ParaLelo escrita por Lorem K Morais


Capítulo 10
Constantes




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Por volta de 1890 um filósofo chamado William James falou sobre a hipótese dos multiversos, onde todas as possibilidades podem acontecer e tudo pode existir de forma simultânea: A totalidade do espaço, do tempo e da matéria, assim como todas as constantes das leis da física.

Essa teoria foi e ainda é discutida em diferentes áreas. Mais recentemente foi publicado um artigo do famoso físico Stephen Hawking, dois meses após sua morte, no Journal of High Energy Physics sobre os multiversos. Hawking usou o que ele chama a teoria da inflação eterna para explicar os multiversos. De acordo com isso, após o Big Bang o universo começou a se expandir, inflar, primeiramente muito rápido, depois vagarosamente e assim algumas áreas continuaram em expansão enquanto outras pararam completamente, formando bolhas no espaço estático. Assim, tudo o que conhecemos estaria contido em uma dessas bolhas, enquanto o que continuou a expandir, a sua energia do processo se converteu em matéria e radiação, formando as galáxias, planetas e estrelas. Cada bolha seria então um universo diferente, o nosso sendo apenas um entre tantos outros.

Os multiversos são também chamados de universos paralelos, e se tornaram alimento para tantos livros de ficção científica.

Outros dizem que realidades diferentes se formam a cada momento que alguém toma uma decisão. Como um rompimento do tempo o espaço, dividindo dois caminhos escolhidos. E se em algum universo o fato de você virar para a esquerda ou direito levou a um futuro completamente diferente? Uma pequena decisão. O tão falado efeito borboleta.

A veracidade sobre realidades paralelas? Nunca foi comprovada inteiramente, mas também nunca foi desmentida.

A incerteza é o que se faz pensar, sobre a possibilidade, por exemplo, de existirem outros de nós, em outras realidades. Sobre as constantes, que as conecta de alguma forma e cria equilíbrio entre todas.

Pessoas que sempre vão se encontrar, não importando de que forma.

—Eu vou ficar gordo assim.

Bruno o ignorou e serviu mais um pedaço de torta.

João fingiu que era um grande sacrifício comer. Estava se sentindo bem à vontade na mesa de toalha plástica florida. A janela aberta mostrava a serra e conseguia sentir o cheiro da comida vinda da cozinha de fora. Os sobrinhos de Bruno estavam no quintal enfeitando as árvores com luzes de natal e da porta para o lado de fora podia ouvir a voz da mãe dele conversando com a filha.

Laura havia se dado por satisfeita depois do interrogatório inicial e havia ido falar com a mãe. As duas pareciam ter o aprovado, pelo menos.

—Sua irmã é meio assustadora.

Bruno sorriu satisfeito com isso e ouviu uma risada vindo da cozinha. Então realmente estavam de olho neles.

—Ela é. Foi ela que disse que estava arriado por ti quando cheguei no natal do ano passado.

João se engasgou com isso e recebeu uma batidinha nas costas.

—Ela percebe as coisas antes de mim.

Era bom saber disso.

—Termina o café, vou te mostrar meu quarto.

— Porta aberta!

— Laura! Deixa os meninos!

João sentiu o rosto quente, mas deu uma risada.

Era a primeira vez que se sentia em casa na vida, era uma sensação nova.

Bruno o olhou, com certeza entendendo o sentimento. O sentiu se postar atrás da sua cadeira ao passar para a o fogão com mais uma bandeja de biscoitos e beijar seu rosto, o sujando com farinha no processo.

Um dos sobrinhos dele passou correndo pela calçada e jogou confete em cima dos dois pela janela.

— Oh, Santiago! Se eu for aí-

Bruno grunhiu murmurando sobre 'família muito intensa'.

João não ligava.

Nenhum pouco.

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Ali, fora da cidade, dava para contar as estrelas.

João entendia a paixão de Bruno por estrelas, se havia crescido ali.

Os dois saltaram a janela da casa como dois adolescentes na calada da noite, depois de todos terem ido dormir após a ceia ser servida. Com uma garrafa de vinho barato em uma mão, eles atravessaram o quintal até a caixa de água e subiram, se deitando no topo dela.

— É o único jeito de ter privacidade nessa casa.

João não estava incomodado.

Ele estava encantado. Com a casa cheia e a gritaria, com a mesa farta e em como Laura e a mãe nunca deixavam seu prato vazio. Houveram alguns olhares tortos para os dois, mas Bruno parecia não ligar, então ele também não.

Trinta anos.

Essa era a idade que João tinha e era quando finalmente compreendia como era se sentir bem vindo em uma família. Então nenhum olhar torto iria o deter.

Tomou um gole do vinho, que parecia ser mais álcool com suco de uva. E nem isso o incomodou.

Passou a garrafa para Bruno que já estava com o rosto corado e dando risada.

—Não faço ideia como vou descer daqui assim.

João o puxou para perto e sentiu uma perna ser passada ao redor das suas.

O beijo dos dois tinha gosto de vinho barato.

Não era diferente do que faziam no sofá da sala do apartamento sempre que ia visitar Bruno, o que era frequente. A diferença era que ali as estrelas eram de verdade.

—Você acha que eles estão assim também agora?

—Tenho certeza que sim.

Os olhos dele o fitaram de forma curiosa, deitado de lado com uma mão no rosto, o fitando daquela forma gentil de sempre.

— É?

— Eu não acredito que exista alguma versão de mim por aí que não goste da sua torta.

— Da minha torta?

— É. E de você também, suponho.

— Você supõe?!

Bruno gargalhou e o puxou para mais um beijo. De muitos.

João tinha certeza que João e Bruno eram destino em todos os universos existentes. Seja Setealém ou o que for, não podia haver um sem o outro.

O amor de João e Bruno, afinal, era uma constante em todas as realidades.

 


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