Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 32
Operação Sukonbu - Parte II




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Um homem vestido com o uniforme da lavanderia responsável pelos serviços ao governo empurrava o carrinho com um pouco de dificuldade, com uma carga aparentemente pesada. Não demorou muito para que chegasse até a porta do laboratório, guardada por dois seguranças amantos musculosos e com cara de elefante.

― Rapaz, que pesado, hein? – disse o primeiro soldado.

― Bastante. – o funcionário da lavanderia respondeu e tirou um pequeno anpan do bolso. – Tá tão corrido que nem deu tempo de lanchar, tive que trazer meu lanche para comer enquanto dou um respiro. Mas enfim, sabe me dizer se tem alguma coisa pronta para eu pegar e colocar aqui no carrinho?

― Olha, cara – o outro soldado respondeu. – Eles deixaram um saco com alguns jalecos e lençóis lá dentro. A gente até poderia pegar pra você, mas recebemos uma ordem para não abandonar o posto em hipótese alguma.

― Tudo bem, eu entro pra pegar.

A porta do laboratório se abriu para o homem entrar, enquanto empurrava com dificuldade o carrinho de lavanderia. Assim que a porta se fechou, ele comeu sem muita pressa seu anpan ao mesmo tempo em que ia a uma área daquele recinto onde se sabia ser um ponto cego para os dispositivos de vigilância. Ao final, ele tirou o boné, revelando seus cabelos curtos e lisos e seu rosto comum. Cautelosamente, tirou o lençol que cobria o carrinho, revelando seu conteúdo: um homem e dois adolescentes totalmente desconfortáveis em um espaço diminuto.

― Ei, Shinpachi sem óculos! – Gintoki cochichou, estava sendo esmagado pelo peso dos outros dois. – Ajuda a tirar os dois pirralhos de cima de mim!

Yamazaki fazia parte do plano para que o Trio Yorozuya entrasse no laboratório sem levantar suspeitas, mas eles só souberam na hora em que o espião do Shinsengumi passara disfarçado e os chamara. Ele ajudou Kagura a sair primeiro e, em seguida, Shinpachi. Por último, Gintoki saiu se sentindo todo desconjuntado e com a sensação de ter vinte e sete anos de idade, mas a coluna de um velho de setenta.

Os três vindos do passado se esconderam em um canto estratégico até que Sagaru saísse fingindo que o carrinho de roupas ainda estava pesado. A última coisa que precisavam fazer era chamar atenção na hora errada. Tinham que aguardar alguns minutos até que o espião estivesse distante para não levantar suspeitas.

A tarefa deles era simples. Destruir o local, começando pela matriz, clone de Kagura. E a garota percorria todo o local com seus olhos azuis, até encontrar sua sósia em um tanque tubular, num estado de animação suspensa. Agora entendia por que ela era tão importante, para que o Gin-chan daquela época fosse procurá-la em sua linha de tempo.

― Kagura – era Gintoki ao seu lado, que instintivamente colocava a mão sobre a cabeça dela. – Escuta bem o que vou dizer.

Ela assentiu com a cabeça, e o faz-tudo prosseguiu:

― Você é a peça-chave do que estamos fazendo, então não estrague tudo. E não se preocupe, Shinpachi e eu não vamos te perder!

A garota dirigiu seu olhar para o albino e se lembrou da razão pela qual os três viajaram pelo tempo. Lembrou-se do outro Gin-chan, que foi à sua época para ter sua ajuda... Para aquele momento em que agora estava frente a frente com a sua missão.

Ela tomou a frente do trio e seguiu com passos resolutos até o tanque onde estava seu clone. Parou em frente a ele e o percorreu com o olhar. Já sabia de antemão o que encontraria, pois Gintoki e Shinpachi haviam lhe contado tudo o que ela precisava saber. Mesmo assim, era impressionante estar diante de uma cópia exata sua.

