Anne With an escrita por Donna K2O


Capítulo 5
A Chegada de Uma Intrusa


Notas iniciais do capítulo

Olá... Desculpem a demora. Sabe como é, a gente fica em casa por que o mundo está acabando e resolve começar um monte de leituras, e esquece da escrita.

Obrigada lilits3, FreeSoul e Luciana pelos comentários.



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Na sala da Tia Jô

Todos estavam na mesa da cozinha, comendo felizes. Comentavam os ocorridos do plano com excitação e alegria. Tia Jô ouvia tudo com olhos curiosos e atentos a cada detalhe.

— Minha nossa! – Exclamou a senhora ao final da história. – Acho que nossa juventude tem muito potencial afinal! O futuro não perde por esperar.

— Amanhã bem cedo vou até o internato para acompanhar Ka’kwet na volta para casa. – Gilbert que estava sentado ao lado da Anne, a encarou e arqueou a sobrancelha como de costume. Ela entendeu a pergunta. - Prometi que a devolveria até amanhã de manhã, quero ir junto para garantir que vai chegar bem e assim aproveito para ver o Matthew e a Marilla. – Ele voltou a olhar para a comida um pouco triste. – E se... Você vier comigo? Assim você aproveita para ver o Bash e a Delphine.

— Acho uma boa ideia. – Disse ele com um sorriso de lado.

— Não acho isso apropriado, uma dama e um cavalheiro viajarem sozinhos? – Arfou Josie Pay enquanto bebericava o chá. Anne pensou em responder algo, mas Diana cortou sua frente.

— Eles não vão sozinhos, eu vou com eles! – Diana não havia conversado com Anne sobre ir junto à amiga para Avonlea, mas sabia que Josie Pay ficaria comentando sobre o assunto, e não deixaria Anne em paz, até que alguém se prontificasse a ir com eles, então resolveu encurtar todo esse caminho. – Vou visitar os meus pais. – Disse olhando para Anne, mas se dirigindo a Josie Pay. – Pergunte da próxima vez Josie, uma dama não deve sair acusando a outra de algo, muito menos sem investigar antes.

Josie corou, mas disfarçou com outro gole de chá. Anne deu um sorrisinho para Diana, que retribui.

— Eu só gostaria de ter participado da melhor parte do plano! – Indagou Rubi de repente. – Queria ter ido junto com a Diana e Cole no internato, ou ajudado Gilbert e Jane do lado de fora com Tillie, mas ao invés disso eu fui ao jornal.

Anne revirou os olhos, pois já havia explicado por que escolheu cada um para cada parte do plano, mas explicou novamente.

— Eu já disse, tínhamos 3 pessoas que conheciam Ka’kwet: Eu, Gilbert e Diana. Precisávamos de duas, uma para entregar o bilhete para ela e outra para reconhecê-la no lado de fora. Eu iria ao jornal, então Gilbert e Diana teriam que se dividir entre essas duas tarefas.

— E por que eu não pude entrar no internato com Diana?

— Um rapaz teria quer ser o engenheiro formado, por que não dariam atenção a uma garota, então Cole faria esse papel e Diana foi para reconhecer minha amiga.

— E com Gilbert do lado de fora?

— Jane com sua graça e jogo de cintura conseguiria enganar qualquer um de nossos reais propósitos caso fosse pega, e Tillie, Ora... Por favor, quem seria capaz de olhar para essa carinha e pensar que estaria tramando algo? Você Rubi, chora sobre pressão.

— Então não tive uma participação importante no plano? Fui à sobra que acompanhou você no jornal pra não dizer que não fiz nada? – Disse Rubi já com a testa se enrugando em uma careta de choro.

— Não Rubi, todos foram importantes. No jornal, eu precisaria de respaldo caso eu não fosse atendida pelo Girassol: Josie Pay com seu jeito de falar que faz com que qualquer um que não tope o que ela quer, pareça um perfeito idiota imbecil, e você com porte pequeno e fofo, que faz parecer uma bonequinha de porcelana e seu choro fácil pode amolecer o coração de qualquer um.  Todos foram importantes no plano, nenhum mais do que o outro.

Todos se entreolharam e sorriram, realmente todos tiveram participação, e o mais importante, fizeram tudo juntos deixando todas as diferenças de lado para isso. Todos tinham créditos pelo resultado positivo dele.

— Um brinde a turma da senhorita Stacy! – Gritou Diana. E todos brindaram.

 

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Na Pensão

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A noite caiu, e as meninas decidiram retornar para a pensão com o motorista da Tia Jô. Assim que chegaram lá e adentraram o portão, viram que a Sra. Blackmore as esperava à porta com uma expressão não muito boa.

— O toque de recolher! – Exclamou Anne. – Nós esquecemos completamente, ninguém voltou para dormir aqui ontem!

Todas as meninas pararam por um instante e se olharam, não havia o que fazer. Na correria do dia anterior não retornaram para a pensão nem para trocar de roupa. Por sorte todas elas haviam ficado uma noite fora, se fosse apenas uma delas sua reputação estaria arruinada pelas fofocas da cidade.

— Senhoritas. – Chamou a senhora à porta. Elas se aproximaram. – Poderiam me explicar por que nenhuma de vocês retornou para a pensão na noite anterior?

— Foi minha culpa. – Disse Anne. – Eu precisava de um favor das meninas, e... Elas só queriam me ajudar... Hã... – Ela gaguejou e resolveu parar de falar, porque a Sra. Blackmore a olhava com uma expressão que ela já conhecia. Era a mesma expressão que a diretora do orfanato tinha de “Tinha que ser a Anne!”. Diana tentou falar alguma coisa, mas Anne a impediu. – Me desculpe Sra. Blackmore.

— Entrem. – Disse a senhora. As meninas entraram em silêncio em fila indiana, o mais rápido que podiam sem correr. – Srta. Shirley. – Ela chamou quando Anne passou pela porta, que parou para lhe ouvir. – Eu a aconselho a não quebrar mais nenhuma regra. Já foram duas, e olha que eu tenho apenas 3.

— Eu sinto muito, serei mais cautelosa. Prometo.

