Hora errada escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
con/fis/são.


Notas iniciais do capítulo

Um fluffy dos meus nenéns preciosos.

+ Citações de "violência", mas nada tão pesado não.

+ Referências espalhadas pelo texto. No entanto, há uma menção direta sobre a música "Jhonny Boy", de Kamaitachi, além de outras possíveis músicas.

+ Boa leitura! ♥



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Sorata estava apaixonado.

Ele sabia disso, pois toda vez que via sua amiga, dava um sorriso bobo por cada coisinha que ela fazia. Às vezes, o simples fato de vê-la andando de bicicleta era o suficiente para a fileira de dentes se curvarem, além de trazer dentro de uma maleta, um rubor insistente e o suor persistente.

No entanto, não conseguia expressar esse sentimento. Tudo o que sentia por ela, morria dentro da garganta ou se perdia em um poço profundo que era a sua hesitação. Parecia-lhe impossível exprimir a sensação que sentia, estando ao lado dela. Além de gaguejar, ficava ridículo e nervoso, em sua própria opinião. Perdeu a conta de quantas vezes havia sorrido sem-graça, pronunciando que estava apenas pensando. Só. Sem mais nem menos.

Porém, hoje seria diferente: Iria por fim, se declarar para a sua tão sonhada ruiva. Ele era apenas uma simples criança, assim como ela, mas seus sentimentos eram reais. Tudo em si, parecia querer construir um futuro utópico e bonito, acompanhado daqueles cabelos vermelhos, que pareciam queimar como uma brasa, no fim da lareira. Wantaru era linda.

Poderia ser estranha, excêntrica e exótica... Mas era linda. Perfeita. — Falava além da conta, mas para um coração apaixonado, é gratificante poder escutar a voz da pessoa que tanto ama o dia inteiro. Nunca enjoaria. Pois, sempre tinham o que conversar. E se não tivesse, ela inventaria na hora. É isso.

Wantaru é genial.

Sua oportunidade de declaração surgiu de um segundo para o outro, apenas com um simples convite que ele mal conseguia acreditar que chegou. Talvez, fosse de tanto prestar diversas preces para a Deusa do Amor, que era a Maya. Ou, ter colado diversos bilhetes românticos na Floresta da Benquerença tivesse dado certo. Não iria descobrir qual foi o cupido que disparou a flecha do acaso, mas estava grato por tudo isso. Enquanto não sabia como reagir, a simples pergunta se repetia em sua própria mente:

“Você quer ir à minha casa assistir um desenho?”

A vermelhidão já fazia de moradia seu rosto, enquanto o receio e o nervosismo para a resposta chegavam aos poucos. Passou a mão atrás da cabeça timidamente, esfregando um dos pés no chão, enquanto Wantaru observava silenciosamente, ainda aguardando alguma reação para a sua pergunta. Logo, a criança loura respondeu, após minutos que mais pareciam infinitos:

— C-claro! E-eu... Adoraria! Sim, adoraria! Muito.

— Então te vejo mais tarde!

Saiu sorridente, com saltos animados e cantarolando. Estava totalmente radiante, assim como sempre era. Sorata mal podia evitar o sorriso bobo que formava em seus lábios. Encaminhou-se para a direção oposta, tentando projetar mentalmente a conversa que queria ter com ela. Pensava em iniciar falando sobre o desenho e esperar algum clima romântico surgir das cenas, porém... Sequer sabia qual era o desenho. E outra, se é que haveria cena romântica naquilo.

 

Balançou a cabeça negativamente. Não iria dar errado.

Não tinha como as coisas darem errado, afinal, é ele quem está tomando a iniciativa!

 

 

Passou o dia inteiro sentado à beira de um rio, olhando o percurso da água fluir infinitamente. Diversas pedrinhas foram arremessadas na grande fonte azul, enquanto sorria abobado para o chão. Olhou o seu próprio reflexo no riacho, percebendo o quanto seu rosto estava avermelhado. Apesar de tentar desfazer o sorriso besta que estava fazendo, delineava-se novamente sem sua autorização. Então, permitiu-se sorrir livremente.

