Depois de três meses, três longos meses longe, finalmente faltam só quarenta minutos, talvez um pouco mais ou menos que isso, para ver a Twilight. Minha Twilight.

Enquanto o trem se aproxima cada vez mais da estação ferroviária de Canterlot, toda a nossa história passa na minha cabeça como um filme. Tudo começou quando visitei Manehattan para a inauguração da nova boutique da minha amiga Rarity, mas estava tão cheio que comecei a me sentir sufocada e então surgiu aquela linda unicórnio lilás de crina azul que se aproximou e me puxou para longe da multidão, me ofereceu um agua e perguntou se eu estava bem.

Conversar com ela me distraiu e logo eu já estava me sentindo melhor, gostei dela logo de cara e ainda mais quando ela me contou sobre seus bichos de estimação: uma coruja muito espertinha e um dragão bebê. Eu contei para ela sobre meu trabalho no santuário de animais, o que ela achou fascinante e quis ouvir todos os detalhes.

Durante a volta para casa eu não conseguia pensar mais nada, o nome dela ficou cravado como uma tatuagem na minha mente: Twilight Sparkle.

Começamos a trocar cartas e era estranho estar caidinha por ela porque eu só havia tido uma quedinha antes e foi por um garanhão forte e meio caladão irmão de uma amiga minha quando os dois me ajudaram com a mudança no dia em que saí de Claudsdale, depois me foquei só no trabalho e ali estava eu me apaixonando por uma pônei. Nossa, eu juro que quase surtei.

O que me ajudou a ficar bem comigo mesma foi ver um casalzinho lindo andando pelas ruas de Ponyville, as noivas Starlight e Trixie. E não só ver, cheguei ao ponto eu passar por cima da minha timidez porque precisava mesmo falar sobre isso ou o meu coração ia explodir, então chamei as duas para tomar um chá com bolinhos na Esquina do Torrão de Açúcar e conversar. Eu nunca tive esse tipo de atitude antes e foi muito difícil para mim, mas o olhar delas me passou muita tranquilidade e a forte sensação de que elas me entendiam e queriam me ajudar.

Desde a primeira conversa elas já me tiraram um peso gigantescos dos flancos, pois ver a perspectiva de duas pôneis que passaram pelas mesmas dúvidas e autoquestionamentos que estavam me enlouquecendo e agora viviam bem tanto uma com a outra quanto internamente e diante da sociedade numa cidade pequena como a nossa foi super reconfortante.

Embora isso tenha me deixado mais tranquila em relação a mim mesma, eu ainda estava esperando a hora certa (sabe-se lá que hora seria essa) para abordar o assunto com a própria Twilight, só que nisso de esperar o momento as semanas foram se passando e virando meses, até ela me dar a maravilhosa notícia de que precisaria passar uns dias em Ponyville a trabalho, ela tinha que recuperar alguns artefatos mágicos para a Princesa Celestia (sim, a chefe dela é a governante de toda a Equestria) nas ruínas do antigo castelo das duas irmãs que, por acaso, fica justo na Floresta da Liberdade.

Como meu chalé é ás margens da floresta, eu passei a chamar a Twilight para tomar café da manhã comigo antes de irmos trabalhar todos os dias e sempre que estávamos juntas parecia que tudo ao redor sumia e o tempo parava só para nós. Já fazia anos que eu tinha borboletas no flanco (minha cutie mark são três delicadas borboletas cor de rosa), mas só Twilight Sparkle me fez descobrir a sensação de ter borboletas no estomago.

Essa visita dela em Ponyville só me fez ficar ainda mais apaixonada porque é fácil mentir ou moldar a imagem que bem quiser quando se está escrevendo cartas, porém observando-a ali bem pertinho de mim era fácil de ver o quanto ela é gentil, inteligente, engraçada (mais sem querer do que querendo a maioria das vezes), determinada e esforçada.

E então chegou o dia em que ela iria embora. Fui acompanhá-la até a estação ferroviária com o coração pesado tanto por ter que vê-la ir embora quanto por ainda não ter tido coragem para contar o que sentia por ela. O problema é que sempre fui péssima em disfarçar quando não estou bem, principalmente para meus amigos, logo a Twilight percebeu que eu estava diferente e, como no dia em que nos conhecemos, me puxou para longe do movimento e me perguntou se tinha algo errado.

— Eu não sei mentir, mas... Não sei como dizer o que tá preso no meu peito. — Respondi sem conseguir nem encará-la.

— Fluttershy, você pode falar sobre qualquer coisa comigo. — Ela se aproximou e passou a pata pela minha crina com tanto carinho que fez meu coração derreter, eu simplesmente não podia mais guardar meus sentimentos para mim mesma.

— Twilight... Eu quis te contar isso tantas vezes... Ainda estou com medo, não faço ideia de como as coisas vão ficar entre nós daqui pra frente, mas eu preciso falar... — Nesse momento respirei fundo, reunindo toda a coragem que eu tinha e não tinha, olhei-a nos olhos e confessei. — Estou apaixonada por você. Não precisa dizer nada, eu só quero que você saiba.

No mesmo instante o rosto dela se iluminou em uma felicidade que eu nunca tinha visto antes, seu sorriso foi tão largo, sincero e espontâneo que por um segundo me deixou confusa. E então ela me beijou. O mundo e o tempo pareciam estar em pausa só para nós, pois Twilight Sparkle estava me beijando.

Nunca achei que uma pônei como ela, a unicórnio poderosa de Canterlot que trabalha para a própria Princesa Celestia (lembrando, a governante de toda Equestria), fosse se apaixonar por uma tão simples pégaso que mora em uma cabaninha minúscula as margens da Floresta da Liberdade na pacata e tão pequena Ponyville. Mas lá estávamos nós, nos beijando com todo o amor do mundo.

