Quando os Lobos Cantam escrita por Ladylake


Capítulo 5
Canções ao Luar


Notas iniciais do capítulo

Novo capitulo ♥

Boa Leitura~



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786731/chapter/5

O estalo da madeira a queimar desperta Nour do seu sono. Nada foi um sonho, como ela esperava. Ela está no mesmo sítio. A caverna húmida e escura ainda não a convenceu de maneira nenhuma.

Ela olha em volta. Luckyan não está, e ao lado dela estão algumas roupas, juntamente com um recado por baixo de uma pequena pedra.

 

“Volto ao anoitecer. Tenta não fazer barulho”

 

Ela amachuca o papel e nesse exato momento um barulho ecoa na gruta. Nour franze a testa assim que pedaços de pedra caem no charco a uns metros dela.

—Quem está aí? – pergunta, mas apenas os barulhos de fundo da gruta se ouvem.

Nour não se dá por satisfeita e começa a caminhar em direção a uns rochedos. Ela pega numa faca e para assim que ouve novamente barulhos atrás de uma rocha.

—Tens 5 segundos para sair daí ou então…! – ela ameaça.

Mal ela termina de falar, uma cabeça canina espreita com bastante timidez. As orelhas pontiagudas para baixo e o olhar assustado e hesitante fazem-na relaxar.

Nour pousa a faca e olha com mais atenção para o lobo que ainda está escondido atrás do enorme rochedo. Ela agacha-se, ficando de cocaras e estende a mão.

—Vem cá… eu não te faço mal –sussurra ela num tom meigo_ eu sou como tu…

Os olhos vermelhos dela brilham e imediatamente os do lobo também, mas num tom amarelado. Ele levanta a cabeça assim que vê a cor dos olhos dela. Hesitante, ele acaba por sair do esconderijo.

Nour arregala os olhos assim que o vê por completo. Ele é maior do que ela estava á espera e a transparência do olho esquerdo revela cegueira.

Ela contempla o pelo dele. Ele é lindo. A sua cabeça varia entre castanho escuro e claro e duas manchas beges surgem por cima de cada olho. O longo e duro pelo castanho nas costas funde-se com outros que parecem rios brancos que o atravessam, assim como na cauda. O detalhe que ela mais admira são as duas pequenas manchas brancas nas bochechas dele, similares ás que estão por cima dos olhos. Ele parece uma tela de pintura.

Ela sabe que uma pessoa se esconde por de trás deste belo animal, mas pelos vistos, ainda não se quer revelar.

Nour acaricia o topo da cabeça dele com um sorriso. Ele demonstra que aprecia o afeto ao abanar a cauda freneticamente.

De repente, as orelhas felpudas começam a rodar para trás e para a frente. A expressão gentil e carinhosa desaparece e dá lugar a uma atenta e séria.

—O que se passa? – ela volta a perguntar.

Ele olha para a saída da gruta e dá um rápido olhar a Nour antes de começar a correr.

—Espera! – grita ela, mas ele continua.

O vento gelado faz Nour arrepiar. Um tremendo nevão cai lá fora e ela não se atreve a colocar um pé fora da gruta. Ao longe, ela vê-o a correr aos saltos na neve em direção a outros dois lobos que aparecem no meio das árvores despidas. Um branco e um bastante escuro, quase preto.

O lobo negro imediatamente corre para o novo amigo de Nour e começa a lambê-lo freneticamente. “Quem são eles? Serão os Betas do Luckyan?” - ela pensa.

 

****

 

 

Nour perdera a noção do tempo. Um dia inteiro apenas na nossa companhia realmente pode dar connosco em doidos, especialmente se tivermos fome, sede e feridos num recanto de uma gruta.

Mesmo com a dor das queimaduras, Nour não hesita em explorar tudo á sua volta. Luckyan tem vários objetos e livros que ela nunca vira. “Onde raio é que ele foi buscar tudo isto?”.

Ela pega num livro e assopra o pó que cobre a capa do mesmo. Está escuro, mas ela ainda consegue ler o título: “Mitologia Nórdica”

—Interessou-te?

Nour levanta os pés do chão com o susto e olha para a entrada da gruta onde Luckyan a encara com vestimentas quentes e alguns sacos na mão. A sua expressão não transmite nada. Ele apenas faz uma cara de paisagem e Nour não consegue perceber se ele está zangado por ela andar a remexer nas coisas dele.

—Um bocado – responde ela.

Ele aproxima-se e pousa os sacos em cima da mesa de madeira e começa a retirar comida e outras provisões de dentro dos mesmo. Nour olha para os pacotes de bolachas, enlatados e sumos com os olhos arregalados. O seu estômago começa a fazer barulho assim que ela vê salchichas e pão fresco.

—Onde é que foste buscar isto tudo…? - sussurra. Luckyan dá um leve sorriso, mas depois faz uma cara séria.

