Anne With an escrita por Donna K2O


Capítulo 1
O céu


Notas iniciais do capítulo

Na falta da 4ª temporada... Vou escrever o que venho pensando, o que gostaria e imaginava que iria ocorrer na história.



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Parecia tudo um sonho. Anne não podia acreditar que na manhã anterior havia dado seu primeiro beijo... E o segundo... E o terceiro... E o quarto... Tudo era tão inacreditável! Fechou os olhos e ainda podia sentir os lábios de Gilbert, o gosto de sua boca, seu abraço, seu perfume, sua respiração! Era tão bom amar. Sentia como se toda a felicidade do mundo estivesse presa dentro de seu corpo, pedindo para sair, implorando para explodir e inundar o mundo inteiro de paixão. O sorriso que surgia em seu rosto era inevitável, queria saltar, dançar, cantar, gritar para que todas as galáxias soubessem que amava Gilbert, e Gilbert a amava. Como era bom amar e ser correspondida, sempre pensou que não chegaria a amar, ou que sofreria por um amor não correspondido. Lembrou-se de quando chegou em Avonlea e disse a Matthew que nunca se casaria, por que era muito feia. Se era verdade Diana deveria estar dormindo na cama ao lado, então rapidamente se sentou na cama para ver se  ela estava no quarto.

 - É verdade! – Exclamou animada vendo Diana. Saltou da cama e correu até a amiga. – Diana! Diana! Diana! – Pulou sobre a amiga que ainda estava dormindo. – Sabe o que aconteceu ontem?

— Sim Anne... – Disse sem se mexer ou abrir os olhos sequer. – Você e Gilbert se beijaram sua mãe é ruiva e você está feliz.

Diana estava exausta, não que estivesse indiferente com a alegria de Anne, estava feliz pela amiga, mas no dia anterior havia conversado com Anne, melhor dizendo, escutado Anne falar sobre o assunto durante o dia e a noite inteira até de madrugada. Por vezes seus olhos se fechavam enquanto escutava Anne, ela por sua vez com toda a sua empolgação nem notava os cochilos de Diane.

— É!... – Sussurrou Anne após encher os pulmões, extasiada, se jogando de costas atravessada sobre Diana que não se importou. Estava acostumada com a energia de Anne, que por sua vez dava gritinhos de felicidade que escapavam da explosão de sentimentos que estavam acontecendo dentro dela. – Diana você já sentiu como se acordasse, mas continuasse sonhando? Como se o seu corpo estivesse sem gravidade, e toda vez que você respirasse sua alma levitasse até sair da Terra e nada pudesse te puxar para o chão? Como se a felicidade fosse tão real que pudesse ser tocada se você se concentrasse? Já sentiu tanta felicidade que ficou com medo de ser uma compensação de Deus antes de você morrer? Como uma pessoa que sempre viveu em um poço de desilusões e desespero, e de repente um balde de felicidade é despejada na cabeça sem aviso prévio, fazendo-a tremer de frio, mas de uma forma maravilhosamente boa. Então do nada, assim como a felicidade chegou ela vai embora, geralmente morre ou adoece brutalmente seja espiritual, mental ou corporalmente?

— Não Anne. – Respondeu Diana de forma curta e desinteressada, ainda com o sono vencendo-a.

O relógio no criado mudo tocando, trouxe Anne novamente para a Terra.

— Rápido Diane, levante-se! O dia está estupendamente glorioso! Não há uma única nuvem no céu.

Relutante Diane levantou e começou a se vestir. Anne entre pulos e dancinhas se vestia, enquanto poetizava ao vento.

Foi quando uma nuvem surgiu no céu em que Anne estava, quando alguns pensamentos repentinos se formaram em sua mente. Anne ainda não havia contado para as demais meninas sobre o ocorrido com Gilbert, e tinha medo do que Rubi iria dizer embora soubesse que ela não o amava mais. E se ela achasse que isso era uma traição por ela ter gostado dele por muito tempo? E se achasse que Anne gostava de Gilbert a muito tempo e apenas não havia dito, e por isso a encorajava a desistir do romance com ele?

Desceram as escadas e encontraram as demais meninas sentadas à mesa, esperando por Anne e Diana. Estavam conversando sobre a cidade, sobre o que tinham conhecido e visto, os lugares as pessoas e sobre onde gostariam de ir durante a tarde. Anne e Diana entraram na conversa, mas infelizmente foram interrompidas quando a Sra. Brackmore apareceu na sala. Sua cara não era a das melhores.

