Essa é a nossa nova aluna Isabella Swan - disse o professor careca e alto. Na plaquinha em cima da sua mesa  estava escrito " Sr. Mason ". Eu tinha a impressão de que não tinha   sequer um aluno que não estivesse com os olhos vidrados em mim. Alguns com curiosidade, outros com admiração e até mesmo com desprezo.
  Eu devia ter previsto isso na hora em que eu busquei meus horários na secretaria. Se até a secretária curiosa que era uma pessoa mais velha estava admirada comigo, imagina esses adolescentes.

— Se apresente para a classe senhorita Swan - pediu o professor.

— Eu prefiro Bella. - Vi alguns alunos revirando os olhos -  Eu sou da Itália e vim passar um tempo com os meus padrinhos  Carlisle e Esme.

— Não sabia que o Dr. Cullen tinha uma afilhada - comentou alto uma garota com cabelo enrolado cor de salsicha.

— Eu não sabia que ele contava sobre a vida dele para você - rebati. Ela me deu um olhar venenoso enquanto os outros alunos tentavam ocultar o riso.

— Senhoritas por favor - repreendeu o Sr. Mason. Depois ele se virou para mim - escolha um lugar e sente-se.

Depois de dar uma boa olhada em volta, - e ignorando todos os olhares ansiosos - decidi me sentar ao lado de alguém que eu tinha certeza que me divertiria bastante. Caminhei pelo corredor e me sentei no fundo.

— Oi - cumprimentei com um largo sorriso - Como vai ?

— Eu que te pergunto.

— Até onde eu sabia foi você que apanhou da primeira e última vez que nos vimos... Seth, não é ?

— Isso mesmo - ele me olhou com uma sombrancelha erguida e um meio sorriso divertido no rosto.

— Me diga - comecei casualmente - o que faz tão longe dá toca ?

— Não sabia que tinha que contar sobre minha vida para você - rebateu.

Sorri.

— Me copiando cane* ?

— Você quer me dizer o porquê de querer sentar aqui ? Justo comigo ? - Perguntou sarcástico.

— Sei lá - dei de ombros - me pareceu interessante.

— Sem dúvidas... - ele me olhou de lado e voltou o olhar para o professor que escrevia na lousa.

Com isso a conversa estava definitivamente encerrada. O resto da aula se resumiu com piadas minha e gelo por parte dele. Imaginei que ainda estivesse irritado por ter apanhado pra mim.  A minha próxima aula era com o Sr. Varner, professor de trigonometria. A matéria dele era uma das mais fáceis pra mim, na verdade eu já sabia tudo o que deveria. Não tinha necessidade de um ensino médio.

Essa aula eu tive com Edward, Christine e com o meu mais recente "amiguinho" Seth. Foi aí então que pude entender mais um pouco da dinâmica do casal. Edward olhava para ela com tanto amor... Tanta devoção, que me deixou incomodada. Em compensação Christine não tinha a mesma intensidade, acho que o que ela sentia por Edward não era amor ; ele era apenas uma espécie de troféu para ela. Eu tive certeza que não estava sendo injusta quando dias atrás perguntei para Edward se ela desejava ser transformada. Ele hesitou um pouco e respondeu :
"Não. Ela não quer ser transformada, gosta da vida que tem".
 
Vendo o meu olhar cético ele respondeu ríspido :

" Eu não tenho nenhum direito de exigir isso dela, o amor dela me basta. "

Eu apenas bufei desacreditada e deixei ele com sua doce ilusão. Pode ser um erro meu, mas... Se você ama alguém tão profundamente quanto diz, não desejaria ficar com ele pelo tempo que pudesse, E nesse caso, A eternidade ?
Eu tinha plena convicção de que se Edward pudesse, ele se tornaria humano por ela. Tanto amor desperdiçado...
 
Tive bastante dificuldades para me concentrar no resto das aulas minha cabeça latejava de um jeito estranho. Apenas ignorei o desconforto. Não devia ser nada.
Caminhei com uma bandeja de comida pelo refeitório decidindo onde sentar. De uma mesa onde estava Edward e Christine conversando, Alice acenou freneticamente para mim. Em outra estava um garoto loirinho com olhos cor de céu que tinha se apresentado para mim na aula de física... Mike Newton, que me olhava insistentemente com olhos suplicantes. Com certeza se a fofoqueira que não tinha ido com a minha cara - Jéssica, cabelo de vassoura- não tivesse sentada ao seu lado reivindicando sua atenção, ele teria vindo até mim.

Mas o meu objetivo não era nenhuma dessas mesas. Caminhei até o fundo do refeitório e em uma mesa mais afastada de todos, me sentei ao lado do meu parceiro.

— Oi - cumprimentei animadamente. Ele olhou para mim com um olhar torturante.

— Você de novo ? - gemeu ele.

Dei um largo sorriso. Eu amava ser indesejada. Ficava mais divertido.

— É, sabe como é. Gostei de você.

— Sai praga - replicou dando a mordida no sanduíche.

Olhei a sua bandeja cheia e verbalizei meus pensamentos :

— Cara, você passa fome ? - perguntei provocando. Ele me olhou de um jeito... Como se tivesse perguntando se eu era idiota.