— Espero que sim, eu odiaria ter que lhe repreender novamente. Gostei muito de hospedar a senhorita com suas amigas.

Anne apenas concordou com a cabeça e entrou.

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No dia seguinte, Anne e Diana acordaram cedo e foram até o internato juntamente com Gilbert. Queriam ver sua amiga. Assim que chegou, viu um aglomerado de pessoas de jornais e revistas, e um prefeito com um sorriso tão grande, que Anne tinha certeza de que teria dores no rosto a noite. Após muitas fotos com as crianças, finalmente os oficiais levaram-nas em alguns carros para a estação de trem.

Era a primeira viagem de Anne e Gilbert fariam como casal, embora fosse curta e para um local já conhecido, passaram o tempo todo de mãos dadas, abraçados ou conversando e aproveitando o tempo que tinham juntos. Diana ficou alguns acentos à frente, para dar privacidade aos dois, enquanto ficava imaginando como seria quando chegasse sua vez e Minnie May provavelmente faria a mesma coisa por ela, sentada alguns bancos à frente enquanto comia alguns biscoitos ou bombons dados a ela como suborno, para que ficasse mais afastada de Diana e seu prometido. Riu com essa imaginação. Durante a viagem, a paisagem de cidade movimentada foi sendo mudada aos poucos, trocando as casas e prédios por árvores e pastos, plantações e fazendas.

Chegando a Avonlea, foram junto a Ka’kwet e o oficial até a aldeia de seu povo. Assim os pais da menina a viram, correram para abraça-la. Foi uma cena realmente emocionante. O casal de universitários ficou sobrando por um instante junto a Diana, os amigos da aldeia de Ka’kwet e seus familiares vieram abraça-la. Anne notou que realmente os pais da amiga não estavam mentindo, já haviam vários guerreiros preparados para a guerra.

A indiazinha contou tudo o que havia ocorrido no internato para os presentes, que de tempo em tempo olhavam Anne, Diana e Gilbert com uma expressão de espanto e surpresa. Os pais da doce garota abraçaram Anne juntos, um de cada lado de fora tão desesperadamente feliz, agradecida e fraternal, que fez a pobre ruivinha se sentir desconfortável. A mãe de sua amiga proferiu algumas palavras para Anne enquanto soluçava com um sorriso enorme no rosto, apertando carinhosamente ela em seus braços.  As palavras foram traduzidas por Ka’kwet: “Minha mãe disse: ‘Agora você é família também’”. A pobre ruiva não pode conter a emoção.

O pai de Ka’kwet abraçou Gilbert com tanta vontade que quase tirou o garoto do chão, arrancando risadas de alguns. Diana ainda com um pouco de medo, e desconforto pois nunca havia ido a um lugar como aquele, estendeu a mão efetivamente para o pai de Ka’kwet, e os saudou com uma reverência. Queriam fazer uma festa para comemorar o retorno da filha, e para agradecer Anne, mas ela, Diana e Gilbert tinham que retornar durante a tarde, pois no dia seguinte começariam as aulas. Eles agradeceram muito aos 3, e disseram que se mudariam dali para bem longe, para evitar que algo assim ocorresse novamente. Ka’kwet prometeu a Anne que escreveria assim que se instalassem.

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Na fazenda de Gilbert e Bash

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Bash estava na cozinha junto com Elijah quando Gilbert, Diana e Anne chegaram.

— Não conseguiu aguentar duas semanas longe dessa carinha aqui, não é? – Brincou Bash com Gilbert.

— Viemos aqui para cumprir uma promessa da Anne. – Todos olharam para ela, que com o susto pelos olhos fixos e rápidos sobre si, corou, mas com uma balançada de cabeça pôs a vermelhidão para fora, e contou a história toda para os presentes.

Estavam na parte em que Anne descrevia como havia subido no telhado e entrado pela chaminé com a ajuda de Cole. Obviamente tinha escondido o detalhe de ter se vestido como garoto para realizar tal façanha, pois isso não era importante, mas a risada abafada que Gilbert e Diana escondiam sobre as duas mãos nesse momento da história, deixou um “Quê” de curiosidade no ar. Anne apenas o olhou com o canto do olho e um sorriso. “Parem vocês dois!”, disse ela quase rindo também, entre dentes. Ao final, todos riram muito com tudo o que haviam escutado, embora ninguém risse mais que Gilbert e Diana, e não encontravam o que eles achavam tão engraçado, mas acreditaram que era pelo fato de que eles estavam presentes durante toda a ação.

— Bom, temos outro motivo para vir aqui hoje. – Disse Diana olhando para Gilbert com expressão de eu-sei-seu-segredo. Ele fez uma careta para ela, tentando repreendê-la, mas não deu certo.

— Temos? – Perguntou Anne perdida. Gilbert resolveu não contornar a situação, segurou a mão direita de Anne embaixo da mesa e a puxou para perto de seu peito.

— Vou falar com Matthew para oficializar nosso compromisso. – Os olhos de Anne brilharam, e por um instante sua fala falhou (Por inacreditável que pareça). Isso se deu mais pelo fato de que Gilbert não havia contato a ela sobre essa parte. A palavra “Compromisso” não havia sido pronunciada ainda, não era exatamente necessária para os dois saberem que tinham algo entre eles muito forte, mas era bom ouvir e tirar algumas dúvidas que tinha na cabeça, e finalmente saber o que dizer quando os outros perguntavam sobre isso.

— Eu sabia! – Exclamou Bash de repente ficando de pé. Fazendo todos saltarem nos bancos com seu brado. – Eu sempre soube não foi? Confessa.

— Você sabia disso Diana? – Perguntou Anne.

— É, você sabia Bash! – Deu o braço a torcer, Gilbert.

— Tá brincando? Sei o discurso todo que Gilbert dirá, ficou ensaiando a noite toda... – Disse Diana sorrindo.

— Eu sabia! Sabia o tempo todo! – Exclamou novamente Bash. Diana continuou:

— Por que acha que estava de pé tão cego? Tia Jô me contou que ele ficou até tarde acordado repassando o texto, e de manhã bem cedo pediu para eu ir até lá ver se tinha ficado bom, por que estava muito nervoso.

