Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 24
A história parece a Saga dos Androides, mas isto não é Dragon Ball




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Ginmaru saiu do galpão com sua cabeça funcionando a mil para terminar de assimilar tudo o que ouvira de Takasugi. Mesmo com sua mente trabalhando a todo vapor, não deixava de ficar atento a cada barulho suspeito que houvesse no caminho de volta para casa. Durante a caminhada, não tirava a mão esquerda da bainha onde estava sua katana, que poderia ser usada em alguma eventualidade.

Por mais que o Distrito Kabuki estivesse com suas ruas quase vazias, todo cuidado era pouco. Não se descartava o risco de a Junta investir novamente contra eles.

De repente, teve a sensação de que estava sendo seguido por alguém. Olhou para um lado, para o outro, para trás, mas não descobriu ninguém. Prosseguiu sua caminhada, os olhos rubros ainda mais atentos no trajeto e em cada beco por onde passava. O filho do Shiroyasha não podia dar chance ao vacilo de baixar a guarda e ser atacado.

Achava difícil estar sendo stalkeado por Sacchan naquele momento, embora volta e meia ela o fizesse nos últimos meses, principalmente quando lhe caíam os óculos de grau. Por conta da miopia, qualquer coisa ou pessoa que aparentasse ter cabelos prateados era considerada por ela como sendo Gintoki. E para ele era ainda pior, pois a semelhança física com o pai era bem forte.

Havia herdado o olhar de peixe morto dele, assim como suas feições. Se não fosse pelas roupas e os trejeitos, seria realmente confundido com certa facilidade com seu pai.

Interrompeu sua caminhada por alguns segundos, enquanto ouvia passos vindos de um beco. Ginmaru colou suas costas à parede de um prédio e segurava a bainha com a mão esquerda, enquanto a mão direita segurava firmemente o cabo de sua katana. Respirou fundo, buscando fazer o mínimo de barulho possível, pois iria surpreender quem estivesse o seguindo. Os passos se aproximavam cada vez mais, parecia o andar de quem caminhava despreocupadamente pelas ruas do Distrito Kabuki.

Estavam se aproximando cada vez mais e agora era um pouco mais nítido o som de passos, mas de mais de uma pessoa. Será que Kabuki estava sendo novamente atacado? Tinha suas dúvidas, pois estava muito quieto para haver um ataque... A menos que fosse algo mais sorrateiro. Aproximavam-se mais e sua adrenalina ia a mil. Ninguém conversava, o que o deixava ainda mais tenso pelo fato de não poder saber se era um amigo ou um inimigo. Os passos se tornaram ainda mais nítidos, estavam muito perto... E ele não se deixaria ser uma presa fácil!

Rapidamente desembainhou sua katana, disposto a fazer um grande estrago em quem quer que fosse, mas seu ataque foi imediatamente bloqueado na mesma hora que ouviu uma voz inconfundível berrar:

― FICOU MALUCO, MOLEQUE? TÁ QUERENDO RETALHAR SEU PAI, É?!

O jovem arregalou os olhos quando viu que Gintoki bloqueava seu golpe com a bokutou. E, se não o fizesse, realmente o golpe lhe causaria um grande estrago, isso se não o decapitasse. Ficou pálido e catatônico por alguns instantes e, como se fosse um robô enferrujado, guardou a espada mecanicamente, faltando apenas as articulações de seu corpo rangerem como se pedissem por óleo lubrificante.

O Sakata mais velho suspirou num misto de aliviado por ainda ter sua cabeça presa ao corpo e com vontade de dar bronca no filho por sua saída sem dar qualquer satisfação, enquanto passava os dedos pela permanente natural prateada. Encarou o jovem e foi direto ao ponto:

― Você foi conversar com o Takasugi, não foi, Ginmaru?

Ginmaru nada respondeu, apenas devolveu o olhar ao pai. Ele não era bobo, sabia que sair sem justificativa e deixar o smartphone para trás dariam motivos suficientes para a desconfiança de Gintoki.

― Eu não vou te dar bronca, porque você já é maior de idade e tem maturidade suficiente para entender que nem todo mundo é confiável.

― Eu sou jovem, mas não sou besta de acreditar em todo mundo, pai. Zura me alertou a respeito, assim como todos que conhecem Takasugi.

― Não é Zura, é Katsura. – o líder Joui se manifestou, estava junto a Gintoki e acompanhado também por Elizabeth.

― E eu não fui pedir explicitamente que ele e o Kiheitai fossem nossos aliados, nem dizer “muito obrigado por me salvar a vida”. Fui conversar com ele e saber a versão dele sobre determinados fatos envolvendo vocês dois, para tirar umas dúvidas.

― Hm. – Gintoki não deixava de encarar o filho, que não se deixava intimidar. – E não resta mais nenhuma dúvida?

