seu trabalho, foi natural inclinar minha cabeça para o beijar, então lembrei o que estava fazendo. Sorte a minha que pensei rápido e então pude pegar o copo que estava atrás de seu corpo e dar em sua mão, para o lembrar de colocar café.


Ok, a única coisa que poderia fazer no caos de minha vida no momento era ter a certeza de alguma coisa, nada melhor do que fazer música.


Fiquei tão concentrado em meu estúdio que quando olhei para o relógio, xinguei antes de praticamente pular e pegar as chaves. Puta merda, estava super atrasado para pegar Mark no escritório, quando fui ver o meu celular tinha uma mensagem dele falando que iria voltar com Jaebum e que não deveria me preocupar.


— Você trabalha com música, não é? — Dei um pulo da cadeira antes de colocar minha mão no coração, para ter certeza que ainda estava batendo corretamente depois do susto que tomei quando Mark estava apoiado no parapeito da porta.


— Sim, estou tentando fazer uma nova, mas alguma coisa não está certa. — Um suspiro de frustração saiu fortemente, enquanto me distanciei do computador e passei as mãos em meu cabelo.


O pior era que tinha a letra toda, mas sempre que fazia ou tentava mudar a batida ela não casava com a música ou eu não ficava satisfeito.


— Licença. — O fato de pedir licença para uma coisa tão natural como sentar em minha cadeira mostrava o quão respeitoso se sentia com meu trabalho. Colocou o fone de ouvido antes de apertar o play e ouvir a demo.


— Cadê… Team is my lable.. não era assim, era… Team Wang be my lable. É como se fosse seu mantra, precisa ter. — Virei minha cabeça tão rápido, para realmente ter certeza que tinha ouvido aquilo, que até cai da cadeira.
Meu rosto no mesmo segundo ficou vermelho e a vergonha estava presente em mim, o chão poderia me engolir no momento que nem ia achar ruim. Só passava vergonha perto dele, puta merda.


— Oh, eu tenho uma pulseira igual a essa, com um G gravado. — A sua pele passou tão suavemente por meu pulso, já que com a nova posição, minha mão era a única coisa na cadeira. Foi o suficiente para meu corpo ficar quente somente com seu toque.


— Te dei vai fazer algum tempo, para deixar claro que não iria em nenhum outro lugar. — A verdade era que era uma promessa que iríamos casar em algum momento de nossas vidas, somente não tinha o dado um anel pois odiava.


— Compramos em alguma feirinha, não foi? Como uma piada e ficou. — Ficava me perguntando como podia ser possível lembrar pequenas coisas, mas nunca de mim por inteiro.


Memórias e mais memórias afundaram em meu cérebro e aquilo doeu mais do que poderia colocar em palavras. Era aqueles momentos que tinha certeza que queria lembrar para o resto da vida, pois estava com ele. Mas agora? Mark não lembrava, não compartilhava daquelas emoções, como se não estivesse lá e foi como se eu estivesse sozinho nas melhores memórias de minha vida.


Dei um passo para trás para tentar respirar fundo, colocar os pensamentos em ordem e não ficar triste, mas chegava ao ponto que toda vez que o olhava, era uma facada em meu coração. Deveria me afastar o mais rápido possível, sempre que Mark lembrava alguma coisa, me dando esperanças e as destruindo em segundos, já que não lembrava de mim.


MARK


A reação das pessoas todas as vezes que contava o que tinha acontecido, era quase a mesma: Abraços, aquele olhar de pena e teve uma pessoa particularmente sensível que começou a chorar de soluçar em minha frente. Não entendia o sentimento já que, para mim, a vida continuava realmente igual. Lembrava do meu trabalho, dos compromissos que tinha marcado ou o que precisava fazer, diferente dos filmes que a pessoa perdia a memória e não lembrava mais quem era.


A única coisa que realmente me deixava desconfortável era o fato que sentia lacunas em minhas memórias, não conseguia de jeito nenhum as preencher, nem por mais que tentasse. Não era eu por inteiro, sabia que aquelas memórias eram importantes, mas não tinha nenhuma pista de com quem compartilhei ou o sentimento que presenciei.


Acredite, passei boa parte do dia, desde que saí do hospital, tentando forçar minha mente, olhando coisas cotidianas para ver se meu cérebro conseguia uma pista ou qualquer coisa, nem que fosse pequena, o que não aconteceu, tirando o Jackson.


Jackson Wang, com certeza aquele cara tinha alguma coisa….


Meus pensamentos foram cortados rudemente pelo barulho do telefone tocando.