—Quem é que esteve aqui? – pergunta ele ao segurar-lhe na mão com alguma força.

—Au! Larga-me! Ninguém! – grita ela.

Luckyan fareja o ar e franze a testa. Ele reconhece o cheiro.

—Bear… - sussurra.

—Bear? É esse o nome dele? Faz jus ao nome… ele é enorme – diz ela.

—Ele não é enorme, ele é gordo -rebate Luckyan_ O que é que ele estava aqui a fazer?

—Eu não sei! Eu acordei e ele já estava aqui. Ele pregou-me um susto de morte…

Luckyan cerra o maxilar e inspira fundo bastante irritado.

—Os outros provavelmente já devem de saber que tu estás aqui… - devolve o alfa.

—Oh estás a falar dos dois lobos com quem ele foi ter depois de ter saído disparado daqui? Oh branco e preto? Não passaram nem a 100 metros daqui.

Luckyan resmunga e começa a despir-se. Nour volta-se de costas depois de perceber que Luckyan vai ficar completamente nu.

—Veste isto rápido, vamos sair – ordena ele.

—Sair? Com este nevão? – devolve Nour ainda de costas voltadas_ perdeste o juízo!?

Luckyan encosta-se a ela. Demais na perspetiva de Nour. A respiração dele roça no ouvido dela e o peitoral quente nas suas costas ultrapassam o conceito de espaço pessoal.

­_Veste esse casaco, calça essas botas e segue-me.

—Não precisas de estar tão perto de mim para me dizeres isso – sussurra Nour.

—Pensei que estivesses com frio… - sorri ele.

Nour vira-se de frente e empurra-o com toda a sua força. Luckyan sai disparado e transforma-se no ar, caindo já no chão sobre quatro patas e com pelo a cobrir-lhe o corpo.

Os olhos vermelhos vivos e incandescentes realçam-se do pelo castanho escuro, quase preto. Assim como Bear, alguns manchas e rios de um tom de castanho claro tornam-no bastante particular. Ela nunca viu nenhum lobo com tamanha pelagem. Castanho escuro, preto e castanho claro, tudo num só canídeo.

Luckyan faz sinal para que ela o siga e caminha para fora da gruta. Nour veste o casaco e as botas com pelo e assim faz.

 

 

****

 

—Espera aqui – ordena Luckyan.

Nour para e olha em frente. Uma caverna ainda maior do que aquela em que ela estava está bem escondida e isolada do resto no cimo de uma colina. As árvores por de trás quase que a camuflam.

Luckyan entra e Nour começa a ouvir várias vozes. Curiosa, ela espreita lá para dentro para ver o que está a acontecer.

Um rapaz e uma rapariga saúdam Luckyan bastante animados. Estão os dois á volta de uma fogueira e estão a comer. Luckyan desaparece lá dentro.

Ok, é altura de ir embora. Nour começa a andar para trás silenciosamente, mas embate contra alguém logo de seguida.

—Onde raio é que tu pensas que vais? – pergunta o rapaz com um sorriso macabro nos lábios e com os braços cruzados.

Ele nem dá tempo de Nour lhe responder e pega imediatamente nela pelo braço. Nour geme de dor enquanto que é arrastada para dentro da gruta.

—Olhem o que eu encontrei lá fora! – brinca ele enquanto a lança ao chão. Nour literalmente rebola.

Algumas crostas das queimaduras dos seus braços abrem e começam a sangrar. Nour tenta-se levantar, mas não consegue. Ela grita de dor quando o rapaz assenta um dos pés nas suas costas ainda queimadas.

—Aslam!!

Aslam para assim que ouve a voz do seu alfa. Luckyan caminha até ele.

—Era uma brincadeira, eu estava a…

Luckyan corta-o com um valente soco e Aslam cai no chão agarrado á face. Os outros dois betas de Luckyan permanecem submissos e olham para o lado. Nour ainda está no chão a tentar levantar-se.

—Se lhe voltas a tocar…! -ameaça Luckyan_ se algum de vocês lhe toca num cabelo que seja, estão por vossa conta…

Luckyan pega em Nour e esta geme. Ele dirige-se a uma espécie de porta deslizante e de repente ambos estão num quarto. É o quarto de Luckyan.

Ele pousa-a na sua cama com calma, mas as feridas já foram reabertas. Nour está ofegante e a suar.

—Desculpa eu… - Nour corta-o cuspindo-lhe na cara.

—Faz um favor a mim e a toda a gente: Volta-me a por onde me encontraste e deixa-me morrer em paz…

Luckyan limpa o cuspo da sua bochecha e suspira.

—Eu tenho que voltar á outra gruta para ir buscar os ingredientes para tratar novamente isso. O Bear ficará á porta. -diz Luckyan.