— É? – Perguntou Anne para Gilbert, que a essa altura estava vermelho como um pimentão. Ele apenas acenou com a cabeça. – E ficou bom? – Perguntou Anne sem piedade do menino, que não respondeu.

— Vai ter que recitar! – Disse Bash. – Só um pedacinho!

— Me deixem em paz! – Retrucou o rapaz jogando em Bash um pano de prato que havia sobre a mesa.

— Eu devia ter apostado dinheiro nisso! O jeito como você ficava todo bobo quando lia uma carta da Anne no barco... – Bash fez uma cara de acanhado e sem jeito, mexendo os dedos das mão e os pés, com a cabeça de lado e um risinho tosco. Todos riram.

— Eu não ficava assim! – Disse Gilbert. Bash apenas riu com o comentário. – Não... Tanto...

— Parabéns! – Elijah apertou sua mão.

Hazel entrou no cômodo com a pequena Delphine nos braços, em prantos. Ela tentara acalmá-la sem sucesso, e se conformara com o pranto da menina.

— Olá Sra. Lacroix. O que há com Delphine? – Perguntou Gilbert preocupado ao ver o pranto da menina. Hazel a balançava de um lado para o outro sem parar.

— Cólica! Hó... Olá Anne! Diana!... – Disse vendo as recém-chegadas, e logo voltou-se para Gilbert novamente. – Estou tentando acalmá-la a mais de 2 horas, mas logo a menina fica sem voz e para de chorar. – Disse em seu usual tom de impaciência e sabedoria. – Ho! Olá Gilbert não havia lhe visto. Continuando... As vezes não há o que fazer, apenas aguardar até que as dores passem.

Anne a observava em silêncio, mas não aguentava ficar parada vendo uma criança chorar. Talvez pelo seu instinto de ajudar os outros, ou pela infância que tivera com Sra. Tomas e Sra. Hammond, sempre cuidando dos filhos dos outros, teve um impulso de ajudar a acalmar Delphine, e pediu para segurá-la um instante.

— Menina! – Hazel deu de ombros, sarcástica. – Estou tentando acalmá-la faz muito tempo. Há coisas nessa vida que não tem remédio, temos que sofrer e aguardar até que passe. Chorar faz bem para os pulmões. Deixa-lhes mais fortes.

— Se faz tempo então deve estar cansada de tentar. O que custa? Deixe-me ajudar.

— Garota...

— Me deixe tentar! – Insistiu com os braços esticados para pegar a menina. – Vamos!

— Tome! – Entregou Delphine para Anne sem nenhuma esperança, com ares de “Eita garota teimosa”.

Hazel foi para as panelas, mas sem tirar os olhos de Anne, que tentava todas as posições e truques que sabia. Enquanto isso Elijiah, Bach, Diana e Gilbert conversavam sobre as novidades na fazenda, mas aos poucos a cena ocorrendo com Hazel e Anne acabou tomando a atenção deles. A cada coisa que Anne tentava Sra. Lacroix dizia já ter tentado, ou apenas a encarava perguntando “o que está fazendo agora menina?”, e logo após Anne falhar respondia “Viu, eu lhe disse!”.

Anne foi se estressando com os comentários de Hazel, mas ficava calada. Preferia não responder. Até que colocou a menina sobre a mesa e começou a tirá-la as roupas.

— Anne! – Hazel disse em alta voz, concentrando a atenção de todos na sala naquela cena, até os poucos que ainda estavam tentando conversar. – O que você está fazendo? Vai resfriar a menina! – Anne não lhe deu ouvidos, e continuava a tirar cada peça de roupa da bebê. Sra. Lacroix se aproximou e tentou impedi-la.

— Com todo o respeito! – Disse Anne batendo na mesa, olhando Hazel tentando não perder a paciência. - Dá para a senhora me deixar tentar do meu jeito? Está a mais de duas horas tentando acalmar Delphine, eu estou à apenas 10 minutos!

Hazel voltou para as panelas resmungando. Deixando Anne continuar.

— Se acha muito sabichona não é? Está vendo esse homem aqui? – Apontou para Bach. Anne olhou rapidamente sem parar o que estava fazendo, e voltando os olhos para a bebê novamente. – Eu cuidei dele quando bebê, e de mais 3 que não eram meus filhos. Dois desses 3 eu cuidei até se casarem. Então sei o que estou fazendo! Quantas crianças você já cuidou?

— Oito! – Anne disse firmemente, levantando o rosto rapidamente e encarando Sra. Lacroix com desafio. O efeito que queria foi alcançado, e mulher se calou, paralisou seu rosto eu uma expressão de confusão. Não havia mais nenhuma peça de roupa em Delphine, além de sua fralda. A ruiva analisou o pequeno corpinho sobre a mesa, apertando alguns lugares para ver se encontrava o foco da dor. Após terminar, encarava a ainda chorosa bebê com as mãos apoiadas na mesa, como um arquiteto analisando seus desenhos, procurando alguma falha. – O que há com você? Não está com cólica, nem dores no corpo, nem nenhuma peça de roupa que possa estar incomodando. – Alguns segundos de analise, e uma ideia clareou sua mente. – É claro! – Disse a si mesma, com um estalo de dedos. - Vamos tentar isso então!

Entregou Delphine de volta a Hazel com um sutil “Segure-a para mim, vou tentar uma coisa”. Saiu pela cozinha pegando algumas coisas, entre eles um pedaço de pano que cortou e uma fita, além de ervas e especiarias. Andava de um lado para o outro, cortando, fervendo, picando, lavando. Sra. Lacroix a olhava em cada instante, ainda fazendo algumas contas em sua cabeça, pois o “Oito” de Anne, não lhe saia da cabeça. Em certos momentos Anne passava por Hazel, desviando da mulher que ficava no meio do caminho. Ela soltou um “Pare de se mexer tão rápido menina!” para Anne, que não deu bola. Em seguida saiu pela casa por um tempo, todos olhavam divertidamente aquela cena, e aguardavam o final do ato. Quando voltou, Anne pegou Delphine novamente nos braços e novamente saiu pela casa.

