Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 38
Quem tem sangue de barata? - Parte I




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― SIMBORA, SADAHARU!

Ginmaru raramente fazia isso, mas desta vez montava confiante no cão gigante. Apesar de o animal ter mais de vinte anos de idade, esbanjava uma disposição de um cão mais jovem. Ao que parecia, os inugamis eram bastante longevos, muito mais do que qualquer cachorro comum. Sadaharu corria o máximo que suas patas poderiam fazer, derrubando adversários enquanto o jovem que o montava desembainhava a katana para poder se livrar dos que ainda estavam em pé, remanescentes da arapuca que haviam armado contra os soldados da Junta.

Junto a eles, Gintoki acelerava sua velha scooter revisada um tempo atrás, com Shinpachi na garupa. Acelerava a uma velocidade na qual acompanhava os rápidos galopes de Sadaharu, enquanto com a mão direita segurava a bokutou e golpeava os inimigos, ao mesmo tempo em que o Shimura golpeava os soldados da Junta no lado esquerdo com sua katana.

A Yorozuya Gin-chan do futuro havia saído do Distrito Kabuki, junto com Joui, Kaientai, Kiheitai e parte do Shinsengumi, liderada por Hijikata e Okita. Iriam cercar a sede do governo, para evitar que mais inimigos saíssem rumo ao distrito, que ainda não poderia comemorar uma vitória definitiva. A Junta estava sofrendo ataques por dentro e iria sofrer ataques por fora.

A melhor defesa era o ataque, e seguiriam fielmente essa máxima. Se quisessem garantir que Kabuki fosse deixado em paz, teriam que resolver o problema desde sua origem.

Se quisessem dias mais “normais”, precisariam lutar como nunca.

 

― A cada dia eu me sinto como um velho cansado. – Gintoki murmurou, apoiando-se na balaustrada da varanda como costumava fazer para observar o movimento da rua de chão batido. – Será que é tão difícil ter um pouco de sossego, sem uma guerra na porta de casa?

Ginmaru havia saído naquele exato instante para também tomar um ar fresco, mesmo em um clima tão tenso quanto fora nos últimos dias de cerco. Percebia que seu pai não conseguia disfarçar, em alguns momentos, o cansaço mental. Ele estava cansado de batalhas de vida ou morte, estava cansado de guerras.

O mais jovem também estava cansado disso.

― Aguenta mais um pouco. – ele disse ao se aproximar do albino mais velho. – Vamos fazer esse plano dar certo e chutar os traseiros desses aliens.

Gintoki deu um sorriso ao ver a expressão determinada do filho.

― Você me lembra a mim mesmo, na sua idade. Só queria acabar com tudo pra não precisar mais pensar em guerra. E por um tempo consegui fugir de encrenca. – suspirou. – Quando você apareceu naquela cestinha, dezoito anos atrás, e eu decidi aceitar que tinha um filho para cuidar, fiz de tudo para que nenhuma guerra chegasse até você. Não queria que você visse o que vi e vivesse o que vivi... Mas não deu muito certo.

― Sabe, pai... Conhecendo um pouco do seu passado agora entendo por que não gosta muito da época do lendário Shiroyasha, ou de falar de qualquer outra coisa do passado. Guerras deixam marcas profundas na gente. Posso não ter vivido exatamente o mesmo que você viveu, mas imagino o quanto foi difícil se reerguer. E nos últimos meses também não deve ter sido fácil. Eu detesto guerras, mas há lutas que valem a pena. Lutar pelo distrito que nos acolheu vale a pena... – Ginmaru sorriu. – E lutar ao seu lado não tem preço.

Gintoki retribuiu o sorriso. Ambos odiavam guerras, mas não queriam abrir mão de uma boa briga. Como dizia o ditado, “tal pai, tal filho”.

― Nós vamos proteger este lugar maluco. Esta é mais uma promessa que quero cumprir.

― Já tinha feito outra promessa? – o jovem arqueou a sobrancelha intrigado.

― Prometi a Tsukuyo que ficaria vivo pra poder transar com ela.

Ginmaru sorriu debochado.

― Tá determinado mesmo a tirar o atraso, hein, pai? Ainda lembra como se faz?

O jovem só sentiu a nuca arder depois de receber um pescotapa.

― Não sou tão velho assim, moleque!

A discussão só não se prolongara porque os dois viram um par de óculos de grau caindo. Ginmaru foi logo surpreendido por alguém que se jogava em cima dele e tentava lhe dar um beijo daqueles que desentupiria uma pia. O Sakata mais jovem tentou se desvencilhar de todas as formas do “beijo de boa sorte” que Sacchan queria dar no pai, mas a kunoichi míope novamente confundira os dois e não lhe dava brechas para escapar de forma não-violenta. O rapaz conseguira alcançar os óculos e encaixar rapidamente no rosto da mulher de cabelos cor de lavanda, para em seguida colocar o pé no peito dela e impulsioná-la para voar para longe.

― POR QUE VOCÊ NÃO TIROU ELA DE CIMA DE MIM, SEU VELHO FOLGADO? – o jovem esbravejou após se levantar num salto.

― PRA ELA ME BEIJAR, MOLEQUE? – Gintoki rebateu no mesmo tom. – É RUIM, HEIN?