— Boa tarde, aqui é o Jaebum, não sei se lembra de mim, estava junto com o Jackson no hospital, gostaria de saber se gostaria de almoçar comigo, pode deixar que eu pago. — Fechei um pouco os olhos para ver se conseguia lembrar dele mais rápido. Depois de uns cinco segundos, que para mim pareceu uma eternidade, veio a cena do homem tentando puxar conversa.


— Ah claro, me manda o endereço de onde quer ir. — A verdade, quando desliguei a ligação, era que não lembrava nada de Jaebum, somente que era amigo do Jackson e se o outro homem confiava nele, iria dar uma oportunidade para o conhecer novamente.


Deus, se ele for um escroto ou fizer alguma coisa ruim para mim, quero ir para o céu, você tá de prova que eu tentei.


Jaebum ganhou alguns pontos comigo por escolher um dos meus restaurantes favoritos em toda a Seul. Ele era extremamente pequeno, não famoso e quieto, assim como gostava que as pessoas fossem. Imaginem um mundo em que não houvesse gritaria desnecessária ou pessoas extremamente energéticas? Sociedade utópica mesmo.


— Nós nos conhecemos aqui? Tenho a sensação que estava com alguém, mas não lembro quem.
Quando o convidado sentou em minha frente, foi como se meu cérebro parasse alguns segundos e se focasse somente na memória de um Jaebum diferente, daqui mesmo, perguntando se poderia pegar emprestado o meu computador pois precisava urgentemente terminar seu projeto. E puta merda, pareceu tão real que tive que segurar a cadeira pois as sensações estavam muito fortes.


— Não, nos conhecemos pelo Jackson, éramos amigos em comum e achou legal nos apresentar. — O mais novo franziu as suas sobrancelhas como se não estivesse acreditando no absurdo que acabara de escutar.


O médico deixou bem claro que iria ter alguns momentos em que meu cérebro iria "pifar" e inventar memórias para tentar desesperadamente preencher as lacunas, entretanto quando isso aconteceu foi como se tudo que conhecesse fosse mentira, e se meu cérebro fizesse isso novamente? E se quisesse me dar uma vida perfeita que não era verdade?


O almoço realmente ocorreu bem. Por mais que tenha durado apenas trinta minutos, soube na mesma hora o porquê de ser o seu amigo, nossos santos bateram e isso fez o meu dia um pouco melhor.


Horas depois estava indo direto para casa, mas o único pensamento que não saia de mim era o fato das memórias sendo fabricadas. Decidi me consolar com o famoso sorvete, por isso somente peguei uma colher, aquele balde de praticamente um litro, liguei a televisão em algum drama extremamente clichê — para lembrar que não tinha namorado — e comecei a comer como se não houvesse amanhã.


Claro que Jackson tinha que chegar como a bola de felicidade e sociabilidade que era, perguntando como tinha sido e tentando uma conversa sobre Jaebum, revirando os seus olhos quando virou uma conversa paralela, uma vez que não estava com um pingo de vontade de responder. Isso em nenhum momento o deixou triste, pois sentou ao meu lado e continuou como se estivesse acostumado comigo. Bem, mesmo não lembrando, tinha certeza que ele era o cara que falava por nós dois na relação.
Até que pouco tempo depois senti uma língua em minha bochecha. Não, não era meme, se estão perguntando. Sério, deixou um punhado de saliva, quase como se estivesse me marcando.


Ok, ele me lambeu, nada mais anormal que isso. Virei rapidamente minha cabeça com meus olhos arregalados para saber se era realidade ou era meu cérebro novamente. Wang continuava olhando a tv como se nada tivesse acontecido.


— Hum, você acabou de me lamber? — Precisava ter a confirmação por palavra.


— Se eu acabei de te… lamber? — Lentamente repetiu, como se seu cérebro ainda estivesse no estágio de processar.


Foi engraçado, se não fosse trágico, falou palavrões tanto em coreano como em chinês e inglês. Seu rosto ficou em um tom tão forte de vermelho que pensei por alguns segundos que não conseguiria mais respirar. Ouvi um sussuro de: Que vergonha, será que vai dar certo se eu voltar para a China?


Então comecei a rir, aquele tipo de riso que você queria parar pois não conseguia mais sentir que tinha ar nos pulmões, mas não conseguia.