Sim, a pele pálida característica de sua raça, os cabelos ruivos... Tudo era assustadoramente idêntico a ela.

 

“Clone sintético gerado a partir do genoma sequenciado do DNA Yato. Fonte do DNA: Indivíduo do clã Yato, sexo feminino, morta um ano após a coleta de amostra.”

 

A descrição mencionava seu DNA. Ou melhor, o DNA de sua contraparte que morrera. Perguntava-se como seria se ela estivesse viva, sempre quisera saber. Se seu alter ego estivesse vivo, teria trinta e quatro anos de idade. Muito provavelmente seria bonita, pois herdara muita coisa de sua falecida mãe.

Infelizmente, essa especulação só era possível ser respondida na sua imaginação. E ver aquele mundo onde ela deixara de existir a fazia perceber que, por trás de cada bronca levada, de cada cascudo e de cada resposta atravessada, havia preocupação daqueles dois. Ela se sentia acolhida por aqueles dois idiotas como nunca se sentira em seu planeta natal. E sabia que sempre estariam do seu lado toda vez que precisasse, indepentemente de ela pedir ou não.

Ela não tinha dúvidas de que jamais estaria sozinha. Mesmo estando em suas mãos a responsabilidade de acabar com aquele clone, sabia que Gin-chan e Pattsuan estariam juntos com ela para qualquer eventualidade. Diante de tal certeza, em seus olhos azuis brilhava a chama da determinação e em seu rosto surgiu um sorriso confiante.

Kagura mostraria que sim, seria uma verdadeira heroína!

Pôs a mão onde havia uma espécie de leitora que escaneou cada impressão digital enquanto emitia alguns pequenos bipes. Ouviu um estalo e o líquido dentro do tanque foi sugado por uma abertura que surgira naquele momento na parte inferior da cápsula onde estava o clone. Em seguida, um segundo estalo veio na hora em que o vidro baixava, expondo ainda mais o corpo inerte, que mais parecia um marionete guardado após o uso, pela posição desengonçada em que estava, após não flutuar mais no líquido.

Antes que houvesse qualquer sinal de hesitação, a ruiva apontou o guarda-chuva para aquele corpo. Particularmente, odiava a ideia de matar alguém. Entretanto, aquele clone não possuía qualquer resquício de vida própria ou consciência, não como conhecera. Basicamente ela poderia associá-lo aos monstros que seu pai caçava espaço afora.

E aquele era um monstro criado contra sua própria vontade para propósitos cruéis de gente inescrupulosa.

 

*

 

Em outro túnel da rede descoberta nos subterrâneos do Distrito Kabuki, a Primeira Divisão do Shinsengumi seguia até o território inimigo com o máximo de discrição possível após receberem o sinal verde de Yamazaki. Era parte do plano de infiltrar o Trio Yorozuya e, para isso, o grupo de homens de farda preta estava sendo liderado por Hijikata Toushirou, o Vice-Comandante vindo do passado. Como ele estivera envolvido na fuga da base da Junta – que a princípio seria seu próprio resgate, mas se tornou algo mais perigoso e caótico graças às trapalhadas do destrambelhado de cabelo prateado –, ele liderava o grupo que antes era comandado por Okita Sougo, mas que agora tinha um novo capitão.

― Espero que não seja preciso que nos rastejemos pelo túnel. Não tô muito afim de sujar minha farda nova tão cedo.

― Heh – Hijikata sorriu com algum humor enquanto segurava um cigarro por entre os lábios. – Não deveria se preocupar, na farda preta não aparece a sujeira como na farda branca que você usava.

O novo capitão concordou após deixar escapar um risinho divertido:

― Meu pai disse a mesma coisa. Não restam dúvidas de que vocês realmente são a mesma pessoa.

― Estou começando a achar que não seria nada ruim ter um filho como você, Taichirou, se não fossem as artimanhas das linhas de tempo.

― Vou tomar isso como um elogio.