— Aposto 5 pratas em Anne! – Disse Bash para sua mãe, com ar confiante e sorriso travesso.

— Somos Dois! – Disse Gilbert.

— Três! – Levantou a mão, Diana.

— Apostado! – Respondeu Hazel firme e arrogante.

— Eu estou com a mãe de Bash. – Disse Elijiah respeitosamente, que não conhecia Anne ainda (Pobrezinho).

Gilbert aproveitou o momento para falar com Bash.

— Está nervoso? – Perguntou Bash, referindo-se ao pedido de namoro de Gilbert.

— Um pouco. Vou pedir a mão de Anne em namoro para os Cuthbert, daqui a pouco. – Disse com um sorriso que não podia conter. - Eu e ela... Já nos acertamos, mas quero fazer as coisas direito.

— Já pediu a mão de alguma garota antes? – Quis saber Elijiah.

— Já mas, foi diferente, é tudo diferente com a Anne. – De fato. Ele e Anne se conheciam desde crianças. Além do mais, eram muito amigos então caso tentasse não conseguia ser diferente com ela pois a mesma perceberia na hora, e riria dele por se por em uma situação assim apenas para impressioná-la. Com Anne não tinha que se preocupar em fazer uma boa impressão com os pais, tinha que se preocupar exatamente com o oposto, pois Marilla e Matthew o conheciam desde bebê e também a toda a sua família, e ser tão conhecido por alguém pode ser bom ou muito ruim, só teria um jeito de saber.

— Vai dar tudo certo! Os Cuthbert tem um grande apreço por você. E vocês se dão muito bem, ficam ótimos juntos, e combinam muito. – Ajudou Diana.

— Como a loucura e o sanatório. – Criticou Hazel séria, de costas para todos nas panelas. – Essa menina... Tem alguma coisa nela que... – Pensou um pouco, mas não chegou à palavra que queria. - Eu não sei! Tem algo nela que não é bem... “Certo”. Algo não se “encaixa”... Não sei bem o que é, mas não me parece correto.

— Eu sei – Sorriu Gilbert. – E é isso que eu mais gosto nela.

— Uuuu, alguém tá apaixonado! – Zombou Bash brincando – “É isso o que mais gosto nela”. – Remendou de forma engraçada, com uma voz fininha. Gilbert apenas riu meio sem jeito, junto com os demais.

— Gente espera! Estão ouvindo alguma coisa? – Perguntou Diana chamando a atenção dos presentes. – Delphine parou de chorar.

Anne voltou à cozinha com uma calma e doce bebê, quase entregue ao sono. Havia um sachê em sua mão, que havia feito com o pano da cozinha. Todos olharam estupefatos. Hazel surpresa e um pouco indignada com essa “traição” de sua neta. A jovem colocou Delphine no carrinho que havia na cozinha e a balançou um pouco, estava quase cochilando.

— Pronto! – Disse Anne ficando em pé, ereta, com as mãos na cintura, encarando Hazel e deixando sair o ar que guardava nos pulmões, como expressão de “dever cumprido”.

— Vai time Anne! – Bradou Bash rindo. Anne ficou sem entender, pois não estava ciente da aposta.

— Bruxinha desgraçada! – Praguejou Hazel fazendo todos na sala rirem. – O que você fez?

— Eu tenho os meus truques! – Respondeu Anne sorridente.

— E isso na sua mão? – Perguntou vendo o sachê que ela segurava.

— Isso? É um feitiço. Pegue Bash! – Disse Anne tirando o pequeno pacotinho para o amigo, que agarrou facilmente. Não precisou de muita análise para notar que havia algumas fragrâncias misturadas nele, entre eles algo inconfundível para Bash, o perfume de Mary. Anne havia aprendido a receita com a prima de Ka’kwet, em um dia que havia visitado amiga, meses atrás. Não conseguira exatamente os mesmo ingredientes, mas conseguiu um bom improviso, ou deu sorte talvez. Bash levantou-lhe os olhos com um sorriso. – Vou lhe ensinar o “feitiço”, mas não use muito, é apenas para esses casos. – Disse a ele.

Anne sentou-se próximo ao carrinho e continuou balançando-o.

— Conte-me menina, que história é essa de você ter cuidado de 8 crianças? – Indagou à curiosa Hazel, que ainda não sabia a história de Anne.

— Eu fiquei alguns anos na casa da Sra. Hammond. Uma mulher que tinha 2 filhos mais 3 pares de gêmeos. Todos menores de 5 anos. Ela tinha que trabalhar por que era impossível manter a família e a casa apenas com o emprego do marido, que ficava ainda mais difícil quando se embebedava e faltava. Então eu ficava o dia inteiro com as 8 crianças, tendo ainda que fazer a comida, limpar a casa e cuidar dos animais que tinham.

— Uau! Como você dava conta? – Surpreendeu-se Bash. Anne ficava balançando Delphine, e olhando seus lindos olhinhos se fechando pouco a pouco enquanto respondia.

— Ha não se engane! Eu não dava conta. Posso ser uma bruxinha para algumas coisas, mas não tenho poder o suficiente para tal feitiço. É por isso que quase todos os dias recebia uma cota de surra do Sr. Hammond. – O sorriso de surpresa e admiração nos rostos das pessoas na sala, foram sendo desmanchadas aos poucos com os relatos tristes de Anne, que contava tudo com indiferença como se fossem páginas de uma história que não era sua. – As vezes ele queria avançar nas crianças menores, e eu para defendê-las acabava me dando mal. Após sua morte, a Sra. Hammond me deixou no orfanato até eu ser adotada pelos Cuthbert.

— E por que ela não ficou com você? – Elijiah disse, vendo-se envolvido pela curiosidade. – Se já era difícil cuidar as 8 crianças com o marido trabalhando, devia ser mais difícil sem ele não?

— Ela dividiu as crianças com alguns familiares e foi para os Estados Unidos, então não precisava de mim. Além do mais, ela me culpava pela morte dele. Embora eu acredite que ela queria que isso ocorresse.

