Tão Grandioso como o Sol escrita por Bibelo


Capítulo 1
Imortalize-me


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, meus queridos ♥

Vim aqui com uma história participando de uma tag no Twitter: #2020daDiversidade. A Temática desse mês foi de "Pessoas com Deficiência" e por isso resolvi escrever algo com um plot super antigo meu, da época em que escrevi "Be Quiet", mas que nunca coloquei pra frente.

Ainda tenho uma long sendo escrita com a mesma temática do William cego (mas no caso da long seria cegueira parcial), então ainda quero voltar para essas histórias.

A tag é linda, e acredito que todos deveriam participar dela ♥ Vou deixar o link do tweet nas notas finais para tentarem nas temáticas dos outros meses, é uma atitude linda e ver a quantidade de projetos em cima desta tag foi maravilhoso ♥

Espero que gostem da história tanto quanto eu amei escrever. (Eu chorei com ela, acredita? E nem é Angst)

Boa Leitura!



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―  1 ―

C A P Í T U L O   Ú N I C O 

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 I M O R T A L I Z E - M E

― Uma tattoo?

Nico levantou o olhar de seu caderno de desenhos. Estava com um trabalho extenso de uma de suas clientes que pretendia, aos poucos, fechar as costas. Dedicavam-se àquele conjunto de tatuagens há quase seis meses, os finalmentes próximo de serem completados. 

Seu marido estava virado para ele, seus olhos fechados e os lábios repuxados em um sorriso suave. Soltou o lápis na mesa se virando completamente para Will. 

― Sei que é estranho, mas tenho curiosidade de como é. ― confessou ele ainda na mesma tranquilidade no canto mais distante do sofá: ― Gosto do simbolismo que existe nelas, ter uma seria interessante. 

Nico respirou fundo, ponderando. Tatuagens tem várias simbologias que para Will seriam fortes em sua pele imaculada, mas a ideia de tatuar seu marido sem que ele pudesse avaliar ou julgar o trabalho completamente o deixava um tanto ansioso. Iria depender totalmente de sua compreensão artística sem a opinião direta do cliente. 

Isso era novo. 

― O que você quer fazer? ― questionou Nico levantando-se da cadeira ocupando o espaço vago ao lado de Will no sofá. 

William buscou sua mão entrelaçando seus dedos no colo. Nico aconchegou-se um pouco mais, confortável. 

― Sinceramente? Não sei o que eu poderia ter. Não sei como elas são, por mais que você tenha várias delas pelo corpo. ― comentou William distante, traçando o braço descoberto de Nico com a ponta de seus dedos delicadamente por cima das tatuagens que fecham ambos seus braços e costas. 

Eram desenhos em preto e branco de seres mitológicos, a maioria deles de herança grega. A tatuagem a qual Will delineava era a imagem de Medusa, as serpentes em seu cabelo enroladas ao redor de seu rosto, mesclando-se a rosas e lírios do jardim de Perséfone logo acima; uma romã partida em seu topo, com suco escorrendo pelas pétalas manchando-as com seus pecados. Era uma arte abstrata que Nico havia desenhado e seu colega, Jason, transferido para sua pele. 

Amava a simbologia delas e o conjunto que montou com esmero ao longo dos anos, mas Will não podia vê-las, mas as compreendia nos momentos onde Nico as explicava, uma à uma, com toda a ansiedade que sentia ao ver mais um espaço de seu corpo ocupado com imagens. 

William resvalava a mão por sua pele com frequência sentindo a textura, dizendo que podia diferir a parte tatuada da imaculada se prestasse atenção, mas não era sempre. Nico apertou sua mão depositando um beijo em sua bochecha, sorrindo ansioso. 

― Posso desenhar algo, testar alguns padrões no papel. ― sugeriu Nico deixando Will o envolver em seus braços, acomodando a cabeça em seu ombro: ― Mas você tem certeza? Não vai poder opinar, e ficará na sua pele para sempre. 

Will concordou com a cabeça, um sorriso calmo estampado em seu rosto. Nico conhecia aquele semblante, o ar decidido do marido quando convicto do que queria e não abriria mão da ideia, mesmo que fosse trabalhoso. 

― Confio em você. ― disse por fim, buscando seu rosto para um beijo nos lábios: ― Não precisa ser nada muito complexo, faça o que achar que fique melhor, mas adoraria ter uma. 

