Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 10
Ingrediente 08: Entenda o Significado de Gostar de Alguém


Notas iniciais do capítulo

Olar pessoas o/

Hoje teremos a estreia de um outro ponto de vista, pra falar a verdade eu jamais imaginei escrever com esse personagem, já que o meu ranço por ele só diminuiu depois de O Labirinto de Fogo (e eu ainda acho que o que aconteceu foi culpa dele)

Sem mais delongas: tenham uma boa leitura ^^



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Jason não era um especialista em relacionamentos.

Sua descendência não ajudava, — apenas um lunático pediria conselhos amorosos a Júpiter, — sentia-se muito parecido com Percy quando o assunto era romance: tentando entender um jogo indecifrável e que só conseguia compreender quando alguém desenhava a situação, sem deixar brechas para que a informação soasse errada. Admitia ser distraído enquanto a isso, as vezes até achava que era uma forma de se defender de toda a atenção que as pessoas lhe davam apenas por ser filho de um dos Três Grandes, de psicologia estava longe de saber algo, portanto não cravaria nada.

E mesmo entendendo suas limitações: aquilo já havia passado dos limites.

— 99? — Reyna repetiu o número sem tirar os olhos do mapa do Acampamento Júpiter que cobria boa parte de sua mesa na principia. — Quer construir 99 templos em uma colina? — Aurum e Argentum voltaram seus rubis luminosos a Jason, tão descrentes quando sua dona.

— Pensei em começar com os 12 Olimpianos. — Apontou para os círculos que havia feito no papel. — Podemos criar um desenho com esses templos, depois construir pequenos altares para os deuses menores.

— Como Ômega do Acampamento Meio-Sangue? — O tom de Reyna saiu com seriedade, mas foi fácil para o loiro detectar um desafio e uma pitada de diversão em seus olhos.

Ela estava lhe chamando de grego, dizendo nas entrelinhas que deveria fazer mais para conseguir seu aval. A resposta que deu foi um sorriso.

— Tinha pensando em fazer no formato de 12, podemos usar os templos de Júpiter, Marte e Plutão para começar o desenho. — Riscou o mapa com o número em algarismos romanos, formando o mosaico. — Doze Olimpianos, Décima Segunda Legião Fulminata. — Reyna cruzou os braços, ainda analisando o mapa com cuidado e atenção, seus galgos continuavam atentos, esperando seu aval para morder o visitante ou ganhar uma jujuba.

— Muito bom, Grace. — Suas palavras saíram sem emoção ou contentamento: ainda não estava convencida. — Mas me diga uma coisa. — A filha de Belona finalmente o encarou com o olhar firme que ele bem conhecia. — A deusa a quem você fez essa promessa, onde vai construir seu templo? — Jason conteve o sorriso irreverente.

Reyna não era nada fácil.

— Cimopoleia é uma ninfa grega, não tem contraparte romana. — Arqueou a sobrancelha, fingindo estar surpresa.

É claro que já sabia disso.

— Fez uma promessa a uma deidade grega e quer usar território romano para cumpri-la? — A pretora acariciou o cabo de sua faca de prata na cintura, o que deveria soar como uma ameaça a quem não a conhecia, embora o filho de Júpiter soubesse que era apenas uma mania que ela sequer percebia. — Me responda Jason Grace: por que eu deveria dar terras e uma pequena fortuna da legião para construir templos gregos em território romano? — A pretora apoiou as mãos na mesa e se aproximou, a voz consideravelmente mais baixa.

Agora Reyna tentava intimida-lo de verdade.

— Porque a minha promessa ajudou a salvar o acampamento. — Respondeu com simplicidade, ajeitando os óculos enquanto a expressão da filha de Belona se fechava. — Porque sou filho de Júpiter, foi pretor e dei minha palavra como um semideus romano. — Mediram forças por um momento, até Reyna suspirar de cansaço, o que fez um sorriso nostálgico se abrir em seu rosto.

Quantas vezes escutou aquele som antes de alguma crise acontecer e serem obrigados a embarcarem em uma missão suicida?

— Você vai convencer o senado, não vou me meter nisso. — Sentenciou, encarando o mapa como fosse um buraco para o Tártaro.