E com o som de passos atrás de si, tentou disfarçar que estava sorrindo.

— E aí, mano. — Sorako o cumprimentou, sentando ao lado e cruzando as pernas como de costume. Olhou para seu irmão que jogava as pequenas pedras no rio, freneticamente, com uma pressa sem igual.

— Oi! — Saudou, sem muitos rodeios. Estava sem-graça e um pouco acanhado para encarar o irmão, ainda mais que não havia explicado para ele que estava gostando da ruiva. Talvez, fosse uma má opção naquele momento, uma vez que ainda não tinha o primeiro passo dado. — O que está fazendo aqui?

— Estava indo ver a Toshi, para ver se ela terminou de assar os cupcakes, aí... Vi você. — Sorriu. — Bem, e o que você está fazendo aqui?

Hesitou.

Remexeu os dedos ansiosamente enquanto buscava alguma resposta que pudesse soar convincente. O problema era que Sorako nunca conseguia ser enganado. É como se toda a sabedoria dos deuses gregos tivessem sido passadas para ele. O albino olhava com a sobrancelha arqueada para o menino louro, que suava intensamente, além do sorriso constrangido.

— Sorata? — Indagou, acenando com a mão em frente ao rosto do irmão, que permanecia paralisado. — Está tudo bem?

— Claro! Digo, por que não? — Interpelou, negando com a cabeça, mirando mais adiante. Ainda falava de forma rígida e o irmão mais “velho” não entendia o motivo daquilo. Maneou a cabeça para olhar para trás, logo fora puxado pelos cabelos para virar para frente novamente, com força. — Quer jogar pedras no ria...cho comigo?

— Ai, Sorata! Solta! — Reclamou, acertando um soco na mão do loiro. — O que há de errado contigo?

— N-nada! Nadica de nada. — Reafirmou, nervosamente. — Não se preocupe!

Sorako suspirou. Por um descuido do loiro, o albino virou para trás tão rápido quanto seus reflexos, encontrando Wantaru acenando, em cima da bicicleta. Retribuiu o cumprimento, com o sorriso de canto, que esboçava ao ver a ruiva. Retornou a encarar o irmão, reaquistando a feição entediada. – Embora a criança dos cabelos loiros corasse igual um tomate.

Hah... Hah. — Debochou, afagando a cabeça do jovem encabulado. — Você está gostando da Wantaru.

— Eu? Que besteira! — Gritou agitadamente, socando o irmão, que se defendia dos diversos golpes com bastante agilidade. — Claro que não, você está louco? Eu não gosto dela. Bem, gostar eu gosto! Muito! Ela é minha... Nossa amiga! Mas a fim dela? Que isso, não, não, não!

— Eu não falei nada sobre estar a fim. — Sorriu vitorioso, enquanto o loiro suspirava derrotado. Deixou de socar o albino, que dava risadas mais altas. Ao ponto de tampar a barriga e levar uma mão aos olhos azuis, que já escorriam lágrimas humoradas. — Não acredito! Você está xonadinho na Wantaru! Meu Zeus, Sorata!

— Para, para! — Corava ainda mais e desesperadamente iniciou uma sessão de chutes contra seu companheiro, que nem se importava com os golpes recebidos. Desandava a rir com mais liberdade, rolando na grama esverdeada. — Larga de ser idiota, Sorako! Eu não sou afim dela. Lembra? Meninas são idiotas.

— A Wantaru é a idiota da qual você está apaixonado! — Riu mais, ficando de bruços e socando o chão diversas vezes. Aquilo era hilário para ele. Enquanto Sorata cruzava os braços, desistindo de lutar contra o irmão, este deitou a cabeça na grama, diminuindo as gargalhadas desesperadas. — Eu... Não consigo acreditar que você é apaixonado por ela. Como eu nunca notei? Céus, ai, ai...

— Já parou?

— Só mais um pouco...

Sorako retornou as gargalhadas exageradas, rolando no chão inteiro de grama, com as mãos na barriga. Parecia estar mais tirando sarro do que rindo seriamente da situação. O louro deu um sopapo na própria testa, murmurando o quão era idiota estar nessa situação. E que de todos os obstáculos, o seu próprio irmão era um rival enorme. Olhou para o albino, que parecia se engasgar com o soluço que havia adquirido.