Nico riu, afastando-se de William. 

― Ah, raio de sol, se vou fazer uma tatuagem em você precisa ser perfeita. ― confessou acariciando seu rosto repleto de sardas: ― Meu melhor trabalho. 

Will sorriu para ele, mas não insistiu mais no assunto. Nico voltou para o desenho de sua cliente. Observou o padrão e as curvas de cada linha se encontrando. Então virou a página, pegou o lápis e começou algo do zero. 

Seu trabalho feito com o coração.

Nico entrou no estúdio de tatuagens pela manhã com vários papéis nas mãos, além da mochila com pelo menos três de seus cadernos pessoais de desenho. Jason arqueou a sobrancelha do balcão, abandonando o celular. 

― Pra que tudo isso?

― Will pediu uma tatuagem. ― respondeu deixando os materiais em sua mesa: ― Então preciso estudar tudo o que tenho e ver o que fica melhor. 

― O Will? ― Jason repetiu em choque: ― Mas ele é... Você sabe...

Nico arqueou a sobrancelha: ― Cego? Sabe que não é um palavrão, certo? 

Jason pigarreou, desconcertado: ― Eu sei... Mas como vai funcionar? 

― Simples. ― exclamou abrindo seu caderno e os rascunhos que havia começado no final de semana: ― Vou contar uma história com eles, a história dele, talvez nossa. Se vou ser totalmente responsável pelo desenho terá que ser de tirar o fôlego. 

― Sua obra prima. ― Jason proferiu, sorrindo orgulhoso: ― Tenho certeza que vai ficar bom, mas não esqueça da Clarice. Tem que terminar o desenho ainda esta semana. 

Nico gesticulou com a mão, desinteressado. Tinha o desenho quase terminado, poderia se focar no pedido do Will. Sentou na mesa e enquanto aguardava algum cliente continuou a rascunhar, folhear seus cadernos e buscar inspiração em contos e lendas. 

Balançou a cabeça concordando com sua linha de pensamento, apagando e refazendo, deixando o lápis correr pela folha já gasta. 

E assim passou o restante da semana. 

― O que acha de passarmos naquela loja de antiguidades no centro? ― sugeriu Nico enquanto andava pela rua ao lado de William.

Ele concordou: ― Seria bacana, mas não vamos comprar nada, temos coisas demais daquela loja em casa. 

Nico riu: ― Não existe isso de “coisas demais”. Aquela loja é perfeita, eu moraria nela se pudesse. 

Foi a vez de Will rir alto parando no semáforo vermelho, a ponta de sua bengala tateando a guia com cautela atrás de alguma deformidade no solo. Se virou para Nico, o sorriso erguendo levemente o óculos de sol em seu rosto. 

― Existe sim, ou quer empilhar móveis pela casa? Criar armadilhas? Se quer se livrar de mim tem jeitos menos assassinos. ― zombou William recebendo um soco leve no braço. 

Nico rolou os olhos, passando a língua na ponta de seu labret, brincando com o piercing em seus lábios. 

― Se eu quisesse me livrar de você não teria tido todo o trabalho de casar, sabe? Mudar nossos nomes no cartório, em todos os documentos. Imagina se você morrer o trabalho que vou ter em mudar tudo para meu nome de solteiro? ― ridicularizou Nico enfiando seu braço na dobra do cotovelo de William: ― Não, vai me aturar por muito tempo.

Will riu disso aproximando-se de Nico antes o semáforo apitar, um aviso sonoro para que pudessem atravessar. Nico seguiu Will que os guiou até o outro lado da rua, enquanto o tatuador corria os olhos pelas ruas e os carros. Era meio de semana, mas a cidade estava bem movimentada. 

Chegaram ao outro lado seguindo pelos cantos da calçada, evitando que Will esbarrasse nas pessoas apressadas e fosse ofendido sem motivo. Will se inclinava para Nico vez ou outra para dizer algo ou perguntar sobre coisas que ouviu ou sentiu o cheiro delicioso pelo caminho, doido para saber o que ou como era. 

Nico gargalhava alto, apontando para as coisas, puxando seu braço com delicadeza para ver alguma vitrine, detalhando longamente cada peça de roupa que via ou artefato de decoração. Will concordava com a cabeça dando suas opiniões sobre as peças e dizendo o que ficaria ou não bom com o estilo do di Angelo. 