Do outro lado da porta, Bear já se deitava mesmo á entrada do quarto. Ele vigiava Aslam e a rapariga, para que não tocassem novamente em Nour.

 

 

****

 

A porta do quarto abre-se e Nour abre os olhos. A beta de Luckyan, a única rapariga do seu grupo acaba de entrar com um prato de comida a fumegar nas mãos. Bear entra juntamente com ela, bastante atento a todos os seus movimentos.

—Parece que agora temos serviços de quartos – diz num tom cínico_ come enquanto está quente, não vai demorar muito até gelar e eu não vou desperdiçar mais lenha para voltar a aquecer restos.

Bear rosna. A rapariga morena e de cabelos encaracolados pretos dá de ombros e revira os olhos.

Ela pousa o tabuleiro em cima de Nour e senta-se na cama á frente dela.

Nour retira os braços queimados de dentro dos lençóis e tenta comer. Eles tremem como varas verdes e têm mau aspeto.

—O que é que te aconteceu…? – pergunta num tom baixo_ Chamo-me Saaya, já agora.

Nour mantém a cabeça e o olhar para baixo. Saaya resmunga.

—Hey! Estou a falar contigo! – cutuca ela sem paciência.

Nour desvia o olhar da comida e olha para Saaya com os olhos inundados de tristeza. Uma lágrima cai e Nour responde:

—Incendiaram a minha Vila; o homem que ia casar comigo dentro de dias caiu do desfiladeiro e está morto; uma seta atravessou o corpo da minha melhor amiga e ela morreu mesmo á minha frente; atravessei uma floresta inteira em chamas com a minha irmã mais nova ás costas até tombar no chão porque estávamos a ser perseguidas por humanos e de repente acordo numa gruta com um homem que nunca vi na minha vida, num sitio que eu nunca estive e o primeiro contacto com outros lobos que eu tenho, um deles resolve espezinhar-me como se fosse um coelho…. – Nour respira_ queres mais algum detalhe, Saaya?

Saaya não diz nada e apenas lança um olhar sem emoções. A porta do quarto volta a abrir-se e Luckyan regressa com os seus ingredientes medicinais.

Saaya levanta-se e dá um último olhar a Nour e Luckyan antes de sair.

—O que ela queria? – pergunta Luckyan pousando as coisas em cima de uma mesa.

—Chatear -responde_ mas eu mandei-a ir apanhar corvos.

Luckyan ri.

—Bear -chama ele_ vai apanhar neve e traz-me rapidamente. Vai pedir a um dos outros palermas para te ajudar sim? Preciso disso rápido.

Bear sai do quarto rapidamente com uma enorme caixa de madeira nos braços humanos bastante feliz e animado.

—Porque ele não fala? Parece tão simpático… - pergunta Nour.

—Porque é mudo – responde Luckyan. Nour arregala os olhos_ Ele costumava cantar e animar as festas na cidade Natal dele, mas cortaram-lhe a língua como castigo á muitos anos atrás.

—O que é que ele fez? Pobre coitado… - sussurra ela.

—Denunciou as pessoas erradas – rebate Luckyan_ os humanos apanharam-no e fizeram o que queriam com ele. Deixaram-no para morrer á beira da estrada, mas eu acolhi-o e tratei-o. Está comigo desde então.

—E os outros dois rafeiros? – volta a perguntar.

 

 

—Eu consigo ouvir-te!

 

Aslam e Bear entram no quarto com a caixa com neve até ao topo. Bear começa a rir quando Aslam coloca um montinho de neve sobre a cabeça de Luckyan. Nour não contém um sorriso também.

—Devias de aprender a falar um pouco mais baixo, jovem loba preta. Aqui o Aslam ouve tudo num raio de 2km – diz_ feliz natal família!

Aslam atira um punhado de neve para o ar antes de sair e Luckyan suspira.

—Podes ir Bear, já não preciso de mais nada.

Bear sai e diz adeus a Nour. Ela devolve o gesto juntamente com um sorriso.

—Não ligues ao Aslam. Ele ficou meio alucinado depois de ter ficado sem oxigénio no cérebro durante muito tempo – ri Luckyan.

—Ele afogou-se? – ela pergunta. Luckyan assente.

De repente, vários uivos ecoam por todo o lado. Luckyan olha para Nour.

—São eles. Fazem isto no início e no fim de cada estação do ano – diz Luckyan.

—Eles não estão a sinalizar…estão a cantar – conclui Nour_ podes me levar a ver? Por favor…

Luckyan olha para ela um pouco hesitante, mas acaba por aceitar. Ele pega em Nour ao colo e leva-a para a entrada da gruta para assistir ao espetáculo que muitos poucos têm a chance de ver.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ate ao próximo capitulo ♥ ♥ ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando os Lobos Cantam" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.