— Como assim?

— Ele morreu enquanto me surrava. – Ouve um silêncio na cozinha.

— Eu sinto muito menina. – Disse cheia e compaixão Hazel. Anne percebeu o silêncio que se estendeu, e se virou para ver o que havia de errado. Vendo todos os rostos tristes ela compreendeu que estavam com pena dela, da história que havia contado. História que ela já havia superado, e aceitado com o passar dos anos. Embora as vezes alguns fleches lhe fizessem reviver tudo.

— Ho... Não fiquem mal por isso, por favor! Tudo isso já passou e gosto de pensar que tudo o que aconteceu me trouxe até Avonlea. Até Matthew e Marilla, e até vocês. Afinal, sem os gêmeos da Sra. Hammond eu jamais saberia como ajudar Minie May quando ficou doente, e se não fosse para o orfanato não teria como ajudar Rubi quando a casa dela pegou fogo. As coisas que vivi definem quem sou agora.

— Doença? – Perguntou Hazel.

— Incêndio? – Perguntou Elijah.

Bom, havia muito a contar sobre nossa doce ruivinha.

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Na Mansão da Sra. Gaélic

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— Daniel, está tudo pronto? – Perguntou Sra. Gaélic ao pé da belíssima escada em sua sala.

— Sim Sra. Gaélic. A carruagem está a sua espera.

— Ótimo, espere um minuto, eu já vou. – Ela subiu as escadas, e foi até a 4ª porta do corredor. Abriu-a com cuidado, revelando um lindo quarto de cor pérola e rosa, com lindos detalhes nas paredes. Respirava fundo analisando cada detalhe, como uma pintura à frente de um artista.

Andou até a cama arrumada com perfeição, com almofadas de renda branca. O lado dela, havia um porta retrato sobre um criado mudo. Nele havia uma foto de uma garotinha ruiva, com os dois dentes da frente faltando, com cerca de 5 anos. Pegou em suas mãos com comoção. Daniel apareceu na porta do quarto, mas resolveu não interromper, sabia que embora Constance Gaélic fosse muito forte, indiferente e sólida como uma coluna em sua forma de ser, tinha seus momentos de mãe, mulher e humana, como qualquer outra pessoa, e que não gostava de ser vista em nenhum deles.

— Minha Lyla. – Disse ela acariciando a foto.

— Senhora?... – Daniel resolveu se prontificar, por medo de Constance irromper em lágrimas. Sabia que ela ficaria muito mais brava com ele se a visse chorando, do que apenas admirando a foto de Lyla naquele estado.

— Sim Daniel, eu já estou descendo.

— Temos que ir se quisermos nos encontrar com os Cuthberts hoje.

— Muito em breve Anne estará aqui nesse quarto, conosco!

— Ainda acho que a senhora está sendo otimista demais em acreditar que os Cuthbert nos darão a menina, eu estive lá e a amam demais.

— Daniel, sabe quantas pessoas eu já conheci que diziam dar a vida por algo, e a venderam por alguns trocados? Todas as pessoas querem alguma coisa. E se por acaso eles forem “honestos demais”, tem sempre o jeito mais difícil.

— E se a garota não concordar?

— Tem um jeito difícil para ela também. Não tenho medo de por a mão na massa para conseguir o que quero.

— A menina é amada por todos de Avonlea.

— Ela é bonita? Bem apessoada?

Daniel excitou um pouco.

— Ela tem seu charme, mas contam histórias fantásticas sobre ela. A estima que todos tem por ela, veio através da admiração por seu caráter, e bom coração.

— Blá, blá,blá... – Ela revirou os olhos. – Fiz uma tremenda propaganda dessa menina aos Alissons, disse a eles que Lyla era uma garota encantadora!

— E ela é! Foi a primeira da turma, e entrou com honras na faculdade. Além disso... – Ele puxou um pedaço de jornal de seu bolso, abriu e mostrou para Constance. – Olha só ela.

No pedaço de jornal, havia uma foto da de Anne em preto e branco. Era uma fotografia tirada na humilde formatura que teve junto aos seus amigos, na escola de Avonlea. Mesmo o jornalista tendo posto apenas a imagem de seu rosto, era possível ver que o corpo dos outros alunos que estavam atrás dela. A reportagem era justamente sobre a formatura que saiu no jornal de Avonlea. Constance se aproximou, vendo o que Daniel queria lhe mostrar. Não era a “beleza” de Anne, mas o formato de seu rosto, seu lindo nariz, suas sardas, seus lábios, queixos e sobrancelhas. Sua fisionomia.

— Ela é perfeita. – Disse ela de súbito. Colocando a imagem do jornal ao lado do porta-retratos para compará-los – Vamos, vamos buscá-la. Não vejo a hora de apresenta-la aos Alissons.

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Em Green Gables

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Anne e Gilbert chegaram juntos. Matthew a viu ao longe e sacodiu os braços para cumprimentá-la à distância. Ela correu para abraçá-lo. Marillia que estava na cozinha ouviu a voz eufórica que Anne, e saiu correndo para encontra-la também. Eles se abraçaram enquanto Gilbert ficou parado ao longe olhando, com as mãos no bolso.

Eles entraram e se sentaram a mesa da cozinha. Lá conversaram por muito tempo, almoçaram, e enquanto Marilla e Anne limpavam a mesa o assunto surgiu.

— E então, eu soube o que ocorreu no internato mocinha. – Disse Marilla. – Pode dizer onde estava com a cabeça?

— Eu tinha que fazer alguma coisa! Os pais de Ka’kwet fariam um estrago no internato. Eu estava apenas sendo útil. Alias, consegui o que queria. Trouxe Ka’kwet de volta para a família dela, partirão hoje mesmo para outro lugar onde ninguém mais poderá separá-los.

Nesse momento Jerry chegou correndo e adentrou a porta da frente.

—Anne! Que bom ver você! – Ele a abraçou, cumprimentou Gilbert e depois se sentou nos degraus da porta enquanto comia uma maçã.

— Como foi que você fez conseguiu tirar a menina do internato? – Perguntou Matthew.