Perto da loja de Antiguidades havia um homem tocando violino na calçada. A música era estranha aos ouvidos de Nico, já que não era o maior fã dos clássicos, mas Will parou no caminho, aguçando os ouvidos para a atração. Nico parou ao seu lado, sorrindo ao observar a feição de William se tornar nostálgica, uma cena se passando em sua mente. 

Então algo estalou na mente de Nico, uma das coisas que Will mais amava em sua vida e que fazia parte do que era. Alargou o sorriso acariciando a mão de Will que retribuiu o gesto ainda focado na música. 

Deixaram alguns trocados no estojo do violino ao chão e seguiram caminho, William calmo e sereno e Nico com a mente trabalhando a mil. 

Precisava urgente de seu caderno de desenhos. 

Passou o grafite pela folha com mais força, delineando as partes grossas e diferindo do delicado do desenho. Sombreou e adicionou cores, deu vida ao desenho aos poucos, acrescentando partes de seu marido naquele conto delicado; nos traços do grafite fino e suave. 

Will estava dormindo na cama enquanto Nico terminava os últimos retoques do seu desenho à meia luz do abajur. Já passava das três da manhã quando finalmente terminou após quase dois meses de trabalho. 

Não sabia se William ainda se lembrava do pedido da tatuagem, mas Nico trabalhou nela com cuidado e muito carinho para poder marcar no marido uma parte de sua história. Respirou fundo fechando o caderno, ergueu os braços acima da cabeça tirando a tensão dos músculos. Iria revisar o que precisasse de manhã, mas estava pronto e Nico sentia-se satisfeito com o resultado. 

Levantou-se da cadeira apagando o abajur. Retirou sua camisa a descartando ao pé da cama, deslizou por debaixo da coberta para perto de Will, seu braço descansando em seu abdômen. 

Will se virou de frente para Nico o puxando para perto onde ele se aconchegou, inspirando do cheiro de lavanda de suas roupas, deliciando-se no calor de seu corpo. Logo caiu no sono ansioso pelo resto da semana. 

Desejava que seu marido apreciasse o presente. 

― De zero à dez, o quanto vai doer? ― questionou Will sentado de frente para Nico na sala de tatuagem. 

Ouviu Jason rindo ao fundo, entretido em seu celular, mas com os ouvidos sempre atentos. Nico não pode evitar de soltar uma risada contida, mas logo apertou a mão do namorado, reconfortante. 

― Seis. ― respondeu honestamente, não tinha para que suavizar o que ele iria sentir em poucos minutos: ― O contorno é simples, mas o preenchimento requer mais trabalho. Umas duas sessões, talvez três. 

Will concordou com a cabeça, a tez franzida enquanto assimilava a nota. Nico mordeu o lábio aproximando seu rosto do amante por cima da mesa. 

― Não precisa fazer isso, Will. 

Ele negou: ― Eu quero, mas estou um pouco assustado. ― confessou respirando profundamente: ― Para ser franco achei que não iria aceitar fazer a tatuagem. Já tinha esquecido dela quando me avisou ontem à noite. Não me preparei tanto assim psicologicamente.

Nico riu sem graça. Demorou um pouco mais do que imaginou, e talvez deveria ter atualizado William sobre o progresso do desenho, mas preferiu manter em segredo tudo que estava fazendo nele, pois sabia que quando contasse ao marido ele iria pedir detalhes do desenho, e não havia força na terra que faria Nico não lhe responder honestamente. 

― Desculpe, preferi manter a surpresa.

Will sorriu então puxando Nico para perto, o beijando brevemente, raspando a ponta dos dentes no piercing em seu lábio inferior enviando um arrepio por seu corpo. 

― Estou a seu dispor. 

O rapaz suspirou adoravelmente se afastando de Will. Ouviu Jason rindo em zombaria da cena, mas Nico mal se deu ao trabalho de lhe mostrar o dedo antes de fechar a porta da sala. Conduziu William até a maca para que deitasse. 

― Onde vai ser? ― perguntou enquanto prendia o cabelo mediano em um coque no topo da cabeça. 

― No peito esquerdo. ― explicou passando a ponta dos dedos pelo local onde faria a tatuagem: ― Vai ficar bom, prometo.