Logo ela precisou ir embora para não perder o trem de volta a Canterlot e precisamos continuar nossa conversa por cartas, cartas essas onde Twilight me confessou que desde o dia em que nos conhecemos ela tinha uma quedinha por mim que foi crescendo e crescendo até se tornar paixão, e eu confessei todo o furacão de sentimentos que ela fez brotar em mim. Como morávamos longe, decidimos não definir nada até que pudéssemos falar ao vivo, mesmo que algumas semanas depois ela tenha me enviado um protótipo muito funcional de um livro criado por sua amiga Sunset Shimmer onde eu escrevia e instantaneamente aparecia no par da Twilight e assim tenha ficado bem mais fácil de conversar, é super útil, não tenho ideia de porque esses livros chamados Zap ainda não foram aperfeiçoados e vendidos em grande escala.

Enfim, agora resumindo um pouco nossa história, estávamos muito apaixonadas, eu não aguentei muito até ir vê-la e pedi-la em namoro em meio a um corredor na maior escola de magia de Canterlot. Não sei como tomei coragem para fazer isso, coisas do coração eu acho. A Twilight pediu para a Princesa Celestia para ser transferida e cuidar da biblioteca da escola de magia de Ponyville para poder ficar mais perto de mim. Por um tempo foi o que aconteceu, um período maravilhoso em que nos víamos todos os dias, dormíamos quase sempre uma na casa da outra, fazíamos piqueniques na praça principal e ela nem ligava de eu levar meus amiguinhos animais, éramos o casal mais fofo da cidade (pelo menos na minha opinião, tenho certeza que a Trixie diria que ela e a Starlight são o casal mais fofo e poderrroso não só de Ponyville como de toda a Equestrrria).

Mas depois de um ano e meio aconteceu algo que a Twilight sempre esperou, o melhor professor de história da magia da Escola Para Unicórnios Superdotados, Stars Swirl o barbudo, se aposentou. Todos os anos de trabalho leal e estudos intensos da Twilight tornavam-na a pônei mais qualificada para assumir o cargo, ela se preparou a vida inteira para isso, não foi nenhuma surpresa quando a carta da Princesa Celestia chegou convidando-a para lecionar em Canterlot.

Tivemos uma conversa muito longa e difícil, ficou cristalino para mim o quanto minha namorada estava dividida e em angustia por precisar escolher, então tive que tomar uma das decisões mais difíceis, se não a mais difícil que já tomei. Eu jamais ficaria entre Twilight e o maior sonho dela, pedi para que ela fosse e, mesmo com o coração em pedaços, garanti que daríamos um jeito de fazer dar certo apesar da enorme distância.

Não vou dizer que foi fácil, definitivamente não foi. Os primeiros meses de readaptação foram horríveis, tinha noites que eu não dormia chorando de saudade. Mas Twilight era genial no que fazia e eu tinha, aliás tenho, muito orgulho de namorar uma pônei como ela.

Nos vermos é difícil, o meu trabalho no santuário de animais é bastante puxado e viajar de trem de Ponyville a Canterlot é demorado e exaustivo. Assim como a Twilight trabalha todo dia, seja em sala de aula, seja preparando as aulas ou estudando e se atualizando, então tempo é o que mais falta. Temos que lutar com nossas agendas, no entanto sempre damos um jeito de nos ver. O lado bom é que quando sou eu a ir para Canterlot sempre fazemos algo interessante, já até assistimos uma final de Pinoteball no camarote da Princesa Celestia e a Twilight conseguiu que eu conhecesse minha maior Ídolo, a pégaso titular do time hexacampeão mundial Shadow Angels Equestrians: Rainbow Dash, que foi super legal e atenciosa comigo, até me deu uma bola usada na partida e autografada.

Nossa... Passamos por tanta coisa. E lembrar de tudo isso ajudou a passar mais rápido o tempo da viajem, quando dou por mim já faltam apenas cinco minutos. Ainda que seja tão pouco a minha ansiedade para ver minha namorada não me permite ficar quieta no meu assento e me levanto para pegar a bolsa no compartimento superior do vagão, coloco-a no flanco, depois tiro e checo pela milésima vez tudo que tinha levado, em seguida voltando a coloca-la no flanco no exato momento em que o trem começa a frear e meu coração começa a acelerar.

Nem ao menos consigo controlar meu sorriso enquanto me encaminho para a porta, na verdade nem quero. Depois de três longos meses estarei de novo com o amor da minha vida.

Não dou mais que alguns passos até vê-la, ela é tão linda que me faz suspirar e pensar “Celestia, essa pônei é real?”. Como imãs opostos nós nos atraímos e logo estávamos abraçadas, senti o perfume dela me preencher e inebriar.

— Fluttershy! — ela sussurrou no meu ouvido, deixando bem evidente em sua voz que estava tão emocionada quanto eu.

— Twilight. — sussurrei de volta, me afastando alguns centímetros, apenas o bastante para olhá-la nos olhos enquanto acariciava sua linda crina azul.

— Eu estava morrendo de saudade. — ela disse encostando o focinho no meu.

— Eu também. Te amo tanto, Twi, tanto...

Nos beijamos lenta e intensamente, tudo ao redor pareceu desaparecer e tudo em mim pertencia a ela assim como tudo nela era meu, naquele momento tive certeza mais uma vez que em Ponyville, em Manehattan, Canterlot ou seja lá onde em Equestria Twilight Sparkle é o meu melhor lugar do mundo.