— Tudo bem. — Sentou-se quando ela fez o mesmo, quase conseguia ouvir os pensamentos cheios de questões que seria obrigada a resolver.

— E eu não vou aguentar os Lares ou o Témino me chamando de graecus. — Pegou algumas jujubas no pote, Aurum e Argentum se agitaram a seus pés. — Você vai falar com eles.

— Sem problemas. — Ela rolou os olhos para seu comentário, como se visse muitos problemas.

— Deuses, só são use arquitetura grega clássica. — Jogou as jujubas vermelhas para que os cães a pegassem no ar, ela encarou o pote, com certeza querendo sua dose de açúcar matinal.

Era engraçado pensar que a alguns anos era rotineiro para ele passar na padaria que ambos adoravam, pegar um capuchino para si mesmo, um chocolate quente meio amargo com canela e chantily, — que ele sempre roubava a cereja, — para ela. Uma caixa de donuts, metade com chocolate e granulado colorido, metade glacê polvilhado de açúcar.

Jason sentia falta disso.

Era verdade que nunca quis a responsabilidade de ser pretor, ou até mesmo a de um filho de Júpiter, era exaustivo sentir os olhares de um povo todo esperando que os comandasse, mas isso não queria dizer que não houvessem momentos bons. O Acampamento Júpiter fez parte de sua vida e foi seu lar por anos.

Talvez ainda fosse sem a intervenção de Juno.

— Soube que terminou a escola mortal a pouco tempo. — O comentário de Reyna o tirou de seus pensamentos. — O que pretende fazer agora? — A pergunta saiu em um tom banal, como se fosse uma conversa sobre o tempo.

O que Jason sabia ser uma mentira.

— Não sei ao certo. — Optou pela sinceridade. — Gostei de ter uma vida normal nesse tempo. — Pela primeira vez sua maior preocupação foi a nota em física. — Mas foi meio estranho, diferente na verdade. — Como experimentar uma comida nova e não saber se gostou ou não. — Muito pacífico.

Exceto quando Piper terminou com ele.

— Chato, talvez? — Ele sorriu para sua piada. — O cargo de Octavian ainda está vago. — E voltou a brincar com a faca, dando tempo para que compreendesse o convite. — Não vou pressiona-lo a aceitar, mas não consigo pensar em ninguém melhor que você para ele. — Escolheu mais jujubas para os galgos, dessa vez pegou as verdes.

Jason encarou o mapa, sem saber o que dizer.

Havia pensado várias vezes em como desenvolver aquele projeto, várias maquetes, desenhos, ideias e dois anos de preparo, porque queria que saísse perfeito, fez uma promessa e a cumpriria da melhor forma possível, como filho de Júpiter, como romano, como meio-sangue.

Os dois anos que passou no colégio interno em Santa Bárbara foram verdadeiramente bons, pode se misturar a multidão de alunos como apenas mais um pela primeira vez na vida, provando um pouco da normalidade que sempre quis.

Mas se dissesse que tinha absoluta certeza que era isso que queria para o resto da vida seria uma mentira. Havia sentido falta do refeitório cheio e bagunçado, dos Jogos de Guerra e da Caça a Bandeira, dos morangos do Acampamento Meio-Sangue e de Aníbal, o elefante.

— Eu não sei o que responder. — Optou por dar a resposta mais franca possível.

— Não se preocupe, tem 99 templos para construir, vai ter tempo o suficiente para pensar no assunto. — E piscou para ele, Aurum tocou a mão dela com o focinho, pedindo por atenção. — Eu sei que você nunca quis cargos de poder, mas não posso deixar de considera-lo. — Justificou, acariciando a cabeça do autômato.

— Você pode não acreditar. — Já que ele mesmo nunca fez nada para mudar a impressão que todos pareciam ter. — Mas eu senti falta disso. — Correu os olhos pela mesa polida, cheia de pergaminhos e documentos. — Era corrido e trabalhoso, mas me dava a sensação de que estávamos fazendo a diferença. — Abriu um sorriso quando seus olhos recaíram no mapa, o lugar que o recebeu como um dos seus e que deu o próprio sangue para salvar mais vezes do que poderia contar. — Também senti falta desse clima.

