Renard Roux escrita por Lorem K Morais


Capítulo 1
Prólogo




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Saint-Guilhem-le-Désert é uma pequena vila localizada em Chemin de St-Jacques, no sul da França. Considerada uma das mais vilas mais bonitas do país, com sua arquitetura medieval  é um ponto turístico para quem deseja paz e tranquilidade.

Para os seus 253 habitantes, a cidade é como um marco parado no tempo, com suas paredes de pedra que contam histórias e segredos guardados por gerações. Segredos que, em sua grande maioria, apenas as antigas gerações carregavam em memória, antes do misticismo que envolvia a pequena vila se tornar apenas histórias de dormir. 

Os Roux eram um exemplo disso, onde a realidade foi tomada como fantasia com o passar do tempo, na sua tentativa de explicar aquilo que seria, de outra forma, inexplicável. 

Poucos lembravam do passado de Grand-mère Amelie, como a doce senhora era conhecida pelas crianças da vila. A última raposa do canal, única herdeira de uma família tão abastada, conhecida por sua beleza que havia atraído tantos pretendentes durante sua juventude. E ainda assim, nunca havia casado, passando a vida inteira em sua pequena casa perto da floresta, isolada e solitária, exceto por suas ocasionais andanças  para o monastério de Gellone ou pelo pequeno bosque ao redor da vila.

Grand-mère Amelie  era querida pela comunidade e respeitada pelos mais velhos, como uma relíquia de um tempo há muito passado. A última de uma linhagem de onde se contavam histórias inexplicáveis e assombrosas para as novas gerações.

Na realidade, a sobrevivente de uma tragédia nunca totalmente desvendada. Uma tragédia que nunca se comentava, ao qual a vila a todo custo tentou enterrar entre suas paredes de pedra.

Grand-mère Amelie morreu em uma terça-feira fria, a vila coberta de neblina. Quando Madame Agnès foi deixar a encomenda semanal, se deparou por uma casa cercada de raposas, animais que ocasionalmente se aventuraram para fora do bosque, mas não em quantidade tão assombrosa. Os gritos, ela disse, eram tão estridentes que pareciam humanos. 

Com receio de entrar em contato com os animais não domesticados, Madame Agnès buscou ajuda para entrar na casa e foi quando a encontraram. Quase se podia pensar que ainda dormia, de tão serena. 

Amelie Roux morreu em sua cama confortável ao 97 anos, cercada pelo  símbolo do brasão do Roux. A cidade entrou em luto pela perda da querida senhora, que já fazia parte das lendas locais e pontos históricos. 

Para a nova geração, era a perda da Grand-mère Amelie.

Para a antiga geração, era a perda da última Roux e isso tinha um significado mais urgente, que fez a respiração daqueles que ainda lembravam segurar em espera. Esperando o quê? Eles não diziam, mas podia se ver por dias os olhos dos mais velhos fitando o bosque e os canais.

Com a morte de Amelie Roux veio a certeza que nenhum passado fica enterrado entre as pedras de Saint-Guilhem-le-Désert para sempre.

Com a morte de Amelie Roux se percebeu que toda história para dormir tem seu fundo de verdade.  E a verdade, muitas vezes, pode ser mais mágica do que se poderia imaginar. 

 


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