Will apoiou sua mão sobre a dele em seu ombro, um sorriso amoroso em seus lábios. Abriu os olhos brevemente, aquele azul piscina tão lindo que derretia Nico todas as vezes que os via. Era raro o marido abri-los, mas em alguns momentos era como se ele soubesse exatamente o que fazer para deixá-lo menos ansioso; que a calmaria de seus olhos faziam seu coração suavizar várias batidas.

Uma espécie de instinto, talvez. 

― Com certeza vai, Nico. 

O tatuador aquiesceu exalando o ar pesado de seu peito. Will retirou a camiseta se deitando na maca. Nico se aproximou dele em um banquinho, acariciou sua pele antes de limpá-la para, enfim, começar o trabalho. 

Levou cerca de cinco horas para terminar os contornos, e mais três sessões para preenchê-los. Foi um trabalho longo e exaustivo tanto para Nico quanto para Will que teve uma primeira tatuagem bem extensa e dolorosa.

As chances dele repetir a dose eram próximas de zero, mas Nico o achou corajoso o bastante para tentar uma primeira vez. Não precisava fechar o corpo só por já ter algo pintado na pele.

Nico cuidou pessoalmente da tatuagem para que não criasse cicatrizes grosseiras. Aos poucos via a tatuagem ganhando vida depois das sessões, ficando suave e tênue, moldando-se nas constelações na pele de seu marido. 

Não evitou de abrir um sorriso orgulhoso, traçando com a ponta dos dedos seu trabalho finalizado enquanto aplicava as pomadas diárias. 

Quase um mês depois, quando Nico tinha certeza absoluta de que a tatuagem estava totalmente cicatrizada e não precisando mais de muito cuidado intensivo, resolveu levar Will para a sala, sentando-se com ele no sofá de forma confortável. 

Will se deixou ser guiado, curioso com a atitude repentinamente tímida do marido normalmente tão verbal. 

― Quer conhecer sua tatuagem? ― sugeriu Nico acariciando as costas de sua mão, quente ao toque, agradável em sua pele gélida. 

Will arqueou a sobrancelha. 

― Acho que já somos bem íntimos. ― zombou divertido arrancando uma boa risada de Nico suavizando um pouco do nervosismo do tatuador. 

― Você é idiota, sabia? ― falou revirando os olhos: ― Anda, tira a camiseta. 

― Certo, certo. ― William a puxou pela gola jogando para o lado, ficando totalmente exposto para o marido. 

Nico acariciou a pele, resvalando a ponta dos dedos suavemente pela superfície, sentindo o estremecer de William sob seu toque. Traçou o centro da tatuagem, na flor em preto e branco abrindo um sorriso. 

― Aqui, bem no centro de tudo, tem uma camélia. ― Nico explicou, traçando o contorno da flor para que Will a sentisse, para que soubesse onde ela se encontrava. Soltou uma risada suave: ― Se lembra de quando eu lhe dei ela, ainda na escola?

Will abriu um sorriso nostálgico, o rubor em seu rosto o deixando ainda mais adorável. Ele aquiesceu inclinando a cabeça para o lado, pensativo. 

― Você me disse que ninguém poderia dizer nada ruim sobre mim, que eu era perfeito do meu modo. Você disse admirar minha força. ― respondeu William suspirando doce, entrelaçando seus dedos na mão livre de Nico: ― Eu sofria bullying por me destacar demais, mas depois daquele dia foi como se alguém tivesse finalmente me visto. 

Nico concordou, respirando profundamente. Adolescentes tendem a ser ofensivos com algo fora do ordinário. Will era novo, não conhecia nada e nem ninguém na escola, sendo deixado à mercê de colegas maldosos. Ele sofria bullying constante nos corredores, mas sempre sorria como se aquilo não importasse ou que não lhe atingisse como deveria. 

Os intervalos chorando no banheiro diziam o contrário. Nico o pegou várias vezes nesses momentos. Admirava sua força, o quanto ele aguentava para não fraquejar na frente dos outros. Sempre com aquele sorriso suave, as piadas e as brincadeiras. Nunca expondo o que lhe incomodava. 

Nico lhe deu aquela flor como um pedido de desculpas por todos, e para representar o quanto o reconhecia. Ele não estaria mais sozinho. 