― Não resta nenhuma dúvida de que vocês dois são parecidos demais. – Ginmaru revirou os olhos. – Dois cabeças-duras que deveriam dar uma trégua ou se acertarem logo de uma vez. Eu não acredito que tô parecendo terapeuta, mas vocês dois precisam de um diálogo.

― DO QUE TÁ FALANDO, MOLEQUE?

― De sobrevivência. Já cansei de ver gente morrendo no Distrito Kabuki... E já me cansei de ver você sangrando por conta do passado e de assuntos mal resolvidos.

Seguiu-se um breve instante de silêncio, para depois o jovem sentenciar:

― Quem muito sangra, uma hora acaba morrendo.

 

*

 

― Cara... – Gintoki murmurou enquanto contemplava o clone de Kagura. – Eles fizeram mesmo um clone da pirralha...!

― Ela já não está morta nesta época? – Hijikata questionou.

― Está, sim, Hijikata-san. – Shinpachi respondeu. – Tem um túmulo dela no cemitério e tudo.

― Entendo.

Gintoki olhou novamente para aquele clone e se lembrou de sua contraparte do futuro e da conversa que tivera com ele no bar de Catherine. Embora fosse mais jovem, conhecia muito bem sua versão mais velha, que pouco mudara em relação a ele. Conhecia seus temores e até mesmo sua reação diante das perdas. Pensou na pirralha que viera com ele e Shinpachi e, num exercício de imaginação, tentou saber como seria sua vida com o Trio Yorozuya se tornando um duo.

Desde quando fundara a Yorozuya Gin-chan, o albino trabalhava sozinho, tirando o breve período em que teve mais três companheiros que exerciam as funções dos atuais integrantes. Entretanto, não conseguia se imaginar voltando a trabalhar sozinho após um eventual fim da atual formação com Shinpachi, Kagura e até Sadaharu. Uma eventual saída de um desses componentes da família Yorozuya – pois a relação entre eles era de fato como a de uma família – deixaria uma lacuna que jamais voltaria a ser preenchida.

E com relação a Kagura, era algo ainda mais difícil de imaginar. Estava tão habituado a conviver com ela todos os dias em sua casa, que quando a garota se ausentava por alguma razão, sentia falta das bobagens que dizia e das vezes que era chamado de “Gin-chan”, considerando-o como um “pai terráqueo postiço”. A relação que tinha com a Yato era algo entre “irmão mais velho e irmã mais nova” e “pai e filha”, e isso era tão forte que achava meio bizarro ela chegar até a imitar alguns de seus trejeitos.

Imaginar a casa sem ela especificamente era algo bem difícil e de certo modo doloroso, em se tratando da forma trágica que ocorrera nesta linha temporal. Seu alter-ego tinha apenas dois anos a mais do que ele quando tudo aconteceu e durante dezoito anos vinha lidando com a perda de Kagura como se fosse a perda de uma filha mais velha e ele carregasse um peso nas costas por não ter conseguido protegê-la de Kamui e de seu golpe letal.

Ninguém conhecia melhor Sakata Gintoki do que Sakata Gintoki, não importava a diferença de idade entre ambos.

E sentia que se sua contraparte visse aquele clone, seria algo bastante doloroso. Havia perdas com as quais o Yorozuya sempre lidava mesmo após o tempo passar, como se fossem feridas que se fechavam, mas não se cicatrizavam de todo. Algumas, em algum momento, acabariam por se reabrir e voltariam a sangrar e doer. Vinte anos a menos não eram nenhum empecilho para que ele tentasse se colocar no lugar do Gintoki mais velho.

Olhando para aquela espécie de regenerador, onde estava aquele clone que parecia aguardar pelo seu despertar, Gintoki sabia que deveria destruir aquilo de algum modo.

― Ei, Yorozuya... – Hijikata interrompeu os pensamentos do albino. – E se cortarmos todos aqueles cabos e destruíssemos essa coisa? Se essa é a matriz que está produzindo aqueles Yatos, então vamos conseguir acabar com aquelas coisas, não?

― Parece que teremos uma missão ainda mais produtiva, não é, Hijikata-kun? – o Yorozuya disse enquanto sorria em uma rara concordância com o raciocínio do Vice-Comandante do Shinsengumi. – Vai ser melhor do que arriscar a Kagura!

― Kagura-chan nem vai precisar lutar! – Shinpachi também concordava e desembainhava a katana que trazia consigo.

Os três sacaram as espadas, prontos para começarem a destruir aquele tanque e o clone dentro dele. Era a chance de destruir o Projeto K1 pela raiz, mas não puderam executar a ideia que tiveram, pois viram um clarão vindo da porta que se abria e tiveram que se esconder de quem entrava no laboratório.

A julgar pelo comportamento dos indivíduos de jaleco que entravam naquele momento, tudo indicava que viriam visitas importantes.


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