— Você fez o quê? – Assustou-se Jerry. – Por que fez isso.

— Fizemos um plano para dar a oportunidade do prefeito se arrepender e deixar as crianças irem para suas casas, mas como não deu muito certo, invadimos e tiramos uma das meninas de lá para provar nossos argumentos.

— E como fizeram isso?

— Eu e Cole subimos o telhado enquanto os outros nos davam cobertura, então ele me desceu por uma chaminé até o interior do prédio e...

— Mas como fez isso de vestido? – Indagou Jerry.

“Praga”, pensou Anne. Ninguém havia perguntado a ela sobre isso. Por que Jerry tinha que perguntar isso? Por que ele estava ali para início de conversa? Ele deveria estar trabalhando, ou descansando do trabalho. Não deveria invadir a conversa dos outros, nem fazer perguntas que não conveniam, mas lá estava ele, parado, esperando por uma resposta. Até que Anne percebeu que estava a muito tempo sem falar nada.

— É verdade! – Percebeu também Matthew. – Como você entrou? De vestido deve ter sido difícil. Não ficou levantando contra a parede da chaminé, ou grudando nas laterais?

— Eu... Não ... Fui... De vestido.

— Como assim Anne? – Indagou à senhora.

— Eu peguei umas... Roupas emprestadas.

A fixa demorou um pouco a cair, mas por fim Marilla arregalou os olhos, ao mesmo tempo em que Matthew engasgou com a própria tosse e Jerry cuspiu o pedaço de maçã que tinha na boca.

— Você se vestiu de menino? – Jerry não conseguia conter a risada ao terminar a frase.

— Não tinha outro jeito. – Tentou se explicar.

— Não acredito que se vestiu de menino Anne! – Vociferou Marilla.

— O que eu poderia fazer? Era ariscado descer de vestido, eu poderia entalar!

— Você se vestiu de menino de novo? Acho que está gostando disso. – Disse Jerry. Quando Marilla ouviu esta frase, seu olhar penetrou o de Anne.

— Como assim “De novo”? Anne você já fez isso outra vez antes?

— Bom... Sim, na peça da escola. – “Ufa! Santo raciocínio rápido”.

— É... – Provocou Jerry. – Foi só dessa vez, não é?

Anne sentiu os olhos ferverem para cima de Jerry. Por que fazia isso? Por quê? Não ganharia nada com isso. Gilbert estava meio perdido com toda a conversa, mas estava tão nervoso que percebeu que não tinha falado uma única frase, desde que cumprimentou os Cuthberts no portão de Green Gables.

— Bom. – Disse ele por fim quebrando o silêncio, na tentativa de mudar de assunto. – Eu gostaria de falar com o senhor, Sr. Cuthbert, se possível.

Ele olhou para Anne de lado, que entendeu o recado. Ele queria ficar a sós com Matthew.

— Se me dão licença, eu vou ver a Preconceito. – Disse Anne se levantando.

Assim ela saiu com Jerry, eles foram conversando sobre as inúmeras e infinitas novidades que... Duas semanas fora poderiam trazer. Enquanto isso, Gilbert tentava lembrar-se do texto que havia ensaiado por muitas vezes para aquela ocasião, mas não obteve sucesso nisso. Por fim após um instante de silêncio conseguiu falar o que pretendia, embora não tenha sido nada do que havia ensaiado. Foi direto ao ponto.

— Eu vim até aqui hoje por um motivo em especial.

— Diga o que deseja Gilbert. - Disse Matthew, se acomodando na poltrona da sala, Gilbert estava sentado no sofá ao seu lado.

— Eu acho melhor ir direto ao ponto. Vocês me conhecem desde pequeno, e sabem como é meu caráter e minha índole. Bom, assim sendo não vejo motivo para ficar tentando me aprumar ou impressioná-los em algo.

— Esqueceu-se da parte que iria direto ao ponto. – Disse Marilla da cozinha, onde limpava a mesa.

— Eu venho até aqui pedir permissão para namorar a Anne.

Ao despejar essa frase, Matthew congelou sua ação de acender um charuto, e por um instante ficou estático. Voltou ao normal tragando profundamente. Marilla parou o que estava fazendo na cozinha e foi para a sala. Marilla olhou para Gilbert, depois para Matthew, que deu de ombro e olhou para Gilbert novamente enquanto dava uma tragada no cigarro.

Matthew e Marilla não esperavam por isso com certeza. Não sabiam como reagir a um pedido de namoro para sua querida Anne. Isso significava muito, significava que realmente ela estava crescendo e que iria embora de vez. Sua ida a Universidade foi muito dolorosa para Matthew, mas isso era algo totalmente diferente. Após a formatura Anne voltaria para casa até conseguir um emprego, e se conseguisse um próximo a Green Gables continuaria morando ali. Um namorado era o primeiro passo para um noivado, que era o último passo antes de um casamento, que era o passo principal para se formar uma família. Sua própria família. Os Cuthbert não conseguiam ver Anne como uma mulher, ou como uma mãe de família. Era apenas uma jovem, e tinham medo de que se equivocasse na vida. Quando Anne chegara a Avonlea, todos esperavam que ela se equivocasse em suas escolhas, que se tornasse o escândalo da Ilha do Príncipe Eduardo, mas com muito esforço, bondade e paciência, Anne havia conseguido mudar essa ideia que tinham de seu futuro, mas alguns ainda tinham este pensamento, e o que Matthew e Marilla mais queriam era que jamais essas pessoas tivessem razão, ou direito de dizer “Eu já sabia que isso iria acontecer, o que se pode esperar de uma órfã?”.  Ainda tinha muito mais nela de menina do que de mulher, mas talvez estivessem exagerando, pois sentiam medo de perdê-la. Afinal, uma jovem tinha o direito de namorar, principalmente quando sentia algo realmente belo por alguém tão bom quanto ela. Sabiam que Gilbert era um ótimo menino, e que jamais faria algo para magoar Anne, e ela também não era tonta. Não TÃO tonta, pensava Marilla. Ela sabia o que queria, e era muito esperta, não era fácil enganá-la, e muito menos fazê-la desistir do que queria.

