Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 21
Os garotos de hoje amadurecem rápido demais




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O dia seguinte amanheceu com céu azul e com poucas nuvens, nada lembrando a tempestade que caíra na véspera. As ruas no Distrito Kabuki estavam obviamente desertas, além de ainda estar com marcas da batalha ocorrida. Os cadáveres daqueles que foram abatidos foram removidos, mas nada tirava daquele local o persistente cheiro de sangue e morte, que Gintoki sabia que continuaria por talvez mais algum tempo.

Os campos de batalha continuavam a ser familiares a ele, mesmo a contragosto. Pior, havia um campo de batalha vazio bem em frente à sua casa, de cuja varanda observava o movimento quase inexistente enquanto se escorava na balaustrada de madeira. Sentia a musculatura tensa nos ombros, pois, mesmo dormindo bem por conta do cansaço, não conseguira descansar o necessário.

Seu corpo descansara... Mas sua mente, não.

O que o deixava um pouco menos tenso era o fato de quase todos aqueles que conhecia estarem relativamente bem. Bom, se o Hijikata-kun de sua linha temporal estava bem, isso significava que o idiota viciado em maionese vindo do passado estava vivo e bem.

E esperava que o Shinpachi-kun de sua época também estivesse bem. Ao conversar com Tsukuyo por telefone, soubera de forma cifrada do que acontecera no ataque ao Shinsengumi. O Quatro-Olhos teria bastante trabalho para administrar a situação que ora surgia, visto que liderava os ladrões de impostos em uma fase realmente difícil. Salvo engano, na verdade aquela era a pior fase da história da força policial de farda preta.

Uma leve brisa agitou seus cabelos prateados enquanto mais pensamentos invadiam sua mente. Sadaharu se aproximara para ganhar um afago, que seu dono lhe deu de forma meio distraída. Seus pensamentos o mantinham ainda distante, de tal modo que mal sentia os pelos macios do inugami branco por sob seus dedos. O grande cão sempre se aproximava dele quando Ginmaru estava ausente.

Quando acordara, ele já havia saído. Havia deixado pronto o café da manhã e os indicativos de que sua saída não fora para uma simples caminhada. Ele havia levado sua katana e a bandana, mas não seu smartphone e tampouco lhe dera qualquer satisfação.

Realmente Ginmaru não era mais um garoto.

 

*

 

Sentiu seu corpo todo dolorido e pesado assim que recobrou a consciência. Por quanto tempo havia ficado desacordado? Não fazia a menor ideia, visto que o local onde agora estava não lhe permitia ter qualquer noção de tempo. Tudo o que sabia a respeito de onde estava era o que seus olhos azuis registravam como, por exemplo, estar em uma cela escura.

Nada mais irônico do que um policial estar preso.

Hijikata Toushirou, Vice-Comandante do Shiinsengumi, conhecido por ter criado o Kyokuchuu Hatto e por seguir as leis à risca, além de prender vários criminosos, estava atrás das grades. Isso era irônico até para um cara que tivera um passado um tanto problemático em Bushuu, antes de conhecer Kondo Isao e Okita Sougo.

Enquanto se adaptava à luminosidade quase nula do ambiente, recapitulava os últimos acontecimentos, até o momento em que fora golpeado por aquele Yato e perdera a consciência. Deveria se considerar sortudo? Por um lado, sim. Por alguns instantes naquela luta, ele achara que poderia morrer em combate, embora fizesse de tudo para poder sobreviver e voltar para casa. Por outro lado, era óbvio que não estava nem um pouco feliz em estar na situação na qual se encontrava. Estava preso e desarmado. Quem estaria feliz em estar preso como um animal numa jaula?

Percebeu que ainda vestia sua farda preta, então apalpou os bolsos enquanto tentava arquitetar uma forma de descobrir onde estava e como sair de onde quer que fosse. Encontrou seu maço meio úmido de cigarros e o isqueiro em forma de frasco de maionese. Tirou um cigarro que parecia menos úmido e o colocou na boca, enquanto tentava acendê-lo com o isqueiro. Tentou umas três vezes, mas bufou frustrado, pois a chuva que tomara naquela luta molhara tudo. A julgar pela farda ainda levemente úmida, deduziu que fazia umas boas horas que fora jogado naquele local.

