Por que não deu certo? escrita por Aislyn


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O garçom acompanhou o cliente até a mesa numa área reservada, estendendo o cardápio e pedindo licença, afirmando que voltaria em breve para pegar os pedidos.

 

Mikaru sentou em frente ao outro ocupante, retirando o blazer e dobrando-o ao seu lado antes de encarar o amigo, que o esperava calmamente, um sorriso divertido lhe sendo direcionado.

 

— Então, a que devo o convite? – Mikaru questionou sem rodeios, vendo a expressão divertida se transformar num bico, o que seria fofo se não estivesse diante de um homem adulto.

 

— Agora é proibido convidar um amigo pra jantar? – Takeo pegou o cardápio, abrindo-o de modo dramático e colocando a frente do rosto – Só queria conversar um pouco. Faz tempo que não saímos só nós dois.

 

— Não é por falta de convite da minha parte, mas você faz questão de chamar seu namorado para vir junto.

 

— Você traz o seu namorado e não te vejo reclamando por isso. – Takeo retrucou no mesmo tom, apontando-lhe a língua.

 

— E não trouxe o seu hoje porque…?

 

Estava claro para Kazunari que havia um motivo por trás do convite. Ele e Takeo eram bons amigos desde a adolescência, saíam bastante juntos, mas desde que ambos começaram a namorar, os passeios a dois se tornaram encontros duplos. Não reclamava dos programas, mas era um fato que não saíam mais só os dois. Mikaru sabia que o namorado de seu amigo tinha ciúmes e não lhe tirava de todo a razão. Afinal de contas, se Shiroyama tinha alguém especial com quem sair, por que iria perder tempo convidando outra pessoa?

 

— Até tentei convidar, mas graças à você, ele aprendeu a levar serviço para casa e passou a tarde toda analisando aquela planilha. – Takeo desabafou por fim, acenando em descaso. Ele havia sido dispensado, aquele era o motivo.

 

— Isso significa que sou a segunda opção. Que bom pra mim, não é? – Mikaru comentou ácido. Era bom saber que o sócio estava se empenhando no trabalho, mas odiava o fato de receber o convite somente porque o amigo não tinha mais a quem convidar.

 

Takeo sabia que Mikaru odiava ser a segunda opção. Isso se não fosse a última! Takeo tinha o namorado, o irmão e vários outros amigos na cidade. Então por que perder tempo convidando ele? Mikaru não entendia. Certamente havia alguma companhia melhor, mais bem humorada e sociável.

 

— Ele é a primeira opção caso eu queira sair com meu namorado e você é a primeira opção caso eu queira sair com um amigo. Não se menospreze assim, sabe que gosto de conversar com você.

 

— Sempre uma resposta pronta e afiada na ponta da língua. Ensaiou muito para me dizer isso?

 

— Velho ranzinza! Eu realmente queria sair com você hoje! – Takeo revirou os olhos, cortando a conversa com o retorno do atendente, ambos fazendo os pedidos para o jantar, onde Mikaru concordou em beber após a insistência do amigo, com a desculpa que seria apenas um pouco para descontrair, depois iriam pedir bebidas mais leves para desanuviar a cabeça e poderem dirigir tranquilos para casa.

 

— Você está bem? – Kazunari questionou assim que ficaram a sós novamente, recebendo um olhar confuso e uma resposta rápida de ‘Estou’ que o deixou desconfiado – Parece cansado.

 

— Esse é um dos problemas em sair com você… Você consegue ver através da máscara.

 

— E desde quando usa uma quando está comigo, Shiro? – Mikaru riu incrédulo. Há quantos anos Takeo achava que se conheciam? Conseguia dizer quando o amigo estava escondendo algo ou mentindo, quando tinha aprontado, quando estava triste ou só queria conversar para distrair.

 

— Achei que conseguiria despistar. Andei trabalhando muito e tive umas noites insones. – um aceno de descaso e o sorriso travesso estava à mostra novamente – E como está o namoro? Já se chamam por apelidos bregas?

 

— Não. Eu não gosto de apelidos.

 

— Eh? Achei que ele iria te chamar de Mika quando estivessem sozinhos…

 

— Eu odeio essa abreviação. – Mikaru pontuou cada palavra, fechando a mão em punho sobre a mesa. Sabia que Takeo queria provocar e não devia cair em sua conversa, mas era algo que realmente o incomodava.

 

— Eu sei, foi mal. Só estava testando. – uma risada travessa mostrava que Takeo não ia desistir do assunto tão cedo – E Kazu? Ele já te chamou assim alguma vez?

 

Mikaru remexeu incomodado no lugar, mas não respondeu de imediato. Fazia um tempo considerável que não ouvia aquele apelido.

 

— Você é o único que já me chamou assim… – Mikaru confessou num murmúrio, deixando Takeo em dúvida se ele estava envergonhado ou se apenas não gostava daquele apelido também.

 

O ambiente ficou tranquilo por um instante, o silêncio não sendo incômodo para nenhum dos dois. Estavam acostumados com a companhia alheia e se sentiam à vontade para não forçar assunto se ele não viesse, assim como falavam sobre qualquer tema, sem o medo de serem julgados. A comida foi servida a seguir e Shiroyama não mediu esforços para provar do prato do amigo, que tentava evitar a qualquer custo. Somente quando a sobremesa foi servida é que a conversa voltou a se fazer presente, já que Takeo ficou ocupado demais com seu doce para querer provar do outro ou fazer mais brincadeiras.

 

— Sabe, Shiro… às vezes fico me perguntando… por que a gente não deu certo?

 

Takeo parou com a colher de sorvete à altura dos lábios, mas não se deteve por muito tempo, continuando a comer e dando de ombros.