 - Bom dia meninas? – Disse ela. Todas as garotas responderam gentilmente. – Suponho que já estejam a vontade na casa.

— Com certeza! – Animou-se Rubi, que amou seu quarto.

— E já leram as regras da casa?

— Sim Sra. Blackmore, todas nós lemos. – Respondeu Diana.

— Poderiam me informar quando é permitida a visita de pretendentes?

— Aos sábados na sala das 14:00 as 16:00. – Disse Tillie nervosa, não era boa sobre pressão e falava rápido.

— Ótimo! – Se dirigiu a ruiva de olhos agitados ao lado esquerdo da mesa. - Anne Shirley Cuthbert, poderia me dizer por que casualmente avistei você os beijos com um rapaz na entrada da pousada, ontem pela manhã?

Todas as meninas olhavam para Anne surpresas, boquiabertas e sem acreditar.

Era oficial. Anne tinha certeza de duas coisas: 1º Essa era a pior primeira impressão que poderia ter causado, e 2º Seu coração estava tão acelerado e batendo tão forte que qualquer um na mesa poderia ouvir... ou talvez fosse exagero. Beliscava seu braço na tentativa de ser um pesadelo, mas não era.

— Então Anne? Não vai me responder?

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Em Toronto

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Gilbert admirava a imensa construção a sua frente, a Universidade de Toronto.

Era muito grande, embora não fosse tão movimentado, pois as aulas ainda não haviam começado. Deixara suas malas no quarto onde se hospedou partiu rumo a Universidade logo cedo, embora já tivesse a confirmação de que havia entrado, estava nervoso com a recepção. Era algo desconhecido e completamente novo, nenhuma da pessoa que conhecia estava lá, era uma completa aventura.

Passou pelos corredores cujos pisos pareciam estalar a cada passo, lembrou-se de Anne, com certeza se estivesse ali ficaria encantada, e provavelmente compararia o ruído do chão ao som que sai do chão quando se usa sapatos de sapateado, e em seguida começaria a tentar sapatear, sorrindo e dançando. Sorriu com o pensamento.

Ao chegar à recepção, viu uma garota de cabelos castanhos sentada com uma postura perfeita na cadeira. Ela olhava para o relógio na parede. Deveria ser o aluno que mencionaram a Gilbert, que iria fazer um tour junto a ele no campus.

— Bom dia Senhorita?

— Bom dia. Você deve ser Guilher...

— Gilbert... – Corrigiu ele ao vê-la buscando em um papel o nome dele.

— Isso, Gilbert Blythe. Eu sou Nancy Andreans. Vou guia-lo pelo campus.

Cumprimentaram-se e seguiram pelos corredores e salas adentro.

Após apresentar todo o lugar para ele, desde o banheiro até o estacionamento, sentaram-se um pouco no refeitório para descansar.

— Então, já está com saudades de casa? Da família?

— Um pouco.  - Pensou em Bash, Hazel e na pequena Delphine.

— E o que está achando da Universidade? – Disse Nancy animada.

— Parece ser boa.

— É um jovem de poucas palavras não? – Disse ela insistente.

Gilbert apenas sorriu em concordância. Estava um pouco travado por não conhecer nada, não sabia que assunto puxar ou o que dizer, ainda estava cansado da viajem que havia feito de trem. Não havia descansado nada desde que desembarcara.

Olhou pela janela do refeitório, viu uma cerejeira, suas flores balançavam com o vento brancas e delicadas, quase podendo falar alguma coisa, como se sussurrassem a cada balanço do vento que as faziam dançar, em uma valsa lenta e sublime, mesmo não havendo de fato som ou sussurro algum, sabia o que diziam: “Anne”. Era engraçado como podia vê-la nas coisas mais singelas.

— A quem pertence esse sorriso? – Perguntou Nancy, que percebeu como Gilbert vagueou nos pensamentos olhando pela janela, como dizia Bash, com cara de abestalhado.

— Anne. Ela é a dona.

Bom, então me conte dela?

Ambos sorriram. A conversa seria longa.

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Em Green Gables

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Os Marilla acordou e como de costume, fez o café. Em um impulso foi até a escada, mas lembrou-se que não havia ninguém para chamar. Agora era somente ela e Matthew, que já estava trabalhando desde cedo. Arrumou os utensílios na mesa e chamou Matthew com o sino na varanda, olhou a fazenda de um canto ao outro rapidamente, era tão quieto. Comeram em silêncio. Mal se olhavam, ou se falavam, até que finalmente Matthew quebrou o silêncio.

— Está quieto aqui.