 

Chegaram à base inimiga, onde se juntaram à parte do Mimawarigumi para enfrentar os alienígenas a serviço da Junta. Abrindo caminho no meio da confusão, a Yorozuya Gin-chan afundou para dentro da construção naquele estilo que era inconfundível: chutando traseiros inimigos e quebrando propriedade alheia para causar o caos.

Já que era para contra-atacar, fariam isso com força máxima! Haviam passado por várias fases desafiadoras desse “jogo”, que a Junta achava que jogaria sozinha, mas eles fariam com que aqueles três patetas soubessem que também estavam jogando...

... E que chegariam ao chefe final!

 

*

 

O Trio Yorozuya do passado correu ao ataque, o qual foi repelido pelos três darkenianos. Dewey fez apenas um movimento com a mão, para que Gintoki, Shinpachi e Kagura fossem lançados para o mesmo lugar onde foram arremessados os demais. Tentaram atacá-los uma segunda e uma terceira vezes, igualmente sem sucesso.

― Gin-san... – Shinpachi disse enquanto se levantava tão aturdido quanto seus companheiros. – Isso tá virando um círculo vicioso!

― Eu percebi. – o albino respondeu enquanto se refazia do último revés. – Eu tô tentando pensar em outra estratégia, mas não me ocorreu nenhuma. Ainda não consegui enxergar nenhum ponto fraco dos Três Patetas.

― Eu tô achando que os “Três Patetas” somos nós. – Kagura comentou enquanto checava se ainda tinha balas na metralhadora embutida em seu guarda-chuva.

― Ei, Yorozuya! – a voz de Hijikata interrompeu a conversa do trio. – O que acha de...

A conversa foi interrompida com mais uma barreira invisível arremessando tanto o Trio Yorozuya quanto o trio do Shinsengumi contra a parede oposta à da entrada da sala do computador principal. O grupo ouviu o riso debochado de Dewey, o integrante mais baixinho da Junta.

― Podem bolar qualquer plano contra a gente, bando de idiotas... Vocês não vão conseguir transpor nossa barreira invisível com um intelecto tão inferior!

― INFERIOR É O TEU TAMANHO, SEU PINTOR DE RODAPÉ! – Gintoki esbravejou enquanto fazia uma careta de dor e levava a mão às costas tão castigadas.

Não bastassem as quatro colisões de suas costas contra uma parede, somavam-se também as vezes que K1 o arremessara de tal forma que sua coluna vertebral estava realmente bem dolorida. Sentia que sua coluna estava ficando tão velha quanto aquela bruxa que lhe cobrava os aluguéis atrasados. Uma coluna de sessenta e tantos anos no corpo de um homem de vinte e sete.

― Estamos abertos a sugestões, Hijikata-san. – Shinpachi falou. – Teve alguma ideia de estratégia?

Sob os olhares convencidos de Huey, Dewey e Louie, os seis se juntaram para poder bolar uma estratégia melhor para conseguirem passar pela defesa inimiga e sabotarem o computador principal. Buscaram discutir a melhor forma para terem algum sucesso, de tal modo que Gintoki e Hijikata puseram as diferenças de lado naquele momento e concordaram num plano a ser executado tão logo terminassem de definir a linha de ação.

Taichirou disparou vários tiros de bazuca, para depois seguir adiante com o rápido plano traçado. Cada dupla atacou um integrante da Junta separadamente, seguindo o princípio de “dividir para conquistar”. Hijikata e Gintoki avançaram contra Dewey, que repeliu o Vice-Comandante enquanto o faz-tudo conseguia passar por ele e cravar sua bokutou em um setor do grande computador central. Kagura e Yamazaki atacaram Huey, o darkeniano de estatura mediana, que repeliu o espião, mas a Yato conseguira burlar o contra-ataque e disparar uma rajada de tiros contra outro setor do computador. Taichirou e Shinpachi investiram contra Louie, o maior dos três irmãos, com o Shimura conseguindo acertar sua espada de madeira em um terceiro setor do computador enquanto o Miyojin era lançado para longe.

Mais um alarme soou de forma ensurdecedora, não só acusando a avaria do computador central, como também avisando que todo o lugar estava sendo invadido e atacado por forças inimigas. Huey, Dewey e Louie encaravam, de olhos arregalados, os três homens de preto que se levantavam com um sorriso triunfante. E, à frente da Junta, estava o outro trio, sorrindo zombeteiramente.

― Ei, carcereiro de gaiola... – Gintoki ironizou enquanto terminava de tirar uma sujeirinha do ouvido e a jogava para longe. – O que você dizia sobre nosso intelecto mesmo?

Antes que se houvesse qualquer resposta, todos sentiram um forte solavanco repentino e quase caíram. Em seguida, outro solavanco veio e novamente quase caíram para o outro lado. Em seguida, tiveram a sensação de que o local todo subia.

― A gente tá em um elevador, é? – Kagura indagou tentando se equilibrar.

― E eu achando que era a minha coluna... – Gintoki também tentava se estabilizar, assim como os demais.

Os únicos que não tinham qualquer reação eram os três darkenianos, que flutuavam alguns centímetros acima do chão e pareciam se divertir com as reações do Yorozuya e os outros. Foi quando Louie soltou um risinho irônico e disse:

― Vocês acidentalmente ativaram o piloto automático, fazendo com que nossa base levante voo... Graças ao intelecto inferior de vocês!

― P-Peraí...! – Shinpachi se apavorou. – NÓS ESTAMOS EM UMA NAVE ESPACIAL?!


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