― Nunca imaginei que ela fosse se tornar importante para você. ― confessou Nico encabulado, sentindo o rosto arder aos poucos: ― Nem que virasse sua flor favorita. 

Will riu: ― Como não? Foi a primeira vez que recebi uma tão importante como ela. Impossível não ficar gravada no meu coração, amor. 

O rapaz continuou a traçar a ponta dos dedos pela pele, a desenhando em círculos acima de um conjunto abstrato; a representação do sol. 

― Você consegue sentir as coisas melhor que ninguém. As energias ao seu redor, o calor e poder do sol contra sua pele. ― Nico narrou aos poucos, traçando repetidamente o desenho do astro. Will se manteve quieto: ― Você o admira por ser igual. Você brilha, inspira, se torna o guia nos dias mais nebulosos. Você respeita o que ele é, mas também por ser um pedaço de você que irradia para todo lugar que vá.

William não disse nada, absorto em pensamento. Nico continuou com os dedos, passando pelas folhas soltas, voando ao lado inferior da flor, logo acima de um livro aberto. 

― Quando disse que iria trabalhar como bibliotecário, lembro que ninguém achou que você pudesse. ― relembrou tracejando seu contorno: ― Que seria impossível ajudar sem poder ver. Sabe o quanto me orgulho de você ser um exemplo naquela biblioteca, ter organizado ela inteira com seu conhecimento avançado de tecnologia? Sua habilidade de decorar e conhecer cada espaço por onde anda?

Will respirou mais pesado, absorvendo suas palavras com cada peso de suas sílabas. Concordou com a cabeça vagamente. Nico sorriu. 

― Se tornou o melhor no que faz por amor, por dedicação. Sua força é poderosa, vasta e inspiradora. Seu sorriso desarma os mais tolos que pensam em te diminuir. ― Nico suavizou o olhar, sentindo o peito contrair: ― Sua paixão por livros e seu conhecimento, Will, foi o maior presente que essa cidade já teve e há de ter. Você é um tesouro bruto. 

Sentiu Will ofegar sob sua palma, mas continuou pelos desenhos, pela tatuagem simbólica em seu peitoral. 

― Sua mãe sempre foi incrível, uma mulher tão intensa e avassaladora que eu nunca tive dúvidas de onde tirou toda sua determinação. ― Nico contava com o sorriso triste, a nostalgia batendo: ― Naomi era fantástica, uma cantora apaixonada, que tocava com o coração e alcançava sua alma. Quantas vezes não chorei em suas apresentações? De sentir seu abraço pelas notas, a voz melodiosa e o amor que saia de cada palavra. 

Will respirou entrecortado, soltando um arfar sôfrego de seus lábios. 

― Sua paixão pelo violão, as músicas clássicas, a poesia com a vida. Tudo isso que ela deixou para trás quando partiu. ― Nico prensou os lábios por longos segundos antes de continuar: ― Seu legado está dentro de você, está em cada um de nós que foi tocado por ela. E por isso eu desenhei o seu violão atrás da flor. ― Traçou o desenho do centro do seu peitoral até a extremidade de seu ombro esquerdo, acariciando-o: ― A maior prova de que uma guerreira pode usar de palavras como armas. 

Will fungou apertando a mão de Nico na sua, tremendo levemente contra o marido em um estado similar. Subiu os dedos até as partituras que corriam por toda a tatuagem, suave e leve, mesclando-se no abstrato da obra. Seguiu seu trajeto com os dedos. 

― Uma partitura abraçar tudo é o mais sensato já que vivemos nossa vida no ritmo da música, na suavidade de suas notas. Vivendo cada dia como se fosse único e especial, pois de fato são. ― comentou com suavidade traçando as linhas élficas na base da tatuagem. 

― Nunca fui muito fã de fantasia, muito menos de sagas que levam muitas horas para concluir. ― soltou uma risada leve induzindo Will à fazer o mesmo, ainda que trêmula: ― Mas ela foi importante, cresceu com os livros e o contos, era seu refúgio do mundo quando ele te maltratava e ignorada. Se a Terra Média era seu abrigo, então deveria se tornar o meu. 

Traçou as letras curvadas e belas, sorrindo então. 