— Eu sei. – Disse Marilla sem parar de arrumar seu pão.

— Anne faz uma falta.

— Não diga como se ela não fosse mais voltar! – Repreendeu. – Ela está estudando, e logo vem nos visitar. Vai ver só, qualquer hora dessas em um dia silencioso como esse ela aparece para arranjar uma encrenca. – Embora Marilla sempre tentasse ser dura, sentiu falta das encrencas de Anne, seus olhos quiseram se encher de lágrimas, mas se segurou.

— É! Enquanto isso, pensei em arrumar um quarto para Jerry ficar aqui, não todos os dias, apenas os que precisarmos mais dele. Vai ser bom! O quer acha?

— Não sei, podemos ver isso depois?

Jerry entra na cozinha com uma galinha em mãos, segurada pelas pernas.

— Sr. Cuthbert! Já matei a galinha que me pediu! Olha!

— Santo Deus! – Penas caíram no chão, e o sangue da galinha pingava. Marilla se espantou ao ver o chão encerrado ser sujo por Jerry e sua galinha. - Olha a sujeira que está fazendo menino! Vá já para fora com isso! A galinha deve ser limpa no tanque lá fora e somente depois ser trazida aqui para dentro.

Jerry se desculpou e saiu da casa rapidamente. Marilla sentou-se novamente à mesa para comer. Deu um leve sorriso, talvez fosse bom ter Jerry ali. Não estava mais acostumada viver sozinha com Matthew, e pelo menos nos primeiros dias sem sua ruivinha encrenqueira, poderia se manter a cabeça ocupada com Jerry.

— Talvez seja bom Jerry aqui. Não todo o tempo, só quando necessário. – Deixou claro ela.

— Claro! Somente quando necessário.

Continuaram seu café, em silêncio.

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No pensionato de Charlottetow

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Todas as meninas ansiosas faziam diversas perguntas para Anne: “Quem era?”, “Você está namorando?”, “Por que não nos contou?”, “Nós conhecemos?”.

As perguntas das amigas foram interrompidas pela pergunta repetida da Sra. Blackmore.

— Então Anne? Não vai me responder?

Anne gaguejando olha para Diana, que com os olhos estralados faz um gesto com a cabeça para que ela respondesse.

— Me desculpe Sra. Blackmore, não foi de propósito... Quer dizer... Foi, mas... Hã... - Então, a menina puxou ar aos pulmões e se recompôs o quanto pode. - Não vai se repetir.

— É claro que não vai. – Friamente respondeu a dona da pensão. – Por que como mencionado assim que chegaram aqui, garotas tão amáveis como vocês jamais sonhariam em infligir uma regra sequer, estou certa? – Ela olhava para todas as meninas olho a olho, lentamente. Estava claro que queria deixar uma recado, Anne era apenas o exemplo, de que nenhuma “escapada” passaria despercebida aos olhos dela. Todas as meninas assentiram em silêncio.

Após a Sra. Blackmore sair no cômodo, Anne pode soltar o fôlego e conseguir respirar novamente.

— Então Anne, diz pra gente quem era o garoto? – Perguntou Ruby curiosa.

— Alguém. – Queria estar com Ruby em particular quando a contasse que se tratava de Gilbert. Não assim, entre todas as meninas, não parecia certo em respeito a todo o sentimento que Rubi já havia sentido, ela merecia esse esclarecimento a sós.

— Ele é seu namorado? – Tillie disse entre risinhos.

— Si... Na... Eu não sei! – Respondeu a ruiva francamente, os dois sentiam algo muito forte um pelo outro, embora não houvessem se expressado com palavras, mas de fato, nenhum pedido formal de namoro havia sido feito.

— Como é que você não sabe? – Falou Josie Pye da forma arrogante que sempre se dirigia à Anne.

— Bom, não houve um pedido formal.

— Então vocês só ficaram se beijando? – Disse Jane trocando de lugar na mesa, ficando ao lado de Anne, que se enrubesceu.

— Hul... – Disseram as meninas notando Anne vermelha, menos Diana que sabia o porquê de sua amiga não poder se abrir.

— Por que não deixamos a Anne em paz? Quando ela quiser, vai falar conosco sobre isso. – Defendeu Diana.

— Você sabe! – Gritou Ruby, e rapidamente todas rodearam Diana pedindo para que ela confessasse que sabia quem era, e com esperança que contasse quem era um pouco de pressão.