— Você quer namorar a Anne? – Indagou Marilla. – Não entendo o que aconteceu aqui! Você não estava noivo até pouco tempo atrás?

— Eu estava. – Deu um pigarro. - Mas desfiz o noivado justamente por que percebi o que sentia pela Anne. Não seria justo seguir com o noivado sabendo que não amava minha noiva, Anne sentindo o mesmo ou não.

— Bom, nós sabemos o que Anne sente por você. – Disse Mattew, vendo que Marilla se recuperava de ouvir Gilbert falar por entrelinhas que amava Anne. AMAVA. Parecia um sentimento tão grande para alguém tão jovem. “Quando foi que Anne começou a despertar esse tipo de sentimentos nos meninos?” Se perguntava à senhora, enquanto lembrava-se de sua “pequena”.

— Ela deixou bem claro o que sentia para nós. – Disse Marilla. Ambos lembrando a manhã, em que Anne se levantou declarando seu amor por Gilbert. Assim como também se lembraram de como ela ficou decepcionada com a notícia do noivado de Gilbert. – Mas a questão é, que faz pouquíssimo tempo que seu noivado foi desfeito. As pessoas vão comentar.

— Vão dizer que você terminou o noivado por causa de Anne. – Disse Matthew. - E embora isso seja verdade, segundo você, não é algo que as pessoas devem saber. Não ficará bonito para você, nem para sua ex-noiva, muito menos para Anne.

— Entendo completamente. – Disse o apaixonado abrindo seu coração. - O motivo de vir aqui, é que gostaria de deixar as coisas claras com vocês desde o início, seria muito errado saberem por ouvidos de outros que eu estou cortejando Anne. Minhas intenções com Anne são as melhores possíveis, quero fazer tudo certo e conhecendo vocês como conheço sei que Isso é algo que devem saber de antemão. Se quiserem, podemos esperar para formalizarmos o namoro. Em absoluto faria algo para manchar a reputação de Anne.

— Sabemos que você é um ótimo rapaz Gilbert. – Disse Marilla, afinal em Avonlea todos conheciam a todos. E Gilbert era de uma reputação impecável. Todos diziam que a garota com quem ele se casasse seria uma garota de sorte. Embora para Matthew e Marilla, Gilbert é quem era sortudo por conseguir o coração de ouro que Anne possuía.

— Mas talvez seja melhor esperar um pouco de fato, tudo é tão recente. – Disse Matthew.

— Você entende não é Gilbert?

— Sim é claro. De acordo. – Respondeu o garoto. – Eu tenho certeza do que sinto por Anne, e esperaria a vida inteira por ela se fosse preciso.

Matthew e Marilla se olharam com um sorriso, afinal ao que tudo indicava estavam na frente de seu futuro genro. Marilla se perguntava se essa era a forma correta de chamar Gilbert quando o apresentasse a alguém, por sorte teria tempo para pensar. Já Matthew abriu um sorriso com um pensamento que veio tão rápido em sua mente quando se foi, de uma jovem Anne vestida de noiva entrando na igreja de braços dados com ele, enquanto pequena menina Anne dizia não esperar se casar nunca, pois ninguém se casaria com ela. “Crianças dizem cada coisa... Minha nossa... Crianças!”.

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Na casa da Srta. Stacy

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Anne e Diana estavam sentadas a mesa da cozinha tomando um chá. Como a conversa de Gilbert havia se estendido um pouco, resolveram ir até a casa da professora e esperar por ele lá. Tinham apenas mais algumas horas antes de pegar o trem de volta.

— Meus alunos me enchendo de orgulho! – Disse a professora orgulhosa após ouvir a história. – É uma pena terem que voltar tão cedo. Poderiam ficar aqui até tarde.

— Infelizmente não, Gilbert tem que pegar outro trem até Torronto.

— É...- Disse Diana brincalhona.  – Gilbert tem que voltar para Torronto não é Anne? E seria horrível voltarmos para o pensionato sem ele.

— O que eu não estou entendendo? – Disse Muriel. Diana tomou um gole de chá, fingindo disfarçar não ter ouvido.

— Gilbert e eu estamos namorando... Eu acho.

— Nesse caso parabéns!... Eu acho. – Desejou a professora. – Como “Eu acho”?

— Ele está falando com Matthew agora. O resultado da conversa trará sua resposta. – Disse a ruiva. – Como eu queria ser uma mosquinha para saber o que estão conversando. Uma mosca não. Não é nada poético. Uma borboleta! Sim, eu poderia ser uma borboleta para saber o que estão conversando, e com certeza se me vissem não tentariam me matar ou me perseguiriam pelo cômodo tentando me afastar com as mãos, ficariam me admirando ou tentariam me capturar gentilmente para ver minhas cores mais de perto.

— Uhh! – Disse Diana através da xícara. – Quer que Gilbert veja suas cores mais de perto?

Anne corou com o que Diana falou, e a pobre Muriel se afogou no chá. Enquanto Anne se recompunha, a professora pegava um guardanapo para secar o chá que havia saído nada elegantemente pelo seu nariz.

— Eu não disse isso! – Se defendeu Anne.

— Então quer somente que ele te capture gentilmente? – Perguntou Diana fazendo uma cara séria, que se esforçava em sua atuação para não rir, ao ver Anne corar. Não mais que Muriel.

— Diana! Também não disse isso, eu...

— Céus! Então quer que ele se persiga pelo cômodo?

— Diana!

— Com suas mãos?...

— DIANA!

— Tentando te matar? – Diana cobriu a boca com um guardanapo fingindo espanto.

Muriel não pode se aguentar e começou a rir muito alto, fazendo com que as duas jovens começassem a rir também. O que foi bom, pois Diana estava começando a ter certeza de que se Anne ficasse mais um pouquinho vermelha apenas, nunca mais voltaria ao normal. As risadas trouxera sua cor original, ou quase.

— Com quem você aprendeu a ser assim? – Quis saber Anne. – Eu conheci uma Diana que não fazia esse tipo de brincadeira com suas amigas.

— Aprendi com a namorada do Gilbert, mas no final você não me respondeu o que queria Anne.