— Bom, Isabella, você está sendo ignorada.

Mas não desisti, pelo resto do tempo de almoço eu conversei com ele. Fiz piadas, perguntei coisas idiotas e contei um pouco sobre mim. Para ele ou para alguém de fora eu parecia apenas estar implicando com ele, fazendo ele ficar irritado. Mas na verdade, a cada vez que eles aborrecia ou replicava, inconscientemente ele me dava as informações que eu precisava. Ele também era novato por aqui. Não tinha amigos, não era importante. Isso até eu notar o olhar estranho que ele dava em Christine. Não era cobiça como o outros garotos, era... Algo além. Que eu descobriria o que era.

— Então o que achou ? - perguntou Edward enquanto abria a porta do carro para mim.

— Foi interessante - respondi vagamente. - Sua namorada não vem com a gente?

— Ela tinha um compromisso - respondeu dando de ombros.e virei para Alice e ergui uma sombrancelha, ela ergueu a dela de volta e damos de ombros.

— Quem é o cara da vez ? - perguntei me inclinando para ligar o som. Pela vista periférica vi Edward apertando o volante com força.

— Não tem nenhum cara - respondeu trincando os dentes - ela prometeu que não vai mais fazer isso. Nos resolvemos. E eu confio nela, dei uma chance. Ela só ia até Port Angeles visitar o pai.

— Doce ilusão - cantarolei e Alice deu uma risadinha. Edward ficou bastante calado e seu  silêncio me lembrou que precisava falar com alguém.

— Edward pode me deixar no hospital ?
 
— O que vai fazer lá ? - perguntou surpreso.

— Não é da sua conta - repliquei. Ele me lançou um olhar entediado e deu a volta.

Paramos no hospital cantando pneus.

— Boa sorte - sussurrou Alice. Ela sabia exatamente o que eu estava pensando em fazer. Apenas acenei com a cabeça e sai do carro. Respirei fundo e  fui em direção a entrada.

Hora de saber o porquê Carlisle tinha  me evitado ultimamente. Ele sabia que eu guardava segredos e eu também sabia que ele tinha os dele. Hora da verdade.

E Para compensar a demora...
Uma espiadinha no próximo capítulo de A Caçadora de Olhos Castanhos:

Time  of truth  - Hora da verdade

                      (...)

Não sei do que você está falando, Bella. - Ele tentou mentir justo para mim que cresceu e encarnou a mentira e a trapaça.

— Não se faça de santo Carlisle. Você ficou intrigado comigo com meus... Dons e foi pesquisar um pouco. Na época em que nos conhecemos estava lidando com seus demônios internos, por isso não se importou comigo. Mas agora é diferente, não é ? - Antes que ele pudesse responder me senti tonta.

— Você está bem ? - perguntou ele preocupado. Contornando a mesa e vindo até mim.

— Estou  ótima - respondi com firmeza.

— Está bem - ele encostou na mesa em uma postura quase relaxada -  eu admito que não deveria ter feito o que fiz... Mas acho que o meu instinto me incitou a isso. Eu confesso que fiquei curioso com tudo isso. Com você. Me desculpe por me intrometer na sua vida, mas eu precisava saber.

— E o quê descobriu ? - perguntei séria. Eu podia agir como uma adolescente bricalhona, mas nunca me esqueceria do que eu sou : uma caçadora.

— Tudo. - respondeu ele simplesmente.

— Inclusive o porquê de terem me mandado para cá ?

Ele ficou surpreso.

— Mas você não veio para ficar...

— Não - eu o interrompi - Sério, Carlisle, você é tão ingênuo assim. Quem foi o idiota que acreditou nessa história boba de eu ter sido enviada aqui para vigiar vocês ? Acredite, se vocês fossem traidores ou os líderes ao menos desconfiassem que eram um perigo, seriam dizimados.

— Então qual é o real motivo de você estar aqui Bella ? - a vó dele era firme e autoritária. Ele queria saber.

— Eu não sei - desabafei frustrada - eu penso nisso o tempo todo, tentando encontrar uma solução e a única conclusão que vem na minha cabeça é a de que queriam manter afastada.

— Como chegou a essa conclusão ? - Carlisle tinha a testa franzida. Ele realmente não sabia dessa parte.

— Um pouco antes de eu vir para cá, eu percebi que estava sendo mandada para missões demais. Cada vez mais longe. Como se quisessem me afastar do castelo. Essa foi a última solução me manda para cá. Isso não seria trabalho meu, mas sim dos caçadores mais fracos. Eu estar aqui é só uma desculpa.
 
               
                       (...)

Desviei o olhar e travei o maxilar.

— O que fizeram comigo você... - Carlisle sacudiu a cabeça com tristeza - Foi cruel demais. Você era apenas uma criança. Você não tem culpa de nada. Não tem culpa de ser...

Ele se calou mas eu continuei por ele.

— Um monstro ? Um demônio ? - perguntei fria - isso mesmo, essa sou eu.

                       (...)

— Nós dois sabemos a verdade Bella, você o ama. Sempre  amou. Mas nega a si mesma. Até quando sua covardia vai durar ? Quando vai aceitar que ainda existe algo puro em você ?