Devolveu o cigarro ao maço e o guardou de volta no casaco, junto com o isqueiro. Seus olhos continuavam a perscrutar a cela em buca de algum sinal de que alguém fugira antes, mas aparentemente era um cômodo de construção recente. Não descartava a possibilidade de que estivesse sob a tutela da tal Junta. Ante tal dedução, sorriu com ironia enquanto encontrava um frasco de maionese em outro bolso do casaco. Sempre saía de casa com um para qualquer eventualidade. E aquela era uma eventualidade na qual precisava ao menos sentir o gosto de algo familiar em sua boca para colocar os pensamentos em ordem e enganar o estômago vazio.

Toushirou colocou uma pequena quantidade de maionese no dedo e o levou à boca, para depois sentir o gosto daquele creme. Julgando ser suficiente, guardou o frasco no casaco e se levantou. Seus orbes azuis já estavam um pouco mais adaptados à penumbra, o que permitiu que ele percebesse, além da cama de concreto chumbada à parede e forrada por um colchonete, um vaso sanitário em um canto mais afastado da cela.

Sentiu vontade de tirar água do joelho e, enquanto o fazia, ouviu o gemido de alguém sendo golpeado e passos pelo corredor. Provavelmente o carcereiro havia agredido algum outro preso revoltoso. Sua suposição se mostrou errada quando ouviu:

― Não basta ter te visto cagar como naquela vez, e agora acabo te vendo mijar... Dá um tempo...!

Ou estava tendo os piores delírios possíveis, ou estava ouvindo a voz do cara que mais detestava naquele mundo. Bufou e fechou o zíper da calça. Ao se virar, ficou confuso.

― Não pense que tô aqui por altruísmo, idiota, porque fui obrigado a vir aqui!

Era Gintoki, que estava vestido com a farda preta do Shinsengumi e procurava coçar a cabeça por sob a peruca preta que ocultava suas bagunçadas madeixas prateadas. Shinpachi o acompanhava e havia ajeitado o cabelo de forma a se parecer um pouco com Yamazaki, usando um uniforme semelhante ao do espião e até uma raquete de badminton.

Hijikata tinha quase certeza de que o moleque se passara fácil por Yamazaki, considerando que tanto ele quanto Sagaru eram igualmente sem graça. Além disso, ele estava sem os óculos, que emprestara ao Yorozuya para se disfarçar como sua contraparte mais velha.

― Hijikata-san – o Shimura destrancara a grade da cela com as chaves do carcereiro que fora nocauteado. – Precisamos ser rápidos e sair daqui, antes que descubram nosso plano!

Gintoki entregou a Hijikata a katana que trouera – a Muramasha – e pegara a que pertencia ao carcereiro, que usava a farda branca do Mimawarigumi. Quando o trio iria sair, ouviram passos de pessoas correndo.

― Sujou! – Gintoki exclamou.

 

*

 

Ginmaru prosseguia em sua caminhada solitária até um dos recantos mais obscuros do Distrito Kabuki. Não se surpreendia com as coordenadas dadas por Katsura o levando até aquele ponto, até meio que se preparara mentalmente durante o trajeto para o momento a seguir, assim que chegasse ao seu destino. Não sabia o que o aguardaria, então trazia consigo sua katana e a bandana branca que considerava agora como seu amuleto.

Os olhos rubros do jovem albino refletiam a determinação que tinha em sua mente. Precisava tirar algumas histórias a limpo e entendia que eram necessários mais aliados se quisesse que Kabuki continuasse em pé, assim como proteger tudo o que mais lhe importava.

Se o Rei do Distrito Kabuki o protegia, seu filho também herdaria esse dever.

Chegou ao ponto desejado e bateu em uma porta, a qual possuía uma estreita janelinha. Esta foi aberta, mostrando apenas os olhos de quem atendia.

― Quero falar com Takasugi Shinsuke.

― Quem é você, pirralho?

― Eu gostaria de me apresentar como o Príncipe de Kabuki – Ginmaru sorriu com ironia. – Mas vou ser humilde e dizer que sou filho de um velho camarada dele.


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