Mais um dia que se findava no Santuário de Athena, e assim como em todos os outros o Sol se punha em seu esplendor, despedindo-se e dando a vez para que as estrelas assumissem o espetáculo naquele céu azul infinito.

E não diferente de todos os outros finais de tarde, Afrodite assistia à este espetáculo da natureza do alto de seu templo. A quem visse aquela cena tão solitária, o acharia certamente melancólico e triste. Mas não era bem assim.

Afrodite gostava muito dessa hora do dia e fazia questão de estar sozinho neste momento em que deixava sua mente vagar livremente para tão longe dali. Era o seu momento e não o perdia por nada. Sentia-se livre para viajar por lembranças que lhe eram tão preciosas, lembranças que guardava no fundo de seu coração.

Naquela mesma hora, Saori saiu na varanda de seu templo de onde podia ver todo o Santuário, inclusive as doze casas zodiacais.

Foi quando uma brisa soprou em sua direção transportando o doce e agradável perfume das rosas do jardim de Afrodite. A jovem deusa baixou seu olhar esmeraldino encontrando os cabelos turquesa que voavam ao sabor da doce brisa.

Era uma visão magnífica! O perfil perfeito do cavaleiro era parcialmente iluminado pelos últimos raios solares enquanto os cabelos dançavam livremente. Haviam várias pétalas de rosas pelo ar, o que lhe emprestava uma aura romântica e delicada, e com esse quadro, Saori sentiu uma sensação que jamais experimentou em sua jovem vida.

Ao mesmo tempo em que seu coração batia descompassado, um friozinho se instalou em sua barriga enquanto um calor subia por seu pescoço alcançando a face alva da deidade.

Como que hipnotizada, Athena assistia àquela bela cena sem saber como controlar a onda de sentimentos que a invadia naquele momento.

Imerso em seus pensamentos, o pisciano não sabia o que causava em sua deusa e assistia à despedida do astro rei tingindo de púrpura o céu grego já pontilhado de infinitas estrelas.

Quando se deu por satisfeito, Afrodite fechou os olhos e inspirou profundamente o perfume que suas amadas rosas desprendiam no ar, antes de abri-los e deparar com uma silhueta que o observava do templo principal.

— Athena? – indagou intrigado com a presença da deidade. Na verdade, pensava no por que ela o observava tão intensamente. Queria ela algo dele? Mas se assim fosse, por que então não o contatou através do cosmo?

Ficou a sustentar a contemplação da deusa e foi quando notou uma inquietação no cosmo de Athena.

~ Senhorita Athena, está tudo bem? ~ preocupado, Afrodite perguntou via cosmo, e notou o sobressalto da deidade, como se voltasse à realidade naquele momento. ~ Sente-se bem, minha deusa?

"Oh, ele me notou aqui. O que eu respondo? O que ele vai pensar de mim?" Pensava aflita a jovem deidade antes de responder, passando uma falsa calma.

~ Estou bem, Afrodite. Apenas admirava o fim de tarde. ~ "Eu não estou mentindo, em todo caso"

~ É um espetáculo concedido pelos deuses à nós, humanos. ~ o pisciano voltou seu rosto na direção do oceano e novamente fechou seus belos olhos aquamarines, concluindo ~ E somos tão poucos que separam alguns minutos de nossos dias para apreciar tal perfeição.

— Sim… é perfeito… - Saori suspirou mais uma vez encantada com a beleza do cavaleiro de Peixes.

Mal sabia ela que o dourado escutou esse último comentário como um sussurro, e sorriu envaidecido.

Voltando a olhar em direção ao templo da deusa, Afrodite vê uma segunda silhueta feminina se aproximar de Saori e logo em seguida a jovem se despede de seu cavaleiro e deixa a varanda.

Afrodite ainda fica mais alguns minutos apreciando o céu estrelado e logo decide se recolher. Sua mente, agora, lhe trazia lembranças de como julgara errado a atitude pacífica de Athena quando, antes da batalha das doze casas, ele a trouxe ao Santuário a pedido de Saga.

Naquela época a julgou uma garotinha ingênua e uma deusa fraca, pois acreditava cegamente que a justiça só seria conquistada na base do mais forte. Em sua mentalidade distorcida o poder era a justiça.

Tolo! Como fora tolo em duvidar da doutrina de sua deusa, da verdadeira sabedoria em suas palavras. Mas ela, com sua infinita bondade provou estar certa e que ele sim havia sido ingênuo e fraco.

Já estava em sua cama, despido como gostava de dormir, quando voltou seus pensamentos para as lembranças das quais gostava de dispensar seu tempo ao assistir o pôr do Sol. Ficou até intrigado quando aquela que povoava sua mente apareceu naquele instante.

Teria ela sentido que era a protagonista de seus devaneios? Gostava de lembrar do calor do corpo jovem junto ao seu quando voltava para a mansão Kido através das dimensões. Da delicadeza das mãos pequenas entre as suas pouco antes de se despedir. Do perfume delicado de seus cabelos.

— Sim… – Afrodite virou para o lado e fechou os olhos, sentindo a leveza do sono a se aproximar. – Ela é de fato a mais bela das rosas...