Segurou a risada. Pelo visto, o carma havia chego mais cedo para pegá-lo. O jovem dos cabelos alvos volteou novamente para o lado do irmão, deitando de barriga para cima, apoiando os braços atrás da cabeça. Cruzou as pernas, tornando a encarar o jovem apaixonado.

— Desde quando você gosta dela, hein? — Questionou, dando um sorrisinho que pudesse provoca-lo. O irmão caçula remexeu a boca receosamente. — Você não sabe?!

— Não. — Exprimiu timidamente, passando a mão atrás da cabeça, com o sorriso acanhado. Logo levou os joelhos ao peito, abraçando-os. Os olhos escuros se dirigiram ao irmão. — Foi meio... Do nada. Um dia aleatório, olhei para ela e a imaginei como a menina mais linda do universo... Não sei explicar bem... Heh... Heh.

— Nem sei como reagir. — Comentou, jogando uma pedrinha para o alto, e quando esta aterrissou, pegou-a novamente. — Mas qualquer coisa, eu estou dando todo o meu apoio... Mesmo achando a situação extremamente engraçada.

— Valeu... — Suspirou. — Você acha que ela gosta de mim?

— Sei lá. Eu nem sabia que você gostava dela. — Jogou a pedra no riacho, sendo retribuído com um golpe de água dela, molhando seus joelhos. Mas não reagiu negativamente. — Olhando por esse lado... Tudo faz sentido agora! Você olhando igual idiota com um sorrisinho bobo para qualquer coisa que ela fazia... Nossa, eu sou tapado.

Sorata agradeceu internamente pelo irmão não ter notado isso mais cedo. É bem possível que a vergonha e a humilhação seriam maiores do que foi há poucos minutos. Não consegue imaginar o que poderia acontecer, mas conhecendo Sorako como conhecia, coisa boa não seria. Passou a mão na testa, com um ar de alívio. A princípio o albino não entendeu o que acontecia, porém deduziu que fosse algo bom, como “ele está aliviado por alguém o entender”.

— Como vai chegar nela? — O albino indagou.

— Eu vou ir assistir desenho com ela hoje. Bem... Vou passar lá agora. — Explicou, ajeitando o cabelo. — E esperarei a hora correta para me confessar!

Hum... Boa sorte. — Murmurou. — Sei que vai precisar.

O loiro não compreendeu o “sei que vai precisar”, mas ofereceu um sorriso e um breve agradecimento, antes de levantar-se para ir até a casa de Wantaru. Qualquer e toda “boa sorte” era bem vinda naquela situação tão vergonhosa.

 

Os passos eram incertos e hesitantes, confusamente estava tentando decidir se iria ir ou não até lá mesmo. Pois, provavelmente iria ficar receoso em dizer algo a ruiva, e se saísse alguma frase, iria ser inteiramente gaguejada. Estava mais é com medo dela desandar a rir, como Sorako fez. Porém... Estaria feliz, se ela ao menos risse. E se Wantaru ficasse com raiva? Ou triste pela situação? As coisas eram muito caóticas, seus pensamentos pareciam sair de linha. Como estava desorientado! Era apenas dizer um “eu te amo”, nada mais e nada menos.

Seu coração já estava na boca, antes mesmo de encostar a mão na porta. Olhou para o vidro da janela, visualizando que a televisão estava ligada e reflexionava o programa no vidro transparente. Olhou para suas próprias mãos, que já bruxuleavam. Ele estava trêmulo, da cabeça aos pés. Mais um tique de ansiedade e provavelmente, cairia mais morto ainda no chão.

— Oh! Sorata, você veio mesmo! — Wantaru atravessou a porta, materializando sua figura diante do loiro, que arqueou os ombros, assustado. Por poucos minutos, havia esquecido que ela era um fantasma. — Puxa, puxa... Desculpa! Eu estava preocupada, esqueci-me de te falar as horas para vir aqui, mas olha! Que bom! Você chegou certinho!