― Perseverança é o que mais existe em você. Sua luta diária, seus sorrisos tão honestos e radiantes, sua forma de viver a vida independente do quanto ela já te derrubou e continuará o fazendo. Você se manteve de pé quando todos tinham certeza que cairia, por ignorância ou preconceito. ― Nico apertou a mão de Will na sua, inclinando-se em sua direção, evitando seu rosto: ― O que mais persevera do que o eterno? O que mais perdura do que a imortalidade, a inteligência e o amor pela vida? Como não escrever no idioma élfico quando eles cuidaram de você quando não pude estar lá?

Will abaixou a cabeça, seu corpo tremendo, as lágrimas começando a escorrer por seu rosto. Resfolegou pesado, ouvindo cada palavra, sentindo cada uma delas. Nico não conseguiu manter a compostura antes de quebrar junto. 

― Me diga como não criar algo que tenha um pedaço de você quando você os distribui por aí, os compartilha com as pessoas pelo bom coração que carrega? Quando ignora os olhares, é compreensivo com quem não merece. ― Nico chorou, se deixando levar por seus sentimentos engasgados: ― Como contar a história de alguém que trava batalhas diárias com sorrisos no rosto, que chega em casa e continua a brilhar como uma supernova, e que faz com que os dias para mim sejam os melhores porque você os faz serem incríveis e especiais, e me dá coragem de viver cada dia da minha vida ao lado de alguém tão especial; tão digno de tudo que o mundo tem a oferecer. 

Will envolveu sua cintura o puxando para perto, encostando suas testas de forma terna. 

― Como posso representar em uma única tatuagem tudo que você é, quando você é tão grandioso quanto o próprio sol? ― Nico o abraçou no final, sentindo os braços de Will em torno de seu corpo o puxando para perto, chorando copiosamente. 

Se mantiveram abraçados, juntos naquele mar de sentimentos e nostalgia; simbolismos dos mais dolorosos e castos. Will acariciou suas costas, beijou seus cabelos e pescoço. Distribuiu o que ele sentia em seu corpo naquele momento. 

Era tanto amor que não cabia em seu peito. 

― Nico, isso… Eu nem sei como começar. ― confessou afagando seus cabelos: ― É incrível, isso foi tão intenso. Ah, como você fez isso?

Nico riu: ― Tive uma musa muito boa. 

Will negou com a cabeça o afastando, segurando seu rosto com ambas mãos traçando suas maçãs do rosto com o polegar, limpando as lágrimas que ainda escorriam de seu rosto. Aproximou seus lábios o beijando com carinho, com amor, com todo o sentimento que estava acumulado. Acariciou seus lábios, beijou sua bochecha, seus olhos, sua têmpora antes de voltar para seus lábios outra vez. 

Nico derreteu em suas mãos aceitando aquele carinho. 

― Eu amo você, nossa como amo. ― confessou William o puxando para outro abraço: ― Foi a melhor coisa que já poderia ter me dado, obrigado Nico. Obrigado por me ver. 

O rapaz retribuiu o abraço. 

― Eu também te amo, raio de sol. ― sussurrou em seu pescoço: ― Cada detalhe seu. 

Will não disse mais nada, só o abraçou por longos minutos, guardando aquele presente no peito, memorizando a tatuagem em sua pele e o que ela significava; os amores de sua vida enraizados em seu corpo para sempre como prova de tudo o que viveu. 

Recebeu o presente mais incrível da pessoa que mais amava, da pessoa que o salvou quando não acreditava mais em si mesmo. Nico era sua força, seu motivo para começar a ver o mundo com positividade, em sempre ansiar para voltar para casa e deitar-se com ele no sofá e conversar sobre o dia aconchegados um no outro. 

Distribuiu beijos por seu corpo, acariciou sua pele e o amou de novo e de novo, e outra vez. Até que os dois desfizessem o nó de seus corações, que se apaixonassem uma vez mais dentro daquele momento tão único, tão belo. 

Um presente moldado pela ternura.



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Notas finais do capítulo

Eae? Gostaram?

Eu achei bem fofinha, esse final apertou o coração, mas ai eu amei muito ♥ Espero que tenham achado tão bom quanto eu senti!

Will é um guerreiro ♥ Nico é muito apaixonado ♥

Enfim, foi adorável demais escrever isso e estou ansiosa para a temática de Fevereiro!


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Até o próximo!

Beijinhos~



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