— Puta merda, você é tão... Jackson. — Não poderia o definir com uma palavra melhor do que aquela. Ele era tão único e cada pedacinho dele, seja a risada ou as coisas bizarras que fazia não tendo medo de passar vergonha para arrancar sorrisos dos outros, o fazia um ser especial.
Todo novo dia entendia o porquê de sermos melhores amigos, Wang seria meu inferno por causa das diferenças, mas no final do dia, isso que o fazia ser a minha cara metade.


— Ufa, se está de acordo comigo, o sorvete ainda não está cem por cento limpo. — Colocou as suas mãos para o alto, dando um gritinho deixando claro sua felicidade antes de colar mais os nossos corpos para colocar aquela língua enorme mais uma vez no meu rosto.


A noite acabou comigo gritando para que ele respeitasse meu espaço pessoal, quando corria atrás de mim para me irritar, abraçando, lambendo e Deus sabia lá o que mais ele tinha em mente.


O final de semana chegou e num momento enorme de tédio fui arrastado para uma sorveteria que era vinte minutos de casa.


— Porque escolheu tomar sorvete do outro lado do nosso bairro? Quero dizer, temos uma que dá para ir andando. — Reclamei pela milésima vez ao entrar no carro.
Desculpe, mas minha definição de sair de casa não era pegar um carro para somente tomar um sorvete, onde poderíamos muito bem comprar no supermercado.


— Você reclama muito, já disseram isso? — Revirou os seus olhos antes de dar um sorriso sacana e ligar o rádio e colocar uma música qualquer.


— Jacks…. — Realmente a última coisa que queria fazer seria tomar sorvete, na verdade somente estava o acompanhando, já que amava tanto aquele alimento. Porém, o sentimento de frustração e infelicidade deveria estar gritando em minhas feições.


— É importante para mim, ok? — Nunca tinha sido rude comigo, mas quando sua voz aumentou um pouco e ficou áspera, deixou claro que a conversa estava finalizada.
Pelo rosto da viagem, fez o possível para não me olhar, ficando calado. Me deu a impressão que pensava com todo o foco em algo e se não quisesse falar sobre, super iria o respeitar.


No momento em que pisei no local, foi como se uma sensação de dejavu tomasse conta de mim, entretanto ainda não conseguia reconhecer o lugar, como se fosse uma sorveteria qualquer. Era como se já estivesse estado ali, mas parecia outra vida de tão distante.


O mais novo realmente estava de mau humor, pois depois de pegar meu sorvete — nem precisei falar o sabor, pois já conhecia meu gosto de trás para frente —, simplesmente sentou na minha frente e começou a comer silenciosamente.


Meu sonho de consumo, se alguém me perguntasse, eu responderia sem nem hesitar: As pessoas serem mais silenciosas. Acreditava que algumas coisas não precisavam ser faladas, daria para saber apenas de olhar para a pessoa, ou olhar seus pequenos gestos. Palavras muitas vezes eram jogadas sem nem se pensar e no fim, não serviam para nada. Naquela situação? Meu desejo já era outro. Queria vê-lo risonho e não de boca calada por longos minutos, pois aí, teria certeza que estaria feliz.
Um Jackson silencioso não era um Jackson feliz.


— Ok, o que está acontecendo? — Tive que apoiar a minha mão na sua e aumentar um pouco meu tom de voz para seus olhos não saírem dos meus, com medo, assim como tinha acontecido durante o tempo que estávamos ali.


— Foi aqui que tivemos nosso primeiro… encontro. — A última palavra foi como um sussurro que não escutei, acho que disse encontro, pois foi o que consegui pegar com a movimentação de seus lábios.


Mais uma vez as memórias vieram com força total, a cena de Jackson praticamente colado em mim pegando um guarda chuva – uma vez que esqueceu o seu – e nós dois comendo o mesmo sabor de sorvete enquanto ele não tirava os olhos de mim, com aquele sorriso tão natural que era a coisa mais linda; eu não conseguia o encarar, uma vez que estava muito tímido.


Em dado momento, pegou a minha mão para entrelaçar os dedos nos meus e aquilo pareceu tão certo, não somente por meu cérebro estar preenchendo por si as lacunas de memórias — ele estando sempre presente —, mas também porque era como se minha alma sentisse que aquele era o cara que deveria estar ao meu lado para sempre, aquela amizade inabalável que tinha virado amor.
Mas por que ele nunca tinha falado sobre sermos namorados? Tudo bem que às vezes o olhava e percebia que ele já estava olhando para mim com uma felicidade que não era normal para melhores amigos. Se doía fisicamente e emocionalmente estar perto de mim, não me tratando como namorado, porque fazia aquilo? E ficando extremamente infeliz?