A porta abriu-se sozinha, logo a ruiva se materializou dentro da casa, executando uma ação como se estivesse limpando os pés no tapete, embora ela flutuasse. A outra criança repetiu o gesto, retirando as botas que calçava, ficando apenas de meia. Entrou no cômodo, olhando tudo em volta. Nunca tinha conseguido entrar na casa dela, mas sentia uma sensação familiar. A fantasmagórica elevou-se até o sofá, virando si própria de cabeça para baixo, com breves risadinhas ansiosas.

— E-ei, Wantaru... — Sorata iniciou timidamente. — Eu queria te falar algo...

— Olha, Soratinha, se for sobre o desenho, não se preocupe! Eu te explico qualquer coisinha que não ficou clara. Se bem que você não acompanhou o início, mas está tudo bem! É fácil de entender. — Sorriu gentilmente. — Senta aqui, ó.

Pegou uma almofada e colocou no sofá, dando leves tapas, tentando afofá-la para o amigo. E este se sentou tranquilamente ali, tentando parecer menos constrangido ou anelante. Relaxa, vai tudo dar certo.

Olhou para a ruiva, que rodopiava e planava pela sala, parecendo estar inquieta. É verdade que tudo nela era pura ansiedade e alegria, além da agitação evidente. Logo, ela desapareceu. E reapareceu na frente da criança, carregando um copo de água, que fora estendido a ele.

— Aqui! Achei que estivesse com sede. — Pegou o copo das mãos fantasmagóricas, ainda confuso pelas coisas serem totalmente materiais e ela não. Porém, o sorriso não se desfazia. Enquanto bebia água, seus olhos não se desafixavam do rosto da ruiva, que olhava curiosamente. — Quer mais? Eu posso trazer o galão para você, sem problema algum.

— Não, não... Obrigado, Wan. Um copo d’água é o suficiente para mim. — Disse, sem jeito. Mal conseguia raciocinar, pois os olhos escuros da avermelhada ainda estavam impregnados nos do dele, que chegavam a radiar. — Wantaru? Está tudo bem?

As mãos pequenas se ergueram, até que fossem postas no rosto do loiro. Ela o puxou para mais perto, de forma um pouco desajeitada, recostando a testa quase na dele, enquanto seu queixo estava erguido totalmente. Sorata não conseguia reagir, mas apertou o copo com força, pois quase que escapulira pelos seus dedos nervosos. Não fazia ideia do que estava acontecendo, porém estava bobo.

O longo silêncio se empregou entre ambos.

— Você tem sarda! Que bonitinho! — Ela disse, apertando as bochechas dele. — Eu nunca notei, tive até que olhar um pouco mais pertinho. O Sorako não tem sardas... Mas ele tem uns pontinhos azuis que as lembram!

— É-é sim... — Pronunciou, ainda acanhado. O rosto do fantasma estava tão próximo de si, que se fizesse alguma ação, seria totalmente mal pensada. Ele havia esquecido que Wantaru não tinha noção de invasão de espaço. Poderia chegar assim e colar o rosto nos outros.

— Terminou sua água? — Murmurou, ainda com os olhos faiscantes e acesos, como se estivesse vendo uma pedra rara. Duramente, Sorata afirmou com a cabeça, sem saber como reagir. Estendeu a mão, entregando o copo até a garota, que soltou o rosto dele, desaparecendo.

O menino pôs a mão no próprio peito, respirando fundo e libertando o ar diversas vezes, de tão aflito que havia ficado. Apesar de não ter se sucedido o que queria, aquilo parecia extremamente agradável. Por mais que seu coração tivesse quase escapado do seu peito. Olhou para a televisão, tentando manter a concentração: Se ficasse desse jeito por qualquer coisinha, é bem provável que não iria acabar dando em nada, além de parar na enfermaria por ocorrência cardíaca irregular.

Olhou para a televisão, que anunciava um desenho que seria exibido a seguir, após os comerciais. Ajeitou-se no sofá, pegando a almofada e olhando fixamente, antes de afofá-la. Wantaru se materializou perto da televisão, pegando o controle e aumentando o volume, até que pudesse ser escutado o som do programa.