Dessa vez, quando a encarou, a dúvida na expressão de Reyna era verdadeira, enquanto interpretava suas palavras. As circunstâncias e situações os afastaram, — guerra, namoro, Vênus, — mas isso não significava que não eram amigos.

Jason não queria mais viver em prol do que as pessoas esperavam que ele fizesse.

— Reyna. — Respirou profundamente, tomando coragem para fazer a pergunta. — Você realmente gostava de mim?

Em um momento ele achava que sim, em outro achava que não. A última ocasião em que esteve com ela foi a noite antes dos planos de Juno começarem, não havia acontecido algo palpável, sem promessas, declarações ou coisas do tipo, apenas olhares significativos, quando se luta quase uma vida inteira com uma pessoa isso bastava.

E Juno aconteceu, a Profecia dos Sete aconteceu, Piper aconteceu.

Eles nunca haviam falado sobre isso e, Jason admitia culpa nisso, em algum momento Reyna passou a lembra-lo do que Roma representava, toda a pressão que era obrigado a aguentar porque as pessoas o viam como um líder que nunca quis ser. O que era injusto, ela não tinha culpa de nada, a própria sofria com isso. Era sua amiga e, queria que fosse feliz, o que também desejava a Piper, se as duas fossem felizes juntas, para ele estava tudo bem.

A questão que o deixou completamente confuso era a ignorância de ambas, quando Annabeth e Leo vieram falar consigo.

´´Como vocês podem gostar uma da outra e não sabem disso? ``

Todo mundo sabia.

A pretora riu levemente e relaxou sobre a cadeira, encarando o teto, como se tentasse se lembrar de algo a muito esquecido.

— A verdade é que o meu orgulho estava ferido e queria provar que Vênus estava errada. — Maneou a cabeça, parecia rir de si mesma, pegou mais jujubas quando Argentum também apareceu a procura de atenção. — Se eu fui apaixonada por você? Não. — Respondeu simplesmente, fechando o pote. — Espero que seu ego consiga sobreviver. — As orelhas dos galgos murcharam ao ver sua guloseima ser trancafiada. Jason ficou feliz de ouvir o comentário, porque isso significava que estava tudo bem.

— Nunca vi você fazer tantas piadinhas com a mesa cheia de papéis, aconteceu alguma coisa boa? — Disse de forma causal, tentando tirar alguma informação de Reyna.

— Sim, se chama paz. — Tentou não parecer decepcionado com a resposta. — Nem acredito que os deuses conseguiram ficar dois anos sem causar problemas globais.

— Deve ser um novo recorde. — Encarou os olhos vermelhos de Argentum, esperando por alguma ideia. — Deve estar animada com as Caçadoras também, conseguiu se entender com a Piper sobre isso? — Talvez ser um pouco mais direto resultasse em algo.

O que veio de imediato, seu maxilar tensionou, o olhar se perdeu no mapa do acampamento, sem realmente enxerga-lo, e ali era possível ver todos os sentimentos conflituosos fugindo dela, sem que conseguisse esconder.

Óbvio.

Absurdamente óbvio.

´´Como eu noto e você não, Pipes? ``

Elas só precisavam se olhar por 5 segundos para notar.

Jason não acreditava nisso: como poderiam complicar algo tão simples?

— Consegui uma trégua. — Sua voz saiu firme, o tom dizendo claramente que não queria falar sobre assunto.

A vontade do filho de Júpiter era gritar vocês se gostam e tranca-las em um quarto por 3 horas, Leo com certeza o ajudaria com isso, mas infelizmente pegar Reyna de surpresa era difícil.

Dakota tentou uma vez e perdeu 2 dentes.

— Eu disse que eles estariam ali. — Ouvir a voz de Percy tirou Jason de seus devaneios. — Ué? Virou pretor de novo? — O filho de Júpiter virou-se com um sorriso para o amigo, até ver que Piper estava com ele.

— Cadê o Frank? — Ela mesma perguntou, olhando para os cantos, como se o amigo fosse saltar a sua frente como uma aranha gigante. Havia uma caixa com 4 copos de café para viagem, o filho de Poseidon tinha outra em mãos, embora Jason não conseguisse identificar o que tinha dentro.

— Está cuidando do Aníbal. — Reyna encarou-o com reprovação. — Já que alguém fez o favor de quebrar a perna do tratador dele nos Jogos de Guerra.