Quando pensei em perguntar novamente nossa relação, lembrei da cena de Jaebum preocupado comigo e falando que tinha a memória falsa. Será que era somente mais um gatilho do cérebro? Pois não tinha um namorado e achava que merecia estar apaixonado? Nunca em um milhão de anos gostaria de acabar a nossa amizade. Talvez se eu não falasse nada, tudo iria seguir o seu caminho e iria mais cedo ou mais tarde esquecer daquilo.


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Claro que eu tinha que ser a pessoa mais sem sorte do mundo e estar com um JB completamente bêbado em casa sexta de noite. Nem me pergunte como tínhamos chegado a aquele ponto: dele olhando para mim e rindo como se meu rosto fosse uma piada, enquanto eu rezava para Jackson vir me buscar, já que tinha deixado o meu carro em casa.


Quando o telefone dele tocou dei graças, pois pensava que era minha carona. Jaebum deu um riso antes de colocar o celular na orelha. Fiz menção de pegar seu iPhone, mas ele estendeu os braços para que eu pulasse, mas como eu era mais alto que ele, foi uma missão bem simples. Sua coordenação não era a das melhores e para não o deixar cair no chão, deixei a ligação no viva voz e fui o socorrer.


— Jae? Bem, eu preciso falar isso para você, iria falar para o Mark, mas já que ele não pode saber que éramos namorados... Bom, esse não é o ponto principal da conversa. Então... — Oh porra. Meu cérebro estava certo. Puta merda, vai se fuder, eu tinha uma namorado.


Puta que pariu, Jackson Fucking Wang era a porra do meu namorado.


— Não esquece de tomar o remédio para amanhã não ter uma ressaca. — Joguei o comprimido de qualquer jeito, antes de deixar uma mensagem para Jinyoung cuidar de seu peguete antes de dar um grito e ir pegar o primeiro táxi para casa.


O filho da puta estava sentado no sofá como se fosse um dia normal. Mais um dia que não contou para mim o quanto estávamos apaixonados. Se vocês virem amanhã uma manchete: Americano mata namorado em Seul, a probabilidade de ser eu, seria enorme. Como conseguia ficar tão calmo, quando deveria estar surtando? Assim como eu?


— Espero que alguém corte o seu pau quando estiver dormindo. Como teve a audácia de não falar que éramos namorados? Agora tudo faz sentido, quando se inclinou para perto de mim, iria me beijar, certo? — Os meus olhos se arregalaram tanto que tive medo de que saltassem para fora e pudesse os perder.


A cada situação que meu cérebro lembrava, mais bravo ficava e batia naqueles braços que foram feitos para me abraçar.


— E na vez que me lambeu como se fosse a coisa mais natural, caiu da cadeira quando citei o bracelete que era uma promessa para nos casarmos. Inferno, você é tão inacreditável, vai se fuder. — A adrenalina passava tão rapidamente por meu corpo que, naquele ponto, já estava gritando tão alto que era bem provável que algum vizinho batesse na porta pedindo para calar a boca.


Jackson nem se movimentou a cada vez que batia com meu pulso em seu corpo, já que era sarado. Percebi que tentava ao máximo segurar as suas risadas, pois falava a todo instante que achava super engraçado quando eu estava bravo, já que ficava fofo e ninguém me levava a sério.


— Você….. você não queria que eu lembrasse? Não teve momento mais aliviante para mim que quando todas as memórias que faltavam foram para o devido lugar, pois todas elas apareciam você.


A raiva saiu e deu lugar a uma extrema insegurança. Se Wang nunca falou sobre isso, era porque não queria que voltássemos a ser o que tínhamos? Será que não me queria mais?


— Claro que não, Mark, eu te amo tanto que dói. Todos os dias foi como se estivesse no inferno. Mas eu te respeito muito, por isso não falei nada, nunca em um milhão de anos iria querer te fazer se sentir pressionado para ter um sentimento inexistente. — Me puxou para seu colo e cada palavra era tão verdadeira que eu sabia mais do que ninguém o quão dolorido tinha sido a experiência.
Puta merda, se antes beijá-lo era como o paraíso, agora senti como se fosse a oitava maravilha do mundo de tão perfeito. Juro, foi como se um anjo cantasse para mim e o próprio deus estivesse me abençoado por ter o amor de minha vida de volta.


— Amor? Espero que retire a parte de querer que cortem o meu pau, pois aí, você que não teria onde quicar.— Revirei os olhos, aquilo era a coisa mais Jackson do mundo.

 


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Notas finais do capítulo

Paz



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