— Bom. – A ruiva resolveu entrar na brincadeira. Sabia que era o único jeito ganhar, ou pelo menos, não perder. – Sendo essas as minhas opções, eu fico com a captura e as cores, creio que sejam as mais adequadas no momento. Mais tarde podemos pensar na perseguição e em todo o resto. Creio que este não seja o momento.

— Meninas! – Riu Muriel enquanto se abanava com um guardanapo. – Tome cuidado Diana, um dia será a sua vez.

— Eu certamente me lembrarei disso, e me cobrarei com juros! – Disse Anne.

— Se depender da minha irmã! Já terei incomodo suficiente. Posso ver a Minnie May correndo pela casa gritando que me viu beijando meu namorado, eu sendo inconveniente em meus encontros como minha “vela”, lendo minhas cartas de amor pela casa, fofocando sobre absolutamente tudo o que eu faço, enfim, sendo irritante como sempre. As vezes eu detesto ter irmã.

— Pois eu acho que amaria ter uma irmã! – Disse Anne encantada, já imaginando-se como irmã mais velha, dando conselhos e ensinando a se pentear (Não que essa fosse sua melhor habilidade). Ou sendo irmã mais nova, tendo alguém para pedir conselhos, para se inspirar e admirar.

— Bom eu te dou a minha! Quanto você quer para ficar com ela? Mas vou logo avisando! Ela faz o que quer da vida, sem nenhuma repreensão, e não está acostumada com regras.

— Eu te entendo. – Disse a professora, mais para si mesma do que para Diana. As jovens olharam para ela, que percebeu ter falado alto demais. – Que foi?

— Você teve irmãs? – Perguntaram as duas juntas em pleno êxtase, por saber algo sobre a misteriosa Srta. Stacy.

— Tive um irmão e uma irmã, mas no meu caso eu que era a Minnie May.

— Como assim? – Novamente as duas, quase entrando em curto circuito. Se debruçando sobre a mesa para ficar mais próxima de Muriel.

— Meus pais tiveram um menino e uma menina, tinham o pacote completo, um herdeiro para levar o nome da família e uma dama para apresentar a sociedade. Quando eu nasci minha mãe morreu no parto. Minha irmã tinha 9 anos e meu irmão 10. Meu pai ficava tão preocupado com meus irmãos que deixava minha educação em segundo lugar, acreditava que tinha muito tempo ainda para me disciplinar, e tinha pouco tempo para fazer os últimos ajustes nos meus irmãos antes de entrarem na sociedade.

— Isso não parece ser muito bom com você. – Disse Diana. – Mas vendo desse jeito, faz sentido o comportamento do seu pai, e dos meus.

— Não era ruim para mim, muito pelo contrário. Eu podia fazer o que queria. Subia em árvores o dia inteiro, brincava de castelo de lama e tudo mais que passasse pela minha cabeça, mesmo depois dos 8 anos, quando minha irmã se casou, e eu passei a ser a única "dama" da casa junto com minha nova madrasta. Meu irmão sempre brincava comigo, me ensinava várias brincadeiras, e meu pai não permitia que ninguém me repreendesse além dele, por que de certa forma, eu era a última coisa que minha mãe havia deixado para ele... - A professora ficou pensativa por um instante, pensando naqueles tempos, mas logo retomou a fala - Foi essa liberdade que tive na infância, que me fez ser assim hoje.

— Bom, talvez você tenha razão. - Disse Diana.

— Vai por mim. - Disse a professora. - Se você fosse filha única, pediria uma irmã, mas como tem uma irmã diz que gostaria de ser filha única. É sempre assim.

— E sempre seremos infelizes por não termos o que queremos? - Quis saber Diana.

— Não. Daqui uns anos você vai começar a ver que sua irmã é bem legal no final das contas, vai por mim. Minha irmã só começou a gostar de mim depois da minha puberdade. Aquela história de que ela se inspira em você é verdade. - A professora percebeu que Anne perdeu um pouco o sorriso ao ouvir isso. - E você Anne, vai fazer tantos amigos incríveis na vida, que serão como irmãos para você. E não terá que dividir seus vestidos com eles.

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Em Green Gables

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Marilla e Matthew estavam sentados na sala conversando, ainda assimilando a conversa que haviam tido com Gilbert a pouco, quando alguém chegou ao seu portão. Era uma senhora muito bem vestida, e um senhor que segurava uma sombrinha sobre ela. Foram ao encontro deles.

— Com licença. Vocês são o Sr. e a Srta. Curthbert? – Perguntou a senhora de muita pompa.

— Sim, - Disse Marilla. – Somos nós. Em que podemos lhe ser útil?

— Eu sou a Sra. Gaélic. Gostaria de falar com vocês a respeito da Anne, se possível. Devem se lembrar de Daniel Lerg. – Disse apontando para Daniel, que fez uma breve reverência aos irmãos.

— Sim, claro. – Reconheceu Matthew. – Podem entrar. Vamos conversar na sala.

Adentrando a sala, Marilla não pode deixar de notar como a mulher reparava cada cantinho da casa com certa rejeição, parecia não gostar, ou até mesmo ter nojo de encostar-se à casa. Finalmente chegaram a sala, e se sentaram. A Mulher não parecia nada confortável no sofá, como se tivesse se sentado em uma taboa. Marilla resolveu começar logo a conversa, antes que pedisse para a mulher se levantar e ir embora, já que ficava fazendo cara feia como uma criança.

— Então, o que a senhora deseja com a nossa Anne? – Perguntou Marilla sem rodeios.

— Bom, eu soube que a adotaram faz alguns anos, que a criaram, mas faz algum tempo começaram a procurar por algum parente dela. É isso?

— Sim. – Disse Matthew já com medo do que se seguiria. Marilla não podia falar, sua língua curiosamente ficou dormente nesse momento. Suas dores de cabeça haviam voltado.

— Bom, vocês acharam. – Disse a mulher de súbito. – Eu sou Constance, a tia da Anne, e gostaria muito de conhecê-la.


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Notas finais do capítulo

E aí? Valeu a espera? Espero que sim.



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