— Foi o Percy. — Se defendeu.

— Eu nada. — Deixou a caixa na mesa, Jason se pôs a enrolar o mapa e arrumar os desenhos que Malcolm havia feito. — Piper me salvou da biblioteca, então viemos salvar vocês. — Abriu a caixinha, com quatro fatias de bolo de morango, a filha de Afrodite depositou as bebidas no espaço que Jason havia arranjando.

— Na verdade a gente pensou em chamar vocês para comermos na padaria. — A grega encarou a pretora com censura. — Mas você com certeza inventaria uma desculpa. — E sentou-se sobre a mesa, Reyna encarou o ato, provavelmente pensando se deveria comprar a briga, quando Percy fez o mesmo ela suspirou.

— Eu não posso sair daqui no meio da manhã. — O que era verdade, Piper apenas rolou os olhos.

Ela estava se divertindo.

— É tudo café? — Perguntou para ninguém em específico.

— Chá. — Percy apontou, o que não fez muita diferença, já que a filha de Afrodite o pegou. — Chocolate quente. — Foi a vez de Reyna pegar o seu. — Frappuccino — O grego deu um gole nesse antes de terminar. — E naked.

— Achamos que o Frank estaria aqui, então pegamos o favorito dele. — Piper encolheu os ombros, Jason apenas pegou o copo.

— Café é bom de qualquer jeito. — Havia aprendido isso ao ver Leo construindo o Argos II.

— Os pegasus e os unicórnios se adaptaram? — Reyna indagou aos dois, Percy não parou a mordida em seu pedaço de bolo, restando a Piper responder.

— Conseguimos um acordo. — Deu de ombros, como se detalhes fossem irrelevantes. — Drew e o Butch vão embora amanhã. — O suspiro de alívio não foi uma surpresa. — Finalmente vou conseguir comer na mesa com vocês.

— Como assim? — Disse Percy depois de engolir um pedaço, a filha de Afrodite rolou os olhos.

— Minha irmã não queria ficar sozinha com o Malcolm e me arrastava pra lá. — O desgosto em sua voz quando falou de Drew soou mais brando aos ouvidos de Jason.

— Vocês não se odeiam? Por que ela fez isso? — Reyna parecia tão curiosa quando Percy, embora olhasse para os papéis na mesa.

— Ela é doida. — Abanou a mão, como se os detalhes não valessem a pena, o filho de Poseidon apenas deu de ombros, mais interessando no restante do pedaço de bolo. — Annabeth me disse que vocês quase se mataram ontem.

Percy e Reyna pigarrearam ao mesmo tempo.

— A gente só estava... — Ele começou, procurando a ajuda dela com o olhar.

— Testando as habilidades um do outro, nada demais. — Pontuou, com o tom de pretora que ele conhecia bem, um sorriso divertido e feliz adornou o rosto da grega.

Fazia tempo que não via Piper assim.

Era fácil achar a filha de Afrodite com um olhar perdido, mesmo que tentasse disfarças, Jason sequer sabia qual era o problema, tão pouco se ela o deixaria ajudar.

— Annabeth disse que você quase estourou sua espada. — Ela encarou o namorado da amiga, depois voltou-se para a pretora. — Seus machucados na bochecha estão até combinando. — Percy disse alguma coisa que Jason não conseguiu captar, concentrado nos olhos em caleidoscópio, que por sua vez davam total atenção a pretora.

Até um cego poderia ver o que estava acontecendo ali e, mesmo assim ambas apreciam alheias ao óbvio.

Jason não acreditava nisso, mas...

Talvez fosse hora de ensinar uma ou outra coisa sobre amor a uma filha de Afrodite.


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Notas finais do capítulo

Sabe, eu acho tão estranho o jeito que o Tio Rick trata a relação dos dois nos livros.

No começo parece que a Reyna gosta do Jason e que eles são amigos, mas o Jason nem liga pra ela, e depois do que a aconteceu com ele nas Provações de Apolo e a reação dela, parece que ela não ligava muito pra ele também :v

Enfim, alguém tem opiniões diferentes sobre a relação dos dois?

Para xingamentos, críticas, elogios ou sugestões, não deixem de comentar ^^



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