— Sobre o que é o desenho? — O loiro perguntou.

— Ah, bem... — Ela elevou uma mão ao lábio, dando um sorriso abobado. — É sobre uma banda, que passa por diversas aventuras e discordâncias antes dos shows. Mas no fim, tudo dá certo! É um pouco de humor, tem até risadas de fundo. E os personagens encaram a tela, como se interagissem com a gente.

— Uh... Ok. — “Estranho” não encaixa na situação. — Você... Tem algum personagem preferido? Tipo... Eu não sei.

— Bem... É difícil escolher um personagem favorito. Todos eles são muito bons, você não consegue odiá-los... Eu só tenho raiva do marido da Noiva Cadáver! — Grunhiu nervosamente. — Como ele pode mata-la?! E ainda... Dançou com o corpo dela... Nojento! Ela era linda, lindíssima! Ainda bem que a banda a empregou.

Sorata olhou um pouco confuso para a criança ruiva, enquanto ela mordia as unhas freneticamente, resmungando o quão odiava o homem. Ele pigarreou, passando a mão atrás da cabeça.

— E você gosta de algum outro personagem? Sem sentir ódio do... Homem.

— Claro! O protagonista... — Ela deu um sorriso, encarando o loiro, que enrubesceu da cabeça aos pés, tornando a encarar o chão, de forma abobada. — Jhonny Boy! Ele é incrível! Ele degola as pessoas com uma faca cega.

— Hã?! Com uma faca o quê? — Indagou, surpreso.

Cega. Ceguíssima. É mais divertido para ele, matar suas vítimas assim... — Sorata olhou horrorizado pelo comentário, rangendo os dentes, um pouco preocupado. Olhou para o desenho, arregalando os olhos. — Não precisa ter medo, ele escolhe suas vítimas por um detalhe específico! E você não morreria... Bem, não posso confirmar nada.

O loiro não sabia nem como reagir àquela situação. Passou a prestar a atenção no desenho, mesmo que quisesse centralizar seus pensamentos para que entregasse a confissão. Embora a animação fosse bem fluída e os personagens com características incomuns, as piadas de duplo sentido e o humor psicótico era muito estranho. Wantaru não parecia ligar muito – ou sequer entendia o sentido por trás daquilo –, e ria bastante quando o dito “Jhonny” queria comer os espinhos. O que ela não entendia é que os espinhos eram... Os ossos das pessoas.

Os outros personagens eram devidamente assustadores e diferentes, nem de longe aquilo era um desenho infantil. Era mais vulgar do que com teor infantil. Apesar de esperar que sua amiga assistisse aquilo, não imaginava que a certeza era 100% confirmada. As risadas de fundo que ecoavam quando se sucedia com uma piada obscura pareciam camuflar muito bem o sentido maligno que havia por trás daquilo. Quando deu o comercial, Sorata suspirou aliviado.

— O que está achando? Legal ‘né? — Questionou, abaixando o volume da televisão, pois a publicidade era muito alta. Além do mais, o desenho era legendado, então às vezes o foco eram as músicas tocadas pela banda. Sorata estava abismado com tamanha estranheza que o programa oferecia. Não sabia se elogiava ou se tentava argumentar algo contra.

— Olha... Eu não tenho ideia do que dizer. — Articulou, ajeitando-se no sofá, de forma que pudesse ficar confortável, pois estava tão preocupado com conteúdo animado que a opinião não conseguia se formar. Apenas alternava olhares entre a televisão e a amiga ruiva. — Estou sem palavras.

— Eu também fiquei na primeira vez! — Exclamou, planando no ar. — Mas depois que assisti, entendi com mais clareza e passei a gostar. Você acredita que eu queria comer espinhos por causa desse desenho? Parecia bom!

Se o louro pudesse oferecer um comentário sobre o que estava entendendo sobre aquilo, provavelmente seria encaminhado para uma ala psiquiátrica. Ele estava tão assustado que não sabia quando era a hora certa para se confessar... E não era a hora certa para isso. – E quando chegaria a hora certa, saberia.