 Anne aproveitou a distração das colegas e saiu do lugar se dirigindo ao seu quarto. Logicamente as meninas notaram a ausência da menina de bochechas vermelhas assim como seus cabelos, e saíram atrás dela. Anne correu e conseguiu entrar no quarto e fechar a porta antes que as meninas entrassem, que vendo a derrota, voltaram para Diana.

A menina ficou com as costas na porta pensando, tinha que esclarecer com Gilbert que tipo de relação tinham afinal. Sentou-se na pequena mesa de estudos em seu quarto e pôs-se a escrever uma carta, mas o que exatamente escrever nela para não ser tão direta?

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Na fazenda de Gilbert e Sebastian

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Muriel estava com a pequena Delphine nos braços, se apegara a criança em pouco tempo, seus lindos olhinhos negros conquistaram seu coração desde o princípio. Esperava Bash na sala. Ele a havia chamado para pedir-lhe um favor, e saíra para preparar a mamadeira da filha enquanto a professora a acalmava e distraía.

Enfim voltou para a sala com a mamadeira em mãos.

— Aqui está filhinha, impaciente como a mãe. – Disse Bach.

— Se importa se eu der a mamadeira a ela? Você a tem todos os dias, e ela finalmente se acomodou perfeitamente em meu colo para dormir, me dê 5 minutos e ela estará em sono profundo, dormindo como um anjinho. – Pediu a professora.

— É claro. – Deu a mamadeira a ela, que tão prontamente ofereceu a menina, que pôs-se a mamar. – Eu disse que tinha um favor a pedir a você... – Começou. – Bom, eu vejo como você cuida da Delphine, como você gosta dela.

— A culpa é todinha dela, é impossível não se encantar com essa carinha. – Derreteu-se pela pequena.

— Sim, de fato. E é por isso que eu gostaria que você fosse a madrinha dela.

A expressão no rosto de Muriel ficou séria. Dirigiu sua atenção que estava na bebê para Bash, que estava sério como ela. Após 2 segundos de silêncio um sorriso abriu-se no rosto da professora tão instantaneamente como no rosto e Bash.

— É claro que eu quero! Será o favor mais longo e gratificante que já fiz. Com todo o prazer eu aceito.

— Viu Delphine! – Dirigiu Bash à pequena. – Diga “Olá” para a sua madrinha.

Ambos ficaram se babando sobre a menina. A mãe de Bash que estava fora da casa, entrou na cozinha e ao passar pelo corredor viu a cena. Ficou olhando por um tempo na porta, não sabia exatamente o que sentir. Os dois pareciam amar tanto a menina, e sabia que sentimentos podiam se confundir uma amizade. Resolveu voltar aos afazeres, e espairecer a mente. Eles amavam a menina, e enquanto não fosse nada, nada teria perigo de nada.

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Em Green Gables

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Marilla estava na cozinha fazendo o almoço quando Matthew entrou preocupado.

— Que cara é essa Matthew?

—  Lembra-se dos índios amigos da Anne, que estavam tentando resgatar a filha?

— Sim, lembro.

— Eles ainda estão fazendo acampamento na frente da escola. Não deixaram eles ver a menina ainda, e pelos rumores, vão transferir as crianças para outra cidade para ver se dispersam os índios, e fazem eles desistirem da menina. Estão com medo de mais índios aparecerem para resgatar seus filhos e causem problemas.

Matthew pega um papel e uma caneta e começa a escrever.

— O que está fazendo? – Perguntou Marilla temendo a resposta.

— Escrevendo para Anne, ela tem que saber o que está acontecendo e avisar os pais da amiga dela.

— Você vai meter a Anne em confusão!

— Anne não vai nos perdoar se descobrir que sabíamos disso e não a contamos, e além disso, Anne sempre se mete em confusão com o sem a nossa ajuda, assim pelo menos talvez ela possa ajudar a convencer os pais da indiazinha a ir para casa, e esses rumores ficam sendo apenas rumores, depois eles voltam e tentam de novo com um advogado ou sei lá o quê. Não importa, Anne precisa saber e os pais da menina também. Se fosse nossa Anne no lugar dela, você iria querer saber o que pretendiam fazer com ela.

Marilla não pode discordar.

Do lado de fora da cerca, um homem bem vestido e cheio de pompa se aproximava. Empinou o nariz cheio de nojo e olhou para a simples residência a sua frente. Pegou um pedaço de papel em seu bolso do casaco e o leu.

— “Anne Shirley-Cuthbert” – Pois o papel novamente no bolso. – Vai ser fácil, fácil.


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Notas finais do capítulo

E aí? Por enquanto está "Ok"? Diz nos comentários o que achou.