 

— Eu também já me perguntei isso, mas a resposta foi meio óbvia pra mim.

 

— Não pensa como a gente estaria se não tivesse terminado naquela época?

 

— Seja sincero comigo: se você tivesse que escolher, hoje, entre eu e seu namorado, quem você escolheria? – Shiroyama apontou-lhe a colher, sorrindo de canto ao notar o desconforto do amigo, que corava levemente.

 

— Ele…

 

— Viu?! Nada garante que a gente estaria junto. Com tudo que aconteceu, se você tivesse vindo comigo pra Tóquio, a gente podia ter terminado por vários outros motivos. Hoje você poderia me odiar por talvez fazer você passar por algo ruim.

 

— Algo pior do que enfrentei sozinho? – Kazunari riu com descrença, negando com um aceno – Duvido que consiga isso, Shiro. Por pior que seja, você não é um monstro…

 

— Eu sei, é um caso específico. Você tem uma experiência ruim para usar de base. Mas se não tivesse, ficar comigo podia ser a pior decisão que tomou.

 

Mikaru odiava quando o amigo estava certo. Não importava o quanto ele agisse como uma pessoa irresponsável e brincalhona. Takeo tinha esse lado racional que o lembrava quem era o mais velho e experiente entre os dois.

 

— Se tivesse continuado comigo podia estar infeliz, vivendo uma vida de miséria e não teria conhecido o Katsuya. Ou podia terminar comigo justamente depois de conhecer ele.

 

— Entendi… coisas ruins que vem para o bem… sem sermão, ok? – Mikaru se deu por vencido, tomando a colher da mão do amigo e puxando o sorvete para perto – E a banda? Pretende participar de uma algum dia de novo?

 

— Sim, isso está nos planos… – Takeo comentou pensativo, observando chateado enquanto seu doce era todo consumido. Ele merecia aquilo por provocar – Não acho que a P”Saiko volte do hiatus tão cedo e, mesmo gostando da cafeteria, não me vejo fazendo aquilo o resto da vida. Pelo menos não antes da velhice.

 

— Vão largar tudo nas minhas costas… – quem mais iria cuidar dos negócios se aqueles dois decidissem voltam com a música? Não confiava em deixar totalmente nas mãos de terceiros.

 

— Claro que não! Só eu iria sair. Tem um conhecido que estava comentando outro dia sobre formar um grupo, ele toca guitarra e canta também. Então só precisaríamos de um baixista e um baterista.

 

— E acha que seu namorado vai deixar você ir, sem criar caso e sem surtar no processo? Sem pedir pra ir junto?

 

— Não é como se eu precisasse de permissão. – Shiroyama deu de ombros, despreocupado – Ele se acostumou com a vida tranquila, suponho… Sendo uma banda nova, os shows iriam acontecer um bom tempo apenas aqui em Tóquio. Mesmo indo pra longe, não ficaria fora vários meses, então ele não tem porque se preocupar ou chatear.

 

— Que otimista… Mas eu apoio sua decisão de voltar a tocar. Você sempre fez boas músicas.

 

— Não é? Nesse tempo parado criei várias composições! Algumas realmente incríveis, modéstia a parte!

 

Mikaru riu baixinho, segurando a língua para não apontar o quanto Takeo era convencido. Não tirava seus méritos, já que também achava as músicas muito boas, mas não precisava contar vantagem todo o tempo, não é?

 

— Vamos embora? Está ficando tarde. – Mikaru chamou após mais um tempo jogando conversa fora. O encontro estava divertido, mas ambos tinham trabalho na manhã seguinte e ele, em particular, não gostava de dirigir a noite.

 

— Vamos no parque de diversões na próxima vez? – Shiroyama sugeriu enquanto saíam do restaurante, o sorriso animado mais uma vez presente, contagiando o amigo que murmurou um questionamento sobre ele ser uma criança – Acho que você é o único que teria coragem de me acompanhar em brinquedos radicais.

 

— No próximo fim de semana?

 

Mikaru parou ao lado do carro, pegando a chave no bolso, assim como o celular, confirmando sua agenda. Sabia que não teria nada marcado para o fim de semana, mas precisava confirmar que não teria nada importante para depois do passeio com o amigo. Tinha quase certeza que chegaria exausto.

 

— Pode ser. Ou no feriado, o que achar melhor.

 

— Feriado costuma ser cheio, vamos no fim de semana. Você me busca em casa.

 

— Que folgado! Vai ter coragem de andar de moto comigo? – Takeo sorriu de canto, sabendo que o amigo pensaria duas vezes antes de topar aquele tipo de situação.

 

— Você deixa a moto lá em casa e seguimos de carro. – veio a resposta após um curto instante – Vai levar seu namorado? Acho que Katsuya também aprovaria esse tipo de passeio…

 

— Aprovaria? – Shiroyama imitou no mesmo tom, revirando os olhos indignado – Pra que tanta formalidade? Sim, seu namorado ia gostar muito de um encontro ali. Iam se divertir demais!

 

— Ele pode ser mais novo, mas você continua sendo a criança do grupo. – Mikaru entrou no carro, acenando em despedida – Te vejo no fim de semana.

 

Takeo observou o carro se afastar e sumir no fim da rua, ainda permanecendo na calçada por um tempo, aproveitando a brisa fria. Da última vez que foi num parque não pode aproveitar todos os brinquedos, mas dessa vez iria!

 

Ignorou a vozinha em sua cabeça que repetia o quanto estava sendo infantil, voz essa que curiosamente se parecia com a de Mikaru naquela noite; normalmente era a do namorado, caminhando em direção à sua moto para enfim poder voltar pra casa.


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Notas finais do capítulo

Fim~

Até a próxima!



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