Estava mais é espantado pelo fato do protagonista conseguir matar alguém com uma faca cega. Era nojento.

— Uh... Wantaru... — Iniciou, puxando a mão da garota, que olhou com curiosidade. Apesar de hesitante, deveria tomar a iniciativa logo. — E-eu... Não sei como te falar isso, mas...

— Você está com fome? — Perguntou.

— N-não! Digo, sim, mas... Não, não... — Ela olhou confusa. — O que eu queria lhe dizer é mais importante... E-e-eu... Uh...

O silêncio ficou entre os dois. Embora a Wantaru não entendesse o que estava acontecendo, encarava com amabilidade. Sorata não sabia nem como se pronunciar diante daquela situação. As borboletas em seu estômago estavam remexendo dentro de si, o deixando cada vez mais hesitante. Suspirou dando-se por vencido.

— Eu... Estou faminto. — Ciciou, abaixando a cabeça. — Desculpe.

— Não é problema algum, Sorata! — Ela segurou as mãos dele, erguendo-as até o alcance de seu rosto, algo que fez o loiro esboçar uma reação acanhada. — Pode ir até a cozinha e preparar o que quiser. Só não coma o que tem dentro dos vidros... É do Wantari. De resto, sinta-se em casa! A geladeira é toda sua.

— Obrigado... — Agradeceu baixinho, soltando as mãos das dela, encaminhando-se até a cozinha. Olhou ao redor.

Enquanto praguejava por ser um incompetente em sua própria confissão, preparava diversos sanduíches e sucos. Queria algum assunto para discutir com ela, porém... Que difícil, cara. Trouxe a bandeja para sala, deixando na mesinha ao lado do sofá, chamando a atenção da ruiva. Nisso, o loiro sentou-se no chão, cruzando as pernas. A outra criança repetiu o mesmo gesto, trazendo a bandeja em seu colo, colocando uma das canecas no assoalho de madeira, ao alcance do amigo, que ficou gratificado.

— Maionese? — Ela questionou.

— Não... Sei que você tem alergia. — Afirmou, bebericando o suco no copo. — Sabe, Wantaru. Eu estive pensando em algo para poder te falar há muito tempo. Meio que não sei enunciar isso, provavelmente vou acabar me embolando e falando nada com nada.

— Você não gostou do desenho?

— Não é sobre o desenho. Olha, é sobre... Uh... Bem... A gente... Entende? Eu... Você. Sem o Sorako. É difícil, mas...

— Olha, Sora. Eu sei o que é. — Disse, remexendo o copo vazio no chão, olhando alegremente para o amigo, que se sobressaltou nos movimentos do ombro, parecendo tomado pela resposta e conclusão repentina. — De verdade. Estou feliz por você estar aqui comigo, é realmente satisfatório. Sua amizade é uma coisa extremamente valiosa para mim!

— Wantaru... Obrigado. — Se pronunciou. — Mas não é isso, também.

— Eu gosto de você. — Ela disse, dando a mão para o loiro, que corou da cabeça aos pés, sem chance alguma de reação. — Você é meu grande amigo, sempre que estou sozinha, penso em você e tudo melhora meu dia!

A mudez se fez dona do recinto, enquanto Sorata não fazia ideia se deveria prosseguir ou se aprofundar naquilo. Talvez ela fosse bobinha e não tivesse entendido o sentido por trás daquela frase? Ou o gostar dela fosse o que ele estava pensando, mas escondido por trás de outras palavras?

— Ei. — Murmurou, tomando a atenção da ruiva para si. Antes que pudesse se expressar novamente, fora interrompido:

— Eu gosto muito mesmo de você, não se preocupe. Nada vai mudar nossa amizade. Vou protegê-la a todo custo.

— A-ah... Eu ia dizer exatamente a mesma coisa!

Não tinha como dar errado, pois Sorata havia tentado. E quando se tenta, menos deve se esperar um erro. Porém, talvez, aquela não era a hora certa para dizer um eu te amo.

E ele passou a acreditar que a hora certa chegaria. Nem que demorasse, a oportunidade iria acabar surgindo uma hora ou outra.


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