― Mantenha o foco, Miyojin Taichirou, Capitão da Primeira Divisão! Você tem uma missão!

― Sim, senhor! – Taichirou bateu continência. – Missão dada é missão cumprida!

Taichirou, enquanto seguia o alter ego de seu pai, relembrava como recebera a farda preta do Shinsengumi. Era um sonho realizado, mas não esperava que isso ocorresse como ocorreu. A princípio, quando fora chamado para recebe-la, pensava que começaria a vestir o traje padrão utilizado pelos novatos.

Mas no fim das contas, ele estava usando o fardamento padrão do alto escalão. Camisa branca, calças pretas, colete preto debruado de dourado, lenço branco no pescoço e o casaco também preto com detalhes dourados... Tal como se vestiam o comandante, o vice-comandante e os capitães.

 

― Olha, Yamazaki-san... – ele se mostrou intrigado ao encarar o fardamento que recebia. – Eu não deveria receber uma farda igual à sua?

Antes que Yamazaki respondesse, Hijikata esclareceu:

― Como o Sougo foi promovido a Vice-Comandante, o cargo de Capitão da Primeira Divisão ficou vago. Não temos tempo para fazer uma seleção, então optamos por você.

― Ele estava no lado inimigo, no lado do Mimawarigumi! – um dos oficiais da Primeira Divisão protestou. – Só está nos comandando por ser filho do Comandante!

― É! – protestou outro. – E sobrinho do Vice-Comandante, e...

Um som de espada sendo desembainhada interrompeu a fala do tal oficial, que sentiu um aço frio encostado perigosamente ao seu pescoço.

― Não deveria questionar o Comandante dessa maneira. – a voz monocórdica de Okita murmurou fria e calmamente. – Você não é tão bom assim para ser promovido a Capitão.

― Sougo, não é preciso decapitá-lo. O Kyokuchuu Hatto diz que ele terá que cometer seppuku se continuar enchendo o saco assim.

O pobre homem arregalou ainda mais os olhos enquanto os de Toushirou se estreitaram ao prosseguir:

― Estamos colocando Taichirou como capitão de vocês da Primeira Divisão, não por causa dos nossos laços de sangue. Nos últimos tempos ele se mostrou confiável, e pesa a seu favor a experiência como Capitão da Quinta Divisão do Mimawarigumi.

O antigo capitão da Primeira Divisão embainhou a katana enquanto complementava aos seus antigos comandados:

― Nenhum de vocês, atuais integrantes da Primeira Divisão, se mostrou capaz de assumir meu lugar, nem mesmo provisoriamente. Decidimos, junto com Shimura-san e Kondou-san, que Mayojin Taichirou possui competência para ocupar meu antigo cargo.

Constrangido, Taichirou levantou a mão:

― É... Vice-Comandante, meu sobrenome é Miyojin.

― Certo, certo... – Hijikata se levantou de onde estava sentado. – Vamos encerrar a reunião. Não há tempo a perder, precisamos ser rápidos com a nossa parte do plano.

Virou-se para o filho:

― Taichirou – um leve sorriso surgiu em seus lábios. – Estou confiando que você fará um bom trabalho com essa farda. Dê o seu melhor.

― Claro que farei, Comandante! – o agora Capitão da Primeira Divisão retribuiu o sorriso. – Faço questão de mostrar serviço.

― Deixe de formalidades, Taichirou. Elas são necessárias apenas enquanto estiver diante dos seus comandados.

O moreno de cabelos mais longos presos em um rabo-de-cavalo olhou ao redor, percebendo que os homens da Primeira Divisão haviam saído após Sougo os dispensar. Estavam apenas ele, o pai e o tio.

― Certo, pai. – ele cedeu. – Sem formalidades. Espero poder continuar fazendo isso depois da nossa parte no plano.

― Também espero. Sabe, estou gostando dessa ideia de ouvir alguém me chamando de “pai”.

 

― Já estamos perto da base? – Taichirou indagou.

― Não falta muito para chegarmos. – Toushirou respondeu ao consultar o mapa.

O Vice-Comandante do Shinsengumi jogou a bituca de cigarro no chão e a pisoteou. Tirou do bolso o fiel frasco de maionese e um pacotinho com dois biscoitos ultrapicantes, cortesia de sua contraparte mais velha. Ofereceu um ao Miyojin, que aceitou. Os dois comeram os biscoitos com maionese, embora Hijikata sofresse um pouco para engolir a iguaria, degustada com facilidade por Taichirou.

― Mal posso esperar pela hora de mostrar serviço! – ele sorriu confiante e com os olhos azuis determinados.

― Faça isso. – o Mayora disse. – Assim eu posso ir para casa o quanto antes!

 

*

 

Os três continuaram a fitar aquele clone desengonçado, enquanto meio que suspendiam suas respirações, esperando por algum sinal de vida daquele ser com a aparência de Kagura. Estavam tensos demais, principalmente a ruiva, que continuava a apontar seu guarda-chuva roxo para a direção de seu clone. Aliás, aquele clone parecia muito estranho.

― Gin-san, Kagura-chan... – Shinpachi quebrou o tenso silêncio que pairava entre eles. – Vocês não acham que isso tá bem estranho?

Eles se aproximaram e olharam mais de perto.

― Isso é... – Kagura iria concluir que aquela criatura não se parecia nada com ela, mas foi bruscamente interrompida.

Uma rajada de tiros fez com que Gintoki gritasse “CUIDADO!” e, em seguida, se jogasse no chão. Imitando o mais velho, os outros dois também se jogaram para não serem atingidos. Entretanto, o clone não teve a mesma sorte e foi cravejado de balas.

Teriam cuidado do clone para eles?

O autor dos tiros logo apareceu. Usava uma capa preta e um kasa (um grande chapéu de palha) que encobria seu rosto. Entretanto, era possível ver algumas mechas de cabelo... Longas mechas ruivas até pouco abaixo dos ombros. Antes que o Trio Yorozuya agradecesse pelos tiros que a pessoa dera com um grande guarda-chuva roxo, esta se revelou. Tirou o kasa, jogando-o para longe junto com a capa. Com esse gesto, revelou um corpo feminino esguio, usando um cheongsam (um tipo de vestido tradicional chinês) vermelho com detalhes em amarelo e calçando botas pretas, uma vestimenta idêntica à que Kagura usava eventualmente.

Não só as roupas eram semelhantes, seu rosto era idêntico. A pele empalidecida, os olhos azuis... A diferença era apenas o cabelo, mais longo e com os mesmos adereços, os quais não prendiam totalmente as madeixas, tal como a garota Yato costumava fazer.

― Ah... – suspirou entediada. – Que bom que me acordaram antes, assim posso lutar um pouco... Preciso dar vazão aos meus instintos.

Os três contemplaram a recém-chegada e estavam buscando assimilar aquela visão. Não bastava ter que desativar o Projeto K1, teriam que enfrentar um desafio maior.

Teriam que enfrentar o clone de Kagura para conseguir o que queriam.

Num único movimento, o clone balançou seu guarda-chuva e gerou uma forte lufada de vento, que obrigou os outros três a se segurarem no que suas mãos alcançaram. Em seguida, ela avançou com seu guarda-chuva e desferiu o seu primeiro golpe em Kagura, que com muito esforço conseguiu bloquear a investida com o seu guarda-chuva roxo.

Gintoki e Shinpachi não tinham a exata noção do quão poderoso era o golpe bloqueado pela Yato, mas sabiam muito bem que aquela seria uma adversária difícil de superar.

― Quer dizer que estou enfrentando a Kagura original? – a outra indagou com um sorriso debochado. – Prazer, pode me chamar de K1... E vou acabar com você!


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